Cinco Discos Ao Vivo Gravados no Japão

O país do sol nascente já foi alvo de rejeição mundial por conta da aliança que o seu exército imperial fez com Adolf Hittler durante a Segunda Guerra Mundial. Porém, o Japão reconquistou a confiança do mundo ao sediar a 18ª edição dos Jogos Olímpicos de Verão em 1964, na capital, Tóquio. A mesma cidade voltará a receber as Olimpíadas de Verão – que deveria acontecer originalmente em 2020, mas foi adiada para 2021, por conta da pandemia do coronavírus.

Tóquio 64 reabriu as portas do Japão para o mundo, principalmente com relação às atrações da música internacional. Os Beatles foram os primeiros a realizar uma apresentação na terra do sol nascente, em junho de 1966. Claro que a beatlemania tomou conta dos jovens japoneses. Uma das três apresentações na arena de lutas Nippon Budokan Hall, em Tóquio, rendeu um especial da TV japonesa e, anos depois, foi lançado em DVD no mercado brasileiro nos anos 2000. Não foi nessa turnê da Fab Four pelo Japão que John Lennon conheceu sua Yoko Ono, mas sim em uma exposição de arte em Londres, um ano depois.

Os shows que os Beatles fizeram pelo Japão abriram as portas para vários artistas internacionais. Muitos deles aproveitaram o país do sol nascente para gravar seus respectivos discos ao vivo, assim como VHS e DVDs ao vivo. Mas o assunto aqui é disco ao vivo gravado por artistas relacionados ao rock, sem contar que esse fator influenciou o surgimento de bandas de rock japonesas, entre eles o X-Japan.

Vou ficar devendo o Made in Japan do Deep Purple, assim como o Live in Japan do The Runaways, pois vou guardá-los para uma ocasião mais propícia. Portanto, vamos à lista dos cinco discos ao vivo gravados no Japão.

Scorpions – Tokyo Tapes (1978)

Os anos 1970 ficaram marcados por muitas mudanças no grupo. Klaus Meine (voz) e Rudolf Schencker (guitarra) foram os únicos que restaram da formação do primeiro disco Lonesome Crow (1972). Nele, a banda contava com o irmão de Rudolf, Michael Schenker (guitarra), além de Lothar Heimberg (baixo) e Wolfgang Dziony (baixo). Dois anos depois, os três debandaram, principalmente Michael, que se mudou para a Inglaterra e montou a banda UFO. Sua vaga no Scorpions foi ocupada por Uli Roth, que até hoje é idolatrado pelos fãs do Scorpions. Já o baixo foi ocupado por Francis Buchholz, membro da formação clássica dos anos 1980.

Até hoje, a função que mais trocou de membro atuante nos Scorpions foi a de baterista. Ao todo, a banda contou com seis músicos ocupando o cargo. Atualmente, o posto é do sueco Mikkey Dee (ex-King Diamond, Dokken e Motörhead). O melhor baterista que já tocou com os Scorpions foi Herman Rarebell, que também faz parte da formação clássica dos anos 1980. Sua estréia nos Scorpions ocorreu no quinto disco da banda, o Taken By Force (1977), no qual Herman colaborou na composição das faixas junto de Uli, Klaus e Rudolf. Até 1978, os Scorpions só haviam feito shows na Europa. Em abril do citado ano, o quinteto alemão foi se apresentar no Japão pela primeira vez. Duas noites (24 e 27 de abril) no Nakano Sun Plaza, na capital Tóquio, resultaram na gravação de Tokyo Tapes.

Produzido por Dieter Dierks, Tokyo Tapes contém as faixas gravadas nos cinco primeiros discos de estúdio do Scorpions, como por exemplo, Polar Nights, que foi gravada no quarto disco, Virgin Killer (1976), na voz do guitarrista Uli Roth. O álbum possui três covers – um é da canção japonesa chamada Kojo no Tsuki, com Klaus cantando em japonês. É comum o vocalista cantar a capella uma canção do idioma do país em que o Scorpions se apresenta (Cidade Maravilhosa no Rock in Rio, quem lembra?). Toda vez que o Scorpions se apresenta no Japão, Klaus canta Kojo no Tsuki. Os outros dois covers são em inglês: Hound Dog de Big Mama Thornton e Long Tall Sally de Little Richard (ambos americanos). Tokyo Tapes marcou a despedida do guitarrista Uli Roth da banda. Ele foi substituído por Matthias Jabs, que completou a formação clássica dos anos 1980, mas isso é outra história.

