“What a lovely day…”
A fim de escrever uma resenha que faça justiça a Mad Max: Estrada da Fúria, atualmente em cartaz nos cinemas brasileiros, decidi evitar comparações com o original de 1979 (que vez ou outra, durante a projeção, voltou-me com força à memória, mais por conta da nostalgia mesmo) e suas duas sequências lançadas em 1981 e 1985, respectivamente. É perfeitamente possível analisar este novo Mad Max (do mesmo diretor da trilogia original, George Miller) sem precisar recorrer aos longas estrelados por Mel Gibson como ponto de referência. Em outras palavras: o filme é bom demais, de modo que não seria justo amparar esta resenha em comparações desnecessárias.
O título não poderia ser mais preciso. É em uma estrada de fúria que toda a narrativa se desenrola. É em uma jornada por alguma esperança, em meio ao caos, guerra e carnificina, que conhecemos os marcantes personagens. Trata-se um road movie brutal, repleto de metáforas inteligentes, um visual fantástico, montagem acelerada e batalhas colossais com direito a música ao vivo (?) a cargo de um explosivo guitarrista.
Desde os minutos iniciais, o longa nos arremessa para dentro de um cenário pós-apocalíptico aterrador, já deixando claro que é este terreno desolado que a narrativa visa explorar. O futuro sombrio é retratado com primor. Neste aspecto, a belíssima direção de fotografia, a composição cromática e todo o desenho de produção são notáveis ao apresentar ao espectador uma terra árida, de condições inóspitas, totalmente crível. Mad Max possui algumas das cenas mais bonitas do ano. Destaque para a arrebatadora tempestade de areia e as perseguições – inicial e final – com movimentos de câmera acertados e efeitos especiais muito bem empregados.
Tom Hardy, na pele de Max, é soturno, carrancudo, misterioso, bom de briga e, ainda assim, carismático como exige o personagem. Mas é Charlize Theron, com sua Furiosa, que rouba a tela inteira para si durante a maior parte do filme. Uma guerreira durona e melancólica, determinada e rebelde, sempre acertando no tom. Nicholas Hoult, intérprete de Nux, pontua bem seus momentos de pura insanidade com outros em que ainda demonstra possuir alguma razão e sentimento.
Com personagens bizarros (alguém fala mais sobre o guitarrista?), uma narrativa bem pop e autoral, ação praticamente ininterrupta e doses cavalares de violência estilizada, Mad Max é um soco no estômago que não se limita (ou não se contenta) em ser apenas um blockbuster feito para divertir plateias compostas de saudosistas dos filmes originais da franquia e uma nova geração de cinéfilos – curiosos em conhecer Max ou que estão tendo seu primeiro contato com a história. O filme é uma fantasia perturbadora com toques de realismo, pois versa a respeito da miséria, racionamento, escravidão, exploração sexual, abuso de poder, opressão, desigualdade social e ainda reserva um excelente espaço para discutir a força feminina. E é bem-sucedido na abordagem destes temas, bem como em todos os seus símbolos e alegorias. Além disso, em tempos de explicações excessivas e longas que parecem subestimar a inteligência do espectador, é ótimo ver como Mad Max não se rende a isso, com um background construído gradativa e cuidadosamente ao longo da projeção, sem a necessidade de recorrer a uma narrativa didática.
São duas horas de duração que podem ser definidas como um espetáculo visual que deve ser conferido no cinema. Não apenas vale o ingresso, como é uma indicação obrigatória para aqueles que curtem entretenimento inteligente e cheio de personalidade, estilo e irreverência.
Andrizy Bento
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