Us (BBC One)

Produção da BBC One, baseada no livro homônimo de David Nicholls, traz Tom Hollander, Saskia Reeves, Iain De Caestecker e Gina Bramhill no elenco e explora as belas localidades da Europa enquanto narra um relacionamento que se desgasta e um casamento que está chegando ao fim.

A trama da série da BBC One dirigida por Geoffrey Sax, segue o mesmo mote do livro (Nicholls é também o responsável pelo roteiro): Douglas Petersen planeja uma viagem ao lado de sua família, na tentativa de reconquistar a esposa, Connie, que está decidida a se divorciar e, de quebra, se aproximar do filho, Albie – cada vez mais distante, prestes a ingressar na universidade e que sempre mostrou predileção pela mãe. No entanto, a viagem passa longe de ser perfeita como Douglas a idealizou. Inúmeros percalços surgem no caminho, muito por conta dos conflitos entre ele, Albie e a namorada de seu filho, Kat, com seu espírito livre e contagiante. Ao mesmo tempo, flashbacks invadem a tela mostrando o início do relacionamento entre Douglas e Connie – como se conheceram, se casaram, formaram uma família e chegaram ao estado em que se encontram hoje, à beira do divórcio. O início é narrado paralelamente ao fim.

Embora apresente um humor bem pontuado, Us é, sobretudo, um drama recheado de momentos tocantes e melancólicos, amparado por uma belíssima fotografia que explora magistralmente as encantadoras paisagens de Londres, Buckinghamshire, Paris, Amsterdã, Veneza e Barcelona, e pela marcante trilha sonora de Oli Julian.

Obviamente, destacam-se as atuações de um elenco muito bem escalado e comprometido com seus personagens. Tanto Tom Hollander e Saskia Reeves (que vivem Douglas e Connie mais velhos), quanto Iain De Caestecker e Gina Bramhill (que, por sua vez, interpretam a versão mais jovem do casal central) apresentam uma boa química na tela. De Caestecker ainda impressiona por mimetizar com perfeição os trejeitos e o sotaque de Hollander.

Indispensável citar a memorável a cena da separação de Connie e Douglas, na qual Reeves brilha ao dizer as palavras que põem um ponto final em seu casamento, expressando a admiração que sente pelo, agora, ex-companheiro e tudo o que Douglas significou para ela, enquanto ele a ouve com lágrimas nos olhos, tão grato quanto arrasado por aquele último momento.

Os personagens de Nicholls no livro eram humanos que cometiam erros e falhas grotescas, assim como todos os indivíduos de nossa terrível espécie. Mas a empatia por eles surgia apenas em alguns momentos bem pontuados. São personagens para os quais era difícil (às vezes, até mesmo improvável) apresentar alguma defesa, dado o egoísmo de suas ações. Na série, o autor tornou essas mesmas figuras desajustadas mais gostáveis, mesmo com todos os seus defeitos. Eles tem muito mais sensibilidade e até humanidade do que suas contrapartes literárias.

Em Us, acompanhamos o desabrochar do amor entre duas personalidades que não poderiam ser mais distintas e contrastantes; as delícias e os dramas da vida a dois, as alegrias e dificuldades da convivência, as mudanças decorrentes da presença dos filhos, a importância do apoio mútuo frente a irremediáveis perdas e o inevitável desgaste do relacionamento. Na contramão do que prega a teoria do Amor Líquido de Zygmunt Bauman, vemos o amor continuar, pois o que o embasa é o afeto e o respeito. O matrimônio é que se dissolve, transformando-se em amizade, sustentada por alguns dos mesmos pilares. A mudança é necessária para o início de novas experiências e aventuras e até mesmo a vivência de novos amores.

Andrizy Bento

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