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Nan Goldin

Imagens da série The Balad of Sexual Dependency de Nan Goldin

Há diferentes formas de se encarar uma obra. Diferentes olhares. Não se trata exatamente de opinião fundamentada em conhecimentos estéticos e, sim, do que ela lhe transmite. Partindo desse ponto, entra-se, portanto, na questão de como se recebe a obra, o impacto que ela gera, como ela será compreendida por diferentes pessoas e diferentes meios.

A obra da fotógrafa norte-americana Nan Goldin é controversa. De um lado, defesas apaixonadas. De outro, críticas exaltadas. E o conflito entre esses dois lados acarreta discussões acerca de muito mais do que estética. O que está em pauta são aspectos morais, éticos, psicológicos.

Nan Goldin é uma voyeur com um olhar perspicaz que compreende a realidade na qual está inserida e, desse modo, registra, documenta e perpetua essa realidade por meio da fotografia. Nudez, sexo explícito, homossexualidade, uso de drogas compõe os registros de Goldin. A fotógrafa adentra terrenos pantanosos com suas imagens, retratando o submundo e tornando o íntimo, explícito, com uma total ausência de medo, pudor ou restrições em representar a dor e o sexo. Ela projeta em seu trabalho essencialmente a dor e indefinidamente o prazer, tornando-os, de certa forma, elementos intrínsecos.

Para muitos críticos e apreciadores do trabalho de Goldin, sua obra representa a fragilidade da substância humana, da essência dos relacionamentos, o isolamento social. Alguns vêem certa intenção de impactar. Outros vêem apenas uma necessidade de ir muito além da superfície e trazer profundidade aos temas retratados.

Para seus detratores e pessoas pouco habituadas a imagens de tal teor, seu trabalho remete instantaneamente à perversão e à violência, registros de pedofilia e depravação, exemplos de má-conduta.

Obviamente, o conteúdo de sua obra gerou controvérsias. No Brasil, a exposição com suas fotografias, cujo o Oi Futuro exibiria, foi censurada sob a alegação de não condizer com seu perfil  educativo e ferir o Estatuto da Criança e do Adolescente ao apresentar imagens de crianças nuas. Quando exibido no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-Rio), foi sob rigorosos cuidados e não permitido para menos de 18 anos. Além de que, uma equipe jurídica foi mobilizada para ficar de plantão durante os dias de exibição.

A própria fotógrafa, no entanto, define seu trabalho como um registro dos laços afetivos, das relações humanas.

O fato de ser compreendido por muitos como um trabalho sórdido, gratuito, degradante e apelativo talvez venha a refletir a alienação da sociedade que não está em sintonia com o que acontece ao seu redor.

Em tempos em que nem mesmo a fotografia reflete o real e sim o idealizado graças à eficiência do photoshop e a obsessão pelo status quo, Goldin quebra paradigmas, padrões estéticos e tabus não exatamente cultuando o submundo e figuras marginalizadas, mas registrando uma realidade que muitos preferem ignorar.

Vale a pena conhecer as séries “Heartbeat” (que retrata a dificuldade do relacionamento a dois, focado em cinco casais amigos próximos a Goldin), “The Other Side” (Sobre um grupo de transexuais, drag queens e travestis com os quais a fotógrafa conviveu por três anos durante sua adolescência nos anos 70) e a obra-prima “The Balad of Sexual Dependency” (composto de imagens realizadas entre 1981 e 1996, mostrando a vida real de um grupo de amigos de Goldin que decidiu viver à margem da cultura. Consumo de drogas, sexo e violência são os temas dominantes dessa coleção. A comunidade retratada nessa série, segunda a própria fotógrafa, não existe mais devido à Aids). Goldin classifica Balad como o trabalho de sua vida e este é realmente sensacional.

Fonte da imagem: http://ffw.com.br/noticias/cultura-pop/nan-goldin-finalmente-expoe-no-rio-desta-vez-sem-censura/

Andrizy Bento