Eis outro tokusatsu querido de nós, brasileiros. Neste mês, o seriado Lion Man celebra bodas de ouro por aqui.
Lion Man foi exibido no Japão pela TV Fuji, de 14 de abril a 29 de setembro de 1973, com 25 episódios produzidos pela P-Production e é o tokusatsu não franqueado. No Japão, leva o título de Fuun Lion Man que, em português, significa Tempestuoso Lion Man. No Brasil, foi batizado de Poderoso Lion Man, ou Lion Man Laranja. Assim como o Jiraiya, estreou na televisão brasileira, dentro do programa Cometa Alegria na extinta TV Manchete, em 2 de outubro de 1989. O programa era exibido nas manhãs de segunda à sábado, apresentado por Cinthya Rachel e Patrick de Oliveira.
A produção foi ambientada no Período Edo (1603-1868), também chamado de Japão Feudal ou a Era dos Samurais – guerreiros que lutavam pela honra das tradições japonesas contra a invasão ocidental. Antes dele, existiu outro Lion Man, que foi chamado no Brasil de Lion Man Branco e passou antes do Lion Man Laranja no Japão. Por aqui, foi exibido na Manchete também, mas vou falar sobre isso mais para frente. A série gira em torno de Dan Shimaru (Tetsuya Ushio), um samurai de 21 anos, que teve o seu irmão mais velho, Dan Kage Noshin, assassinado. Porém antes de morrer, Noshin revela que o responsável foi Nezuma, monstro humano da seita Mantor do Diabo, que se intitula família.
A partir daí, ele se torna um andarilho junto de seu cavalo branco Silver, uma espada e dezenas de adagas, com o intuito de fazer justiça e vingar a morte do irmão. No trajeto, conhece dois irmãos, a adolescente Shinobu (Ryoko Miyano) e o menino Sankichi (Tsunehiro Arai), que andam de carroça à procura do pai que desapareceu anos atrás. O curioso processo de transformação de Shimaru em Lion Man começa quando o próprio grita “formação Lion Man”. Em seguida, surge em suas costas um foguete em forma de mochila, com um tipo raro de pólvora, que o leva para as nuvens; então, ele regressa ao chão já transformado. A Família Mantor é liderada por Mantor do Diabo, que, fisicamente, é um grande rosto térreo fundido ao solo nas profundezas de sua fortaleza.
O braço direito de Mantor é o alienígena Agdar, comandante cuja aparência é de um elmo de samurai com olhos e boca. Seu corpo apresenta uma armadura negra com um ideograma em vermelho, sua mão direita é normal e sua mão esquerda é semelhante a de um esqueleto. Além disso, ele se locomove com o auxílio de uma cadeira de rodas. Também denominado O Embaixador do Mal, Agdar atua como cientista e traça as estratégias que definem todas as ações do império, enviando um monstro humano que aparenta ser um determinado tipo de animal. Nas missões, ele manda o monstro agir com os soldados Ninjas Rastejantes, a infantaria móvel do império – humanóides racionais, idênticos entre si, nascidos em ovos e que usam armas diversas, principalmente espadas de katana.
No nono episódio, intitulado Vale do Diabo, ocorre um crossover. Tudo começa quando Shimaru cai do cavalo e quebra a sua mochila especial, que lhe ajuda a se transformar. Ele tem de enfrentar o monstro Gamuji e os ninjas rastejantes com roupa civil. Nessa luta, sua espada de katana é quebrada por Gamuji, ele perde o equilíbrio e despenca, rolando uma ladeira. Com Shimaru desmaiado, cinco Ninjas Rastejantes estão prestes a matá-lo, quando aparece o Lion Man Branco montado em seu cavalo pégaso. Ele mata os cinco, deixa para Shimaru uma nova espada e vai embora pelos céus.
A missão de Shimaru se complica quando, no seu caminho, aparece Hyoba (Masaki Hayasaki), um outro samurai andarilho e que a todo momento quer desafiar Shimaru para uma luta. Hyoba também tem o poder de se transformar em um animal, no caso um jaguar negro. No 11º episódio, ao enfrentar o monstro humano Romã, Hyoba acaba morrendo. Nesse mesmo episódio Shimaru ganha um novo aliado, Tora Jonosuke (Yoshitaka Fukushima), que também é outro samurai andarilho, que enxerga com um olho só e vive dando bronca em Shimaru, quando este se mostra sentimental. Tora Jonosuke (leia-se jonoske) também possui o poder de transformação em um animal, no caso um tigre. É ele quem aconselha Lion Man a tirar o elmo (o protetor), que foi quebrado pelo citado Romã.
