Podem acreditar: a primeira edição do maior festival de música do Brasil comemora, neste ano, bodas de coral. O evento, que ocupou dez dias do mês de janeiro de 1985, teve início no dia 11 e encerrou no dia 20. Um verdadeiro divisor de águas no cenário cultural de nosso país e responsável por colocar o Brasil no mapa das turnês internacionais.
Por coincidência, 1985 foi o ano mundial dos jovens e o festival chegou justamente para presentear a juventude brasileira. A idéia do evento partiu de Roberto Medina, filho de Abraham Medina que, na ocasião, era o presidente da Artplan Produções. Para saber mais sobre o festival, apresento aqui as 20 curiosidades sobre o Rock in Rio.
Frank Sinatra
Para poder realizar o Rock in Rio, Roberto Medina contou com um padrinho superpoderoso: ninguém menos do que a lenda Frank Sinatra. Conhecido como “a voz” e “olhos azuis”, ele foi trazido ao Brasil pelo próprio Medina para um show memorável no Estádio do Maracanã, em 26 de janeiro de 1980. Esse foi o primeiro grande investimento do empresário à frente da Artplan Produções, além de ser a primeira apresentação musical ocorrida no templo sagrado do futebol brasileiro. A mesma agência também foi responsável por trazer Barry White e Julio Iglesias para o Brasil.
Era uma época em que o país desfrutava de uma péssima fama no tocante a shows internacionais. Tornaram-se notórios casos de calote, roubo de equipamentos e o não cumprimento de acordos comerciais de contratos, resultando em cancelamento de shows sem alegações plausíveis. Junto do produtor Luiz Oscar Niemeyer e do empresário Oscar Ornstein (hoje falecido), Roberto Medina passou 40 dias em Nova York, correndo atrás de artistas. Participou de 70 reuniões para convencer os grandes artistas internacionais a tocarem no Rock in Rio e recebeu sonoros nãos, devido aos motivos expostos acima.
Ainda nos Estados Unidos, Roberto Medina se reencontrou com Frank Sinatra e falou da ideia do festival e de suas dificuldades em realizá-lo. Foi então que o dono dos “olhos azuis” resolveu ajudá-lo, falando com o seu empresário, Mickey Rudin, que agendou para Medina uma entrevista coletiva com a nata da mídia musical da Terra do Tio Sam. Somente depois de ouvirem a dica de Frank Sinatra e de Mickey Rudin é que os empresários dos artistas internacionais começaram a confirmar presença no Rock in Rio. A empresária Sharon Osbourne convenceu o marido Ozzy Osbourne dizer o primeiro sim para o festival carioca. Os segundos a aceitarem se apresentar no Rock in Rio foram os integrantes do Queen.
Cidade do Rock
Antes, o terreno era um pântano de 85 mil metros quadrados. A idéia de Roberto Medina era fazer uma versão brasileira de Knebworth. Para quem não sabe, Knebworth é uma cidade que fica no interior da capital britânica, Londres, e seu terreno amplo recebe megashows e festivais. Para adubar o aterro, foram utilizados 55 mil caminhões e, em três meses, a Cidade do Rock estava pronta para o Rock in Rio. O local dividiu as avenidas Salvador Allende e Olof Palme com o já existente pavilhão de exposições Riocentro, na Barra da Tijuca, bairro da zona oeste do Rio e que ainda não era totalmente habitado. O grande destaque dessa Cidade do Rock era dois chafarizes, onde o público costumava se refrescar devido ao intenso calor carioca.
Entretanto, havia aqueles que torciam pelo fracasso do festival. Primeiro acusaram o evento de trazer a AIDS para o Brasil(!). Segundo uma predição do profeta francês Nostradamus: “um grande encontro de jovens na América do Sul, perto do final do século, terminaria em tragédia, causando a morte de milhares de pessoas”. Em segundo lugar, vem Dom Eugênio Salles, que na ocasião era Cardeal Arcebispo do estado Rio e declarou que o rock era “música alienante e provocante: as conseqüências da ordem moral e social devem preocupar pais e mestres”. Porém o sonho do Rock in Rio só acabou após o seu encerramento em 20 de janeiro. O então governador fluminense, Leonel Brizola, mandou demolir a Cidade do Rock, alegando irregularidades na estrutura. Mas o real motivo foi político, pois o deputado federal Rubem Medina, irmão de Roberto Medina, fazia oposição ao político gaúcho.
