Data de lançamento: 23 de Maio de 1997
Duração: 1:11:40
Faixas: 22 faixas
Estilo: BRock
Produção: Liminha
Gravadora: Warner Music
Faixas:
Comida
Go Back
Pra Dizer Adeus
Família
Os Cegos do Castelo
O Pulso
Marvin
Nem 5 Minutos Guardados
Flores
Palavras
Hereditário
A Melhor Forma
Cabeça Dinossauro
32 Dentes
Bichos Escrotos (vinheta)
Não Vou Lutar
Homem Primata (vinheta)
Homem Primata
Polícia (vinheta)
Querem Meu Sangue
Diversão
Televisão
Esse álbum é um marco na carreira do Titãs e na indústria fonográfica brasileira. O seu Acústico MTV celebra suas bodas de prata (25 anos). Fora que iniciou a polêmica trilogia de regravações do grupo paulista. Quanto a esse tema, eu falarei mais para frente.
Quando entrou nos anos 1990, os Titãs se tornaram veteranos, assim como os seus contemporâneos do BRock. No início daquela década, a banda divulgava o seu quinto disco, Õ Blésq Blom, cuja turnê se encerrou no Rock in Rio 2, em janeiro de 1991. Em seguida, os Titãs mantiveram o hábito de fazer um experimento diferente em cada disco que gravava. Eles dispensaram o produtor Liminha e assumiram a produção de seu sexto disco, Tudo Ao Mesmo Tempo Agora (1991). Apesar da inovação, o álbum não teve uma boa recepção de público e crítica. Isso resultou na saída de Arnaldo Antunes (voz) e o grupo passou a ter sete membros com Branco Mello (voz), Charles Gavin (bateria), Marcelo Fromer (guitarra), Nando Reis (voz e baixo), Paulo Miklos (voz), Sérgio Britto (voz e teclados) e Tony Bellotto (voz).
O sétimo disco, Titanomaquia (1993) foi o primeiro álbum da banda como septeto. Else o definem como uma aventura grunge produzida pelo americano Jack Endino, o mesmo que produziu Bleach (1989), o primeiro disco do Nirvana. Titanomaquia fez um sucesso mediano com a faixa Nem Sempre Se Pode Ser Deus, que integrou a trilha sonora do seriado Confissões de Adolescente (1994) exibido na TV Cultura.
Em 1994, os Titãs resolveram entrar em hiato e criaram o selo independente Banguela Records em parceria com o jornalista Carlos Eduardo Miranda. O selo visava resgatar o rock brasileiro, relegado ao ostracismo em virtude da onda sertaneja e de pagode romântico que dominava o país. O Banguela revelou bandas como Maskavo Roots, Little Quail, Mundo Livre e Raimundos. No mesmo ano, o Titãs lançou no mercado a sua primeira coletânea em dois volumes, intitulada 84-94. O septeto também realizou projetos individuais, tais como discos solo, livros, etc.
Em 1995, surgiram boatos de que o Titãs anunciaria o seu fim a qualquer momento. O septeto desmentiu no mesmo ano ao regressar aos palcos na primeira edição do VMB (Video Music Brasil), premiação da extinta MTV Brasil. Ainda em 1995, o Titãs lançou o seu oitavo disco, Domingo, que também foi produzido por Jack Endino. O álbum levou o grupo de volta aos holofotes da musica brasileira.
Finalmente chegamos em 1997. No início daquele ano, a banda anunciou que iria celebrar seus 15 anos de carreira com o disco Acústico MTV. O especial é a versão em português do MTV Unplugged, que existe na matriz americana desde 1989. O primeiro a gravar um Acústico MTV foi o cantor Marcelo Nova em 1990. Entretanto, se tratava de um programa piloto e jamais foi exibido na TV. Esse privilégio coube ao Barão Vermelho, em 1991. O Acústico MTV só chegou ao mercado fonográfico brasileiro com Gilberto Gil em 1994. A segunda mídia sonora do projeto Acústico a ser lançada foi a de Moraes Moreira em 1995.
Porém, foi com os Titãs que esse especial ganhou ascensão nacional. Para começar, o septeto voltou a ser empresariado por Manuel Poladian, que agenciou eles no auge dos anos 1980. O grupo também resgatou a parceria com o produtor Liminha. Além disso, contratou os serviços do maestro Jaques Morelenbaum, que trabalhou com inúmeros artistas da MPB. Ele foi o responsável pelos arranjos dos instrumentistas de cordas (violino, violoncelo e harpa) e metais (sopros). Para completar o time, o Titãs contratou o renomado percussionista Marcos Suzano. Marcelo Fromer e Tony Bellotto guardaram as guitarras e utilizaram violões junto de Liminha. Para gravar o Acústico MTV, o grupo reservou os dias 6 e 7 de março de 1997 do lendário Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro. A banda dedicou o disco ao finado grupo Mamonas Assassinas.
