Revisitar um clássico intocável é sempre um risco. Um clássico vencedor de dez estatuetas do Oscar, incluindo a de Melhor Filme, mais arriscado ainda. Entretanto, Steven Spielberg tinha esse como o seu projeto pessoal e é um cineasta visionário, inventivo, sem medo de correr riscos e um dos melhores de sua geração. Portanto, os fãs do original de 1961 podiam dormir tranquilos. Amor, Sublime Amor estava em boas e seguras mãos. Artisticamente, este é um dos melhores filmes do realizador americano em muito tempo.
Confesso que não sou grande fã do longa original dirigido por Robert Wise e Jerome Robbins, embora aprecie com grande admiração as coreografias. Também passo longe de ser das maiores entusiastas de musicais. De fato, digo sem medo de represálias, que não sou público desse gênero cinematográfico em particular. E mesmo tecendo elogios a Spielberg, tenho minhas reservas com relação aos seus filmes – tecnicamente, sempre me impressionam, porém, as narrativas dificilmente me agradam em sua totalidade. No entanto, a revisita do diretor ao clássico com esta nova e repaginada versão da história é bem interessante em diversos aspectos.
O filme narra a violenta disputa entre duas gangues rivais – os brancos Jets e os porto-riquenhos Sharks – por controle territorial nos subúrbios de Nova York durante a década de 1950. A história se complica quando o líder dos Jets, Tony (Ansel Elgort), se apaixona pela irmã do líder dos Sharks, Maria (Rachel Zegler). Continuo achando a história desses Romeu e Julieta das ruas extremamente forçada, porém, posso apontar mais méritos (especialmente artísticos) do que defeitos nesse remake. Gostei do fato de que, mesmo mantendo a história ambientada nos anos 1950, o roteiro deu uma boa atualizada no enredo e não só dispensou elementos problemáticos da versão original, como tratou de enfatizar o quão equivocadas foram algumas escolhas da época.
O meu problema com Amor, Sublime Amor (West Side Story no original) é com o enredo. Particularmente, eu não curto muito histórias de amor à primeira vista. Prefiro relacionamentos slow burn, construídos gradativa e organicamente. É muito difícil, para mim, comprar a ideia de que um casal se apaixona em uma festa, dançam, mal se conhecem e já se apaixonam perdidamente, fazendo juras de amor eterno e planejando toda uma vida juntos. Eles quase conseguem fugir para se casar e formar uma família, porém, um final trágico interrompe esta brevíssima história de amor e os priva de um happy ending. Tudo isso em um intervalo de um dia. Mas esse é um problema oriundo da versão original dos tablados e que se repete tanto na versão cinematográfica clássica de 1961, quanto na versão atual, lançada em 2021, sessenta anos depois.
O musical homônimo assinado por Arthur Laurents, Leonard Bernstein e Stephen Sondheim, ganhou os palcos em 1957. E o roteiro desta nova versão dirigida por Spielberg, e cujo roteiro foi escrito por Tony Kushner, se aproxima mais do original da Broadway.
Além de bem dirigido e fotografado, o longa conta com o carisma, a graciosidade e a competência de Rachel Zegler no papel de protagonista e a magnânima Ariana DeBose em interpretação magistral de Anita, papel vivido por Rita Moreno na versão original. Falando nela, Rita retornou no remake, dando vida à Valentina, uma releitura do personagem Doc. Uma das mudanças mais do que bem-vindas da nova versão.
Com apenas 31 anos, DeBose fez história no Oscar ao ser a primeira atriz queer afro-latina a vencer o prêmio da Academia de Melhor Atriz Coadjuvante – vale lembrar que Rita Moreno foi premiada na categoria por este mesmo papel no Oscar de 1962. Como dito anteriormente, o filme de 1961 arrematou dez Oscars, tendo sido indicado em 11 categorias. Ganhou vários dos prêmios principais, além de Atriz Coadjuvante, como Melhor Filme, Diretor, Ator Coadjuvante, Fotografia e Montagem. Perdeu apenas o Oscar de Roteiro Adaptado. Já o longa de 2021 conquistou sete indicações: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Direção de Arte, Melhor Figurino, Melhor Fotografia, Melhor Mixagem de Som e Melhor Atriz Coadjuvante. Só levou na última. Mas digo, com segurança, que é um filme superior ao original em muitos sentidos. A Academia é que não concorda…
Amor, Sublime Amor encontra-se disponível, atualmente, no catálogo da Disney+ desde o dia 2 de março. Clique para assistir 😉
Andrizy Bento