Devido ao êxito dos shows de Paul McCartney no Rio em 1990 e temendo nova perseguição política de Brizola (ele venceria novamente a eleição para governador), Roberto Medina decidiu levar o Rock in Rio 2 para o Maracanã, em janeiro de 1991. Sem Brizola no poder público, Roberto Medina pode reconstruir a Cidade do Rock no mesmo terreno de 1985, para a terceira edição do Rock in Rio, realizada em janeiro de 2001. Depois, a velha Cidade do Rock recebeu outros eventos musicais, teve dois campos de beisebol para os Jogos Pan-Americanos de 2007, até que foi erguida a Vila Olímpica para os Jogos Olímpicos de 2016. Para o Rock in Rio 4, em 2011, Roberto Medina ergueu uma nova Cidade do Rock em outro terreno, na mesma Avenida Salvador Allende. Desde a edição de 2017 que o Rock in Rio ocorre no Parque Olímpico, onde, antes, era o Autódromo de Jacarepaguá.
Canção-tema
“Todos numa só direção/Uma só voz, uma canção/Todos num só coração/Um céu de estrelas/Se a vida começasse agora/E o mundo fosse nosso outra vez/E a gente não parasse mais de se amar, de se dar, de viver/Uou, uou, uou Rock in Rio…”. A canção-tema do festival foi composta pelo maestro Eduardo Souto Neto e tornou-se um dos maiores sucesso de 1985. Ela foi gravada pelo grupo Roupa Nova, que só estaria presente na segunda edição do Rock in Rio, em 1991.
Eduardo Souto Neto também é conhecido por ser o autor do Tema da Vitória, executado pela Globo a cada vitória de um piloto brasileiro na Fórmula 1, a categoria máxima do automobilismo mundial. Erroneamente, ela tem sido, por anos, chamada de “a música de Ayrton Senna”, mas quem estreou o Tema da Vitória na TV brasileira foi Nelson Piquet, ao vencer o Grande Prêmio do Brasil em 1983, no mencionado e hoje extinto Autódromo de Jacarepaguá. O mesmo Piquet se tornaria o primeiro brasileiro tricampeão mundial de automobilismo.
Voltando à canção-tema, ela encerra a coletânea do festival, que foi lançada pela Som Livre no fim de 1984. Aliás, a organização do festival planejava, com a mesma gravadora, a possibilidade de lançar uma outra coletânea, mas com versões ao vivo de canções que os artistas tocaram no festival, a exemplo do Woodstock, em 1969. Inclusive alugou unidade móvel de dois estúdios, um do Rio e outro de São Paulo, para lançá-lo em LP e também em fita VHS (uma novidade para o Brasil na época). Todos os shows foram gravados, mas a idéia não saiu do papel, por que as respectivas gravadoras dos artistas não chegaram a um acordo com a Som Livre sobre direitos autorais.
Comes e bebes
A marca de bebida brasileira Brahma foi uma das principais parceiras do festival. Para a ocasião, a Brahma criou a Cerveja Malt 90, cujo nome foi inspirado na extinta banda Gang 90 & Absurdettes. Dizem que ela causava cefaléia nas pessoas que a consumiam, tanto que foi apelidada jocosamente de malt nojenta. A Brahma, na época, era responsável pela Pepsi no Brasil e ela dividia a máquina de refrigerantes do festival junto da Sukita, além dos hoje extintos Guaraná Brahma e Limão Brahma.
Rival da Pepsi no departamento de refrigerantes, a Coca-Cola também pode patrocinar o festival, servindo as suas marcas Fanta, o hoje extinto Guaraná Taí, a recém-chegada Sprite e a própria. Somando a cerveja e todos os refrigerantes, foram servidos 1 milhão e 600 mil litros de bebida, vendidos em 4 milhões de copos. A partir do Rock in Rio 2, a Coca-Cola ganhou exclusividade no festival. Porém só ficou ausente na sexta edição, de 2015, quando foi substituída pela Pepsi. A partir da quarta edição, em 2011, a marca holandesa Heineken se tornou a cerveja oficial do Rock in Rio.
