[Catálogo: Especial] Star Wars: Episódio II – O Ataque dos Clones

O romance é o foco do segundo longa que compõe a trilogia prelúdio de Star Wars. Por si só, isso nem seria um demérito, não fosse o fato de que George Lucas é falho na direção de atores e não sabe escrever bons diálogos. Era possível se concentrar na história de amor entre Anakin Skywalker e Padmé Amidala (uma vez que a linhagem do casal é uma das principais fundações que sustentam a estrutura de Star Wars), tendo a ação como plano de fundo e, ainda assim, construir uma boa história.

O fato é que Lucas é um ótimo e criativo argumentista, ponto. Mas sua obra fica muito melhor nas mãos de diretores e roteiristas mais competentes nos respectivos ofícios. Lucas até já saiu em defesa dos diálogos cafonas de O Ataque dos Clones, dizendo que se tratam de linhas honestas. Nem contesto, visto que ele parece acreditar piamente em sua declaração. Mas o fato é que os diálogos, a tônica de romance açucarado e o cast duvidoso, dada a inexpressividade e despreparo de Hayden Christensen como Anakin Skywalker, comprometeram totalmente essa sequência de A Ameaça Fantasma.

Ambientado dez anos após os acontecimentos narrados no longa anterior e pouco mais de vinte anos antes da explosão da primeira Estrela da Morte (vista no primeiríssimo filme da franquia, Uma Nova Esperança), em O Ataque dos Clones, o ex-Mestre Jedi interpretado pelo lendário Christopher Lee, Conde Dookan (Dooku no original em inglês, teve que ser alterado na tradução em português por motivos óbvios, mas a piada já vem pronta) dá início a um movimento separatista que está conduzindo a galáxia inevitavelmente a uma guerra civil de proporções inéditas, com diversos sistemas ameaçando abandonar a República Galáctica.

Na plataforma de aterrissagem do centro da República, Padmé Amidala (Natalie Portman)  sofre um atentado, do qual só escapa por estar utilizando um decoy para substituí-la. Preocupado com a segurança da agora Senadora, outrora Rainha de Naboo, o Chanceler Palpatine (Ian McDiarmid) e o Conselho Jedi deliberam que ela precisa de proteção e designam o Mestre Jedi Obi-Wan Kenobi (Ewan McGregor) e seu jovem Padawan, Anakin Skywalker, para a missão. Em uma nova tentativa de assassinato, os Jedi perseguem a responsável: uma criatura transmorfa que tem a vida ceifada antes de poder revelar quem a contratou para dar cabo da vida da senadora. Enquanto Obi-Wan é encarregado da investigação de quem está por trás dos atentados, Anakin deve zelar pela segurança de Amidala.

De volta a Naboo, sob um disfarce civil, Amidala, em companhia de Anakin, parte para Terra Lacustre em um visível plot device. A paisagem esplendorosa, cercada por cachoeiras, repleta de luz e cores vibrantes, é o cenário ideal para o início de uma história de amor. Assim, cenas de revirar os olhos e o pâncreas tomam conta da tela, como o casal rolando pela grama. E a justa senadora, defensora da democracia, que luta pela manutenção da República Galáctica se apaixona pelo garoto arrogante, mimado e imaturo que leva duras broncas de seu mestre por desobedecê-lo e mostra uma inclinação para regimes ditatoriais.

Isso após uma série de tentativas constrangedoras de chamar a atenção e flertar com a senadora. Após a própria dizer que ainda guarda viva na memória a imagem daquele garotinho de nove anos que conheceu em Tatooine, lançando um verdadeiro balde de água fria na cabeça de Anakin quando se reencontram, o que levou Amidala a se apaixonar? Na certa, “Annie” dizendo que não gosta de areia, pois é áspera e irritante, aludindo à sua terra natal, e acrescentando que prefere o lugar onde estão, onde tudo é suave e macio, referindo-se à pele de Amidala. E dá-lhe olhares sedutores e mordidinhas nos lábios… Poxa, Amidala! Dá nem pra acreditar que uma figura imponente como ela se deixou levar por um flerte barato.

Enquanto isso, há pessoas realmente levando seu trabalho a sério. Obi-Wan encontra uma pista que pode solucionar o mistério em torno do atentado à vida da senadora. Sua investigação o conduz ao Planeta Kamino que foi, enigmaticamente, deletado dos registros. Com ajuda de Yoda (voz de Frank Oz) e pequenos aprendizes Jedi, Kenobi encontra sua localização. Lá, toma nota de um plano de desenvolvimento de um exército de clones encomendado pela República. O pedido teria sido feito por Zaifo Vias, um mestre Jedi morto há dez anos que, por sua vez, recebeu ordens do senado para fazer tal solicitação. Todavia, Yoda garante a Obi-Wan que não houve qualquer autorização para isso.