A partir do episódio 17, Shimaru e os irmãos Shinobu e Sankichi (leia-se Sankiti) conhecem Nijino Nanairo (Naoyuki Sugano), um samurai vindo da vila de Kougah, irreverente, de técnicas ousadas, mas menos hábil que os demais. Shimaru e Shinobu entram em uma base de Mantor disfarçados de ninjas rastejantes. Os dois se perdem no local e Shinobu conhece a sua irmã gêmea, Shizue (Ryoko Miyano), aliada dos Mantor. Contrariando as ordens do protagonista, Nijino e Sankichi resolvem entrar depois deles e descobrem que os Ninjas Rastejantes nascem em ovos.
No episódio seguinte, Shizue resolve trair os Mantor, ajudando os quatro a saírem da base deles. Do lado de fora, o monstro Zucã, mesmo cambaleando, dispara uma lança contra Lion Man, mas Shizue entra na frente, sendo atingida. Antes de morrer, ela entrega para Shinobu um punhal feito pelo pai de ambas, chamado primavera. Shizue estava prestes a contar para Shimaru o segredo do Mantor do Diabo, quando o mesmo resolve disparar um raio, transformando-a em pedra, deixando um mistério no ar.
No episódio 23, intitulado Agdar vs Lion Man, Shimaru percebe que a lâmina de sua espada está avariada e decide levá-la para um ferreiro. Para que o herói não fique de mãos vazias, o mesmo ferreiro lhe entrega uma espada de cabo branco que traz o ideograma inverno. O que eles não imaginam é que o Mantor está à caça dela, pois ela esconde o segredo que Shizue ficou de contar.
A casa do ferreiro é atacada pelos ninjas rastejantes que atacam a ele e seus dois empregados. Porém, o dono ainda consegue ficar de pé para terminar a restauração da espada de Shimaru. Por coincidência, Shinobu e Sankichi o avistam cambaleando do lado de fora e decidem socorrê-lo. Agonizando, o ferreiro revela para os dois que entregou para Shimaru a espada inverno, que foi fabricada pelo pai deles. Revela também que quando a espada inverno cola a sua lâmina com o punhal primavera, surge um relâmpago, que destrói ambos e o segredo é revelado.
Quando está lutando com os ninjas rastejantes, Shimaru fica sabendo pelo monstro Trojam, que está usando a espada inverno, que esta guarda o segredo de Mantor. Enquanto Shinobu e Sankichi correm para devolver a espada original ao Shimaru, o mesmo se transforma em Lion Man e derrota o mencionado monstro com a espada especial. Em seguida Shinobu e Sankichi chegam e contam a história da espada e do punhal para Shimaru.
Pressionado por Mantor, Adgar resolve correr atrás da espada inverno dentro de sua cabine flutuante. Durante a luta de Shimaru contra os ninjas rastejantes, Adgar toma a espada dele e a espada inverno, que estava com Sankichi. Shinobu reage ao jogar seu punhal, que gruda na espada inverno, que faz aparecer o relâmpago, explodindo ambas. Shimaru aproveita a transformação, pega a espada de volta e derrota Agdar. Os frangalhos da espada e do punhal são na verdade pedaços do mapa dos vários esconderijos dos Mantor. Nele, Shimaru, Shinobu e Sankichi percebem que os Mantor vivem em locais limitados, chamados no mapa de primavera, verão, outono e inverno. Também há a possibilidade de descobrir o paradeiro do pai de Shinobu e Sankichi.
O 24º episódio, intitulado Triste Decepção, é o penúltimo de Lion Man. Nele, o Mantor nomeia um humano chamado Kans para o posto que foi do finado Agdar. Fazendo uso do mapa, Shimaru, Shinobu e Sankichi vão para um dos esconderijos de Mantor mais próximo, na companhia do brincalhão Nijino. Em cima da carroça dos irmãos citados, o próprio Nijino constrói com agulha e linha uma máscara do Lion Man para enganar os inimigos. Shimaru se separa do trio para investigar algo suspeito e, transformado em Lion Man, salva alguns aldeões do ataque dos ninjas rastejantes.
Porém, Shinobu e Sankichi são atacados por outros ninjas rastejantes e pelo monstro Hado. Nijino decide salvá-los se fingindo de Lion Man com a máscara que criou. Sua brincadeira serve para salvar os dois irmãos, embora Nijino seja capturado e a caminho da base dos Mantor, deixe pistas para os amigos. Kans resolve transformá-lo em bala de canhão contra Lion Man e os dois irmãos. Ao ser disparado, Nijino consegue se desviar do trio e atinge alguns ninjas rastejantes, explodindo junto deles.