Judas Priest – Unleashed in The East (1979)

Foi o disco cuja capa a banda já mostrava que a pegada era heavy metal. A idéia de usar roupa de couro surgiu quando o vocalista, Rob Halford, conheceu um sex shop chamado Mister & Mister no Soho, bairro conhecido pelo turismo sexual na capital britânica, Londres. Assim como o Scorpions, o Judas Priest também não tinha muito prestígio nos anos 1970, além de ter vago o posto de baterista. Na citada década, o grupo inglês contou com três bateristas diferentes e deu a entender que haviam encontrado o músico certo ao contratarem Les Binks, que estreou no Judas no terceiro disco da banda, Sin After Sin (1977). Além de Rob Halford e Les Binks, o Judas Priest também contava com Ian Hill (baixo), Glenn Tipton e K.K. Downing (ambos na guitarra).

O Judas Priest deu o pontapé inicial da turnê Hell Bent The Leather – que promovia o quinto disco, Killing Machine (1978) –  no Japão, em fevereiro de 1979. Era a segunda vez do quinteto inglês na terra do sol nascente, pois eles já haviam tocado lá em julho de 1978, durante a turnê do quarto disco, Stained Class (também de 1978). Os shows que resultaram no Unleashed in The East foram realizados em 1979, no Kosei Nenkin Hall (em 10 de fevereiro) e no Nakano Sun Plaza (dia 15), ambos em Tóquio. Produzido por Tom Allom, Unleashed in The East é o primeiro disco ao vivo do Judas Priest e não possui faixas do disco de estreia, Rocka Rolla (1974). Ele marcou a despedida do baterista Les Binks, que foi substituído por Dave Holland (ex-Trapeze).

Até hoje, o Judas Priest é idolatrado no Japão.  Foi lá que a banda gravou o seu primeiro DVD ao vivo, Rising in The East (2005), no Budokan, em Tóquio. O show era válido pela turnê do 15º disco do grupo, Angel of Retribution (2005), que marcou o regresso do vocalista Rob Halford à banda. Algumas faixas desse show de 2005 entraram no quinto disco ao vivo do Judas, o A Touch of Evil: Live (2009).

Eric Clapton – Just One Night (1980)

O deus da guitarra também é querido no Japão. A gravação de Just One Night foi inspirada em uma polêmica. No fim dos anos 1970, o músico inglês declarou em uma apresentação em Birmingham, na Inglaterra, que era contra a imigração crescente em seu país. Eric Clapton implorou para a plateia votar em Enoch Powell (na eleição para Primeiro Ministro Britânico), de modo a impedir que o Reino Unido virasse uma “colônia negra”. A declaração do cantor e guitarrista inspirou a criação do festival londrino Rock Against Racism, em 1978, e contou com Generation X (primeira banda de Billy Idol), The Clash e Buzzcocks (só para citar alguns). Os japoneses entraram na briga e grafaram Eric Crapton (crap, do inglês, pode ser traduzido como fezes por aqui) nos discos do cantor lançados no mercado fonográfico japonês.

Em entrevista para o documentário biográfico Eric Clapton: Life in 12 Bars (2018), o cantor e guitarrista relatou que se sente enojado por tal declaração, uma vez que sua música foi influenciada por músicos afro-americanos. A fim de mostrar que não guarda rancor dos japoneses por causa do “Crapton”, Eric decidiu gravar um disco ao vivo em terras japonesas, durante a turnê de seu sexto disco solo, Backless (1979). As apresentações nos dias 3 e 4 de dezembro de 1979, no Budokan, em Tóquio, são a base de Just One Night que, assim como o Made in Japan do Deep Purple e o Tokyo Tapes do Scorpions, foi lançado em formato duplo. Na capa e contracapa não há imagens das duas apresentações. No lado esquerdo do interior da capa dupla, há a imagem de um mangá assinado pelo desenhista japonês Ken Konno. Já a imagem de Eric Clapton se apresentando ocupa o lado direito. A produção foi de John Astley e do próprio Clapton.

A maior parte do disco é dedicada a regravações de ícones do blues americano, como Robert Johnson, pioneiro do gênero. Composta por J.J. Cale, a faixa Cocaine fez mais sucesso quando regravada por Eric Clapton em 1977 e, claro, marcou presença em Just One Night. Outros covers são If I Don’t Be There by Morning de Bob Dylan e Setting Me Up do Dire Straits. Claro que não faltaram canções próprias de Clapton, como é o caso da balada Wonderfull Tonight, um dos maiores sucessos do guitarrista. A faixa tratou-se de uma das artimanhas dele para conquistar Pattie Boyd, que era casada com o ex-beatle, George Harrison.