O primeiro Rock in Rio conseguiu o inacreditável: unir os maiores rivais do fast-food no Brasil. Pioneiro desse estilo em nosso país, o Bob’s montou seu trailer na Cidade do Rock. Porém, no festival, só não era maior do que a poderosa McDonald’s, que estava em seu sétimo ano no Brasil. O grande M dourado dividiu o espaço, no festival, com o logo do evento e o da rádio 98 FM. Juntos, Bob’s e McDonald’s venderam cerca de 1 milhão e 200 mil sanduíches, totalizando o consumo dos dez dias de RiR. Depois, com exceção do Rock in Rio 3 (que não teve nenhum dos dois), o Bob’s passou a ser o fast-food oficial do evento. Outra cadeia alimentícia de renome presente no primeiro RiR foi a Mister Pizza, que vendeu 33 mil pedaços de pizzas no evento.
Rádio e televisão
Poucos sabem, mas quem ajudou Roberto Medina a escalar as atrações carro-chefe do festival, foi Luiz Antônio Mello, fundador da Fluminense FM, primeira estação dedicada ao rock no Brasil. A “maldita” (como era conhecida por ouvintes que não gostavam de rock) foi fundada em 1982 e tornou-se o símbolo máximo do rock brasileiro dos anos 80. Eu tomei conhecimento da história que vocês vão ler abaixo por meio de relatos de antigos ouvintes da maldita no extinto Orkut. Portanto não posso afirmar se é verdade ou mentira. Nem li o livro Ondas Malditas, mas vontade não me falta.
Por conta da ajuda de Luiz Antônio Mello a Roberto Medina, a Fluminense FM estava para se tornar à estação de rádio oficial do Rock in Rio. Mas, então, a TV Globo chegou na Cidade do Rock com câmeras de última geração trazidas dos Estados Unidos e, supostamente, lançou mão da seguinte chantagem: “vocês só vão utilizá-las se derem exclusividade de rádio para a nossa 98 FM”. Não deu outra e a Rádio 98 FM transmitiu, na íntegra, todos os shows do Rock in Rio. A Fluminense FM só pôde cobrir o festival através dos orelhões instalados na Cidade do Rock. A 98 FM não existe mais e seu dial transmite, hoje, o sinal da Rádio Globo AM.
Emissora de televisão oficial do primeiro Rock in Rio, a Rede Globo completou 20 anos de sua fundação em 1985. O logo, criado para celebrar as suas bodas de porcelana, apareceu nos cartazes do evento e no portão de entrada da Cidade do Rock. Diferente da sua 98 FM, a Vênus Platinada não transmitiu todos os shows do festival, ficando restrito apenas a flashes com a apresentação do jornalista Nelson Motta. A Globo só transmitiu as apresentações que não interferissem no horário das suas novelas.
Noite do Metal
Não há o que se discutir. Aqui, no Brasil, o Rock in Rio não vive sem o Heavy Metal e vice-versa. Através de uma pesquisa de mercado, junto a Luis Antônio Mello, Medina percebeu que o metal era o subgênero do rock que mais vendia discos no Brasil. Cinco atrações do metal foram escaladas para aquela edição do RiR, como o cantor Ozzy Osbourne e as bandas Def Leppard, Iron Maiden, Scorpions e ACϟDC. Foi nesse Rock in Rio que a jornalista Glória Maria criou o termo jocoso “metaleiro” para se referir ao público do heavy metal. Porém, o último repudia até hoje ser chamado assim, preferindo as expressões inglesas heavy, headbanger ou metalhead.
Junto do Iron Maiden, o Def Leppard faz parte do movimento Nova Onda do Heavy Metal Britânico que, no fim dos anos 1970, revelou também o Motörhead, Saxon, Girlschool, Venom, Samson e Angel Witch. Promovendo, na época, o seu terceiro disco, Pyromania (1983), o Def Leppard teve que cancelar a sua presença no Rock in Rio por conta de atrasos na gravação de seu sucessor, Hysteria, que só chegaria ao mercado em 1987. Para o seu lugar foram chamados os compatriotas do Whitesnake que, na época, divulgavam o seu sexto disco Slide It In (1984). O grupo do vocalista David Coverdale tocou na primeira noite do festival (11 de janeiro) e foi quem abriu a parte estrangeira do evento. Oito dias depois, a cobra albina voltou à Cidade do Rock para a primeira noite do metal (19 de janeiro), quando tocou junto de Ozzy Osbourne, Scorpions, ACϟDC e os “intrusos” Baby Consuelo e Pepeu Gomes.