Enfurecido com a morte do amigo, Lion Man vai até o canhão, pega Kans e leva para Shinobu e Sankichi. Ao ser agredido por Lion Man, o véu de Kans cai e descobrem que ele é humano. O pente em forma redonda cai também e, através do objeto, Shinobu descobre que Kans é o pai que ela e Sankichi tanto procuravam. Dez anos antes, Kans presenteou a filha com um pente de formato semelhante. Após uma longa conversa, Shinobu revela ao pai que tem vergonha por ele ter servido a Mantor. Sankichi sai correndo chorando e Shimaru vai atrás dele.
Minutos depois Shinobu entrega para Shimaru um outro mapa do esconderijo de Mantor, dado por Kans, que retorna à caverna. Shimaru vai socorrê-lo, mas chega tarde, pois Kans é executado como traidor. Após derrotar o monstro Hado, Lion Man conversa com Kans agonizando e este pede para o herói entregar aos filhos a mecha de cabelo que ele cortou após jurar fidelidade a Mantor. Shimaru acata e fala para os irmãos que não é possível salvá-lo. Shinobu agradece ao samurai por tudo que ele fez pelos dois e por agora poderem voltar para casa.
O 25º episódio, intitulado A Queda do Império, é o último de Lion Man. O episódio começa com Shimaru lembrando do dia em que o irmão morreu em seus braços. Em seguida, ele avista a carroça de Shinobu e estranha, pois ouviu dela que voltaria para casa. Ela relata que o irmão Sankichi sumiu, desejando vingar a morte do pai. Shimaru resolve ajudá-la a procurar Sankichi antes dos Mantor. Porém, os ninjas rastejantes avistam o garoto, que é salvo por Tora Jonosuke transformado em Joe Tiger. Outro pelotão de ninjas rastejantes avista também Shinobu e Shimaru, que ficam feridos pelo Roáz, o último monstro humano dos Mantor.
Mesmo ferido, Shimaru quer entrar na última fortaleza dos Mantor e escuta de Tora que se for, não deve ter piedade de ninguém, como fez nos episódios anteriores. Ao chegar próximo à entrada da fortaleza, Shimaru dispensa o cavalo Silver e tira a espada. A caminho da entrada, a lembrança de pessoas que morreram nas mãos dos Mantor vem à sua mente, como o seu irmão, o rival Yoba e Nijino. Ao entrar, escapa de várias armadilhas e dos ninjas rastejantes. Shimaru chega a ser trancado em uma jaula, mas consegue escapar se transformando em Lion Man.
Após uma luta árdua, Lion Man vence o monstro Roáz. Agonizando, ele corre para se jogar em algo que o protege. Lion resolve cravar a espada no monstro junto desse algo, sem perceber perfura a testa do Mantor, que espalha larva pela caverna, prestes a explodir com tudo dentro. Lion Man consegue escapar da caverna, que explode. Shinobu e Sankichi se despedem de vez do Shimaru.
A canção de abertura Yuke Tomoyo Lion-Maru Yo é interpretada por George Hama & Blues Angels. A faixa de encerramento Ikuzo! Lion-Maru é cantada por Shouji Wada & Young Echoes. Intérprete da Shinobu e da irmã gêmea Shizue, Ryoko Miyano é uma cantora popular no Japão desde os anos 1970. Ela gravou Sino No Kazoe Uta e a cantou em alguns episódios. No Brasil, a trilha sonora foi gravada em português e lançada em LP pela Top Tape.
Antes de Lion Man Laranja, a mesma P-Productions produziu, em 1972, Kaiketsu Lion Man, que na tradução literal quer dizer Heróico Lion Man ou O Vigilante Cavaleiro Lion Man. Ela chegou ao Brasil em 1990 pela Top Tape, além de ter estreado na televisão pela Rede Manchete, sendo chamada pelo público de Lion Man Branco. Por coincidência, esse Lion Man Branco também se chamava Shimaru, além de ter sido interpretado também por Tetsuya Ushio. Porém, não são o mesmo personagem, pois o Lion Man Branco se chamava Shishimaru (a dublagem aboliu a primeira sílaba), que também era um samurai andarilho e lutava em parceria dos irmãos Saori e Kosuke. Para mim, Shishimaru é ancestral do Shimaru, mesmo as duas produções tendo sido ambientadas no Japão Feudal.
O mesmo vale para o Tora Jonosuke/Joe Tiger. Em Lion Man Branco, ele foi vivido por Koji Tonohiro. Foi nessa produção que a personagem ficou cega de um olho. Transformado em Joe Tiger, ele perdeu a visão do olho direito, após ser atingido pela espada de Lion Man Branco. Já em Lion Man Laranja, Yoshitaka Fukushima interpretou Tora Jonosuke/Joe Tiger, que herdou de seu ancestral a deficiência no olho direito.
