Como eu havia prometido na lista de filmes, vou relacionar aqui os melhores discos de 1984, mas sem limitação aos dez mais. Eles se tornaram clássicos absolutos dos anos 1980. Antes que cobrem pela ausência de um álbum ou outro, três possuem artigo próprio aqui. É o caso de Seu Espião do Kid Abelha, Maior Abandonado do Barão Vermelho e o Love At First Sting do Scorpions. Sem mais delongas, vamos aos discos que, em 2019, completam 35 anos desde o lançamento.
A Turma do Balão Mágico
Para quem é mais novo, eles inspiraram o grupo fictício Patotinha Mágica da novela Verão 90. O mais conhecido grupo musical infantil do Brasil nunca deu título aos seus cinco discos e, ao lado do Trem da Alegria, se tornou a trilha sonora das festas infantis nos anos 1980. A capa acima é do terceiro disco lançado em 1984; o primeiro da banda como quarteto, em virtude da entrada de Jairzinho, filho do cantor Jair Rodrigues na formação. Jairzinho também passou a fazer parte do programa matutino do grupo e que estava em seu segundo ano de exibição na TV Globo. Quando era apenas um trio, formado por Simony, Tob e Mike, o Balão lançou dois discos, o primeiro em 1982 e o segundo em 1983.
A formação que gravou esse álbum fez o Balão se tornar emblemático graças à canção Amigo do Peito, onde cada um dos integrantes dizia o seu nome no início da letra. Em entrevista para o programa Vídeo Show da TV Globo, em 2015, Simony diz que fez questão de gravar o videoclipe da canção ao lado de Fábio Jr., com quem o quarteto gravou a faixa e de quem a menina era fã. Outro grande êxito é a canção É Tão Lindo que abre o disco e na qual Simony canta em parceria com Roberto Carlos. A faixa falava sobre o amor às diferenças. Outra participação memorável foi do casal Baby Consuelo (hoje Baby do Brasil) e Pepeu Gomes na canção Mãe Me Dá Um Dinheirinho. Também não podemos nos esquecer de Fofão (vivido pelo saudoso Orival Pessini), considerado o quinto balão e com quem o grupo gravou a faixa Dia de Festa. Tirando as canções gravadas em duetos, o disco também contou com êxitos com Zip & Zap, Se Enamora e Tia Josefina.
Produzido por Mauro Motta, o álbum vendeu 2.500.000 cópias, conquistando o diamante duplo e sendo o que mais vendeu na trajetória do Balão Mágico. Esse disco tocou no meu aniversário de quatro anos, em 1984. Mas, infelizmente, em uma arrumação em minha casa dias depois, o meu vinil quebrou. A enorme vendagem do disco fez o Balão Mágico ganhar um especial de fim de ano na TV Globo no mesmo ano. O videoclipe de Amigo do Peito estava nesse especial. Simony gravou o videoclipe de É Tão Lindo para o especial anual de Roberto Carlos na mesma emissora. Foi também o último álbum com Tob, que deixaria o grupo no ano seguinte por estar entrando na adolescência. No lugar de Tob entrou Ricardinho. O Balão Mágico durou até 1986, ano em que o programa foi removido da grade de programação da Globo.
Celso Blues Boy – Som na Guitarra
Esse é o primeiro disco de blues cantado em português, produzido por Zeca Mocarzel e Luiz Antônio Mello. O último é criador da Fluminense FM, primeira estação de rádio dedicada ao rock no Brasil e fundada em Niterói, no Rio de Janeiro, em 1982. O nome verdadeiro do cantor e guitarrista carioca era Celso Ricardo Furtado de Carvalho e seu nome artístico veio do codinome de seu ídolo B.B. King. Celso o conheceu no show que o bluesman americano fez no extinto Hotel Nacional, no Rio de Janeiro. Nessa apresentação B.B. King resolveu emprestar a sua guitarra, Lucille, para Celso dedilhar. Posteriormente, os dois gravaram um disco juntos.
Antes da carreira solo, Celso Blues Boy tocou nas bandas de apoio da dupla Sá & Guarabyra e do cantor Raul Seixas. Do último, tocou no disco Abre-te Sésamo (1980), que traz Anos 80, Aluga-se e a polêmica Rock das Aranhas dentre as faixas de destaque. Celso também tocou em bandas como Legião Estrangeira e Magia Branca, além de enviar uma fita demo para a já mencionada Fluminense FM. A mesma estação lançou em seguida a coletânea Rock Voador (1982), pela Warner, que marcou o início da carreira solo de Celso Blues Boy e trazia as faixas Brilho na Noite e Caminhando. Celso tornou-se o artista que mais vezes se apresentou no Circo Voador, principal point roqueiro do Rio de Janeiro.
O músico assinou contrato com a extinta Polygram (atual Universal Music) e, pela gravadora, lançou o seu primeiro disco solo completo – Som na Guitarra. O disco abre com a faixa Aumenta Que Isso Aí é Rock and Roll, o maior sucesso do cantor. Canções blueseiras também obtiveram êxito como Fumando na Escuridão e Amor Vazio. Brilho na Noite foi incluída no álbum, encerrando o lado A. Outro sucesso de Celso Blues Boy, a canção Sempre Brilhará, foi gravada nas sessões de Som na Guitarra, mas não entrou por falta de espaço no LP, sendo lançada posteriormente em um compacto e anos depois como faixa bônus na versão em CD de Som na Guitarra. Celso Blues Boy também atuou no filme Rock Estrela (1985) de Lael Rodrigues, no qual interpretou Fumando na Escuridão.