A mídia não reconhece, mas o Rock in Rio fez o metal ganhar vida no Brasil. Milhares de jovens saíram da Cidade do Rock com a idéia de montar uma banda do gênero. No Rock in Rio 2, em 1991, a Noite do Metal mostrou o seu poderio de fogo e trouxe Sepultura, Megadeth, Queensrÿnche e Judas Priest. No Rock in Rio 3, a Noite do Metal contou com as presenças de Sepultura, Rob Halford (no período em que esteve fora do Judas Priest) e Iron Maiden. Com exceção de 2017, a Noite do Metal se fez presente no Rock in Rio da edição de 2011 em diante e contou com Angra, Korzus, Motörhead, Slipknot, Metallica, Almah, Krisiun, Ghost, André Matos, Slayer, Avenged Sevenfold, Mötley Crüe, Moonspell, Mastodon, De La Tierra, Nervosa, Anthrax e Helloween. As edições estrangeiras em Lisboa, Madrid e Las Vegas também contaram com a Noite do Metal.
Muito além do rock
Para aqueles que reclamam de atrações fora do gênero rock nas últimas edições, um aviso: isso não é novidade na história do Rock in Rio. Na classe da MPB, marcaram presença na primeira edição Elba Ramalho, Ivan Lins, Moraes Moreira, Alceu Valença e Gilberto Gil. Na parte internacional, se apresentaram os americanos Al Jarreau, George Benson e James Taylor. Vendo que Baby Consuelo, sua ex-colega de Novos Baianos, se apresentou grávida no evento, Moraes Moreira levou o seu filho Davi Moraes (na época com 11 anos) para tocar nos seus dois dias de Rock in Rio (14 e 17).
Dos artistas brasileiros citados, apenas Ivan Lins tocou em uma só noite, em 12 de janeiro, a segunda noite do evento. O cantor carioca cita o festival como um dos maiores momentos de sua carreira, onde quase perdeu a voz durante o seu show e pediu apoio da platéia. Horas depois, Ivan Lins participou do show de George Benson (que também tocou no dia 14), que havia regravado Dinorah Dinorah de autoria do referido cantor brasileiro. Benson e Al Jarreau (que tocou nos dias 12 e 17) fizeram amizade com outros artistas brasileiros como Elba Ramalho (presente nos dias 12 e 17) e Alceu Valença (14 e 17). Assim como Ivan Lins, Gilberto Gil (atração nos dias 12 e 20) também era um artista de renome internacional, pois, em 1970, foi uma das atrações do festival da Ilha de Wight, na Inglaterra.
Dessa turma, o grande nome do Rock in Rio foi James Taylor. Entrar em contato com ele foi mais uma árdua tarefa para Roberto Medina. O cantor americano, na ocasião, estava enfrentendo problemas com drogas, pois não havia superado o divórcio com a cantora Carly Simon. Medina encontrou James Taylor em uma fazenda, onde o músico ensaiava o fim de sua carreira. Sem esperança de voltar, James Taylor aceitou se apresentar no Rock in Rio nos dias 12 e 14 de Janeiro. O festival acabou ressuscitando a carreira dele, que ficou comovido por conta da recepção da platéia. Em homenagem ao público brasileiro, James Taylor compôs a canção Only a Dream in Rio. Antes de se apresentar no Rock in Rio 3, James Taylor afirmou ser uma questão de honra tocar no evento.
Ozzy Osbourne
Como dito anteriormente, o Príncipe das Trevas foi o primeiro a dizer sim para o Rock in Rio. Mas isso não significa que colocá-lo no festival foi uma tarefa das mais fáceis para Roberto Medina. Isso por conta do famoso episódio em que ele arrancou a cabeça de um morcego com os dentes, em um show nos Estados Unidos, em 1982. Para evitar problemas com a Sociedade Protetora dos Animais, Medina colocou no contrato de Ozzy uma cláusula o proibindo de comer morcegos, pintinhos e similares.