Agora vamos ao repertório. Para o Acústico MTV, o Titãs não incluiu canções dos discos Tudo Ao Mesmo Tempo Agora (1991) e Domingo (1995). Do penúltimo disco citado, Branco Mello inseriu trechos de Eu Não Sei Fazer Música durante a execução da faixa 32 Dentes (do quinto disco, Õ Blésq Blom). Há canções que sofreram alterações no formato rítmico, com raras exceções. Duas canções dos Titãs eternizadas por Arnaldo Antunes foram regravadas no Acústico, mas interpretadas por outros membros do grupo. É o caso de Comida (Paulo Miklos) e Televisão (Branco Mello). Há outras faixas que foram regravadas em formato de vinheta, onde os seus intérpretes interagem com o público; é o caso de Bichos Escrotos e Polícia. Homem Primata também foi gravada nesse formato, mas executada na íntegra.
O show:
Quanto aos convidados especiais, começo destacando a rainha do rock brasileiro Rita Lee, que, no estúdio Artmix, em São Paulo, regravou com a banda Televisão. O marido da cantora, Roberto de Carvalho, tocou piano na faixa. Outra convidada foi Marina Lima, que gravou no estúdio Quiosque do Amor, no Rio de Janeiro, a versão vinheta da faixa Cabeça Dinossauro. Aos que gravaram nos shows do Teatro João Caetano, começo por Marisa Monte, que dividiu com Branco Mello os vocais de Flores. O ex-membro, Arnaldo Antunes, também participou do Acústico MTV, onde cantou O Pulso (um de seus maiores sucessos com a banda), uma das poucas canções que não sofreu mudanças na sua base.
Making of:
Há duas presenças estrangeiras no Acústico MTV dos Titãs. Começando pelo cantor argentino Fito Paez, que ficou conhecido no Brasil pela canção Track Track, regravada pel’Os Paralamas do Sucesso no disco Os Grãos (1991). Ele divide os vocais com Sérgio Britto, cantando a parte em espanhol de Go Back, com direito a menção a Still It Up de Bob Marley, que foi a base da primeira versão da faixa, lançada no primeiro disco dos Titãs em 1984. Outro convidado estrangeiro trata-se do jamaicano Jimmy Cliff. Ele interpretou Querem Meu Sangue, versão da banda para um dos maiores sucessos do músico, The Harder They Come. O Titãs havia regravado a canção em seu mencionado primeiro disco. No Acústico, Nando Reis cantou a letra em português, enquanto Jimmy Cliff interpretou a sua parte em inglês.
Para o Acústico MTV, o Titãs gravou quatro canções inéditas: Os Cegos do Castelo (Nando Reis) A Melhor Forma (Branco Mello), Nem 5 Minutos Guardados (Sérgio Britto) e Não Vou Lutar (Paulo Miklos). Assim como fez no disco ao vivo, Go Back (1988), o grupo usou o Acústico para resgatar canções que não obtiveram êxito na época de seus respectivos lançamentos. Foi o caso de Pra Dizer Adeus, gravada originalmente em ritmo de reggae e com vocais de Nando Reis no segundo disco, Televisão (1985). No Acústico, a faixa ganhou um novo arranjo, sendo interpretada por Paulo Miklos. Foi com Pra Dizer Adeus que o disco alcançou a incrível vendagem de 500 mil cópias, superando o recorde de 360 mil do mencionado Go Back.
A versão em VHS, além do show, contém também o making off, trazendo o ensaio em estúdio, passagem de som e depoimentos. Quanto à recepção do público e crítica, as opiniões se dividiram. Os chamados reaças, acusaram o Titãs de se aventurar na música sertaneja. Outros falaram que o septeto aderiu ao caetanismo – referindo-se ao estilo de Caetano Veloso. Pior foi quando eles compareceram a programas de auditório para cantar playback! O pessoal só aprovava quando a banda tocava ao vivo, como no Programa Livre do SBT e o H na Bandeirantes.