Titãs
Trata-se da estréia fonográfica do octeto paulista. O grupo foi formado em 1982 por ex-alunos do Colégio Equipe, situado em São Paulo, e atendiam pelo nome Titãs do Iê Iê, pois costumavam fazer revivals da Jovem Guarda. Sem contar que a banda dispunha de seis vocalistas – um deles era Ciro Pessoa que deixou os Titãs em 1983. Os outros vocalistas tratavam-se de Arnaldo Antunes, Branco Mello, Sérgio Britto (também tecladista do grupo), Paulo Miklos e Nando Reis (os dois últimos ainda se revezavam no contrabaixo). Outros membros eram André Jung (bateria), Marcelo Fromer e Tony Bellotto (ambos na guitarra).
Com oito membros, o grupo foi contratado pela Warner e aboliu o “do Iê Iê” do nome. Gravaram o disco no estúdio paulista Áudio Patrulha que pertencia a Zé Rodrix e Tico Terpins, ex-vocalista do Joelho de Porco. A Warner sugeriu para a produção o renomado Liminha, mas a banda não via ele com bons olhos, pois o considerava pop demais. O Titãs preferiu trabalhar com Pena Schmidt na produção do primeiro álbum. Mas, antes, foi lançado um compacto com as canções Sonifera Ilha e Toda Cor. Cantada por Paulo Miklos, Sonifera Ilha foi o primeiro sucesso do Titãs e levou o octeto a participar de vários programas na TV, tais como Raul Gil e Cassino do Chacrinha. Interpretada por Branco Mello, Toda Cor emplacou ao ser inclusa na trilha sonora do filme Bete Balanço (1984) de Lael Rodrigues. Branco também cantou Babi Índio, que integrou a trilha sonora de outro filme, Areias Escaldantes (1985) de Franscisco de Paula. A banda tinha a intenção de incluir (a hoje clássica) Bichos Escrotos no álbum, mas a faixa seria riscada pela censura federal.
Há três regravações no disco. Uma delas é Balada de John e Yoko, que foi cantada por Sérgio Britto e é a versão de Ballad of John and Yoko dos Beatles. Outro cover é o de Querem Meu Sangue, interpretada por Nando Reis, versão de The Harder They Come de Jimmy Cliff. Para finalizar a parte das regravações, temos Marvin, também na voz de Nando Reis, regravação de Patches do grupo de reggae inglês The Rudies. Aliás o reggae é uma influência muito forte na sonoridade dos Titãs, pois além de Marvin, o álbum também traz a faixa Go Back, que apresenta um poema inédito de Torquato Neto e teve como base Still It Up de Bob Marley. Após o show na boate Mamão Com Açúcar, no Rio de Janeiro, na noite de ano novo, o Titãs resolveu demitir André Jung, que acabou sendo substituído por Charles Gavin. Ironicamente, André Jung substituiu Charles Gavin no Ira! E já que falamos de ironias, Liminha acabou se tornando o melhor produtor com quem o Titãs trabalhou.
Clube da Criança
É o único disco do programa infantil da extinta TV Manchete e que, na época, era apresentado pela popular Xuxa Meneghel. Em 1984, ela era conhecida por sua carreira de modelo e era bastante visada por ter sido namorada de Pelé, o rei do futebol. Nesse programa ela já causava polêmica, não só pelas roupas curtas, mas também pelo despreparo em lidar com crianças que, depois, apelidou jocosamente de baixinhos. O vídeo que contém o trecho “Aham Cláudia, senta lá!” que acabou se tornando bordão, já diz tudo, fora o controverso filme Amor Estranho Amor já relatado aqui.
Com relação ao disco, ele é considerado o embrião do que viria a ser o Trem da Alegria, pois os cantores principais se tratavam de Patrícia e Luciano, futuros membros do grupo. Também contou com a produção de Rildo Hora e Michael Sullivan, co-autor da maioria das faixas ao lado de Paulo Massadas. O disco trazia a canção Meu Ursinho Blau-Blau, maior sucesso do grupo carioca Absyntho. A canção de abertura trata-se da famosa É de Chocolate, que fez muito sucesso, e cuja qual Patrícia (que depois adotaria o Marx em seu nome artístico) e Luciano cantaram ao lado de Emilinha, além de contar com a guitarra do renomado Robertinho de Recife. A canção seria regravada em espanhol pela atriz mexicana Maria Antonieta de Las Nieves, convertida na personagem Chiquinha do seriado Chaves. A faixa seguinte é Carrossel de Esperança, que teve a participação do grupo Roupa Nova. Patrícia e Luciano só gravaram três canções sozinhos: Dartagnan e Os Três Mosqueteiros, Xuxa Xuxu e Eu Vi.
Pelé também participou do álbum com a faixa Recado à Criança. Sua namorada na época, Xuxa, cantou sozinha a faixa Lápis de Cor. O experiente palhaço Carequinha (vivido pelo finado George Savalla Gomes – sem parentesco com a atriz Elizabeth Savalla) apresentava, na TV Manchete, o programa Circo Alegre e emprestou sua voz para as faixas O Mundo Encantado de Um Palhaço e Circo Alegre do Carequinha. Outras participações memoráveis são a de Sérgio Reis (Moda do Sapo), Martinho da Vila (Sonhos de Criança), Vanusa (Dorme Meu Bem) e Sérgio Mallandro (Debaixo do Seu Nariz). O LP fez sucesso, vendendo 350 mil cópias em todo o país e rendendo disco de platina. No ano seguinte, a gravadora RCA (futura BMG) formou o grupo Trem da Alegria com a chegada de Juninho Bill.
