Personalidade: Sofia Coppola

Engana-se quem pensa que não existe nada pior do que ser conhecida apenas como “a filha de seu pai”. Ainda mais quando esse pai trata-se de ninguém menos do que Francis Ford Coppola. É claro que é necessário provar seu talento e que seu sucesso é consequente de seu próprio esforço e mérito, e não dos contatos do pai aclamado. Mas existe algo ainda pior. Pelo menos no caso de Sofia Coppola, a nossa homenageada do mês de junho: ser conhecida como a atriz que arruinou o filme do pai. E como se já não fosse o suficiente, o filme em questão tratava-se do encerramento de uma trilogia cujos dois primeiros capítulos são considerados marcos do cinema, verdadeiras obras-primas, tendo ambos levado o Oscar de Melhor Filme – o primeiro em 1973 e o segundo em 1975. É bem óbvio que estou falando de O Poderoso Chefão: Parte III.

Mas, embora tenha começado com o pé esquerdo – com uma série de atuações inexpressivas e uma que se tornou memorável justamente pelos motivos errados – o tempo é o maior dos sábios e Sofia Coppola teve a chance de provar que seu talento como cineasta mais do que compensava a limitação de seus dotes interpretativos. Primeiro com As Virgens Suicidas, seu longa-metragem de estreia, lançado em 1999, que narra a comovente história de cinco belas irmãs adolescentes que, de modo subsequente, cometem suicídio sem uma razão aparente ou plausível. Baseado no livro homônimo de Jeffrey Eugenides, o filme fez com que a jovem cineasta passasse a ser alardeada como um nome promissor do meio.

As Virgens Suicidas

A sua consagração definitiva, no entanto, veio com Encontros e Desencontros de 2003 (do qual eu já falei muito por aqui), filme pelo qual ganhou o Oscar de Roteiro Original no ano seguinte. Com uma história bem simples, centrada em dois americanos que se conhecem em Tóquio e desbravam a cidade juntos, compartilhando noites insones e combatendo suas respectivas solidão e melancolia,  Sofia conquistou plateias do mundo todo e arrebatou a crítica especializada que elegeu seu segundo filme como um dos títulos queridinhos daquele ano.

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Encontros e Desencontros

Em 2006, a ilustre herdeira transformou a história de Maria Antonieta em uma narrativa bem pop: um retrato moderno da última Rainha da França, repleto de referências artísticas, cinematográficas e à cultura contemporânea e que ainda contava com uma trilha sonora super simpática composta por bandas de indie rock. Infelizmente, foi mal compreendida em Cannes (onde teve seu filme vaiado durante a primeira exibição para a imprensa). De qualquer modo, trata-se de outro título delicioso da filmografia da cineasta.

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Maria Antonieta

Em Bling Ring: A Gangue de Hollywood, lançado em 2013, ela reuniu um elenco de promissores rostos da nova geração e realizou outro trabalho notável de direção. Baseado no artigo “Os suspeitos usavam Louboutin”, publicado na revista americana Vanity Fair em 2010 e assinado pela jornalista Nancy Jo Sales, o longa acompanha uma gangue de jovens nem um pouco necessitados que tem um hobby incomum: furtar as mansões luxuosas de celebridades hollywoodianas. Mesmo inspirado por um episódio real, não deixa de ser uma narrativa bem Sofia Coppola, isto é, todas as características que a consagraram como cineasta estão lá: o foco nos personagens, a trama intimista, a câmera elegante, a trilha sonora pontual e o seu inegável talento em compor uma obra pop e, ao mesmo tempo, autoral.

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Bling Ring: A Gangue de Hollywood

No ano passado, surgiu o anúncio de que Sofia iria dirigir uma versão repaginada e em live-action de A Pequena Sereia. No início deste mês de junho, contudo, ela abandonou o projeto alegando divergências criativas com o estúdio que produziria a adaptação.

Agora, nos resta ficar no aguardo de suas futuras produções. O que se sabe, por enquanto, é que A Very Murray Christmas, projeto que retoma a parceria de Encontros e Desencontros, entre a cineasta e o ator Bill Murray, está previsto para estrear no fim deste ano nos Estados Unidos.