Promovendo, na época, o seu terceiro disco solo, Bark At The Moon (1983), o ex-vocalista do Black Sabbath contava, em sua banda de apoio, com Jake E. Lee (guitarra), Bob Daisley (baixo), Tommy Aldridge (bateria) e Don Airey (teclados). O primeiro show de Ozzy Osbourne no festival ocorreu no dia 16 de janeiro e, nele, o cantor subiu no palco usando uma camisa do Flamengo entregue de presente por um fã. No ano seguinte, a sua imagem com o manto rubro-negro estampou a capa da hoje extinta revista Metal. No segundo show, no dia 19, um espectador jogou uma galinha viva no palco, acreditando que o cantor iria consumi-la. Porém, Ozzy frustrou os fofoqueiros de plantão, entregando o pobre animal para o primeiro funcionário do Rock in Rio que avistou pela frente. Destaque para o solo de bateria sem baquetas de Tommy Aldridge.
Ozzy Osbourne não foi a única atração internacional a se apresentar com a camisa do Flamengo no Rock in Rio. Na sétima noite (17 de janeiro), o cantor Al Jarreau também tocou com o manto sagrado no festival. A mesma sétima noite foi fechada com o grupo Yes, no qual tocou tecladista Tony Kaye, que também usou a camisa do clube de Zico, principal nome do futebol brasileiro da época. Lembrando que o Flamengo já era conhecido mundialmente por ter conquistado a sua primeira Libertadores e o Mundial de Clubes em 1981.
New Wave
Uma das manias do público na Cidade do Rock, em 1985, era um gel cheio de brilhantinas, conhecido como gel glitter. Dentro do local, existia um salão exclusivo para a aplicação do produto no cabelo. Lançado, na época, pela marca Wella, o gel glitter foi batizado de New Wave e se tornou mania em todo o Brasil nos anos 1980. Quanto à parte musical, a cantora alemã Nina Hagen e os grupos americanos The B-52’s e The Go-Go’s foram os representantes da New Wave no Rock in Rio. Esse subgênero do rock é comumente conhecido como herdeiro do punk (apenas na parte visual, convém dizer). The Go-Go’s promoviam o seu terceiro e último disco, Talk Show, que foi mencionado por aqui no artigo Os Melhores Discos de 1984.
Quanto ao The B-52’s, o grupo promovia o seu terceiro disco, Whammy! (1983), que trouxe o grande sucesso deles na época, a faixa Legal Tender, executada à exaustão nas festas e boates brasileiras da época. O grupo era liderado pelos irmãos Cindy (voz) e Ricky Wilson (guitarra), e ainda contavam com Kate Pierson (voz), Fred Schneider (voz) e Keith Strickland (bateria). No RiR, o grupo não contou com a presença de seu baterista oficial que, devido a problemas de saúde, não veio para o Rio. Por conta disso, o B-52’s teve que pegar emprestado do Talking Heads o baterista Chris Frantz e a baixista Tina Weymouth. A banda do estado americano da Geórgia veio ocupar a vaga que seria dos ingleses do The Pretenders, que cancelou em virtude da gravidez da sua vocalista, Chrissie Hynde.
A dificuldade de se pronunciar o nome da banda no Brasil, fez com que o público se referisse a eles como “bife com tutu” ou “bê cinquenta e dois”, sem contar que as vocalistas, Cindy e Kate, chamavam a atenção com seus cabelos estilo “bolo de noiva”. Os dois shows (18 e 20 de janeiro) fizeram a banda tocar para o maior público de sua carreira, cerca de 250 mil pessoas. O Rock in Rio foi a última aparição pública de Ricky Wilson à frente da banda. Ele morreu aos 32 anos, vítima do vírus HIV, em 12 de outubro de 1985. Apesar da perda trágica, a banda continuou na ativa e, em 1986, lançou seu quarto disco, Boucing Off The Satellites. Nele, mostrou que o Brasil fez bem ao grupo, através da faixa Girl From Ipanema Goes To Greenland (Garota de Ipanema foi para a Groenlândia), sátira do sucesso de Tom Jobim e Vinícius de Moraes.
Vaiados
Um dos momentos mais constrangedores do Rock in Rio também ficou marcado na sua primeira edição. Trata-se dos artistas brasileiros vaiados. Logo no primeiro dia de shows (11 de janeiro), ocorreram duas rejeições por parte do público do festival. O cantor Ney Matogrosso foi o primeiro a se apresentar no RiR, abrindo com a canção Deus Salve a América do Sul. Logo de cara, foi tomado por uma sonora vaia, mas, mesmo assim, ele não arredou o pé do palco. No mesmo dia, o tremendão Erasmo Carlos passou pela mesma saia justa, mas também seguiu com sua apresentação. Eles não mereciam passar por isso, ainda mais pelo que representam para a história do rock brasileiro. O primeiro foi membro do grupo Secos & Molhados e o outro era um dos líderes da Jovem Guarda, que instalou de vez o rock no Brasil durante a década de 1960.
