Data de lançamento: 16 de Outubro de 2000
Duração: 2:02:00
Faixas: 40 faixas
Estilo: Punk e Hardcore
CD 1:
Fome do Cão*****
Mato Véio*****
Carrão de Dois*****
Nega Jurema*
Bê a Bá*
Pompém*****
O Pão Da Minha Prima**
Pequena Raimunda (Ramona)****
Bonita****
Língua Presa*****
Opa! Peraí Caceta**
Sereia da Pedreira**
I Saw You Saying (That You Say That Saw)**
Andar na Pedra****
Eu Quero Ver o Oco**
Selim*
Marujo*
Deixei de Fumar (Cachimbo da Mulher)/Cana Caiana*
Tá Querendo Desquitar (Ela Tá Dando) **
Boca de Lata*****
CD 2:
Herbocinética**
Poquito Más****
Rapante*
Puteiro em João Pessoa*
A Mais Pedida*****
Deixa Eu Falar*****
Pitando no Kombão**
Palhas do Coqueiro*
Papeau Nuky Doe***
Oliver’s Army****
Pout Pourri: Minha Cunhada/You’re Gonna Kill That Girl*
Baile Funky****
Tora-Tora**
Esporrei na Manivela**
Nariz de Doze****
Me Lambe*****
Bestinha**
Mulher de Fases*****
Reggae do Maneiro
20 e Poucos Anos
As faixas inéditas não possuem asteriscos
*Raimundos (1994)
**Lavô Tá Novo (1995)
***Cesta Básica (1996)
****Lapadas do Povo (1997)
*****Só no Forevis (1999)
Produção: Tom Capone, Carlos Eduardo Miranda e Mauro Manzoli
Gravadora: Warner Music
Para fechar o mês em que a MTV Brasil completaria 30 anos, vamos falar de um de seus históricos projetos em termos de repercussão, pioneirismo (uma das marcas do extinto canal) e vendagens.
Ícone do rock brasileiro dos anos 90, o grupo brasiliense Raimundos possui uma trajetória respeitável. Para incrementar, eles foram os responsáveis por um projeto pioneiro na indústria fonográfica unido à TV brasileira. Projeto esse que completa 20 anos e vocês não ficam de fora dessa boda de porcelana.
Mas antes, vamos resumir um pouco a história dos Raimundos. A banda começou em 1988, na capital federal, e se caracterizou pela mistura inusitada de punk rock com ritmos nordestinos, que eles batizaram de forrócore (mistura de forró com hardcore), além das letras irônicas e debochadas. Em 1994, a banda firmou compromisso com o selo independente Banguela Records, criado pelo Titãs em parceria com o jornalista e produtor Carlos Eduardo Miranda. Com esse selo, o Raimundos lançou no mesmo ano o seu primeiro disco autointitulado. O álbum entrou para a história da indústria fonográfica brasileira, fazendo dos Raimundos a primeira banda independente a faturar disco de ouro. O acontecimento fez com que eles fossem contratados pela Warner.
O segundo disco, Lavô Tá Novo (1995) seguiu a cartilha do forrócore e vendeu bem mais do que o primeiro. A turnê do álbum colocou a banda em grandes festivais como o Hollywood Rock e o Monsters of Rock. Em agradecimento, o Raimundos presenteou os fãs, durante a época natalina, com a compilação Cesta Básica (1996). Em 1997, o Raimundos lançou o seu terceiro disco Lapadas do Povo, onde eles abandonaram o forrócore (sem deixar o rock), mas com letras mais sérias. Porém, a sua turnê ficou marcada por uma tragédia, quando jovens morreram esmagados, ao despencarem de uma escada de acesso das arquibancadas do Clube de Regatas Santista, em Santos, litoral paulista. Mesmo isentos da responsabilidade, o Raimundos decidiu ficar um mês sem fazer shows, em memória aos jovens que morreram no trágico incidente.
Em 1999, o quarteto candango ganhou atenção midiática no Brasil por conta de seu quarto disco, Só No Forevis. O título é uma homenagem ao trapalhão Mussum e, na capa, o Raimundos debocha dos grupos de pagode romântico, que estavam em alta no mercado na época. Já no disco em si, a banda retornou às letras debochadas, manteve um pouco da sonoridade do disco anterior, se aventurando um pouco pelo ska e hip hop. Os maiores êxitos do álbum são Pompem, Me Lambe, A Mais Pedida e Mulher de Fases, a última conhecida popularmente como melô da TPM e cujo videoclipe foi o grande vencedor da edição de 1999 do VMB (Video Music Brasil), premiação musical da MTV de grande destaque e importância na época. O êxito nacional rendeu ao Raimundos o convite para gravar a canção Give My Bullet Back para a trilha sonora do filme norte-americano Missão Impossível 2 (2000).