As canções inéditas somente foram divulgadas após o lançamento de Pra Dizer Adeus. A começar por Nem 5 Minutos Guardados, na qual a banda revive o carnaval de antigamente; da mesma forma que fizeram com projeto Vestidos de Espaço no fim dos anos 1980. Os Titãs ainda gravaram um videoclipe durante uma apresentação no extinto Olímpia, em São Paulo, com direito a confete e serpentina. O video foi dirigido por Branco Mello e Mauro Lima.
Em Os Cegos do Castelo, Nando Reis trocou de lugar com Liminha no show. Ele assumiu o vocal e tocou violão, enquanto o produtor se encarregava do baixo. Nos shows, Nando Reis cantava em pé. Os Cegos do Castelo também ganhou videoclipe, produzido no formato de animação. Com a divulgação das duas faixas, o álbum alcançou a incrível venda de 1 milhão de cópias, rendendo disco de diamante duplo para os Titãs. A banda aproveitou e voltou ao Programa Raul Gil na extinta TV Manchete para entregar ao apresentador um certificado de disco de diamante duplo. Tratou-se de um gesto de consideração a Raul Gil, que foi o primeiro a levá-los para a televisão.
A cereja no topo do bolo foi a participação dos Titãs no tradicional especial natalino de Roberto Carlos na Rede Globo. Primeiramente, eles cantaram com o rei É Preciso Saber Viver, que o citado compôs ao lado de Erasmo Carlos. Em seguida, o Titãs interpretou com o anfitrião o sucesso Pra Dizer Adeus. A aparição nesse especial fez com que o álbum Acústico MTV atingisse a marca de 1,5 milhão de cópias, tornando-se o disco mais vendido de 1997. No inicio de 1998, o álbum já registrava 2 milhões de cópias vendidas. Foi a última vendagem elevada na história do rock brasileiro. O Titãs ainda ganhou vários prêmios. O maior deles foi o Troféu Imprensa no SBT, onde venceu nas categorias “melhor grupo musical” e “melhor canção” (Pra Dizer Adeus).
Depois dos Titãs, vários ícones da música gravaram um Acústico MTV. Ainda em 1997, a cantora Gal Costa teve sua oportunidade, regravando Lanterna dos Afogados d’Os Paralamas do Sucesso, com a participação do próprio Herbert Vianna. Rita Lee gravou o seu em 1998 e convidou os mesmos Titãs para interpretarem com ela a canção Papai Me Empresta o Carro.
Em 1998, mesmo sem a chancela da MTV Brasil, os Titãs anunciaram que dariam continuidade ao projeto Acústico de modo a incluir canções que ficaram de fora do concerto original, como é o caso do primeiro sucesso da banda, Sonífera Ilha. O septeto gravou em estúdio o álbum, batizado de Volume Dois, também produzido por Liminha e que chegou ao mercado em outubro do mencionado ano. O grande destaque é a regravação de É Preciso Saber Viver, que fez parte da trilha sonora do remake de Pecado Capital da Rede Globo. Volume Dois vendeu 500 mil cópias, se tornando o segundo disco mais vendido do Titãs.
Após o sucesso de ambos os álbuns, o momento (e os fãs, lógico) pedia um álbum de inéditas que não veio… O septeto retornou com mais um (!) disco de covers, intitulado As Dez Mais (1999). Liminha não quis participar do projeto e a produção coube ao americano Jack Endino. Em matéria para a revista Showbizz, Tony Bellotto justificou: “O presidente da companhia (Warner) pediu para a gente gravar um disco rapidinho, que não desse muito trabalho e sugeriu que fosse um álbum de covers”. Isso causou polêmica junto ao público que, na sessão de cartas do leitor da publicação, lembrou que os Titãs sempre tiveram carta branca na hora de gravar os seus discos.
Apesar da intenção de homenagear ícones, regravando Pelados em Santos dos Mamonas Assassinas e Aluga-se de Raul Seixas, As Dez Mais não repetiu o êxito e muito menos a vendagem expressiva dos dois discos anteriores. Para piorar, o septeto perdeu espaço para outro disco de covers, o Isso é Amor (1999) do Ira!, que levou os pobres paulistas de volta ao mainstream. As Dez Mais também serviu para que os Titãs encerrassem o contrato com a Warner, gravadora em que permaneceram por 16 anos. Em 2000, a banda encontrou abrigo na Abril Music, resgatando a carreira de ícones do BRock como o Capital Inicial e Ira! no fim dos anos 1990. Mas isso é uma outra história.
Windson Alves
Que blog massa, parabéns pelo seu empenho e trabalho!
Muito obrigada, Rogerio 😉