[Streaming] Sex/Life

A série parece ter sido escrita a partir de retalhos das piores histórias disponíveis no wattpad, amparada em um amontoado de clichês. Mas clichês ruins. Nela, a entediada dona de casa Billie Connelly (Sarah Shahi), casada com o riquíssimo e, aparentemente, perfeito Cooper Connelly (Mike Vogel), mãe de dois filhos (incluindo um bebê de colo) e que mora em uma residência invejável em um bairro situado no subúrbio de Connecticut, se pega sonhando constantemente, acordada ou dormindo, com o ex-namorado viril Brad Simon (Adam Demos), o típico boy lixo, mas que tinha pegada e era um deus do sexo.

Como o atual marido parece ter apenas um defeito – ser enfadonho na cama – ela sente falta das noites de sexo selvagem. Billie resolve, então, colocar essas ideias no papel, aliás, digitar em seu laptop todas as perversões do passado. As coisas se complicam quando Cooper descobre os relatos no computador da esposa. Ele se esforça para reproduzir com Billie as experiências picantes que ela viveu outrora com Brad de modo a fazê-la feliz também na cama, mas o conflito maior surge quando o ex-namorado repentinamente volta para sua vida e ela acaba ponderando a possibilidade de viver uma aventura fora do casamento.

O roteiro bem que tenta dar estofo à discussão do papel da mulher, aliás, dos papeis que a mulher é capaz de desempenhar simultaneamente, mas vacila em seu intento. No vão esforço de atribuir alguma profundidade ao debate de que a mulher pode e deve ocupar todos os espaços que ela quiser na sociedade – ser estudante, profissional, mãe, esposa, amiga, amante – o texto acaba propondo uma inversão disso ao mostrar equivocadamente que a dona de casa pacata e a profissional independente e voluptuosa só podem coexistir desde que se leve uma vida dupla (!), do contrário são conceitos que andam separadamente do ponto de vista dos realizadores da série.

Sendo justa, em alguns pontos a produção até é feliz ao mostrar esse lado de como as mulheres anulam alguns sonhos, fazendo escolhas difíceis e priorizando alguns aspectos na vida em detrimento de outros, como se tivesse de escolher entre a carreira e a maternidade. Mas tudo ocorre em um nível tão superficial, com o texto preterindo conceitos interessantes em ordem de destacar os clichês sexuais e chocar o espectador com closes em genitálias masculinas, que toda a discussão interessante que poderia emergir eventualmente do roteiro, acaba não apenas diluída, como chafurdando na lama da fanfic mal escrita.

Além do roteiro ruim e preguiçoso, pior do que muitas produções de teledramaturgia da Globo, dos oito episódios que constituem a série, eu eliminaria, ao menos, uns quatro. Nunca vi tanta enrolação para chegar ao final e não sair do lugar. Fora que o desfecho só acentua uma das piores características da série: o quão redundante ela é.

Essa é a não dica: não percam tempo vendo Sex/Life.

Se, mesmo com o meu conselho, vocês insistirem em ver essa coisa abjeta, saibam que a série, baseada no livro 44 Chapters About 4 Men de B.B. Easton, se encontra disponível na Netflix desde o dia 25 de junho do ano passado e, infelizmente, já foi renovada para uma segunda temporada.

Andrizy Bento

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