Ratos de Porão – Crucificados Pelo Sistema
Ao lançarem o disco, João Gordo e companhia não imaginavam que estavam fazendo história no cenário musical. Esse é o primeiro álbum individual de uma banda punk na América Latina. O Ratos de Porão foi uma das crias do festival O Começo do Fim do Mundo, primeiro evento dedicado ao movimento punk no Brasil e que ocorreu no Sesc Pompeia, em São Paulo, nos dia 27 e 28 de novembro de 1982. Além do Ratos, bandas como Inocentes, Olho Seco e Cólera também tocaram no festival, cuja apresentações resultaram na coletânea que leva o nome do evento e é considerado o primeiro disco punk do Brasil.
Quanto ao Ratos de Porão (também chamado de RDP), apenas João Gordo e Jão integram a banda até hoje. Porém, no disco em destaque, Jão assumiu o cargo de baterista, uma vez que Mingau tocava a guitarra. Atualmente, o músico é baixista do Ultraje a Rigor. Para completar o time, Jabá estava no baixo. Foi a partir do segundo disco, Descanse em Paz (1986), que Jão se tornou o guitarrista oficial do Ratos do Porão.
Para o seu primeiro álbum completo, o Ratos de Porão firmou compromisso com o selo independente Punk Rock Discos e contou com a produção de Fábio Sampaio. Das 16 faixas, apenas Que Vergonha não é de autoria do RDP, uma vez que o crédito é atribuído ao Olho Seco. O álbum contém vários êxitos do quarteto paulista como Agressão/Repressão, F.M.I. e a faixa-título. Para celebrar os 30 anos de Crucificados Pelo Sistema, no ano de 2014, o Ratos de Porão reuniu a formação que gravou esse álbum para uma mini-turnê pelo Brasil. Ela rendeu um DVD ao vivo, que foi gravado no Circo Voador, no Rio de Janeiro.
Bezerra da Silva – É Esse Aí Que É o Homem
Apesar de ser um dos maiores ícones do samba, o cantor Bezerra da Silva era pernambucano de nascimento. Através desse gênero musical, ele cantou os problemas sociais das favelas e da população marginalizada, ganhando os apelidos de Voz do Morro e Embaixador dos Morros. Fora que o seu tipo de samba ficou conhecido como sambandido. Apesar do enorme prestígio dentro da música, Bezerra da Silva foi um artista bastante ignorado pelo mainstream.
Começou a desenvolver a sua verve musical a partir do coco do Jackson do Pandeiro. Logo, ingressou na bateria do bloco carnavalesco Unidos do Cantagalo, tocando tamborim. Sua entrada na indústria fonográfica ocorreu bem tarde, aos 42 anos, ao lançar um compacto em 1969. Após assinar com a gravadora Tapecar, Bezerra da Silva lançou o seu primeiro LP em 1975, chamado O Rei do Coco. O auge da sua carreira veio nos anos 1980, após assinar contrato com a RCA. Seu sexto disco, Partido Muito Alto (1980), marcou a sua estreia na gravadora.
O disco relatado aqui, É Esse Aí Que é o Homem, é o décimo da sua carreira, o quinto com a RCA e teve a produção de Aramis Barros. O álbum abre com a hilária Defunto Caguete, que ganhou videoclipe no Fantástico. A faixa seguinte, Foi o Dr. Delegado Que Disse, é bastante atual, como a maior parte das canções do Bezerra. Ela relata que a criminalidade não está restrita apenas aos mais pobres. Jovens, filhos de famílias ricas, de alta patente do serviço militar e até líderes religiosos também partiram para o crime. Sua terceira faixa, Judas Traidor, fala sobre o famoso cidadão que dedurou Jesus Cristo. Seu nome virou sinônimo de pessoas que enganam conhecidos que depositavam confiança cega neles. É Esse Aí Que é o Homem sucedeu Produto do Morro (1983) e antecedeu o super prestigiado Malandro Rife (1985).
Os Paralamas do Sucesso – O Passo do Lui
O power-trio carioca teve sua ascensão nacional com esse álbum, que foi produzido por Marcelo Sussekind. Herbert Vianna (voz e guitarra), Bi Ribeiro (baixo) e João Barone (bateria) não ficaram felizes com o resultado final do primeiro disco Cinema Mudo (1983), alegando manipulação da gravadora EMI. Por exemplo, na faixa de abertura, Vital e Sua Moto, não estava nos planos do trio incluir um coral e repetir o refrão no final da canção. Eles só puderam gravar a faixa do jeito que queriam na coletânea Arquivo (1990). Em 1984, a diretoria da EMI mudou e deu carta branca para Os Paralamas do Sucesso fazerem o que quisessem no seu segundo disco, O Passo do Lui.
O disco abre com um clássico do trio, Óculos, que relata a miopia do vocalista, Herbert Vianna. A faixa seguinte, Meu Erro, se tornou outro clássico indiscutível dos Paralamas. A terceira faixa, Fui Eu, fez mais sucesso com o grupo Sempre Livre, mas seu autor, o próprio Herbert, fez questão de gravá-la com a banda. O álbum também possui duas baladas: Romance Ideal e Me Liga. A última fez parte da trilha sonora da novela global Um Sonho a Mais, além de ter tocado em uma das cenas da ilha na novela A Gata Comeu. O lado A termina com a faixa Ska, que é a sua base e sequer é dita na letra. Ska é um ritmo vindo Jamaica e é mais acelerado que o reggae. Nela, há um solo de sax a cargo de Leo Gandelman.