Sofia coleciona prêmios (que vão muito além do famigerado Framboesa de Ouro de Pior Atriz e Pior Perfomance da década por O Poderoso Chefão III), ela já ganhou o Oscar, Globo de Ouro, Leão de Ouro, Independent Spirit Awards e ainda recebeu indicações ao Bafta e à Palma de Ouro no Festival de Cannes.

Na vida pessoal, Sofia já foi casada com o também diretor Spike Jonze tendo, inclusive, estrelado um dos antológicos videoclipes assinados por ele: Elektrobank do The Chemical Brothers (algo que também já comentei por aqui). Atualmente é casada com o músico Thomas Mars da banda Phoenix (que fez parte da trilha sonora de Encontros e Desencontros), com quem tem duas filhas.

Embora tenha abandonado definitivamente a carreira de atriz por conta do pouco destaque e da recepção negativa de seus papéis, Sofia mostra que terá uma longa e prestigiosa jornada como realizadora e roteirista. A gente agradece 🙂

Andrizy Bento

Things We Know By Heart

Things We Know By Heart ou, em uma tradução livre, “Coisas Que Sabemos Pelo Coração”, livro de Jessi Kirby ainda não lançado no Brasil, conta a história de Quinn, cuja vida passa por uma enorme mudança depois que o namorado e melhor amigo, Trent, morre em um acidente.

A história narra a procura de Quinn pelas pessoas que receberam os órgãos de Trent, principalmente por aquele que recebeu seu coração. Na busca por uma proximidade com estes desconhecidos que tem um “elo” com Trent, a protagonista passa a enviar cartas para cada um e, assim, consegue manter contato com eles. Exceto por Colton, o rapaz que justamente recebeu o coração de Trent. Com a falta de resposta deste, Quinn decide que a melhor solução é ir em busca de seu coração, ou melhor, ela terá que decidir se aquele coração que busca é o de Trent ou o de Colton.

Após algum tempo considerando cometer a loucura de ir atrás do rapaz que recebeu o coração de seu namorado – o que é considerado um crime – acaba o conhecendo mesmo que sem querer e, com isso, surge uma amizade muito bonita entre eles que, posteriormente, dá início a um romance.

Sendo um livro contemporâneo de verão, ele trata de assuntos mais maduros e pesados, porém de forma leve e sem perder sua essência, o que provoca no leitor tanto a mesma angústia quanto a mesma felicidade da personagem. Através da narrativa vamos conhecendo mais a respeito de Colton e, juntamente com Quinn, vamos nos apaixonando a cada nova virada de página.

Things We Know By Heart é um livro que faz o leitor refletir sobre mudanças e aceitações, assim como também nos faz pensar se aquilo que queremos é realmente algo de que precisamos. Ao mesmo tempo que nos ensina que devemos estar sempre abertos às novas experiências, mesmo que elas não pareçam certas a julgar de maneira racional, mas que o coração insiste em dizer que são.

Por fim, a narrativa de Kirby é linda, com mensagens mais belas ainda e que, sem dúvida, te leva a refletir. Indico para todo mundo.

Márcia Campelo

Cinderela

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Meu problema com contos de fadas data de muito tempo. Sempre achei suas lições deveras distorcidas. Contos de fadas nunca tiveram meu apreço. Desde criança, preferia super-heróis e super-heroínas a príncipes e princesas. Creio que a única coisa referente a esse universo que desperta meu interesse seja o fato de possuírem origens adultas, soturnas e macabras – em sua era pré-Disney. E até mesmo pré-Irmãos Grimm. Pois é. Mas como para toda regra há exceção, a minha é A Bela e a Fera. No entanto, devo salientar: não gosto da versão de A Bela e a Fera produzida pela Disney. Na verdade, não gosto de nenhuma das adaptações da Disney para os contos de fadas. Minhas mais sinceras desculpas, leitores! Minha adaptação favorita do conto é La Belle et la Bête, um longa francês de 1946, dirigido por Jean Cocteau e René Clément. Um dos filmes mais belos do mundo, indispensável na lista de favoritos de todo e qualquer cinéfilo que se preze.