A quinta noite de shows do Rock in Rio teve mais artistas brasileiros, sendo alvo de vaias. O grupo carioca Kid Abelha e os Abóboras Selvagens (assim se chamava a banda na época) abriu os trabalhos nessa noite e também foi vaiado pelo público. Durante o show, a vocalista Paula Toller chegou a mostrar o dedo do meio para a platéia. O cantor Eduardo Dusek foi mais uma vítima das vaias do público e, assim como o Kid Abelha, continuou no palco. Das atrações nacionais que tocaram no quinto dia, apenas o Barão Vermelho foi poupado. Marcado para tocar no dia 19, o show de Erasmo Carlos sabiamente foi transferido para o dia seguinte.
As vaias fizeram a imprensa e a organização descobrirem a diferença entre as tribos musicais. Acreditava-se que teriam aprendido com o erro no primeiro Rock in Rio, mas não foi bem assim. No Rock in Rio 2, em 1991, o rejeitado pelo público foi Lobão, que abandonou o palco após levar uma latada na cabeça. No Rock in Rio 3, em 2001, o cantor Carlinhos Brown também foi alvo de vaias da plateia, mas seguiu com a sua apresentação.
Alemanha unida
Em 1985, a Alemanha era dividida em Alemanha Ocidental e Oriental e o que marcava essa divisão territorial e ideológica era o malfadado Muro de Berlim, simbolizando a chamada Cortina de Ferro (leste europeu), que era liderada pela antiga União Soviética. O muro seria derrubado pelo povo das duas Alemanhas em 1989, tornando a unificar o país. Os dois países separados por concreto foram representados no Rock in Rio pela cantora new wave Nina Hagen e pelo grupo de hard rock Scorpions.
Nina Hagen veio da parte oriental de Berlim e teve que atravessar o forte esquema de segurança do muro para poder estrear na carreira musical. Divulgando o seu terceiro disco, Angstlos (1983), a cantora chamava a atenção pelas caras e bocas que fazia diante das câmeras, além de ter trazido a sua filha, Cosma Shiva (na época com 3 anos). Nina Hagen tocou na terceira (13) e última noite (20 de janeiro) do Rock in Rio. Foi nos bastidores do festival carioca que ela conheceu o jovem Supla, com quem teve um breve namoro. O romance resultou na gravação da faixa Garota de Berlim da banda Tokyo, da qual Supla era o vocalista e que contou com a participação da própria Nina Hagen.
O grupo Scorpions veio de Hanôver, da parte ocidental da Alemanha e alcançou êxito mundial através do nono disco, Love At First Sting (1984). O primeiro show do Scorpions no festival ocorreu no quinto dia (15 de janeiro) e, nele, o vocalista Klaus Meine entrou no clima das diretas e tremulou uma bandeira do Brasil para delírio do público. A banda também tocou na citada Noite do Metal (dia 19), na qual o guitarrista, Matthias Jabs, usou uma guitarra parecida com a logomarca do festival. A banda deu essa guitarra para Roberto Medina, que a expôs na extinta boate Rock in Rio Café. Quando confirmou presença no RiR de 2019, o Scorpions pediu para utilizar esse instrumento na Noite do Metal (4 de Outubro), na qual o Iron Maiden, Helloween (substituindo o Megadeth) e Sepultura também tocaram.
Seguidores do RÁ
Em 1985, alguns artistas brasileiros tinham um guru espiritual pra lá de sinistro. Trata-se do paranormal mineiro Thomas Green Morton, mais conhecido como o “homem do Rá”. Este armou uma tenda nos bastidores do festival. Ele trabalhou, na época, com Rita Lee e com o então casal Baby Consuelo e Pepeu Gomes. Erasmo Carlos relembra: “Todo mundo ia para o camarim da Baby e do Pepeu conhecê-lo. Lembro que fiquei uma semana com aquele cheiro de perfume de rosas dele impregnado. Bicho, aquele cheiro incomodava!”. Thomas Green Morton entornava talheres e sempre gritava a sílaba “RÁ”. Porém, a sua lenda teve fim quando foi desmascarado pelo Padre Quevedo no programa Fantástico da TV Globo nos anos 1990.
