Dirigido por Nick Goffey e Dominic Hawley e produzido por John Madsen da Oil Factory Films, o clipe já inicia com uma cena destacando o táxi no primeiro plano e trazendo o personagem de David Bowie ao fundo. É possível vê-lo de corpo inteiro, frente a uma banca de jornais e revistas, de costas para a câmera. A lente registra elementos urbanos tradicionais para compor esse primeiro quadro do videoclipe – veículos diversos cruzando o asfalto e pedestres atravessando a rua e a calçada, tendo como plano de fundo edifícios, árvores e placas de sinalização em uma típica área suburbana. A câmera se aproxima de Bowie pelas costas enquanto ouvimos os primeiros acordes da faixa industrial I’m Afraid of Americans, que já confere uma atmosfera de tensão ao vídeo, devido ao som pulsante e a potência dos sintetizadores aliada aos vocais quase sussurrantes de David Bowie.
Encarregado do excelente arranjo instrumental e dos vocais de fundo, Trent Reznor (vocalista do Nine Inch Nails) também estrela o clipe, interpretando o taxista Johnny. Nessas primeiras sequências, David está lendo o jornal quando olha por cima do ombro e dá de cara com o personagem de Reznor, com uma expressão nada amigável no rosto, o encarando. David lança um breve olhar assustado para ele, então começa a andar de modo a se afastar do estranho que o observa. Começa uma jornada de perseguição pela cidade, com David cantando, caminhando e correndo pelas ruas, enquanto a música toca e ele tenta escapar do taxista perturbado. Ao mesmo tempo, passa a testemunhar e temer o estranho comportamento dos transeuntes ao redor. O clímax no final do vídeo é, me perdoem o clichê, a cereja do topo do bolo, com direito à Parada de Dia dos Mortos.
Contando com a fotografia magistral de Daniel Landin e a edição eficiente de Simon Hilton, o vídeo de quatro minutos, inspirado no filme Taxi Driver (1976) de Martin Scorsese, estreou em 14 de outubro de 1997 nos Estados Unidos e se tornou marcante para a já profícua carreira do camaleão do rock, David Bowie. O sucesso do videoclipe fez da canção um dos carros-chefe dos últimos shows de Bowie, incluindo de sua turnê final realizada entre 2003 e 2004. I’m Afraid of Americans também foi o último single do músico a conquistar as paradas de sucesso – isso até 2016, ano da morte de Bowie, quando Blackstar e Lazarus também alcançaram esse feito – atingindo a 66ª colocação no Billboard Hot 100 e permanecendo por 16 semanas na parada. Também figurou no top 20 hits do Canadá.
David Bowie descrevia a canção como uma crítica à cultura americana homogeneizada que invade outros países e citava como exemplos entidades corporativas americanas como a Disney World e McDonald ‘s que haviam começado a operar em nações estrangeiras. Bowie sentiu que isso diminuía o caráter único de culturas indígenas distintas, o que, nas palavras dele, enfraquecia a expressão de vida dessas populações. De qualquer forma, o músico alegava que a canção não era hostil e, sim, uma mera ironia.
I’m Afraid of Americans teve várias versões. A música, que leva a assinatura do próprio David Bowie em parceria com Brian Eno, foi composta durante as sessões em estúdio para o álbum Outside de 1995, porém, não foi lançada até uma mixagem rudimentar da faixa aparecer na trilha sonora de Showgirls – sim, aquele drama erótico de Paul Verhoeven, considerado o maior vencedor da história do Framboesa de Ouro. Posteriormente, ela foi retrabalhada e incluída no álbum Earthling, de 1997. E foi essa a versão que entrou nas paradas de sucesso.
Originalmente produzida por David Richards, a versão que toca em Showgirls apresenta um refrão diferente: ao invés de “I’m afraid of Americans” (Tenho Medo dos Americanos), ouvia-se “I’m afraid of the animals” (Tenho Medo dos Animais).
O single de I’m Afraid of Americans que foi lançado nos Estados Unidos e Canadá não continha a versão do álbum Earthling, mas apresentava remixes da faixa interpretada pelos antigos companheiros de turnê de Bowie, a banda Nine Inch Nails, além do baterista e baixista Photek. A mixagem, denominada “V1” do Nine Inch Nails, tornou-se mais popular que a versão original do disco, em grande parte devido ao videoclipe, fazendo com que ela fosse incluída em algumas coletâneas do músico, como Best of Bowie (2002), Nothing Has Changed (2014) e Bowie Legacy (2016).
O vocalista, compositor, multi-instrumentista, produtor e um dos únicos membros permanentes da banda de rock industrial Nine Inch Nails, Trent Reznor, além de interpretar Johnny no clipe e ser responsável pelo remix da música que acompanha o vídeo, sempre foi um fã de David Bowie e considera o músico uma grande influência em seu trabalho. Reznor teve a oportunidade de sair em turnê com Bowie em 1995 e, em 2009, executou seu arranjo de I’m Afraid of Americans com com sua própria banda em um show ao vivo.
Confira esse grande videoclipe:
Para você que quer conhecer mais sobre a carreira de David Bowie, ele já foi destaque na coluna Personalidade do Bloggallerya.
Andrizy Bento