Não posso me esquecer do Tetsuya Ushio, que nasceu em Quioto, no Japão, no dia 13 de dezembro de 1949. Além de Shimaru/Lion Man, ele também atuou em Red Baron (1973), Ultraman Leo (1974) e Kamen Tenshii Roseta (1998). Ter atuado em Lion Man, fez dele um apaixonado por cavalos, tanto que foi apresentador do Super Keiba, um programa de esporte sobre hipismo e corrida de cavalos na Fuji TV. Tetsuya Ushio se desligou do meio artístico em 2010, é casado até hoje com Kujo Akiko, a Saori de Lion Man Branco.
A dublagem de Lion Man foi realizada pela Álamo, com a direção de Gilberto Barolli, que dublou alguns personagens dessa produção. Seu filho, Hermes Barolli, dublou o Sankichi, além do Namabu em Jiraiya e o Seiya do anime Os Cavaleiros do Zodíaco. Irmã do último personagem citado, Shinobu foi dublada por Lúcia Helena, que é outra conhecida no ramo dos tokusatsu, pois deu voz a Nana adolescente em Changeman e a Sara/Yellow Flash em Flashman. A narração de Lion Man ficou a cargo de Carlos Alberto Amaral.
Shimaru/Lion Man teve dois dubladores no Brasil. Do primeiro até o oitavo episódio, o protagonista foi dublado por Nelson Machado, dublador de Kiko do seriado Chaves. Em entrevistas, Nelson Machado relatou que toda vez que vai a um evento, as pessoas pedem para ele falar “formação Lion Man”, o grito de transformação do personagem, além dos bordões de Kiko. Porém, a partir do nono episódio em diante, a voz brasileira do Lion Man passou a ser de Leonardo Camilo. Até hoje não se sabe o que ocasionou essa mudança. Nelson Machado voltou em Lion Man dublando Nijino Nanairo.
Conhecido por dar voz aos heróis vermelhos sentai, Francisco Bretas dublou o Hyoba/Jaguar. Ele também dublou o vilão Retsuga em Jiraiya. Tora Jonosuke/Joe Tiger foi dublado por Luiz Carlos de Moraes, conhecido ator e dublador brasileiro.
Quem também teve dois dubladores foi o Mantor do Diabo, que nos dois primeiros episódios foi dublado por Muibo César Cury, radialista, além de ter dado voz ao vilão Kaura em Flashman. Já nos outros episódios, o vilão principal foi dublado por Borges de Barros, que dublou o profeta Edin em Jaspion e o Gata em Changeman. Já Agdar foi dublado por Gastão Malta, que dublou o doutor Keflen em Flashman. Pai de Shinobu e Sankichi, Kans foi dublado pelo saudoso Líbero Miguel, que faleceu em 1989, enquanto dublava o Dokussai em Jiraiya.
O êxito de Lion Man e Jiraya fez nascer no Brasil a ninjamania, da mesma maneira que a Rambomania em 1988. Na transição dos anos 1980 para os 1990, as crianças brasileiras queriam se fantasiar de ninjas no carnaval e usar a moda como tema de aniversário. A Globo foi em busca de filmes com a temática ninja e trouxe a trilogia ninja protagonizada por Sho Kosugi como Ninja – A Máquina Assassina (1981), A Vingança do Ninja (1983) e Ninja III – A Dominação (1984). Todos os filmes produzidos pela The Cannon Group, conhecida produtora expert em filmes de ação com baixo orçamento e criada pelos primos israelenses Menahem Golan e Yoram Globus.
As produções ninja da The Cannon Group não ficaram restritas apenas à trilogia citada acima. Temos como exemplo a saga America Ninja, que teve cinco filmes e revelou Michael Dudikoff, Steve James e David Bradley. Porém, o público brasileiro só tomou conhecimento do filme America Ninja 4 (1991) por meio da internet.
A ninjamania também foi responsável por trazer ao Brasil o desenho animado americano Tartarugas Ninja (Teenage Mutant Ninja Turtles no original) através da TV Globo.
Ainda nos anos 1990, destaco aqui também o filme Surfistas Ninjas (1993), com Ernie Reyes JR., que é conhecido pelo seriado O Pequeno Mestre. A película virou um clássico da Sessão da Tarde, assim como a saga Três Ninjas, cujos protagonistas são três crianças que aprendem a arte ninja com o avô. O primeiro filme é Três Ninjas – Uma Aventura Radical (1992), seguido de Três Ninjas Contra-Atacam (1994), Três Ninjas em Apuros (1995) e Três Ninjas – Uma Aventura na Mega Mountain (1998).
Windson Alves