Desde o primeiro disco, o Raimundos teve como maior divulgador o extinto canal MTV Brasil. Não foi surpresa os brasilienses estrearem em 2000 o recém-criado especial da emissora, o MTV Ao Vivo, que foi inspirado no já conhecido Acústico MTV. A ideia partiu da gravação do primeiro DVD ao vivo de Cássia Eller, o Com Você… Meu Mundo Ficaria Completo (2000), que foi gravado com o equipamento de áudio e visual emprestado pela MTV Brasil. A apresentação que o Raimundos transformou em MTV Ao Vivo foi realizada no Curitiba Master Hall, na capital paranaense, no dia 13 de maio de 2000. Para a produção, eles chamaram Tom Capone, Mauro Manzoli e o padrinho Carlos Eduardo Miranda, os mesmos produtores de Só No Forevis.
Rodolfo (voz), Digão (guitarra), Canisso (baixo) e Fred (bateria) decidiram que o áudio não deveria ter overdubs, que é um método usado para esconder as imperfeições nos discos ao vivo. A prova é que Rodolfo esqueceu a letra de Baile Funky no show. O quarteto também optou por lançar o disco com 40 faixas, 20 em cada CD. Também decidiram lançá-lo em formato individual, mas para diferenciar, fizeram da seguinte forma: O CD 1 contava com capa com o fundo vermelho. O CD 2 tinha a capa com o fundo branco. Já no CD duplo, a capa possuía fundo preto. O MTV Ao Vivo rendeu ao Raimundos o primeiro DVD de sua carreira. Nessa época o DVD (Digital Video Disc) estava engatinhando no Brasil e só emplacou de vez em 2002.
As duas faixas que encerram o disco são inéditas e não foram gravadas no show. A primeira a ser divulgada foi 20 e Poucos Anos, uma versão hardcore de um sucesso de Fábio Jr., ídolo da música romântica no Brasil. O Raimundos a regravou em estúdio para o programa homônimo da MTV Brasil. Nascida dois meses depois do lançamento do MTV Ao Vivo do Raimundos, a atriz Larissa Manoela regravou 20 e Poucos Anos para o filme Fala Sério Mãe (2017). A outra inédita é Reggae do Manero, que fez mais sucesso. Temendo rejeição do público, o Raimundos optou por gravá-la na passagem de som, com a presença de membros do seu fã-clube. A performance de Reggae do Manero está presente no DVD.
A turnê do MTV Ao Vivo passaria pela terceira edição do festival Rock in Rio em 2001. O Raimundos chegou a confirmar presença no evento, mas depois aderiu ao boicote das seis bandas brasileiras liderada pelo O Rappa, que exigiu ter as mesmas condições de tratamento que as atrações gringas. Os outros grupos brasileiros que participaram do boicote foram o Charlie Brown Jr., Skank, Cidade Negra e Jota Quest. Em minha opinião, o quarteto brasiliense cometeu o maior erro de sua carreira. Por conta desse ato, o Raimundos perdeu a oportunidade de realizar o último grande show com a sua formação original.
Em 13 de junho de 2001, em plena turnê nacional do MTV Ao Vivo, o vocalista Rodolfo tornou-se evangélico e saiu do Raimundos, sem conversar antes com a banda e com os seus admiradores. O grupo chegou a anunciar o fim de suas atividades, mas mudaram de ideia três meses depois, com o guitarrista Digão assumindo os vocais do grupo a partir do quinto disco, Éramos 4 (2001). A saída de Rodolfo rendeu uma paródia do programa Pânico na rádio Jovem Pan. Os humoristas (antes de ganharem espaço na TV) transformaram Reggae do Manero em Reggae do Obreiro ou Reggae do Crente, obtendo grande sucesso em 2001. Mesmo sem Rodolfo, o Raimundos foi anistiado pelo Rock in Rio e participou das edições de 2017 e 2019.
Em novembro de 2000, o grupo Ira! foi o responsável pelo segundo MTV Ao Vivo. Em 2001, o Planet Hemp e o Skank deram seguimento ao projeto, que fez grande sucesso nos primeiros anos desse século no Brasil. O último MTV Ao Vivo foi lançado pela cantora Gaby Amarantos em 2012. Logo na estreia, o MTV Ao Vivo dos Raimundos obteve o seu primeiro recorde de vendas, 700 mil cópias. Porém foi superado pelos 2 milhões de cópias do MTV Ao Vivo (2004) da cantora Ivete Sangalo. A ideia pioneira da MTV Brasil seria posteriormente copiada por sua maior concorrente no país, a Multishow, que criou o projeto Multishow Ao Vivo.
Quanto à MTV Brasil, ela saiu do ar em 30 de setembro de 2013, um mês antes de completar 23 anos no ar. Tom Capone vivia o auge de sua carreira de produtor quando morreu aos 38 anos, em um acidente de motocicleta nos Estados Unidos, em 2 de setembro de 2004, logo após ganhar um Grammy Latino pelo disco da cantora Maria Rita. Carlos Eduardo Miranda sofreu um mal súbito em sua casa, vindo a óbito aos 56 anos em 22 de março de 2018. Após 19 anos de atritos, Rodolfo fez as pazes com os ex-colegas de banda.
Windson Alves