Data de lançamento: 1º de março de 1973
Faixas: 9
Duração: 42:30
Estilo: Rock Progressivo
Produção: Pink Floyd
Gravadora: Harvest/EMI
Lado A:
Speak To Me/Breathe
On The Run
Time
The Great Gig in The Sky
Lado B:
Money
Us and Them
Any Colour You Like
Brain Damage
Eclipse
Outro clássico da música completa 50 anos de lançamento em 2023. Considerado a obra-prima do grupo de rock progressivo inglês Pink Floyd, o seu oitavo disco, The Dark Side of The Moon, celebra suas bodas de ouro.
O Pink Floyd começou psicodélico, além de seu primeiro vocalista e guitarrista ter sido Syd Barrett. Com ele, a banda gravou o primeiro disco, The Piper At The Gates of Dawn (1967), sendo considerado um dos pioneiros do chamado art rock. Porém, o comportamento de Barrett era, em muitos sentidos, reprovável pelos demais membros do Pink Floyd, principalmente pelo uso excessivo de drogas, como o LSD. Syd ainda sofria de esquizofrenia, resultando em mudanças de humor intensas. O vocal original, então, se despediu do Pink Floyd após gravar o segundo disco da banda, o Saucerfull of Secret (1968). O álbum também marcou a estréia de David Gilmour, como uma preparação para substituir Syd.
Já sem Barrett na formação, a banda voltou a ser um quarteto a partir do terceiro disco, Music From The Film More (1969), o primeiro a contar com a formação clássica: David Gilmour (voz e guitarra), Roger Waters (voz e baixo), Nick Mason (bateria) e Richard Wright (teclados). Até a gravação de The Dark Side Of The Moon, o grupo londrino já se mostrava a frente do seu tempo, realizando inúmeros experimentos musicais. Um deles foi a realização de um show nas Ruinas da Pompéia, na Itália, sem público, em 1972. Ainda no mesmo ano, o Pink Floyd começou a tocar algumas canções de TDSOTM em um show no extinto Teatro Rainbow, em Londres.
Para conceber o disco, o Pink Floyd alugou, entre junho de 1972 e janeiro de 1973, o lendário estúdio Abbey Road, em Londres. Esse estúdio é conhecido mundialmente graças ao The Beatles, que gravaram nele a maioria dos seus discos. O Pink Floyd assumiu a produção, tendo como engenheiro de som Alan Parsons, que também é conhecido por seu trabalho a frente do grupo The Alan Parsons Project. Os temas tratados nas letras são basicamente os inúmeros problemas do ex-integrante, Syd Barrett. Portanto, trata-se de um disco conceitual. O grupo gravou entrevistas realizadas com as pessoas que trabalhavam no estúdio, perguntando sobre os tópicos abordados nas canções. As respostas a essas perguntas foram incluídas em algumas faixas. Paul McCartney também foi entrevistado, mas a banda optou por não incluir as palavras do ex-Beatle no disco.
Foram tensas as gravações de The Dark Side Of The Moon no Abbey Road. Ainda mais que Roger Waters resolveu tirar folga por motivos considerados banais. Um deles foi sua paixão por futebol, que demonstrou indo aos jogos do Arsenal, seu clube de coração. Outro motivo foi ficar em casa para assistir ao seu programa de humor preferido, Monty Python’s Flying Circus no canal britânico BBC. Nada contra os dois hobbies, mas quando uma banda grava um disco, o estúdio é como um casulo, ninguém entra e ninguém sai. É até irônico esse fato, considerando que o excêntrico e perfeccionista Roger Waters já se considerava o líder do Pink Floyd e sempre repreendia um membro quando esse errava um acorde nas gravações.
A capa traz o icônico prisma que transforma um raio em arco-íris. Simbolicamente, o raio representa as canções do lado A, enquanto o arco-íris representa o lado B. Na página central da capa dupla, a faixa verde do arco-íris está distorcida, simbolizando as batidas de um coração, que abre e encerra o The Dark Side Of The Moon. A banda não aparece na capa, contracapa ou pagina central. Toda a arte da capa foi criada pelo designer inglês Storm Thorgerson (falecido em 2013), um velho conhecido da banda.
