O texto abaixo contém spoilers. Para você que não assistiu ao episódio, leia por sua própria conta e risco.
Uma longa espera entre o dia em que adquiri os ingressos (para mim e minha irmã e companheira de nerdices, Adryz Herven) e o “dia do Doutor”. E posso garantir que a espera valeu a pena. Momento mais icônico de nossas vidas como fãs.
Tem como não amar Doctor Who? Uma resposta positiva a essa pergunta nos provoca mais assombros do que qualquer anjo lamentador. O meu vício em séries somado ao eterno saudosismo de minha irmã, fez com que mais um elo entre nós (como se fosse necessário mais um dentre tantos que possuímos) fosse criado. E, assim, são horas de conversas a respeito de Doctors, regenerações, teorias, episódios perdidos, trocas de vídeos e artigos sobre as séries, sessões de episódios pela Rede Cultura com nossos comentários (im)pertinentes durante as exibições, e zilhões de posts no tumblr tanto relativos à série contemporânea quanto à clássica.
Eu comecei a ver Doctor Who por ser apaixonada por seriados, especialmente os britânicos. E principalmente os da BBC. A Adryz por conta de sua verve nostálgica, por apreciar nerdices antigas. Pois bem, obviamente faríamos qualquer coisa para ver o especial de 50 anos da série na telona.
E foi ontem, sábado, dia 23, aniversário de 50 anos de DW (e um dia depois do aniversário da Adryz, convém dizer), que fomos conferir ao lado de vários whovians e um cyberman (!) o especial no cinema. As expectativas eram grandes. Não tinham como não ser. E afirmo categoricamente que o episódio correspondeu a elas.
Com roteiro de Steven Moffat (o atual showrunner da série) e direção de Nick Hurran, a trama de The Day of the Doctor se passa em três linhas temporais distintas. Em 2013, um mistério ronda a National Gallery de Londres. Em 1562, um plano de assassinato tem como cenário a Inglaterra na era da Rainha Elizabeth I. Paralelamente a esses eventos, no último dia da Guerra do Tempo, há uma batalha espacial ocorrendo entre os Daleks e os Senhores do Tempo que aponta para o trágico fim de Gallifrey, o planeta natal do Doctor. As tramas se entrelaçam e convergem, o que culmina no encontro de três Doutores.
A química entre David Tennant, Matt Smith e John Hurt é surpreendente, como era de se esperar. Individualmente, suas performances estão igualmente impecáveis. Billie Piper (que interpretou Rose Tyler nas primeiras temporadas da série contemporânea, uma das companions mais queridas) aparece com destaque na trama, representando a entidade Bad Wolf. Jenna Coleman, na pele de Clara Oswald, está maravilhosa, tendo um importante papel no ápice do episódio.
Se você é fã, experimente assistir ao emocionante momento em que o Tenth (Tennant) diz a célebre frase “I don’t wanna go” (que marcou a sua regeneração para o 11º Doutor) e tente resistir às lágrimas. Aposto que será impossível. E uma sonora exclamação de desapontamento parte da garganta de todos quando presenciamos o início da regeneração de John Hurt para Christopher Eccleston (o nono Doctor que inaugurou a retomada da série em 2005, após um hiato de 15 anos). O ator infelizmente não participa do especial, de forma que a cena é cortada antes de a regeneração se concluir. Mas somos compensados com a ilustríssima presença do quarto Doctor, Tom Baker que faz uma ponta genial e maravilhosa ao lado do Eleventh (Smith). Além, claro, do momento em que todos os Doctors se unem para impedir a queda de Gallifrey, congelando-o no tempo, numa sequência nada menos do que eletrizante.
A fluência da narrativa é digna de nota. Conduzida de maneira firme, o ritmo não cai em nenhum momento. Muito pelo contrário, mal vemos o tempo passar. O clímax é praticamente constante, deixando o espectador sempre aflito e ansioso para as cenas seguintes. Impossível desgrudar os olhos da tela. O roteiro, bem estruturado, alia ótimas cenas de comédia (o bom humor é uma das marcas registradas do personagem) a momentos dramáticos tocantes em que a sensibilidade dos diálogos são o grande destaque. E, claro, a ação é empolgante, capaz de fazer o espectadores vibrarem em diversas sequências. O visual do episódio, como sempre, é um espetáculo à parte, os efeitos especiais são muito bem empregados.
A trilha sonora clássica dispensa comentários, sempre entrando no momento correto. E as alusões a Doutores e temporadas anteriores surgem com uma naturalidade impressionante. Dentre tantos méritos, não posso deixar de citar o fato de que The Day of the Doctor não só respeita os elementos canônicos de Doctor Who (o clássico e o atual), como deixa evidente o carinho pela sua base de fãs ao inserir tantos aspectos fundamentais de sua mitologia, que só quem é fã consegue absorver inteiramente. Em suma, o episódio é fantástico e nos deixa com um gostinho de ‘quero mais’. Além de apontar promissores caminhos que a próxima temporada poderá seguir.
Confesso que não deixa de ser um tanto estranho ver um episódio de Doctor Who na telona. Obviamente, aqui e ali, o formato não parece adequado, devido aos planos e movimentos de câmera. Mas a diversão foi tão grande, que relevar isso não foi nenhum grande problema.
E, claro, como era uma sessão especial para fãs, algumas das melhores coisas foram todos os aplausos, a histeria e os momentos de assombro dos devotos whovians. A abetura a cargo de Strax; as alfinetadas entre Tenth e Eleventh logo na introdução; as tiradas cômicas certeiras; as linhas de diálogos clássicas; as inúmeras referências a episódios antológicos das séries antiga e contemporânea; bem como os derradeiros momentos que reúnem todos os Doctors, fizeram os whovians presentes na sessão irem das risadas às lágrimas e aos aplausos com a mesma energia com que o Doctor vem viajando pelo tempo e espaço dentro de sua Tardis desde os anos 60 (embora tenha um longo hiato aí no meio).
É fato que jamais irei esquecer desse dia e nem de sua trilha sonora – a cargo do barulhinho das chaves de fenda sônica dentro do cinema antes de a sessão começar; e fãs dignamente vestidos de Doctor, logo após a sessão, descendo as escadas rolantes do shopping, assobiando a música de abertura da série. Inesquecível.
Obrigada, Moffat!
Andrizy Bento