Cinderela já teve inúmeras releituras, inclusive várias moderninhas protagonizadas por cantoras pop como Brandy (Cinderella, telefilme de 1997), Hilary Duff (A Nova Cinderela, 2003) e Selena Gomez (Outro Conto da Nova Cinderela, 2008). A que eu mais gosto é Ever After: A Cinderella Story, que no Brasil recebeu o título Para Sempre Cinderela, estrelada por Drew Barrymore. E talvez o fato de esse ser mais calcado no realismo, ter Leonardo Da Vinci como fada-madrinha (inesperado, no mínimo), contar com uma Cinderela forte, inteligente e destemida, além de um enredo envolvente, tenha prejudicado todas as outras versões da história para mim. Inclusive esta de 2015, dirigida por Kenneth Branagh (Thor) e roteirizada por Chris Weitz (A Saga Crepúsculo: Lua Nova).

Cinderela é um filme bonito, bem elencado e que encanta os românticos de plantão e pessoas mais facilmente impressionáveis. Mas não é nada mais do que isso. O longa é visualmente notável (embora peque pelo excesso em determinados momentos), com um roteiro bem pouco audacioso, muitas vezes redundante, apressado e que tinha tudo para ser aproveitado e desenvolvido de maneira mais satisfatória. A introdução, por exemplo, se prolonga demasiadamente, de modo que o encontro de Ella (Lily James) com o príncipe (Richard Madden), bem como sua transformação de gata borralheira à princesa, são rápidos demais. Sem falar no baile, ponto alto da história, que passa voando. Neste aspecto, a montagem talvez seja o item que mais conte pontos contra o filme.

Falando no baile, este é bem decepcionante por conta da decisão equivocada de focar exclusivamente em Ella quando esta chega ao baile. Carecia de mais surpresa, de mostrar a multidão extasiada ante a sua entrada triunfal e apoteótica no salão. Sentida ausência, especialmente, de uma reação mais apropriada do príncipe que não parece, assim, tão deslumbrado como deveria diante da visão ‘esplendorosa’ da moça mais linda da festa.

As perguntas de Ella durante a sua transformação em princesa chegam próximas de irritar. Ela precisava realmente repetir tudo o que a Fada Madrinha (Helena Bonham Carter, ótima!) lhe diz, em tom de assombro? Outro ponto em que o filme falha bastante é no humor. São desastrosas as tentativas (a maioria delas, pelo menos) de arrancar risadas do espectador, acertando muito raramente no timing cômico. Incomoda também a trilha sonora mal pontuada; os temas musicais insistem em entrar nos momentos errados. Sem falar em um dos males recorrentes de produções hollywoodianas atuais: a tal da frase edificante repetida exaustivamente durante o longa.  Tenha coragem e seja gentil… A partir da quinta vez em que a sentença é proferida, o bocejo se torna inevitável a cada nova repetição.

Kenneth Branagh tenta o máximo que pode conduzir a narrativa de uma forma leve, divertida e despretensiosa, mas a mão pesada do roteirista Chris Weitz (algo característico dele), com suas tentativas forçadas de sensibilizar o público e exagerar na dosagem de ternura, não ajudam o cineasta a encontrar um tom adequado. De modo que, em diversos momentos, o filme soa extremamente infantil, ainda que sua intenção seja agradar plateias variadas.

Se há méritos, estes são, em sua maioria, do elenco. Lily James é bonita, está bem fotografada e tem boa presença de cena. Mesmo que sua bondade, douçura e ingenuidade sejam meio enervantes. De qualquer modo, ela é convincente. O mesmo pode se dizer do príncipe, bem representado por Robb Stark… Isto é, Richard Madden, que faz exatamente o que o roteiro pede dele. Destaque para Cate Blanchett, na pele da madrasta má, e suas filhas, vividas por Holliday Grainger e Sophie McShera. Caricaturais sem pudores, se divertindo muito em seus respectivos papéis e responsáveis por alguns dos raros momentos genuinamente engraçados da produção.

A versão realista do conto, Para Sempre Cinderela, tinha mais consistência, um desenvolvimento melhor, uma fluência narrativa digna de nota e tratava-se de uma obra cinematográfica infinitamente mais cativante. Esta, que se assume descaradamente como fantasia com toques expressivos de romance água-com-açucar, até cumpre o que promete. Entretanto, poderia ser muito melhor do que isso. Superficial, mas bonitinho, não deve demorar a se consagrar como um clássico contemporâneo da Sessão da Tarde.

