Pode não ser o filme que agradou a maioria, mas está na minha memória afetiva. Eu o vi no cinema, portanto, posso dizer que testemunhei o lendário Christopher Reeve interpretando o Homem de Aço na sétima arte.

Superman IV – Em Busca da Paz estreou em 1987, portanto, está celebrando suas bodas de coral e Christopher Reeve, se estivesse vivo, estaria completando 70 anos neste mês. Nascido Christopher D’Olier Reeve, em Nova York, Estados Unidos, em 25 de setembro de 1952, o ator sofreu uma queda de cavalo em 1995, durante uma competição de hipismo que o deixou tetraplégico. Posteriormente, Reeve liderou uma campanha pela legalização das pesquisas com células-tronco. Devido a sequelas decorrentes de seu estado, o ator adquiriu uma grave infecção e faleceu em 10 de outubro de 2004, aos 52 anos de idade.

Agora, vamos ao filme dirigido por Sidney J. Furie. Superman IV tem como premissa a Guerra Fria e suas consequências. Para os que faltaram às aulas de História no colégio, a Guerra Fria foi um conflito não declarado entre Estados Unidos e a antiga União Soviética (cujo boa parte do território é hoje ocupada pela Rússia), pela corrida armamentista e que marcou o século XX. O mundo ficou em alerta pelo que esse conflito poderia causar, devido a duas tragédias ocorridas nestes países em 1986. Em 28 de janeiro, ocorreu, nos Estados Unidos, a explosão do ônibus espacial Challenger. Em 26 de abril, a explosão da usina nuclear em Chernobyl, na Ucrânia (na época, uma república soviética), causou uma enorme contaminação radioativa no país e em boa parte da Europa.

De volta à ficção: no espaço, Superman salva três cosmonautas soviéticos, cujo ônibus espacial foi atingido por um satélite solitário. Já no planeta Terra e em Smallville, Clark Kent avisa o agente imobiliário Hosby (Don Fellows) que só venderia a fazenda dos pais terráqueos para quem se propusesse a investir nela. Ao retornar a Metrópolis, Clark fica sabendo que o jornal em que trabalha, o Planeta Diário, teve a maioria de suas ações compradas por David Warfield (Sam Wanamaker), conhecido no ramo por comandar publicações sensacionalistas. O mesmo David promove sua filha, Lacy (Mariel Hemingway) a editora-chefe do jornal e garante os empregos de Clark, de sua parceira Louis Lane (Margot Kidder) e do jovem fotógrafo Jimmy Olsen (Marc McClure). Desse modo, o chefe dos três, Perry White (Jackie Cooper) se afasta por tempo indeterminado. 

Em discurso na Casa Branca, o presidente dos Estados Unidos (Robert Beatty) declara que não sabe mais o que fazer para encerrar a Guerra Fria. Ao ver pela televisão o discurso presidencial no colégio, um menino chamado Jeremy (Damien McLawhorn) envia uma carta ao Planeta Diário, pedindo para o Superman destruir todas as armas nucleares. O mesmo jornal, já na gestão Warfield, resolve desdenhar o garoto, publicando que o Homem de Aço menosprezou o seu pedido. 

Antes de entrar em uma assembleia das Nações Unidas, Jeremy é fotografado por Jimmy Olsen, até o Superman aparecer e acompanhá-lo até o local. O garoto fica com Louis, Lacy e Jimmy, enquanto o kriptoniano anuncia que irá destruir todas as armas nucleares. Todos os mísseis disparados por americanos e soviéticos são colocados em uma rede pelo herói, que os arremessa em direção ao sol.

