There’s a starman waiting in the sky
He’d like to come and meet us
But he thinks he’d blow our minds
E foi explodindo nossas mentes com sua inventividade e talento que ele entrou para a história 😉
“Loiro, lindo, culto, inteligente e talentosíssimo”. Estas foram as palavras que o jornalista e escritor Nelson Motta usou para descrever o inesquecível Camaleão do Rock, David Bowie. Aliás, Nelson também fez uma observação precisa: de que esse apelido dado a Bowie, camaleão, não era correto, pois, ao contrário dos camaleões, ele não roubava a cor do ambiente, mas irradiava suas próprias cores.
Há tanto a falar sobre David Bowie que nem sei bem por onde começar. Mas já que abrimos com a definição de Nelson Motta, peço licença para colocar a minha definição do artista: Bowie não era apenas uma pessoa em meio à multidão e, sim, uma multidão em uma pessoa só. A mudança, tanto no visual como no estilo musical, eram contínuas. Esta se tornou a sua marca registrada, a versatilidade: Seu figurino – ora extravagante, ora elegante; seu cabelo em constante mutação; seus vários nomes e pseudônimos – Ziggy Stardust, Major Tom, David Robert Jones (que é o que consta em sua certidão de nascimento) e, claro, o nome que o tornou conhecido mundialmente, David Bowie. O sobrenome ele pegou de um comerciante americano do século XIX, chamado Jim Bowie, e da famosa faca Bowie. Ele adotou este nome artístico pelo fato de que muitos poderiam confundir Davie Jones (que ele usava anteriormente) com o do ator Davy Jones da série The Monkees. Dizem por aí que sua alcunha também teve como inspiração o personagem do clássico do cinema 2001: Uma Odisséia no Espaço, o astronauta David Bowman.
David certamente fez de tudo um pouco em sua carreira como artista. Sabia tocar diferentes instrumentos, foi ator de cinema e teatro, trabalhou como produtor musical e até chegou a pintar telas. Lembrando que ele mesmo confeccionava o figurino que usava em seus shows em uma máquina de costura que possuía. Dá para acreditar que Bowie tinha uma máquina de costura? E que ele mesmo utilizava? Tentem delinear essa imagem mental…
Já com relação ao estilo musical, além do rock – gênero principal pelo qual se aventurou e se tornou mundialmente conhecido – também já passeou pelo jazz, disco, eletrônico, new wave e muito mais.
Nascido em Brixton, na Inglaterra, em 8 de janeiro de 1947, aos seis anos, David se mudou para Bromley. Ainda na infância, seu talento como intérprete já se fazia notar. Ele demonstrava uma capacidade musical acima da média, tanto que se destacava no coral da escola. A partir daí, participou de alguns projetos escolares voltados às artes. Às vezes, se apresentava fingindo ser Elvis Presley para seus amigos escoteiros e todos achavam que ele tinha uma presença de palco de outro mundo. E, bem, não poderia haver colocação melhor do que esta. Bowie definitivamente era de outro mundo.
Muito estudioso das artes, além da música, explorou outros universos com a curiosidade que lhe era inata, como o desenho, teatro, dança, aprendeu a tocar saxofone (inclusive ganhou um de presente de sua mãe nos início dos anos 1960, época em que o jazz se tornara uma forte influência para ele). Foi ainda no início dessa década que, por causa de um soco que um amigo lhe deu no olho, teve de ser levado às pressas para o hospital e passou por algumas cirurgias. Apesar de não ter perdido a visão, ficou com sua pupila dilatada permanentemente, o que fez com que seus olhos ficassem um de cada cor. Na realidade, eles eram azuis. A despeito disso, essa sua característica, de acidentalmente passar a ter olhos de cores distintas, virou outra de suas marcas registradas. E não poderia condizer melhor com sua personalidade e estilo. O destino tem realmente um jeito engraçado de brincar com as pessoas…
Anos mais tarde, enfim realizou um sonho: gravou seu primeiro disco auto-intitulado. Ainda que não tenha sido um sucesso, atualmente tornou-se um cult para os fãs que não deixam de vasculhar sebos e lojas especializadas para adquiri-lo e guardá-lo em suas coleções pessoais.
Em 1969, lançou seu segundo disco, também auto-intitulado, de onde saiu o sucesso Space Oddity, claramente inspirada no filme 2001: Uma Odisséia no Espaço. Depois disso, começou uma saga de sucesso como músico. A década de 1970, com certeza, foi a mais representativa para a sua carreira. Tanto que dizem que ele foi para os anos 1970 o que os Beatles foram para os anos 1960. Foi por essa época que lançou álbuns como o clássico The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars de 1972, Aladdin Sane de 1973 (esses dois, na fase de seu famoso personagem Ziggy Stardust), Diamond Dogs de 1974, Station to Station de 1976, Low de 1977, Heroes de 1978 e Lodger de 1979 (esses três últimos são conhecidos como Trilogia de Berlim, local aonde gravou todos esses discos). Chegou à década de 1980 a todo vapor com o álbum Let’s Dance de 1983. Já na década seguinte, podemos destacar o Outside de 1995 e Hours de 1999. Bowie adentrou os anos 2000 com Reality, lançado em 2003. Depois desse último, se afastou por dez anos da indústria fonográfica e, em 2013, retornou com The Next Day.