Andrizy Bento

10 Motivos Para Conferir Marvel’s Agents of S.H.I.E.L.D.

Produzida pela Marvel Studios, em parceria com a Mutant Enemy Productions, e exibida pela emissora norte-americana ABCMarvel’s Agents of S.H.I.E.L.D. surgiu na esteira do sucesso de Os Vingadores – filme-evento de 2012 que reunia os mais icônicos heróis da Marvel e um dos maiores sucessos de bilheteria da história do cinema. Criada por Joss Whedon, com a colaboração de seu irmão, Jed Whedon, e da cunhada Maurissa Tancharoen (que também assinam o roteiro e direção de grande parte dos episódios), a série tem como base a organização fictícia da Marvel, a S.H.I.E.L.D.Strategic Hazard Intervention, Espionage and Logistics Directorate – e retrata o dia a dia incomum da subdivisão liderada pelo agente Phil Coulson – o braço direito de Nick Fury, que foi morto por Loki no primeiro filme dos Vingadores. Depois de retornar à vida misteriosamente e ser cobaia do projeto T.H.A.I.T.I., Coulson decidiu reunir uma equipe de desajustados, porém bem treinados agentes, a bordo de um avião de última geração, munido dos mais impressionantes recursos tecnológicos. O time se dedica exclusivamente a investigar casos confidenciais da maneira mais discreta possível, de forma a não gerar uma onda de pânico na população.

A série estreou em 24 de setembro de 2013 e todos os ingredientes que poderiam fazer da produção um sucesso instantâneo estavam lá: O selo Marvel, que vem acertando em suas produções cinematográficas; um piloto assinado por Joss Whedon, que geralmente agrada a todos os nerds; e uma trama centrada em agentes que combatem ameaças sobrenaturais enquanto voam em um estiloso jatinho mega equipado.

Não tinha como dar errado, não é mesmo? Bem, digamos que não foi bem assim a princípio…

As minhas primeiras impressões da série foram postadas aqui há mais de um ano e, como é possível perceber, fui bem severa em minhas críticas. E não me arrependo de tê-las postado e sequer volto atrás no que disse. Foi exatamente este sabor de decepção que os primeiros episódios deixaram. Não só em mim como em diversos espectadores. Porém, após algumas conversas com amigos (cujo gosto para séries considero confiável) que me convenceram a dar mais uma chance à produção, resolvi não abandoná-la e insistir um pouco mais. Vai que eles estivessem certos? E estavam. Continuar vendo a série foi uma das decisões mais acertadas que tomei nos últimos anos, sem exagero. A partir do 1×10, a trama melhora consideravelmente e proporciona aos espectadores uma das melhores produções televisivas baseadas em quadrinhos.

Hoje, ao rever os primeiros episódios, até consigo gostar mais deles, pois tenho conhecimento de que aqueles casos, aparentemente irrelevantes, se conectam ao todo e preparam terreno para incríveis reviravoltas.

Mas, se você ainda não conferiu a série, ou não teve a sorte de encontrar amigos pelo caminho que lhe incentivassem a dar mais uma chance a ela, fica tranquilo! Eu preparei uma seleção de 10 motivos pelos quais você deve conferir Marvel’s Agents of S.H.I.E.L.D.

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1. Evolução da trama: Começou burocrática, recorrendo à famigerada estrutura procedural (o monstro da semana), mas a série evoluiu muito e agora só restam motivos para amar. Os produtores e roteiristas souberam estabelecer um cânone e uma mitologia respeitável, com um texto afiado e um enredo bem construído. Todos os casos desconexos e desinteressantes dos primeiros episódios se interligam e são de grande importância para a trama como um todo. A segunda temporada confirmou de vez a qualidade do seriado, que se tornava mais envolvente a cada episódio.

2. Está tudo conectado: It’s all conected é o slogan da série. E ele não existe à toa e nem só por uma questão de marketing. Absolutamente tudo surge dentro de um contexto em Agents. A trama é bem alinhada, com elos sólidos entre todos os elementos narrativos. Isso sem falar das conexões com o universo Marvel – quadrinhos e cinema – contando com as participações especiais e bem inseridas de personagens como a Lady Sif dos filmes do Thor e até mesmo de Nick Fury. As referências são coesas, naturais e críveis; a série é um excelente exemplo de narrativa transmídia, fazendo boas introduções aos filmes da Marvel e servindo também como algo complementar às produções cinematográficas do estúdio, sem, no entanto, deixar de funcionar de maneira independente e se estabelecer como obra isolada. Eis uma série que leva os conceitos de Cultura da Convergência de Henry Jenkins muito a sério. E isso é ótimo, pois essa é a grande sacada das narrativas atuais que se desdobram em inúmeras plataformas.