O lado B abre com Mensagem de Amor, tida como a canção mais roqueira gravada pelo trio. Somente uma música desse álbum não é de autoria dos Paralamas; trata-se de Assaltando a Gramática. Ela foi composta por Lulu Santos, que participa cantando ao lado da sua então esposa, a jornalista Scarlet Moon. A faixa-título é instrumental e é a que encerra o disco. Os teclados das canções são de Jotinha (Meu Erro e Me Liga) e Ricardo Cristaldi (Óculos e Assaltaram a Gramática). A turnê de O Passo do Lui levou Os Paralamas do Sucesso a ser uma das atrações nacionais da primeira edição do festival Rock in Rio, em Janeiro de 1985.
Whitesnake – Slide It In
O sexto disco do grupo inglês foi um divisor de águas para a cobra albina. Produzido pelo respeitado Martin Birch, o álbum marcou a despedida do hard rock característico dos trabalhos anteriores, mesclando com o hard rock americano, que começava a ser trabalhado pela banda na época. Isso desagradou Colin Hodgkinson (baixo), Mel Galley e Mickey Moody (ambos guitarristas), que saíram da banda no meio da turnê promocional. Os outros membros que gravaram Slide it In foram o eterno vocalista David Coverdale, além dos saudosos Cozy Powell (bateria) e Jon Lord (teclado).
Mesmo fora, Galley compôs com David Coverdale a maioria das canções do disco. Entre elas, Love Ain’t No Stranger, o maior sucesso do grupo até então, principalmente no Brasil, pois fez parte da trilha sonora da propaganda de cigarros Hollywood. Três anos depois, essa faixa perdeu para a balada Is This Love? (nada a ver com a que foi gravada por Bob Marley) o título de maior sucesso do Whitesnake. Outro êxito é a canção Slow an’ Easy e ambas ganharam videoclipe. Guilty of Love tornou-se outro sucesso de Slide it In e foi o único videoclipe a contar com os seis músicos citados.
Para o lugar de Colin Hodgkinson, David Coverdale trouxe de volta Neil Murray, o primeiro baixista do Whitesnake. Nas guitarras, apenas um foi recrutado, o irlandês Joe Sykes, que havia acabado de sair de outro grupo, o também irlandês Thin Lizzy. Durante da turnê de Slide It In, a banda sofreu outra baixa, a do tecladista Jon Lord, que foi participar da reunião do Deep Purple. No lugar do veterano músico foi contratado Richard Bayley. Com os três músicos integrados, a turnê desse disco trouxe a banda ao Brasil pela primeira vez – o Whitesnake tocou no primeiro Rock in Rio. O grupo inglês foi a primeira atração estrangeira a se apresentar no festival carioca e o concerto ocorreu já no primeiro dia do evento, 11 de Janeiro de 1985. O então quinteto formado por David Coverdale, Joe Sykes, Neil Murray, Cozy Powell e Richard Bayley, voltaria à Cidade do Rock no dia 19 de Janeiro, quando tocou na primeira noite do metal da história do evento, que ainda teve apresentações de Ozzy Osbourne, Scorpions e ACϟDC.
The Go-Go’s – Talk Show
Representantes da new wave, as americanas da The Go-Go’s se tornaram a primeira e única banda de rock feminina a chegar ao topo das paradas de sucessos mundiais. É um feito que merece ser lembrado, mas confesso que me sinto envergonhado de falar em termos sexistas, pois, para mim, a música em geral não tem sexo, nem cor e nem cheiro, apenas sentido em cada um de nós. O grupo foi formado em 1978, em Los Angeles, na Califórnia, Estados Unidos e se tornou a parte americana da new wave ao lado do B-52’s.
A banda só teve uma formação, composta por Berlinda Carlisle (voz), Jane Wiedin (guitarra), Kathy Valentine (baixo), Gina Shock (bateria) e Charlotte Caffey (guitarra e teclados). Seu primeiro disco, Beauty and The Beat (1981) alcançou enorme êxito em seu lançamento, diferente de seu segundo álbum, Vacation (1982). Produzido por Martin Rushent, o terceiro LP, Talk Show, abre com Head Over Heels, um dos maiores sucessos da época e da própria banda. Em três anos, surgiram três canções com o mesmo título, mas com letras e ritmos diferentes. O grupo de metal alemão, Accept, incluiu o seu Head Over Heels em seu quinto disco, Balls To The Wall (1983). O duo inglês Tears For Fears gravou o seu Head Over Heels no segundo álbum, Songs From The Big Chair (1985).
Voltando as Go-Go’s, a segunda canção de Talk Show é Turn To You, que também foi a segunda faixa de divulgação do disco. A canção fala de Bob Welch, que namorava a integrante Charlotte Caffey. A terceira faixa de divulgação, Yes or No, ganhou videoclipe e marcou a despedida da banda. Porém, antes de encerrar as suas atividades, as The Go-Go’s tocaram no Brasil por uma única vez. Sabe onde? No festival Rock in Rio. Na primeira noite delas no evento (dia 13 de Janeiro), conheceram os integrantes d’Os Paralamas do Sucesso, que haviam tocado antes delas, e Gina Shock fez amizade com o João Barone. Na segunda e última noite (dia 18) as Go-Go’s tocaram para o maior público da sua carreira, 250 mil pessoas e dividiram a noite com o Queen e as compatriotas, The B-52’s. Volta e meia, as Go-Go’s voltam aos palcos.