O mestre Jedi ainda descobre que a base genética utilizada para a criação dos clones é Jango Fett (Temuera Morrison), quem Obi acredita ser o caçador de recompensas por trás da morte da transmorfa. Ele segue Jango e seu filho clone, ainda criança, Boba Fett (Daniel Logan) até Geonosis, onde encontra o líder separatista Conde Dookan e fica sabendo que, além de ele ser um Sith, está criando um exército de droides de batalha e é o responsável pelos atentados contra a vida de Padmé Amidala.

Além do plot do romance, o jovem Anakin segue atormentado por pesadelos envolvendo a tortura e morte de sua mãe, Shmi (Pernilla August). Por isso, parte para Tatooine em uma tentativa desesperada de salvá-la. Chegando ao seu planeta natal, descobre que ela formou uma nova família. E um nome conhecido dos fãs da trilogia original surge na tela: Owen Lars (Joel Edgerton), meio-irmão de Anakin, tio de Luke e filho de Shmi com seu novo marido. Eles revelam que Shmi foi sequestrada pelo Povo da Areia. Anakin não pensa duas vezes antes de partir ao resgate de sua mãe. No entanto, assim como o próprio Anakin futuramente (isto é, já convertido em Darth Vader) morre nos braços de Luke Skywalker (Mark Hamill) em O Retorno de Jedi, a mãe de Annie morre em seus braços. E em um rompante de fúria, o Padawan dá de ombros a todo seu treinamento Jedi e aniquila o Povo da Areia, sem distinções, matando inclusive mulheres e crianças que nada tinham a ver com o sequestro de sua genitora.

Os cenários e efeitos visuais continuam, em sua maioria, arrebatadores. Em contraste com a cafonice de Lacustre, está Coruscant, ilustrada na tela com um visual que remete a Blade Runner. Ewan McGregor continua conferindo dignidade ao seu Obi-Wan Kenobi, mesmo que os diálogos nem sempre colaborem. A trilha sonora de John Williams também é interessante.

Infelizmente, os pontos positivos do longa terminam por aí.

Um equívoco de roteiro concebido para ser o novo queridinho do público, Jar Jar Binks (Ahmed Best) falhou miseravelmente em seu intento, sendo aqui reduzido a uma participação mínima. Mas se você lembra do quão atrapalhado, inútil e covarde ele era no episódio anterior da franquia, fica sem conseguir compreender o que levou Amidala a encarregá-lo de ser o senador durante sua ausência! E como senador ele toma a decisão de dar poder supremo a Palpatine que, mais tarde, viria a dar um golpe na República, se autoproclamando Imperador e o resto da história a gente já conhece. A culpa por todo o poder concedido a Palpatine vem de Jar Jar.

Não é à toa a teoria de que Jar Jar seria um Lorde Sith. O que, convenhamos, seria um plot twist que tornaria a trilogia prequel muito mais interessante.

Hayden Christensen teve seu desempenho bastante criticado ao portar o jovem Anakin Skywalker. A seleção para viver o Jedi que se converte ao lado sombrio incluiu nomes conhecidos e que vinham trilhando carreiras de destaque na época, como Ryan Phillippe e Paul Walker. Outros nomes ainda foram cogitados, como Leonardo DiCaprio e, se eu bem me lembro, Brendan Fraser. O papel, contudo, coube ao desconhecido Christensen, em uma atuação apática que não convence nem quando tenta posar de galã, nem quando dá vestígios de que está se deixando seduzir pelo lado sombrio. Não acredito que a culpa seja apenas do ator. Acho que a péssima direção de elenco de Lucas tem grande responsabilidade, considerando que até uma boa atriz como Natalie Portman é pouco convincente e aparece em momento nada inspirado como Amidala.

E, por fim, está o clímax do filme. A batalha do exército de clones encomendados pela República para auxiliar os Jedi em campo contra o exército de droides de Dookan não consegue empolgar. E falando em Dookan, mesmo contando com um excelente intérprete como Christopher Lee, o personagem é parcamente construído, tendo surgido do nada e nunca dizendo exatamente a que veio. Nem seu plot, nem a influência do lado sombrio da Força no Senado é capaz de atiçar nossa curiosidade, visto que é muito óbvio que Palpatine está por trás de tudo. É como se o Conselho Jedi e todas as lideranças da República estivessem fazendo vista grossa e dispostos a dar o benefício da dúvida ao Lord Sith.

O longa estreou em maio de 2002 nos cinemas de todo o mundo, sendo uma das primeiras produções cinematográficas filmadas totalmente em um sistema de alta definição digital em 24 quadros. Recebeu críticas mistas e, apesar do sucesso financeiro, uma bilheteria aquém do esperado, não figurando, a exemplo dos outros filmes da saga Star Wars, como o primeiro lugar na lista das produções mais lucrativas do ano. Visualmente, vale muito a pena. É um filme esteticamente bonito e deslumbrante. Mas com um roteiro fraco e repleto de furos.

A redenção de Lucas viria três anos mais tarde, com a conclusão da trilogia prequel, A Vingança dos Sith.

O longa está disponível no catálogo da Disney+.

Andrizy Bento

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