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3. Plot twists e cliffhangers: Agents está repleta de reviravoltas surpreendentes, capazes de deixar qualquer espectador desavisado boquiaberto (incluindo uma que pega todo mundo desprevenido quando da revelação da verdadeira natureza de um dos personagens centrais, ainda na primeira temporada). E os cliffhangers, os famosos ganchos para os próximos episódios (que geram ansiedade e expectativa no público), são mais uma prova do brilhantismo dos roteiristas. Um exemplo perfeito é a cena que encerra a segunda temporada. Afinal de contas, o que houve com a personagem que foi abduzida pelo artefato Kree? será que vai se tornar vilã? O que sabemos, com certeza, é que o próximo ano da série precisa chegar com urgência para descobrirmos de uma vez o paradeiro dela…

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4. Finale da segunda temporada: Falando nisso, o episódio que aborda a batalha entre a S.H.I.E.L.D. (ou o que resta dela) e os Inumanos, com uma trama paralela envolvendo o sequestro de Bobbi Morse pelo traidor Ward, é, sem dúvida, o melhor da série até agora, com uma narrativa bem costurada, ótimo ritmo e desenvolvimento, participações efetivas de todos personagens e um desfecho satisfatório de cada arco dramático. Sem falar no cliffhanger

5. Personagens: A princípio, eles eram caricaturais e simplesmente não convenciam. Havia o agente bonitão, correto, leal *cof* e extremamente hábil com armas e nos embates físicos (Grant Ward); a ninja letal, soturna e calada (Melinda May); a duplinha de melhores amigos nerds, cientistas brilhantes, porém antissociais (Leo Fitz e Jemma Simmons); a hacker engraçadinha, mas que carregava um drama pessoal (Skye); e o líder que ora desempenhava o papel de chefe, ora de paizão da turma (Phil Coulson). Isso incomodou bastante nos primeiros episódios. Aos poucos, no entanto, os estereótipos foram sendo desconstruídos e os personagens se revelaram muito mais profundos e complexos graças à riqueza de backgrounds bem trabalhados. As aparências realmente enganaram nesse caso. Outro ponto a se ressaltar dentro desse tópico é que a série provou que personagens menos populares e “esquecidos” de HQs podem render, sim, boas histórias.

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6. Mulheres no Poder: É um tanto frustrante que em tempos de tantas discussões sobre como Game of Thrones e outras séries são machistas, pouca gente dê atenção ao fato de que Agents é uma das séries que mais representa a força de personagens femininas. Além de carismáticas, é possível se identificar com elas, mesmo que se tratem de agentes especiais altamente treinadas. Mas suas personalidades garantem essa identificação. Para começar, a série deveria girar em torno de Phil Coulson, porém, Skye roubou a cena desde os primeiros episódios e acabou por se tornar a personagem central e uma das mais queridas pelo público. E sejamos justos: ela é o elemento vital da trama. Praticamente todo o plot depende dela. Da hacker inumana à cientista geek, da Cavalaria à Harpia, sem contar as vilãs – Raina, Jiyang, Kara – e aquelas que apenas fazem participações especiais na série – Agente Peggy Carter (fundadora da S.H.I.E.L.D.), Maria Hill e a Asgardiana Lady Sif – as mulheres dominam Agents of S.H.I.E.L.D. Na finale da segunda temporada, Bobbi Morse, a Harpia, mostrou que luta de igual para igual com Ward; que é durona e não pode ser derrotada facilmente, mesmo sob tortura física e psicológica; e ainda foi capaz de levar um tiro para evitar que seu ex-marido, Lance Hunter, caísse em uma armadilha.

