Clássico da ficção científica, escrito por um dos mestres do gênero, Arthur C. Clarke, na década de 1970. Clarke é o autor do conto The Sentinel que inspirou a obra-prima de Stanley Kubrick, 2001: Uma Odisséia no Espaço. Situada no ano de 2131, a trama de Encontro Com Rama narra a aparição de uma estranha estação espacial que possui um peculiar formato cilíndrico e 50 km de comprimento, sendo, a princípio, confundida com um asteroide. Batizada em homenagem a uma divindade hindu (uma vez que os nomes da mitologia greco-romana, para denominar corpos celestes, já haviam se esgotado), sua chegada é envolta em mistério: O desconhecimento acerca de sua trajetória e objetivos vem acompanhado de muita preocupação e controvérsia.
A tripulação da nave Endeavour é encarregada de descobrir mais a respeito da intrigante nave. Porém, à medida que avançam na exploração de Rama, se deparam com mais perguntas do que respostas. Além do formato e de suas dimensões hiperbólicas, a atmosfera de Rama é respirável; há criaturas robóticas designadas para cumprir funções específicas, sem se importarem com a presença de humanos ou representarem algum tipo de ameaça; fenômenos climáticos impressionantes; e possui estruturas que lembram muito as metrópoles terrestres. Enfim, o cenário é tão extraordinário que provoca um fascínio sem par nos exploradores. No meio do caminho, entretanto, a Endeavour precisa lidar com a resistência de Mercúrio que acredita que a meta de Rama é aniquilar outras civilizações.
O livro é bastante indicado para quem está começando a se aventurar pelo gênero sci-fi – apesar de recorrer a um amplo espectro de termos científicos e descrições detalhadas das condições ambientais de Rama, a linguagem é bem compreensível; não é didático, mas também não subestima a inteligência do leitor. A narrativa é fluida, breve (a edição que eu li tem apenas 190 páginas) e envolvente. Os capítulos são objetivos, fazendo pausas pontuais e estratégicas na leitura, de forma que o ritmo não oscila em nenhum momento, sendo uma trama bem ágil e direta, deixando o leitor cada vez mais intrigado para os enigmas e revelações que virão a seguir. Além disso, possui quotes e diálogos inteligentes e, por vezes, um humor sagaz, com um leve tom de ironia.
A trama apresenta paralelos interessantes do episódio de Rama com grandes descobertas históricas e faz alusão, também, aos líderes políticos mundiais ao introduzir os componentes dos Planetas Unidos (estes capítulos são, particularmente, divertidíssimos). Os personagens não são muito profundos, pois o principal foco do livro é na missão. Contudo, isso não representa um demérito. Clarke economiza em diálogos e no desenvolvimento de personagens, mas não poupa vocábulos para narrar os fatos, cada pormenor da exploração em si. Isso sem tornar a leitura enfadonha. Muito pelo contrário. Deixa a impressão de se estar acompanhando a missão ao interior de Rama como em uma reportagem especial. Sobretudo, destaca-se a composição inventiva de seu cenário. O autor é meticuloso e exato ao delinear Rama, se preocupando em embasar cientificamente cada detalhe e transmitir todo o seu esplendor em cada parágrafo.

O final deixa um sabor de quero mais, afinal são poucas respostas e explicações, de modo que o objetivo, as origens e a natureza de Rama permanecem enigmáticos. Mas vale a pena para começar a conhecer o trabalho de um autor de fundamental importância para o gênero. Encontro com Rama é uma obra fantástica e de precisão científica incomparável.
Andrizy Bento