Paralelo a isso, um velho conhecido do Homem de Aço volta a dar as caras. Trata-se de Lex Luthor (Gene Hackman), que foge da prisão com a ajuda de seu sobrinho Lenny (Jon Cryer). Em seguida, a dupla rouba do museu de Metrópolis um fio de cabelo doado pelo Superman. Eles colocam o fio dentro de uma caixa que contém experimentos científicos. A caixa é colada em um míssil nuclear, que é avistado por Superman no céu. O herói prontamente o dispara em direção ao sol. Eis que nasce o Ser Nuclear (Mark Pillow) cuja fonte de energia são os raios de sol. Apenas Lex sabe desse detalhe.

Lacy continua as suas investidas em conquistar o “tímido” Clark Kent. Ela inclusive o leva para a sua aula de aeróbica. Em um mesmo dia, Lacy combina de sair com Clark mais uma vez, enquanto Louis tenta entrevistar Superman. Dividido entre os compromissos, o herói recebe uma mensagem telepática de Lex Luthor (chamada pelo próprio de ‘TV Lex’), solicitando uma reunião com o herói. Superman vai para o flat do vilão e é apresentado ao Ser Nuclear. Os dois começam a lutar e o embate atravessa diversos locais – passa, inclusive, por uma área rural, onde a criatura produz um tornado e Superman tem de salvar uma família local, sendo bem-sucedido em seu intento. No segundo campo de combate, o Ser Nuclear tenta destruir a Muralha da China, mas o Homem de Aço remonta a enorme estrutura.

No espaço, o Ser Nuclear congela o Superman; e, em sua terceira parada, ativa o vulcão Vesúvio, em Pompéia, na Itália. O kryptoniano se liberta do cubo de gelo, encerra a o vulcão e salva os italianos na cidade histórica. A quarta parada é Moscou, capital da União Soviética. Um caminhão que transporta um míssil nuclear é parado pelo vilão e mira o seu disparo contra as autoridades na sacada do Kremlin, sede do governo soviético. Superman aparece, apaga o pavio do míssil e salva as autoridades. A quinta e última parada é Nova York, onde o Ser Nuclear arranca a Estátua da Liberdade de sua base e a arremessa no centro da Big Apple. Mas o Superman aparece e impede a queda do monumento sobre o local. Enquanto recoloca a estátua no lugar, o Homem de Aço é ferido gravemente pelo seu oponente.

O Planeta Diário publica na capa que o Superman morreu. Isso aborrece Louis Lane, que pede demissão e leva consigo a capa vermelha do kriptoniano, encontrada na sala de Lacy. A mesma vai ao apartamento de Clark, que finge estar gripado, e entrega para ele a capa do Superman, caso consiga “localizá-lo”. O Ser Nuclear mostra ter sentimentos ao se apaixonar por Lacy, após ver uma foto da herdeira Warfield na capa de uma revista. 

Recuperado, Superman tenta impedir o seu rival de sequestrar Lacy no Planeta Diário. Para isso, tem de evitar ao máximo que o Ser Nuclear se exponha aos raios de sol, que é sua fonte de energia. De volta do seu hiatus, Perry White recupera o seu Planeta Diário, comprando a maioria das ações com dinheiro emprestado pelos bancos de Metrópolis, transformando David Warfield em acionista minoritário de seu jornal. 

Curiosidades:

Superman IV – Em Busca da Paz é um filme produzido conjuntamente pela DC Comics, Warner Brothers e Cannon Films. A última é a mesma que produziu America Ninja (que resenhei há dois anos) e que pertencia aos primos israelenses Menahem Golan e Yoran Globus. A dupla comprou os direitos de produção que pertenciam ao polonês Alexander Salkind e seu filho, Ilya  Salkind, que produziram Superman III (1983). 

Parecia que a Cannon Films havia chegado ao mais alto patamar do cinema internacional em 1987. Além de Superman IV, a produtora realizou a adaptação do herói oitentista He-Man (vivido por Dolph Lundgren) no filme Mestres do Universo. No mesmo ano, os primos Golan-Globus também produziram um filme estrelado por Sylvester Stallone, Falcão – O Campeão dos Campeões. Porém, ambos não tiveram grande público nos cinemas, o que não os impede de serem idolatrados pelo público que os transformou em cults.  