Iron Maiden – Maiden Japan (1981)

Os maidenmaníacos tratam este como o primeiro disco ao vivo da banda, mas não é. Trata-se de um EP, que na verdade é um mini-LP (não confundir com um compacto), contendo quatro faixas. O primeiro disco ao vivo do Iron Maiden é o Live After Death (1985). O título Maiden Japan é um trocadilho com Made in Japan, o mencionado disco ao vivo do Deep Purple, uma das principais influências da banda. Produzido por Doug Hall, o EP foi uma exigência do mercado fonográfico japonês.

Em 1981, o Iron Maiden lançou o seu segundo disco de estúdio, o Killers. Ele marcou duas estréias: a primeira foi a do guitarrista Adrian Smith, que pegou a vaga de Dennis Stratton; a segunda se trata da parceria vitoriosa com o produtor Martin Birch. Sim, o mesmo que trabalhou com o Deep Purple. A turnê de Killers fez o Iron Maiden realizar os seus primeiros shows fora da Europa. O primeiro país em que o quinteto inglês se apresentou fora de seu velho continente foi o Japão. A noite no dia 23 de maio de 1981 no Kosei Nenkin Kaikan, em Nagoya, resultou no Maiden Japan. As quatro faixas do EP são Running Free, Remember Tomorrow, Killers e Innocent Exile. As versões lançadas no Brasil, Argentina, Canadá, Estados Unidos, Austrália e Nova Zelândia, contém uma faixa a mais: Wrathchild.

A capa mostra o monstro-mascote Eddie segurando uma espada de katana (usada por samurais e ninjas). Em alguns países, a capa mostra Eddie segurando a cabeça do vocalista Paul Di’Anno. Maiden Japan marcou a despedida do último, que foi substituído pelo lendário Bruce Dickinson. Em 2001, Maiden Japan ganhou uma versão em CD, contendo 17 faixas que foram executadas durante o mesmo concerto em Nagoya. Disco ao vivo em si, o Iron Maiden nunca gravou no Japão. O máximo que a banda fez foi pegar a versão ao vivo de The Trooper (do disco Piece of Mind de 1983), que foi gravada na cidade de Chiba em 2008, e incluí-la no sexto disco ao vivo, Flight 666 (2009). O mesmo com a faixa The Red and The Black, gravada no Ryogoku Kokugikan, em Tóquio, e incluída no oitavo disco ao vivo, The Books of Soul: Live Chapter (2017).

Ozzy Osbourne – Live At Budokan (2002)

O Príncipe das Trevas também é muito idolatrado pelo público japonês. O registro do músico no país aconteceu quando ele estava promovendo o seu oitavo disco solo, Down To Earth (2001). A banda que acompanhava Ozzy era composta pelo tecladista John Sinclair, o baterista Mike Bordin (do Faith No More), o baixista Robert Trujillo (ex-Suicidal Tedencies) e o guitarrista e braço-direito Zakk Wylde.

O show foi gravado no dia 15 de fevereiro de 2002 no Budokan, em Tóquio. O disco resultante do concerto foi lançado no dia 25 de junho no mesmo ano, durante a realização da Copa do Mundo no Japão e na Coréia do Sul. Produzido por Thom Panunzio, Live At Budokan rendeu o primeiro DVD ao vivo de Ozzy Osbourne, além de ser o quinto disco ao vivo do cantor. Ambos foram lançados no embalo do megassucesso que o Mr. Madman adquiriu mundialmente com o reality show The Osbournes na MTV. O êxito do programa trouxe a maior audiência da história da MTV americana, tinha como fã o então presidente americano, George W. Bush, além de render uma estrela na calçada da fama em Hollywood para o Príncipe das Trevas.

Em 2003, Robert Trujillo saiu da banda de apoio de Ozzy, se tornando membro oficial do Metallica, assumindo o posto que foi de Jason Newsted. Ironicamente, o mesmo Jason Newsted passou a tocar com Ozzy Osbourne no lugar de Robert Trujillo. Por pouco tempo, pois Jason acabou indo tocar na banda canadense Voivod. Recentemente, o seu nome foi especulado para ingressar no Megadeth, no lugar de David Ellefson. Em 2004, o grupo de metal progressivo americano Dream Theater lançou o DVD e CD ao vivo com o mesmo título, Live At Budokan.

Windson Alves

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