Agora, vamos aos shows do trio acima. A princípio, Rita Lee não estava dentro da programação do festival. Teve que aceitar o convite, pois brotaram especulações de que ela estaria contaminada pelo vírus HIV. Os boatos surgiram por que ela estava há dois anos sem se apresentar ao vivo. Costumam dizer por aí que, nesse primeiro Rock in Rio, não houve presença de nenhum paulista no palco, mas se esquecem que a rainha do rock brasileiro é da terra da garoa. Acompanhada de seu marido e guitarrista, Roberto de Carvalho, Rita Lee honrou o seu compromisso, fazendo um show inesquecível na Cidade do Rock. Ela tocou apenas na sexta noite (dia 16) junto d’Os Paralamas do Sucesso, Moraes Moreira, Ozzy Osbourne e Rod Stewart.
Baby Consuelo e Pepeu Gomes não decepcionaram e se apresentaram na primeira (11 de janeiro) e na Noite do Metal (dia 19). O guitarrista baiano subiu ao palco primeiro, sabendo que o público heavy rejeitou o show de Ney Matogrosso. Para reverter essa situação, Pepeu tomou a iniciativa de fazer a sua guitarra falar mais alto do que a sua voz e isso agradou ao público. Sua então esposa, Baby, subiu ao palco grávida de seu sexto filho com Pepeu, ficando a imagem gravada na memória de quem acompanhou o Rock in Rio. Anos depois, o casal se separou profissional e pessoalmente, fazendo a cantora mudar o seu nome artístico para Baby do Brasil. Quanto a Pepeu, ele recebeu propostas para tocar no Whitesnake e no Megadeth, mas recusou ambas. Os dois se uniram de novo para tocar no Palco Sunset do Rock in Rio 2015.
Iron Maiden
Foi no primeiro Rock in Rio que nasceu o caso de amor da banda inglesa de heavy metal com o Brasil. O contrato com o Iron Maiden foi fechado de maneira curiosa. Para as negociações, o empresário Rod Smallwood alugou um apartamento em Nova York para receber Roberto Medina e Oscar Ornstein. Nesse encontro, Rod estava apenas de cuecas e barbudo. O próprio Medina contou essa história na edição comemorativa dos 15 anos do festival para a revista Showbizz, em janeiro de 2000, e no livro Rock in Rio: A História do Maior Festival de Música do Mundo, escrito por Luiz Felipe Carneiro em 2011.
Realizar dois shows era a regra do festival. Porém, o Iron Maiden já estava com uma turnê pelos Estados Unidos agendada para janeiro de 1985. Por conta disso, o quinteto londrino tocou apenas na primeira noite do festival, em 11 de janeiro, que contou com um público de 200 mil pessoas. Mas foi o suficiente para a banda perceber o quanto era idolatrada no Brasil. O vocalista, Bruce Dickinson, pronunciou algumas palavras em português e até se acidentou, batendo com a guitarra no próprio rosto durante a canção Revelations. Nessa noite, o Iron foi o primeiro a fazer uso da pirotecnia na história Rock in Rio. O grupo estava na World Slavery Tour 84/85, turnê correspondente ao seu quinto disco, Powerslave, e que é considerada a maior turnê da banda na época. Nessa tour, o monstro mascote Eddie passou a aparecer duas vezes no palco, mas, no Rock in Rio, ele apareceu uma única vez. Oito faixas desse show entraram nos extras na versão em DVD de Live After Death.
Depois do primeiro Rock in Rio, o Iron Maiden esteve no Brasil por mais 11 vezes! Três delas no festival carioca. A segunda vez foi como atração principal da Noite do Metal no terceiro Rock in Rio, em 19 de janeiro de 2001, encerrando a turnê do 12º disco, Brave New World (2000). Nele, o grupo registrou a apresentação e, no ano seguinte, a transformou em seu primeiro DVD e quinto disco ao vivo – ambos levam o nome do evento. A terceira vez, foi no quinto RiR, em 22 de setembro de 2013, encerrando a última noite dessa edição como parte da turnê de revival, Maiden England. A quarta e última vez ocorreu recentemente, na oitava edição do evento, em 4 de outubro de 2019. Em outra turnê de revival, Legacy Of The Beast, o Iron fez uma apresentação monstruosa, sendo eleita a melhor da história do Rock in Rio. Me arrisco a dizer que eles superaram a do Queen de 1985.