Superman IV foi o único filme da franquia dirigido pelo canadense Sidney J. Furie. O primeiro filme, Superman (1978), foi dirigido pelo americano Richard Donner (falecido em 2021), que também realizou A Profecia (1976), Os Goonies (1985) e a franquia Máquina Mortífera. Quanto a Superman II – A Aventura Continua (1980) e o mencionado Superman III, estes foram dirigidos pelo também americano Richard Lester. 

Criada pelo maestro e compositor americano John Williams para o primeiro filme de 1978, o tema do personagem também se fez presente na abertura e no encerramento deste longa. John Williams também é o autor do tema de Guerra nas Estrelas (com o qual o de Superman guarda muitas semelhanças) e Indiana Jones.

Na cena dos astronautas soviéticos, um deles canta em russo a clássica My Way de Frank Sinatra.

Quando está quebrando pedras na prisão, Lex Luthor assobia a canção Allegro, composta pelo maestro austríaco Wolfgang Amadeus Mozart, deixando os presos incomodados. Quando Superman o leva de volta ao cárcere, os presos o recebem assobiando a mesma música, o que irrita o vilão. Allegro era muito popular no Brasil nos anos 1980, sendo tema das propagandas do perfume Seiva de Alfazema da marca Phebo. Este foi o último filme em que Gene Hackman interpretou Lex Luthor.

Na versão para DVD, duas cenas do primeiro duelo entre Superman e o Ser Nuclear foram excluídas: a cena da área rural e a outra na União Soviética. As duas estão presentes apenas nos extras do DVD.

Intérprete da Lois Lane, a atriz canadense Margot Kidder viveu crise pior que a de Christopher Reeve. Por muitos anos, ela sofreu de depressão. A atriz cometeu suicídio aos 69 anos, em 13 de maio de 2018.

Depois de Christopher Reeve, o Homem de Aço ganhou outros intérpretes, mas nenhum deles causou impacto entre seus admiradores exigentes como o próprio Reeve. Um exemplo é Dean Cain no seriado Lois & Clark: As Novas Aventuras do Superman (1993), exibido na Globo durante a década de 1990. Nos anos 2000, o seriado foi exibido por aqui pelo SBT e pela Warner Channel. Dean Cain conquistou popularidade no Brasil, tanto que gravou propagandas em terras tupiniquins. Ele também é lembrado por estas bandas devido à semelhança com o ator Luciano Szafir.

Nos anos 2000, a adolescência do Superman foi contada no seriado Smallville: As Aventuras do Superboy. O show durou dez temporadas (2001-2011) e teve Tom Welling como intérprete do Homem de Aço em início de carreira. Christopher Reeve fez uma participação nessa série, vivendo um cientista que revela para o jovem Clark Kent as suas origens extraterrestres. 

Christopher Reeve ficou encarregado de escolher o intérprete de Superman no cinema. Porém, com o seu falecimento, isso não foi possível. No filme Superman: O Retorno (2006), o herói foi vivido por Brandon Routh. Nos créditos finais, o diretor Bryan Singer dedicou o filme para Christopher e sua esposa, Dana Reeve. Ela, que era atriz, cantora e ativista, faleceu em 6 de março de 2006, vítima de câncer no pulmão.

Em 2013, nos foi apresentado o inglês Henry Cavill, que viveu o Superman no filme O Homem de Aço. O mesmo ator viveu o kriptoniano nos filmes Batman vs Superman: A Origem da Justiça e Liga da Justiça (2017). A estratégia era formular uma super franquia a exemplo de Os Vingadores, mas o retorno abaixo do esperado nas bilheterias e a recepção morna da crítica frustraram os planos da DC/Warner.

Para os assinantes, o filme encontra-se disponível no catálogo da HBO Max.

Windson Alves