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7. Emocionante sem ser piegas: Agents é capaz de levar os espectadores mais sensíveis – e até mesmo os mais durões – às lágrimas sem, contudo, pesar a mão no dramalhão, apenas com diálogos sutis e momentos ternos e trágicos na medida certa. Toda as cenas de FitzSimmons no fundo do oceano, após serem vítimas da traição do ex-companheiro de equipe (no episódio que encerra a primeira temporada), e a última conversa entre Skye e seu pai (na finale da segunda), são tocantes sem apelação e sem forçar a barra.

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8. Elenco: Está para existir um elenco mais adorável e com tanta química dentro e fora das telas como esse. As entrevistas que eles dão em conjunto são sempre uma delícia de se assistir e a interação e dinâmica entre eles em cena é imbatível. Além disso, não dá para deixar de citar a participação do elenco nas redes sociais. Em toda transmissão de um novo episódio, lá estão eles interagindo com os espectadores, seja pelo twitter ou pelo instagram – acompanhando, vibrando e se emocionando junto com os fãs. Sem entregar spoilers, mas dando pistas preciosas para o público pescar. Essa interação dos atores com o fandom é um achado, pois não só faz com que eles fiquem mais próximos dos espectadores como também indica a importância destes últimos para a produção. Nenhum outro elenco faz isso melhor.

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9. FitzSimmons: Se teve dois personagens que cresceram e mudaram muito (de maneira positiva) dos primeiros episódios para cá, estes foram Fitz e Simmons. Figuras adoráveis, carismáticas, além de formarem um duo altamente shippável. É fato que mesmo os mais anti-casais se viram shippando FitzSimmons. Mas eles são mais do que isso. A duplinha de nerds, a princípio, parecia compor um único personagem. Fitz não existia sem Simmons e vice-versa. Então veio a dramática cena no fundo do oceano, onde ambos quase morreram vítimas de Ward, e tudo mudou. Fitz sofreu um dano cerebral e Simmons resolveu se afastar. Pelo bem de seu amigo e pelo seu próprio. O que permitiu o crescimento individual dos personagens e uma ótima oportunidade de serem desenvolvidos de maneira independente um do outro. A evolução de seus personagens é notável. Todavia, é lógico que o fato de sua amizade ter sido abalada fez com que os espectadores sentissem falta da cumplicidade que eles possuíam na temporada inaugural da série. Aos poucos – depois de muitas discussões, brigas e distância – eles foram recuperando a dinâmica e parceria de outrora. E isso acarretou em um dos momentos mais ternos da finale da segunda temporada. Agora, resta esperar para ver se o tal jantar vai mesmo se concretizar…

10. Grant Ward: O vilão que todos amam odiar. Ele tentou matar FitzSimmons, traiu e assassinou outros agentes da S.H.I.E.L.D., enganou a todos os seus companheiros de equipe, sequestrou e torturou Bobbi Morse, é um filho da mãe de marca maior e vem se transformando, a cada novo episódio, no maior vilão da trama. Mas a série não seria a mesma coisa sem ele. Ward é um personagem fundamental, responsável pelo plot twist mais impactante da primeira temporada e, ao que parece, ainda vai render muita dor e sofrimento aos ex-companheiros de S.H.I.E.L.D. no próximo ano da produção.

Eu poderia citar ainda um 11º motivo que é o visual e os movimentos de câmera bem elaborados do seriado. Toda aquela cena em plano-sequência protagonizada por Skye no 2×19 e o bullet-time bem empregado no último episódio da segunda temporada foram dignos de nota. Vale citar também o visual de Raina, assustadoramente convincente, e os poderes dos Inumanos que impressionam de maneira positiva.

Excelente em termos visuais e narrativos e prometendo surpreender ainda mais na próxima temporada, Marvel’s Agents of S.H.I.E.L.D. é um prato cheio tanto para marvetes quanto para os fãs de uma boa produção sci-fi.

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E que venha o terceiro ano da série!

Andrizy Bento

Fanmade: Dona Moça

Fifi Mascarenhas e Aurélia Camargo
Fifi Mascarenhas e Aurélia Camargo

Há três anos, o mundo seriemaníaco foi surpreendido com o surgimento de uma webserie super criativa chamada The Lizzie Bennet Diaries que, por sinal, já circulou aqui na minha coluna. Pois então, um grupo de fãs de TLBD, reunido em um group do facebook, o Pemberley Digital BR, pensou: por que não fazer com clássicos brasileiros o que fizeram com os romances de Jane Austen? Repaginá-los, reinventá-los, modernizá-los, seguindo à risca o mesmo formato de TLBD? Assim surgiu o Adorbs Produções e o canal da Dona Moça Eventos no youtube.

