Em comemoração aos oito anos desse grande evento!
“Havia uma ideia. Stark sabe disso. Chamada de Iniciativa Vingadores…”
Na cena pós-créditos do longa inaugural do MCU, Homem de Ferro, de 2008 – e que, na época, pouca gente viu, pois foi a própria Marvel que tornou tendência manter o espectador na poltrona da sala de cinema até o fim dos créditos – Nick Fury (Samul L. Jackson) surge diante de Tony Stark (Robert Downey Jr, no papel de sua vida) repreendendo o playboy, filantropo e gênio da tecnologia, por ter anunciado ao mundo, durante uma coletiva de imprensa, que era o Homem de Ferro. O diretor da SHIELD (Superintendência Humana de Intervenção, Espionagem, Logística e Dissuasão) ainda faz questão de salientar para Stark que ele não é o único e que outros vieram antes dele. O objetivo desse diálogo pouco amistoso é conscientizar Tony acerca da Iniciativa Vingadores.
O próprio Stark, posteriormente, dá as caras no, hoje praticamente esquecido (e renegado por seu próprio diretor), O Incrível Hulk de Louis Leterrier – também de 2008, e que trazia Edward Norton no papel do gigante esmeralda, ao invés de Mark Ruffallo – falando com o General Ross (William Hurt) sobre a tal iniciativa.
Após a inserção de alguns easter-eggs em Homem de Ferro 2 (2010) – com a exibição do escudo do Capitão América em uma passagem bem-humorada e o Mjölnir de Thor em sua cena pós-créditos – foi a vez destes heróis ganharem seus filmes solos de origem em 2011 e, assim, pavimentarem o caminho para tão aguardada reunião dos clássicos personagens da Marvel Comics nos cinemas. Um evento que tomou as telas em 2012 com o primeiro longa dos Vingadores.
“A ideia era reunir um grupo de pessoas extraordinárias, ver se elas podiam se tornar algo mais…”.
O que ocasiona esse superencontro é o retorno do irmão de Thor, Loki (Tom Hiddleston), para Terra. Ele é enviado ao planeta por uma raça alienígena denominada Chitauri, cujo propósito é dominar a humanidade. Diante da promessa de que ele será o soberano do planeta, Loki rouba um cubo cósmico de dentro das instalações da SHIELD e, assim, obtém acesso a um poder ilimitado. Loki os utiliza para controlar o dr. Erik Selvig (Stellan Skarsgard) e Clint Barton/Gavião Arqueiro (Jeremy Renner) – personagens que apareceram pela primeira vez no filme do Thor, em 2011 – de modo que trabalhem para ele.
Na tentativa de conter a ameaça, Nick Fury, convoca um time de indivíduos extraordinários, mas que jamais trabalharam juntos anteriormente: Tony Stark/Homem de Ferro, Steve Rogers/Capitão América (Chris Evans), Thor (Chris Hemsworth), Bruce Banner/Hulk (Mark Ruffalo) e Natasha Romanoff/Viúva Negra (Scarlett Johansson). No entanto, conter os egos dos heróis, a fim de que trabalhem em grupo para proteger a humanidade, não é mais fácil das tarefas. E esse é um dos principais méritos da produção: Mostrar a dificuldade dos membros da superequipe em atuarem coletivamente. É óbvio que por serem heróis acostumados a salvar o dia sozinhos, surgiria alguma animosidade entre os integrantes. De fato, eles não são muito simpáticos uns com os outros a princípio, fazendo questão de salientar que estão ali por obrigação, acaso ou conveniência. O clima de desconfiança entre eles se instala de imediato e os constantes embates devido às suas personalidades conflitantes precisam ser superados a fim de que a aliança se forme efetivamente.
Convivência é sempre difícil.