Rush – Grace Under Pressure
Esse é o décimo disco de estúdio do power-trio canadense. É também o segundo álbum da sua terceira fase musical, que ficou marcada pela linha futurista, priorizando os teclados (típico dos anos 1980) e que começou no disco anterior Signals (1982). Geddy Lee (voz, baixo e teclado), Alex Lifeson (guitarra) e Neil Peart (bateria) conceberam Grace Under Pressure no Le Studios, em Morin Heights, no estado de Quebec, Canadá, com a produção de Peter Henderson.
Foi a partir desse disco que Neil Peart começou a utilizar pra valer uma bateria eletrônica (outra marca registrada da década de 1980). Ele começou de forma tímida em seu oitavo disco, Moving Pictures, que já foi relatado aqui. Neil utilizou o instrumento na gravação da faixa Red Sector A e nas apresentações ao vivo. Por conta dessa novidade, a banda preferiu gravar o videoclipe da canção em um dos shows da turnê de Grace Under Pressure. A partir dessa turnê, o palco da bateria de Neil Peart passou a ser giratório, uma vez que ele teve uma bateria comum e uma eletrônica. Já a letra de Red Sector A fala sobre os campos de concentração do Holocausto. Neil Peart soube dessa história por meio da mãe do vocalista, Geddy Lee.
Grace Under Pressure abre com Distant Early Warning, que narra as mudanças que ocorrem no mundo. Em seu videoclipe, o garoto que aparece é Julian, filho mais velho de Geddy Lee. A segunda canção é Afterimage, que tem como assunto o luto e também virou videoclipe. O lado A se encerra com The Enemy Within (part 1 of Fear), na qual o Rush brinca com o reggae. O videoclipe da canção mostra seres espaciais dentro de um nave assistindo à performance da banda. O disco se encerra com Between The Wheels, que fala sobre pressão. Ela também obteve êxito, mas infelizmente não ganhou videoclipe. Sua letra foi inspirada nas notícias do jornal The Globe and Mail de Toronto. A turnê de Grace Under Pressure rendeu a primeira visita do Rush ao Japão, além de resultar no vídeo ao vivo Grace Under Pressure Tour, gravado em Toronto, cidade natal do trio.
U2 – The Unforgettable Fire
Eis outro grande álbum gravado pelo segundo maior grupo de rock irlandês depois do Thin Lizzy. Para concebê-lo, o quarteto formado por Bono Vox (voz), The Edge (guitarra), Adam Clayton (baixo) e Larry Müller Jr. (bateria) se concentrou no Castelo Slane, em sua terra natal, Irlanda, e contou com a produção de Brian Eno e Daniel Lanois. A escolha dos dois produtores foi ideia da banda que pretendia fazer uma sonoridade mais ambiente. Além do castelo, o disco também foi gravado no estúdio Windmill Lane, na capital irlandesa, Dublin. Porém o que se vê na capa é o Castelo de Moydrum, que também fica situado na Irlanda.
O quarto álbum, The Unforgettable Fire, chegou ao mercado no dia 1º de outubro. A primeira faixa de divulgação é Pride (In The Name of Love), uma das canções mais celebradas pelos admiradores do U2. A canção é uma homenagem do quarteto irlandês ao pastor e ativista americano Martin Luther King, que foi assassinado em 1968. A faixa MLK é outra homenagem dos irlandeses ao finado reverendo. Outro grande êxito do disco foi a canção Bad, que fala sobre o vício em heroína. Ela fez muito sucesso graças às apresentações ao vivo. Bad ganhou versão ao vivo na compilação Wide Awake in America (1985). Outra canção que emplacou nos shows foi A Sort of Homecoming, que abre o disco. E não foi surpresa a faixa ter se tornado videoclipe em uma das apresentações.
A chamada The Unforgettable Fire Tour começou em Agosto de 1984, com o U2 tocando pela primeira vez na Oceania, mais precisamente na Nova Zelândia e na Austrália. Nos Estados Unidos, o U2 tocou pela primeira vez no lendário Madison Square Garden, em Nova York. Alguns shows do quarteto nessa turnê foram abertos pelos seus ídolos, Ramones. Se tem um show da The Unforgettable Fire Tour que o mundo não esquece, com certeza é do festival beneficente Live Aid, que ocorreu no dia 13 de julho de 1985 simultaneamente no estádio JFK, na Filadélfia, no Estados Unidos e no antigo estádio de Wembley, em Londres, capital da Inglaterra. O U2 tocou na parte inglesa do evento e, anos depois, Bono Vox afirmou “O Live Aid deu um banho de mijo em Woodstock”.
Van Halen – MCMLXXXIV
Para quem não sabe, MCMLXXXIV quer dizer 1984 em algarismos romanos. Produzido por Ted Templeman, se tornou o mais popular disco do grupo de hard rock americano. Foi também o primeiro álbum da banda gravado no 5150, o estúdio caseiro do guitarrista Eddie Van Halen. Outra estreia foi dos teclados nas canções da banda (executados pelo próprio Eddie, um exímio tocador de piano). A ideia agradou Michael Anthony (baixo) e o irmão, Alex Van Halen, (bateria)… Mas não David Lee Roth (voz).