O romance escolhido foi o clássico Senhora de José de Alencar, que faz parte da fase urbana do autor e compreende os seus perfis de mulher. Também integram a trilogia os romances Diva e Lucíola. Para quem não conhece, Senhora se passa no século XIX, quando a protagonista, Aurélia Camargo, é preterida pelo jornalista Fernando Seixas, simplesmente por não atender aos ideais financeiros sonhados por ele e, dessa forma, planeja se casar com a rica Adelaide Amaral, mesmo sem amá-la. Porém, nossa heroína enriquece repentinamente e faz o que ninguém esperava: compra o noivo, o próprio Fernando Seixas. É a partir dai que a história se desenvolve. Talvez alguns não gostem do final, mas o romance é, irremediavelmente, um clássico.

Creio que não houvesse escolha melhor do que adaptar Senhora. Nos episódios que foram ao ar – três no total – já fica implícito que aconteceu um envolvimento entre Aurélia e uma pessoa que obviamente se trata de Fernando. E parece que é por causa dele e de um apelido que Aurélia recebeu na faculdade que a empresa se chama Dona Moça

A adaptação deixa bem claro que nossa querida heroína não herda uma fortuna. Pelo contrário, ela trabalha muito para ter sua própria grana. A história me instigou muito e já me deixou com uma curiosidade imensa para saber como as meninas da Adorbs (o grupo formado para produzir a webserie) vai dar continuidade à trama. Está previsto que Dona Moça terá dez episódios nessa primeira temporada.

Gaby Matos

O que vem por aí: Preacher (AMC)

claquete personalizado de Preacher

A adaptação para a telinha da série em quadrinhos de Garth Ennis e Steve DillonPreacher, é uma das promessas da AMC, emissora responsável pelos fenômenos The Walking Dead e Breaking Bad. Eu já falei sobre a graphic novel aqui no Bloggallerya e, como uma grande fã do material de origem, óbvio que estou com altas expectativas e esperando que venha coisa boa por aí.

Publicada entre os anos de 1995 e 2000 pelo selo Vertigo (uma divisão madura da DC Comics), em sessenta e seis revistas regulares, mais seis edições especiais (que não tão curiosamente formam o número 666), a trama acompanha Jesse Custer, um ex-pastor possuído pela entidade Gênesis, nascida da união entre um anjo e um demônio. A entidade lhe confere a voz de Deus, e tão logo os anjos do Paraíso tomam conhecimento desse fato, decidem que Custer deve ser morto. Ao lado de sua bela amante Tulip e do vampiro irlandês alcoólatra Cassidy, o ex-pastor parte em uma jornada para tentar desvendar o paradeiro de Deus. Com influências que vão de Quentin Tarantino aos clássicos westerns americanos, abusando de violência e linguagem de baixo calão, Preacher é uma road history brilhante e reflexiva. Uma narrativa que versa sobre a fé e o companheirismo, além de representar uma poderosa crítica social.

primeira imagem de Dominic Cooper como Jesse Custer
primeira imagem de Dominic Cooper como Jesse Custer

Criada por Seth Rogen e Evan Goldberg (que assinam a direção do piloto), a série traz Dominic Cooper na pele do carismático Jesse Custer. Vale lembrar que o ator já interpretou outro personagem oriundo dos quadrinhos: Howard Stark, o pai de Tony Stark – o Homem de Ferro – no filme Capitão América: O Primeiro Vingador e na série de TV Agent Carter da ABC. Além dele, o elenco ainda conta com Ruth Negga como Tulip (a Raina de Agents of S.H.I.E.L.D.), Joseph Gilgun como Cassidy, Ian Collety como Arseface, Tom Brooke como o Anjo Fiore e Elizabeth Perkins que interpreta a personagem original Vyla Quincannon.

Agora nos resta aguardar e torcer para que a produção faça justiça à HQ revolucionária de Ennis e Dillon. Se o piloto for aprovado, a série deve ser exibida em 2016.

Andrizy Bento