“Ver se poderiam trabalhar juntas quando precisássemos delas…”
É uma tragédia envolvendo um agente da SHIELD – e, então, futuro protagonista e rosto da série centrada nas aventuras da agência de espionagem da Marvel – durante a fuga de Loki do Aero-Porta-Aviões, que gera a união entre os heróis. Essa é, oficialmente, a primeira cena de um longa dos Vingadores a nos levar às lágrimas. Ainda que Phillip Coulson (Clark Gregg) se trate de um personagem original dos filmes, não egresso dos quadrinhos como os demais (e tirando o fato que ele sequer morre de verdade, pois estrelou uma série cuja sétima e última temporada será lançada este ano), o carisma e presença de Gregg fazem com que nos afeiçoemos a ele, uma vez que Coulson representa perfeitamente nós, fãs, fascinados ao testemunharmos a formação dos Vingadores. Ele assume bem o papel de fanboy dos heróis, de braço direito de Nick Fury e garante alguns dos momentos cômicos mais genuínos do enredo.
Agora motivados em vingar a morte de um amigo, o grupo torna sua prioridade derrotar Loki.
O longa é eficiente ao ilustrar tanto o temor da população diante da invasão alienígena que surge dos céus, quanto a curiosidade da mesma diante dos seres heróicos e encapuzados que emergem para deter uma ameaça sem precedentes. New York é, ao mesmo tempo, o mais manjado dos cenários e o palco perfeito para o aparecimento de heróis e vilões. Todos conhecem NY ainda que jamais tenham estado fisicamente presentes na megalópole. É a capital referência de qualquer filme americano de sucesso. Em meio ao caos, explosões pirotécnicas e o clima apocalíptico que assolam a Big Apple, soa plausível o nascimento de uma equipe integrada por poderosos uniformizados, em sua maioria com indumentárias coloridas – Um bilionário perito em tecnologia que desenvolve armaduras para combater inimigos; um supersoldado da década de 1940 que permaneceu 70 anos congelado; um deus do trovão; um gigante verde com alto poder de destruição, fruto de um acidente de laboratório; e dois espiões da SHIELD cuja rotina é encarar missões suicidas.
O bom-mocismo do Capitão América funciona perfeitamente como um contraponto ao cinismo do Homem de Ferro. Entre eles surge, a princípio, uma rivalidade velada, fruto de suas personalidades antagônicas, que, com o passar do filme, torna-se declarada. Ao final, no entanto, quando precisam superar suas diferenças para trabalharem juntos, passa a existir um clima de respeito que, ao longo da série, se transforma em uma bonita amizade. Embora seja justo, correto, de caráter incorruptível e uniformizado com a bandeira dos Estados Unidos, isso não torna o Capitão um personagem enfadonho. Muito pelo contrário. O herói não precisa falar muito. Apenas suas atitudes são suficientes para inspirar quem está ao redor. É de maneira orgânica e natural que ele se torna o líder do time, por ser o mais equilibrado e equitativo da equipe.
E, quem diria, o antigo intérprete do atrevido Tocha Humana nos insípidos longas do Quarteto Fantástico do início dos anos 2000, Chris Evans, honra o uniforme e o escudo do capitão em uma performance excelente. Robert Downey Jr, por sua vez, incorpora bem toda a arrogância e o brilhantismo de Tony Stark, mostrando mais uma vez, após os dois primeiros filmes solo do Homem de Ferro que realmente nasceu para o papel. Mas quem brilha de fato é o carismático Tom Hiddleston em uma performance inspirada de Loki, dosando bem a vilania de seu personagem com momentos mais bem humorados e deixando nítido que está se divertindo muito ao interpretar o inimigo dos heróis.
Todo o elenco está bem, e a química e sintonia entre eles é imbatível, mas são essas três figuras que se destacam no panteão.
“Para lutar as batalhas que nunca poderíamos...”
O final de Homem de Ferro é bastante sintomático, quando Tony Stark declara em alto e bom tom a hoje célebre frase “I am Iron Man”, pois evidencia o caminho que o MCU pretendia seguir nas telas, por mais que contrastasse com as HQs. Nos quadrinhos, os heróis usam máscaras e possuem identidades secretas. O uso do alter-ego é uma maneira de esconderem suas reais identidades da população a fim de protegerem quem eles amam. Essa é uma característica clássica e tradicional das comics que não envelheceu bem e já não soa mais tão plausível nestes tempos, por conta de uma geração extremamente cínica e cética de espectadores de cinema de entretenimento.