O disco abre com a canção instrumental que dá título ao disco, cuja base são os sintetizadores tocados por Eddie. A canção seguinte, Jump, se tornou um clássico absoluto dos anos 1980. Sua introdução com sintetizadores é executada por muitos tecladistas até hoje. Jump foi a única canção do Van Halen a chegar ao topo da parada da Billboard. O videoclipe foi dirigido pelo próprio David Lee Roth, que mostrou ser muito performático. Jump e I’ll Wait são as faixas que contém teclados e foram as primeiras selecionadas para a divulgação de MCMLXXXIV.
O álbum também possui canções que mantiveram o Van Halen no bom e velho hard rock. Uma delas é Panama que também obteve êxito. Seu videoclipe foi rodado em um dos shows da turnê de MCMLXXXIV. Ela fala de um carro chamado Panama Express, que David Lee Roth viu correr em Las Vegas. Outro êxito rocker foi Hot For Teacher, que relatava a paixão platônica que os alunos tinham por sua professora. O videoclipe mostra a docente desfilando com roupa de banho diante dos alunos delirantes e tal cena causou polêmica nos Estados Unidos. MCMLXXXIV foi o último disco do Van Halen com David Lee Roth, que saiu da banda em 1985 e iniciou uma carreira solo muito bem sucedida. O posto de vocalista foi ocupado por Sammy Hagar, ex-membro do Montrose.
Queen – The Works
Após as experiências pop com The Game (1980) e Hot Space (1982), o quarteto inglês aos poucos regressou às raízes roqueiras. The Works é o 11º disco de estúdio do Queen. O quarteto formado por Freddie Mercury (voz), Brian May (guitarra), John Deacon (baixo) e Roger Taylor (bateria) dedicou todo o segundo semestre de 1983 à gravação nos estúdios Record Plant, em Los Angeles, Estados Unidos e no Musicland, em Munique, na Alemanha, sob a produção de Reinhold Mack. Durante a gravação, a guerra de egos na banda era tanta que Brian May ameaçou sair inúmeras vezes.
The Works chegou ao mercado em 27 de fevereiro e a primeira faixa de divulgação, Radio Ga Ga, alcançou enorme sucesso mundial. A canção comenta o aumento da popularidade da televisão sobre o rádio. O título inspirou o nome artístico da cantora pop americana, Lady Gaga. A segunda faixa de divulgação, I Want To Break Free, ganhou um videoclipe no qual os quatro músicos apareciam vestidos de mulher, parodiando o seriado britânico Coronation Street. Por causa do videoclipe, o mundo pensou que se tratava de um hino pro-gay, uma vez que o vocalista, Freddie Mercury, havia assumido a sua homossexualidade há pouco tempo. Também causou controvérsia nos Estados Unidos e foi banido da MTV. Porém, a canção é de autoria do baixista John Deacon, como um desabafo a respeito de sua timidez. Outra canção que obteve sucesso foi Hammer To Fall, que manteve a banda no bom e velho rock.
A turnê também foi motivo de controvérsia. O Queen realizou nove shows na África do Sul, que se encontrava em pleno Apartheid, o polêmico regime político de segregação racial. Foi também com a turnê de The Works que o Queen veio ao Brasil pela segunda vez, se apresentando no festival Rock in Rio. São de propriedade do quarteto inglês o canhão de luzes do palco, a mesa de som e o maior cachê do evento carioca (cerca de 600 mil dólares). Nos bastidores, Freddie Mercury deu chilique por que não queria dialogar com artistas brasileiros, alegando que não eram do seu gabarito e até destruiu o camarim. Após cinco shows no Japão, o Queen resolveu tirar férias, mas foram adiadas para que o quarteto se apresentasse na parte inglesa do festival Live Aid.
Metallica – Ride the Lightning
Nesse segundo disco, o quarteto californiano mostrou que era muito mais do que o barulho feito em seu estreia fonográfica, Kill ‘Em All (1983). Ride The Lightning chegou ao mercado em 27 de julho, faltando um dia para o início das Olimpíadas de Los Angeles, cidade natal da banda de thrash metal. O título é uma gíria usada entre presidiários para designar os condenados à morte na cadeira elétrica – e esse é o elemento que ilustra a capa do álbum. O disco foi concebido no estúdio Sweet Silence, em Copenhague, capital da Dinamarca, país de origem do baterista Lars Ulrich. O Metallica ainda contava com James Hetfield (voz e guitarra), Cliff Burton (baixo) e Kirk Hammett (guitarra).
Suas letras abordam temas como o desespero, a morte e o medo da perda. O que também se destaca no disco e que caracteriza as composições, são os riffs e solos mais estudados, além das letras em faixas – como a canção-título, Fade To Black e a instrumental The Call Of Ktulu. Mas também preserva o thrash sujo do álbum anterior nas faixas Fight Fire With Fire e Trapped Under Ice. Os maiores êxitos do disco são as canções Creeping Death, For Whom The Bell Tolls (que começa com introdução de sino, como já era de se esperar) e a mencionada Fade To Black (introdução de violão).
Ride The Lightning é também o último álbum em que Dave Mustaine aparece entre os créditos das canções depois de ter sido expulso do Metallica. Ele é creditado na faixa-título e na mencionada The Call of Ktulu. Dave Mustaine formou, posteriormente, o Megadeth, que faz parte da chamada Big Four of Thrash ao lado do Metallica, Slayer e Anthrax. Ride The Lightning vendeu mais de 5 milhões de cópias no país natal da banda. Sua turnê colocou o Metallica para tocar em grandes festivais pela primeira vez, caso do inglês Monsters of Rock e do alemão Metal Hammer.