O disco abre com Speak To Me/Breathe. Speak To Me inicia com uma batida de coração sucedida por uma narrativa sobre loucura. Acompanha uma sonoplastia que mescla relógio e caixa registradora (só para citar alguns elementos). Os berros de uma cantora cessam Speak to Me que é seguida por Breathe, conhecida pelo refrão “Breathe/Breathe In the Air”. A segunda faixa é a instrumental On The Run, cujo ritmo remete à viagens e à vida frenética de quem está na estrada ou no ar. Para fazer a base dessa faixa, a banda usou um sintetizador chamado VCS3. Dele, foi tirado seis acordes que se repetem e, em seguida, ganham um ritmo acelerado. Depois, foram acrescentadas narrações de aeroporto e sons de voos rasantes.
A terceira faixa é Time, uma das canções mais celebradas do Pink Floyd. Ela começa com o som de vários despertadores. Em seguida, vem uma sonoridade de tic tac que Roger Waters tirou de duas cordas de seu contrabaixo, sucedida pelo som do teclado de Richard Wright, junto da introdução de bateria de Nick Mason, que usa caixas estilo rotonton. Sua letra traz uma reflexão sobre o tempo; curto para todas as pessoas que não o percebem. A faixa se encerra com a terceira estrofe de Breathe.
David Gilmour refazendo o solo de Time no documentário Classic Albums:
A última faixa do lado A é a quase instrumental The Great Gig in The Sky, uma metáfora sobre a morte. O grande atrativo é o coro a cargo da cantora Clare Torry. A princípio, Roger Waters estava contrariado com a participação dela na canção. Mas, no estúdio, colocaram Clare diante do microfone e disseram a ela: “pense na morte, no horror e cante o que você sabe”. Sem um acompanhamento rítmico, ela improvisou e gravou a voz que se escuta na faixa. Envergonhada com a performance, Clare foi embora em seguida, acreditando que deu vexame. Mas ela não imaginava que a sua performance havia agradado a banda e recebeu apenas 57 dólares pela gravação. 20 anos depois, Clare Torry acionou a justiça contra o Pink Floyd, na busca por sua parte do percentual nas vendas de The Dark Side Of The Moon. Fora dos tribunais, a banda acertou os ponteiros com a musicista, que recebeu uma quantia superior à que tinha direito.
O lado B abre com Money, outra canção marcante da carreira do grupo. Ela inicia com o ruído de uma caixa registradora, moedas caindo e notas se rasgando. A letra relata a ganância que toma conta das pessoas. A faixa traz um solo de saxofone executado por Dick Parry. Em qualquer matéria televisiva sobre economia, Money marca presença como trilha sonora. Segunda faixa do lado B, Us And Them também conta com o sax de Parry. A letra da canção aborda a eterna separação entre “nós” e “outros”, que nos leva a encarar nossos semelhantes como inimigos. Ela encerra a parte de David Gilmour como vocalista nas faixas.
A terceira faixa é a instrumental Any Colour You Like. Do início até 1:20, os teclados de Richard Wright dominam a canção. Em seguida, a guitarra de David Gilmour dá o ar de sua graça como elemento principal na faixa. Em 2:47, os teclados de Wright voltam a aparecer, dividindo as atenções da canção com a guitarra de Gilmour. A penúltima faixa do disco é Brain Damage, a primeira do álbum cantada pelo baixista Roger Waters. A letra fala de alguém que perde a razão, embrenhando-se no caminho da loucura. O disco é encerrado com Eclipse, também cantada por Waters. A letra recapitula todos os temas abordados nas faixas anteriores. A faixa se encerra com uma batida de coração e com a narrativa do personagem principal, dizendo que vai encontrar o lado escuro da lua (o título em português do álbum). O tal lado escuro da lua é aquele que não avistamos, quando olhamos para essa esfera no céu durante à noite.
The Dark Side Of The Moon se tornou um sucesso imediato, pois chegou ao topo da parada de sucessos americana. O disco permaneceu nos charts de 1973 até 1988, sendo um recordista nesse quesito até hoje. Isso ajudou o álbum a vender cerca de 45 milhões de cópias, sendo o terceiro disco mais vendido da história da música. Ele só perde para o segundo colocado Back in Black (1980) do AC/DC (50 milhões) e Thriller (1982) de Michael Jackson (70 milhões). Ambos foram resenhados por mim aqui.
Devo informar também que muitas das canções fariam parte de trilhas sonoras de várias produções futuras. Como, por exemplo, The Great Gig in The Sky, que tocou no episódio O Canto da Sereia do seriado brasileiro Armação Ilimitada (1986). Vivida pela atriz Bianca Byington, a tal sereia entra em cena, ao som dessa faixa do Pink Floyd, além de querer atrair para uma armadilha os mocinhos Juba (Kadu Moliterno) e Lula (André Di Biase). Eclipse me faz lembrar a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Verão em Londres, de 2012. Depois que a pira olímpica foi acesa, a canção começou a ser executada, seguida de explosões de fogos de artifício no céu do Estádio Olímpico.