Vejam, até é possível compreender que existe um simbolismo por trás dos óculos de Clark Kent, o alter-ego de Superman. Afinal, como aquele repórter desengonçado, com cara de aparvalhado e óculos de grau poderia ser o mais poderoso dos seres a pisar na Terra? É significativo como ele disfarça justamente os olhos e acaba por conferir um ar de nerd estereotipado (e datado) para seu Clark Kent. No entanto, convém dizer que é necessário uma dose generosa de boa vontade para comprar a ideia de que aqueles que convivem diretamente com Clark e já tiveram a oportunidade de ver o Superman de perto, não suspeitem de absolutamente nada e sequer percebam a semelhança.
Com os Vingadores, seria até mesmo mais fácil trabalhar esse conceito. Homem de Ferro e Capitão América poderiam esconder suas reais identidades facilmente, pois ficam cobertos da cabeça aos pés. Mas não é algo conveniente para o roteiro e nem faz diferença no todo. Pelo contrário, os planos do MCU nas telas tornava imperativo que os heróis retratados assumissem suas responsabilidades, não omitindo quem eram. Dessa forma, todos sabem quem é quem. Até mesmo que Bruce Banner se transforma em uma amedrontadora criatura de coloração esverdeada. Ponto para a Marvel Studios por essa mudança bem vinda. Nem os fãs mais puristas dos quadrinhos da década de 1960 reclamaram. Até mesmo porque, em sua mídia de origem, os heróis já se viram forçados a tirar as máscaras e se apresentarem ao público em função de eventos drásticos.
“Phil Coulson morreu ainda acreditando nessa ideia. Em heróis.”
No clímax do longa, quando a formação original dos Vingadores se reúne pela primeira vez, temos uma cena que se transformou em um clássico instantâneo. Um travelling circular ao redor dos heróis posicionados para a ação. Uma cena icônica que seria utilizada posteriormente, em Vingadores: Ultimato e se tornou, merecidamente, a imagem-símbolo do filme. Além desta sequência, o longa conta com diversos fotogramas que aludem às splash pages dos quadrinhos, o que denota respeito à sua origem. O clima cartunesco, de aventura de fim de semana, perdura ao longo do filme, proporcionando aos espectadores bem executadas sequências de ação que se amparam no uso de efeitos especiais em grande escala – felizmente, utilizados para servir à narrativa, não tendo um roteiro escrito unicamente com a intenção de empregá-los. Para completar, a trilha sonora a cargo de Alan Silvestri corrobora a atmosfera catártica da produção e é nada menos do que memorável.
O primeiro longa dos Vingadores foi o pontapé inicial para a superestrutura que se tornou o MCU. Embora um blockbuster milionário, aposta em uma aventura leve, divertida, colorida, dinâmica e em um enredo mais despretensioso a fim de conquistar tanto os leitores de quadrinhos, quanto o público em geral que não teve acesso aos personagens em sua mídia de origem. Uma decisão inteligente, acertada e pouco arriscada, é verdade. Contudo, a principal meta, o longa dirigido por Joss Whedon alcançou com louvor: explorar com respeito e cuidado a mitologia dos super heróis oriundos dos quadrinhos da Marvel, mostrando que era possível traduzir para as telas os mesmos conceitos e a essência das geniais criações de Stan Lee, sem parecer cafona ou espalhafatoso. O filme emula com eficiência o universo compartilhado dos quadrinhos que nós, leitores, sempre sonhamos ver no cinema.
Vingadores pode ser definido como o início do sonho dos marvetes enfim convertido em realidade.
Andrizy Bento
4 comentários em “[O que rever na quarentena] Marvel’s The Avengers: Os Vingadores (2012)”