O lançamento de seu último álbum, Blackstar, ocorreu exatamente no dia de seu aniversário, 8 de janeiro de 2016. Tudo indica que esse álbum foi seu presente de despedida a todos que admiravam sua obra. As letras, bastante soturnas, dão pistas de que ele estava em uma agonia sem fim, principalmente na faixa Lazarus.
No total, o músico lançou 24 álbuns de estúdio, nove ao vivo e três trilhas sonoras. Isso sem contar os dois álbuns do projeto Tin Machine, uma banda que ele formou no final dos anos 1980 com outros músicos.
Algo que não podemos deixar de citar, quando falamos de Bowie é o personagem Ziggy Stardust de uma das fases mais lembradas e proeminentes de sua carreira. O personagem nasceu devido ao amor que o músico sentia pela atuação. Este era o seu alterego e se tratava de um alienígena andrógeno que possuía um terceiro olho em sua testa, cabelo vermelho um tanto quanto longo e que usava roupas coloridas e dos mais estranhos modelos. David encarnou o personagem de 1972 a 1974. Nesse último ano, decidiu tirar Ziggy Stardust de cena, visto que ele estava ficando maior do que o próprio artista, tamanho o sucesso que atingiu.
Outro personagem marcante criado por ele foi o Major Tom que simbolizava ele mesmo. Era um astronauta citado em músicas como Space Oddity, Ashes to Ashes e Hallo Spaceboy.
Como ator, Bowie esteve em diversos filmes. Viveu seu primeiro protagonista em O Homem que Caiu na Terra de 1976, interpretando um extraterrestre (a obsessão deste homem pelo espaço exterior era realmente intensa) chamado Thomas Jerome Newton, que vem à Terra para tentar salvar seu planeta e conquista uma fortuna vendendo tecnologia avançada. Outras atuações de destaque foram a do vampiro John Blaylock em Fome de Viver de 1983, Major Jack Celliers em Furyo, Em Nome da Honra e do rei dos duendes Jareth no cultuado O Labirinto – A Magia do Tempo. Também teve diversas canções suas em trilhas sonoras de filmes, com em Christiane F., no qual participa fazendo uma ponta interpretando ele mesmo. No teatro, foi o protagonista da peça O Homem Elefante, produzida na Broadway, que ficou em cartaz entre 1980 e 1981, recebendo vários elogios pela sua atuação. Devido ao seu desempenho como ator, ganhou até uma estrela na calçada da fama em Hollywood.
Em 10 de janeiro de 2016, um triste acontecimento pegou seus fãs de surpresa: Bowie faleceu aos 69 anos depois de uma batalha contra um câncer de fígado que enfrentava há 18 meses. Ele manteve a doença em segredo. O mundo inteiro sentiu a perda de Bowie. Homenagens não faltaram, afinal o eterno camaleão foi e continua sendo um artista influente para a cultura pop. Em Brixton, terra natal do cantor, foi feito um memorial ilustrado com a capa do disco Aladdin Sane em um mural, onde muitos fãs prestaram um último tributo, deixando flores .
David era pai do cineasta inglês Duncan Jones, filho do seu primeiro casamento com a modelo e atriz Angela Bowie, lembrada até hoje por ter contado aquele famoso fato de o músico ter se envolvido com Mick Jagger. David também se casou com a modelo e atriz somaliana Iman Abdulmajid, com quem ficou até os últimos dias de vida. Dessa relação, nasceu sua filha, Alexandria Zahra.
Eis um artista que jamais cairá no ostracismo graças ao talento, criatividade e versatilidade. Bowie não entrou para a história por ter somente um mas, sim, por ter vários estilos ao longo de sua carreira, por saber se reinventar. David já está fazendo falta, mas sua obra ficará para sempre nos corações e mentes dos fãs. O que podemos fazer agora é aguardar por seus álbuns póstumos, já que o músico deixou muita coisa gravada antes de partir (talvez para outro planeta?). Só temos que agradecê-lo por nos ter apresentado o seu trabalho de qualidade e por mostrar que a ousadia não deve ser temida, mas praticada. Bowie tornou-se definitivamente um mito, uma lenda. Obrigada por tudo, mestre!
E as estrelas parecem bem diferentes hoje…
Apesar de ter viajado mais de cem mil milhas
Estou me sentindo bem parado
E eu acho que minha nave espacial sabe para onde ir
Adryz Herven
Colaboração e revisão: Andrizy Bento
13 comentários em “Personalidade: David Bowie”