Aqui também vale uma ressalva. Muitos lembram da canção Time sendo tocada no filme honkonguês O Dragão Chinês (1971), protagonizado por Bruce Lee. Por conta do ano de lançamento do filme, alguns já falaram erroneamente que o Pink Floyd gravou a canção três anos antes de produzirem The Dark Side Of The Moon. Nos anos 1970, o mundo ainda não era tão globalizado, tanto que não sabiam da existência de Bruce Lee, tampouco de seus filmes feitos em Hong Kong. O sino-americano (Bruce Lee é filho de chineses e nasceu nos Estados Unidos) só ganhou projeção mundial com o filme Operação Dragão, que entrou em cartaz no segundo semestre de 1973. Os filmes honkongueses de Bruce Lee só chegaram ao conhecimento mundial nos anos 1980, mais precisamente na era do videocassete. Os responsáveis por esses filmes lançados em VHS aqui no ocidente, resolveram acrescentar algo a mais na trilha sonora, como canções instrumentais estilo synthpop, além da mencionada Time.
O caso mais notório envolvendo The Dark Side Of The Moon e cinema é a associação entre as canções do álbum com o filme O Mágico de Oz (1939). Em 1997, um grupo de pessoas resolveu assistir ao filme ouvindo o disco e relataram que as faixas de TDSOTM coincidiam com cada cena do filme. O grupo desmente ter se inspirado em O Mágico de Oz, mas a associação de algumas cenas com o disco é assombrosa para se tratar de mera coincidência. Para completar, o filme é metade preto e branco, metade colorido, o que remete à icônica capa do álbum.
A capa The Dark Side Of The Moon é também alvo de inúmeros memes na internet. No lugar do prisma, já colocaram vários objetos e até personagens de filmes. Aqui no Brasil, a marca de queijo Polenguinho encabeçou essa lista bem humorada em 2017. A logomarca substituiu o prisma e ainda trouxe o slogan “Dark Side da Fominha: você não vai parar de ouvir um Polenguinho”.
Quanto ao Pink Floyd, seu êxito não se resume apenas a The Dark Side Of The Moon. Ainda nos anos 1970, a banda aumentou seu número de admiradores com o lançamento de álbuns como Wish You Were Here (1975), Animals (1977) e o duplo The Wall (1979). Nas sessões de ambos, Roger Waters continuava o mandão do Pink Floyd. Nos anos 1980, ele queria encerrar a trajetória do grupo e impedir os outros integrantes de usarem a marca. David Gilmour, Nick Mason e Richard Wright ganharam na justiça o direito de manter o Pink Floyd na ativa. O primeiro disco da banda sem Roger Waters foi A Momentary Lapse Of Reason (1987), que ficou conhecido pela canção Learning To Fly (não confundir com a música de nome similar gravada pelo Foo Fighters).
Roger Waters, por sua vez, iniciou uma carreira solo, na qual revive o Pink Floyd nas turnês. Seus discos ao vivo carregam o nome de algumas canções de seu ex-grupo. Se o Brasil não teve o privilégio de assistir a um show do Pink Floyd, parte dele pôde ser apreciado de perto pelo público tupiniquim quando Roger Waters veio ao Brasil em março de 2002. Ele regressou outras três vezes ao nosso país. Neste ano de 2023, Roger Waters polemizou ao anunciar que irá regravar The Dark Side Of The Moon como parte da celebração de meio século de seu lançamento. Ele ainda justificou o ato dizendo “o Pink Floyd sou eu”.
A banda parou de fazer shows no fim dos anos 1990. Porém, os membros deram uma trégua no atrito com Roger Waters e a formação clássica se reuniu novamente para uma apresentação no festival beneficente Live 8, em 2 de julho de 2005. O evento celebrava os 20 anos do Live Aid (1985) e tanto um quanto o outro foi organizado por Bob Geldof. O número 8 é uma referência ao fato de o festival ser realizado nos oitos países membros do G8. O quarteto reunido se apresentou na parte inglesa do evento, no Hyde Park em Londres. Esse também foi o último concerto do Pink Floyd. No dia 15 de setembro de 2008, o tecladista Richard Wright morreu de câncer aos 65 anos.
Windson Alves