Iron Maiden – Powerslave
Esse disco firmou de vez a formação clássica do grupo inglês de heavy metal, com Bruce Dickinson (voz), Adrian Smith (guitarra), Steve Harris (baixo), Dave Murray (guitarra) e Nicko McBrain (bateria), além de fazer a trinca de ouro dos álbum dos Iron Maiden, junto de The Number of The Beast (1982) e Piece of Mind (1983). Assim como o antecessor, Piece of Mind, Powerslave foi gravado nas Bahamas onde a banda passou a morar para fugir dos pesados impostos britânicos. Logicamente, teve a produção do respeitável Martin Birch. A capa foi inspirada na cultura egípcia, onde o monstro-mascote Eddie aparece como um deus egípcio e como uma múmia, tudo desenhado por Derek Riggs.
O disco abre com Aces High, um dos maiores êxitos da banda, que fala sobre as caças na Segunda Guerra Mundial. Era a canção que abria os shows com um discurso de Winston Churchill, primeiro ministro britânico no conflito. A segunda faixa é 2 Minutes To Midnight, que fez ainda mais sucesso e relata a constante ameaça de uma guerra nuclear que pairava na época. Sua terceira faixa é a instrumental Losfer Words (Big’ Orra), que mostra o padrão sonoro da banda. A faixa-título está presente no lado B e também se tornou um clássico do Iron Maiden. A canção trata dos momentos finais de um faraó. Nos shows, Bruce se apresentava usando uma máscara. O disco fecha com Rime on The Ancient Mariner, inspirada no poema homônimo escrito pelo poeta inglês Samuel Taylor Coleridge. A faixa tem duração de 13 minutos e 36 segundos, sendo uma das canções mais longas já gravada pelo Iron Maiden, somente superada por Empire of The Clouds (18 minutos), que o grupo gravou no seu 16º disco, The Books of Soul (2015).
A turnê de Powerslave foi chamada de World Slavery Tour 84/85, que é considerada a melhor que a banda já fez, com 187 shows em 331 dias. Começou de maneira histórica no dia 9 de Agosto de 1984, na Polônia, rendendo o documentário Behind The Iron Curtain. Foi essa turnê que trouxe o Iron Maiden ao Brasil pela primeira vez, quando tocaram no Rock in Rio para 200 mil pessoas. A World Slavery Tour rendeu o primeiro disco ao vivo do Iron Maiden, o Live After Death (1985), que foi gravado por quatro noites no Long Beach Arena, em Los Angeles, Estados Unidos. Live After Death também rendeu um vídeo ao vivo.
Twisted Sister – Stay Hungry
É o mais popular disco do quinteto nova-iorquino. A banda americana foi criada pelo guitarrista Jay Jay French, no início dos anos 1970. Além de Jay Jay, os músicos que gravaram Stay Hungry foram Eddie Ojeda (guitarra), Mark Mendoza (baixo), A.J. Pero (bateria) e Dee Snider (voz), que estampa a capa e é o autor de todas as faixas. É claro que, desde o seu nascimento, o Twisted Sister (também conhecido como TS) passou por mudanças na sua formação, mas a banda se firmou mesmo com os músicos citados acima através do seu primeiro disco, Under The Blade (1982), lançado de forma independente. A boa repercussão de seu début no cenário roqueiro, rendeu um contrato com a poderosa Atlantic Records, a mesma de Ray Charles, Led Zeppelin e ACϟDC.
Com a produção de Tom Werman, Stay Hungry é o terceiro disco do Twisted Sister, concebido em três estúdios diferentes e que chegou ao mercado em 10 de maio do ano em questão. O álbum aliou influências do metal britânico, glam rock dos anos 1970 e uma pequena pitada do hard oitentista. Sua primeira faixa de trabalho, We’re Gonna Take It (nenhuma relação com a que foi gravada pelo The Who), se tornou a mais emblemática da banda, principalmente por conta do videoclipe que mostrava um pai querendo repreender o filho por adorar ouvir TS. Logicamente, a banda aparece e expulsa o pai da própria casa várias vezes. Outro grande êxito é a faixa I Wanna Rock, que também teve alta-rotatividade com seu videoclipe. Neste, é a vez de um professor repreender um aluno fã do TS. Os próprios membros da banda aparecem para agitar com os estudantes e, claro, atormentar o professor. Tanto o pai de We’re Gonna Take it quanto o professor de I Wanna Rock foram vividos pelo ator Mark Metcalf. Outro grande êxito de Stay Hungry é a balada The Price.
Os videoclipes fizeram o Twisted Sister ser alvo de polêmica nos Estados Unidos. Um grupo de esposas de políticos influentes da terra do tio Sam criou, em dezembro de 1984, uma organização chamada PMRC (Parental Music Resource Center), que visava promover censura contra canções com temas considerados obscenos como drogas, ocultismo, violência e vulgarização da mulher. A líder da PMRC era Tipper Gore, esposa do então senador Al Gore. We’re Gonna Take It foi listada como uma das 15 canções mais sujas pela PMRC. O assunto chegou até aos tribunais, onde Dee Snider testemunhou contra a PMRC, junto de John Denver e Frank Zappa. O caso não deu em nada, garantindo a liberdade de expressão nos EUA, mas os discos com letras polêmicas foram obrigadas a terem o selo da PMRC.
Deep Purple – Perfect Strangers
É o disco que trouxe de volta ao mercado fonográfico a banda inglesa de hard rock, após oito anos na geladeira. O Deep Purple faz parte da chamada tríade do rock pesado inglês dos anos 1970, ao lado do Black Sabbath e do Led Zeppelin. O grupo havia acabado em 1976 e contava com David Coverdale (voz), Glenn Hughes (baixo) e Tommy Bolin em sua formação. O último morreu no fim daquele mesmo ano. A ideia de acabar com a banda partiu de Jon Lord (teclado) e Ian Paice (bateria), os membros com mais tempo no Deep Purple. Jon Lord e David Coverdale formaram o Whitesnake em 1977 e chamaram Ian Paice para compor a banda dois anos depois.
Quatro anos depois de seu fim, o Deep Purple foi vítima de uma fraude arquitetada pelo empresário americano Steve Green, que queria remontar a banda. Para essa empreitada, convidou Rod Evans, vocalista dos três primeiros discos do grupo, além de outros músicos desconhecidos. O controverso projeto realizou apenas onze shows e todos terminaram em quebra-quebra, pois o público insatisfeito percebeu que aquele não era o Deep Purple de verdade. Isso resultou em vários processos pelo uso indevido da marca, sem contar que Rod Evans perdeu os royalties que ganhava com o Deep Purple. Quanto ao Deep Purple de verdade, para o público a formação mais lembrada era conhecida como Mark II (ou MK II). Até o inicio de 1984, Ritchie Blackmore (guitarra) e Roger Glover (baixo) conduziam o Rainbow, Jon Lord seguia com o Whitesnake, Ian Paice era membro da banda de apoio do guitarrista Gary Moore e Ian Gillan (voz) gravou o seu único disco como membro do Black Sabbath, o Born Again (1983).
No entanto, o quinteto fez um teste e se reuniu em 1984. Alugaram uma casa de campo em Stowe, no estado americano de Velmont, e uma unidade móvel do citado estúdio canadense, e contou com a produção do baixista Roger Glover. Perfect Stranger foi o primeiro disco da MK II desde Who Do We Think We Are (1973). O disco foi um grande êxito, ainda mais porque o Deep Purple gravou seus primeiros videoclipes – das músicas Knocking At Your Back Door (inspirado no filme Mad Max), Under The Gun e da faixa-título. A turnê foi a segunda mais bem sucedida só nos Estados Unidos, perdendo apenas para a de Bruce Springsteen. Em 2013, um show dessa turnê, realizado em Sydney, na Austrália, foi transformado em DVD e CD ao vivo, intitulado Perfect Strangers Live.
Band Aid – Do They Know It’s Christmas?
Esse não é propriamente um disco, mas um single. É considerado o primeiro grande esforço de ídolos da música em prol da caridade. Tudo começou quando o cantor e compositor irlandês Bob Geldof, líder da banda Boomtown Rats, assistiu a um documentário na BBC sobre a fome na Etiópia, país do continente africano, e ficou sensibilizado. Tanto que teve a ideia de criar o projeto beneficente Band Aid e compor a canção Do They Know It’s Christmas ao lado de Midge Ure (da banda Ultravox).
Entretanto, os músicos não quiseram fazer isso sozinhos. Bob e Midge decidiram reunir a nata da música pop inglesa e irlandesa para a gravação no estúdio Sarm West, em Londres, Inglaterra, no dia 25 de novembro. Quem topou participar dessa empreitada beneficente foi Bono Vox (U2), Sting (The Police), Phil Collins (Genesis), Simon Le Bon (Duran Duran), George Michael, Paul Young, Boy George, Paul McCartney e David Bowie (só para citar alguns). Com a produção de Midge Ure, o single Do They Know It’s Christmas chegou ao mercado britânico em 3 de dezembro e, de imediato, conquistou o primeiro lugar em boa parte da Europa. A venda do single rendeu 14 milhões de dólares que foram revertidos em prol do combate à fome na África.
Em janeiro de 1985 veio a resposta americana com o projeto USA For Africa. Composta por Michael Jackson e Lionel Ritchie, a canção We Are The World teve mais êxito do que Do They Know It’s Christmas, alcançando sucesso mundial. Bob Geldof uniu o Band Aid e o USA For Africa para a realização do festival Live Aid, que ocorreu no dia 13 de julho de 1985, simultaneamente no estádio JFK, na Filadélfia, Estados Unidos e no antigo estádio de Wembley, em Londres, capital da Inglaterra. O êxito do Live Aid fez a ONU instituir o 13 de julho como o Dia Mundial do Rock. Tanto do Band Aid quanto do USA For Africa, ninguém do heavy metal foi chamado para participar. Claro que os cabeludos não deixaram barato e Ronnie James Dio criou o projeto Hear’n Aid com o mesmo propósito beneficente, reunindo ícones do heavy metal para a gravação da faixa We’re Stars, lançada em 1986.
Windson Alves
Que ano maravilhoso grandes obras primas
Muito bom, conheço a maioria e tenho em vinil boa parte. Alguns não conheço e vou procurar ouvir, ótimo trabalho, abs
Senti falta de Born in the USA (Bruce Springsteen), Defenders of the Faith (Judas Priest), Balls to the Wall (Accept), Purple Rain (Prince) e The Last in Line (Ronnie James Dio). Grandes clássicos de 1984!