Os Paralamas do Sucesso
Se não fosse o Rock in Rio, o power-trio carioca não seria tão prestigiado hoje e – por que não? – na América do Sul. Os Paralamas do Sucesso divulgavam o seu segundo disco, O Passo do Lui (1984), que haviam lançado dois meses antes. Nessa época, a banda ainda não usava músicos de aluguel no palco e o trio Herbert Vianna, Bi Ribeiro e João Barone levaram para o palco as palmeiras que estavam em seus camarins. A idéia foi elogiada por Caetano Veloso, que estava como espectador do Rock in Rio.
O primeiro show d’Os Paralamas aconteceu no terceiro dia de festival (13 de janeiro), quando eles abriram os trabalhos. Na mesma noite, também tocaram Lulu Santos, Blitz, The Go-Go’s, Nina Hagen e Rod Stewart. O trio tocou Inútil (hino das Diretas) do Ultraje a Rigor e dedicou a execução da música para os mesmos, Titãs, Lobão & Os Ronaldos, Magazine e para a Rádio Fluminense FM (todos ausentes do evento). Na segunda noite do trio (16 de janeiro), Herbert aproveitou a presença de heavys por causa de Ozzy Osbourne e começou dando bronca em quem vaiou e atirou pedras no Kid Abelha e Eduardo Dusek no dia anterior: “Em vez de vir jogar pedra, fique em casa aprendendo a tocar guitarra e, quem sabe, um dia vocês não estão aqui nesse palco?”.
Dizem que alguns argentinos e chilenos foram vistos no Aeroporto Internacional do Rio com um exemplar de O Passo do Lui, além de de seu primeiro disco, Cinema Mudo (1983). As duas apresentações do trio foram eleitas a melhor performance nacional do evento. Passados 22 anos, o show que Os Paralamas do Sucesso fizeram na segunda noite foi transformado em DVD e CD ao vivo, chamados Rock in Rio 1985 (2007). No CD, as canções Ska, Vital e Sua Moto e Química foram lançadas como faixas bônus, pois o trabalho de restauração de ambas não foi bem-sucedido. No DVD, há um documentário no qual é relatada a participação do trio no festival.
Sino do inferno
Trazer o ACϟDC para o Rock in Rio também foi difícil para Roberto Medina. Tudo começou com o sino de uma tonelada e meia, em que o vocalista Brian Johnson bate com uma marreta na abertura da canção Hells Bells. Mesmo tendo vindo de navio, o sino teve dificuldade de passar pela alfândega brasileira. O grupo de hard rock australiano fez uma pausa de seis semanas nas sessões de gravação do seu décimo álbum, Fly On The Wall, que chegaria ao mercado no segundo semestre de 1985.
Agora vem a parte questionada pelos admiradores brasileiros do ACϟDC: Ao tentarem colocar o sino de Hells Bells no palco do Rock in Rio, a estrutura do mesmo não teria aguentado. Anos depois, um cenógrafo do festival falou, em entrevista para a TV, que ele mandou fazer um sino de gesso para colocar no lugar do original. Quem já assistiu dezenas de vezes pela internet a performance do ACϟDC no RiR, percebeu a violência com que o Brian Johnson marretava o aparato e, dele, não caiu um pedaço sequer de gesso. Em outras palavras, o sino marretado era o original. Ficou claro que esse cenógrafo só queria fazer marketing com a primeira edição do festival diante da imprensa.
Liderado pelos irmãos Angus (guitarra-solo) e o finado Malcolm Young (guitarra-base), o ACϟDC se apresentou nos dias 15 e 19 de janeiro no festival, como parte da turnê de seu nono disco, Flick on the Switch (1983), o primeiro com o baterista inglês Simon Wright. Também não podemos esquecer do baixista Cliff Williams que, nas duas noites do Rock in Rio, se apresentou com uma camisa diferente. Depois do festival, o ACϟDC voltou ao Brasil mais duas vezes, em 1996 e 2009, mas não incluiu o Rio de Janeiro na rota de shows. Com o anúncio do novo disco para 2020, especula-se a presença dos australianos no Rock in Rio de 2021.
BRock in Rio
Se, nos três anos anteriores, o rock brasileiro conquistou as paradas de sucesso do Brasil, o Rock in Rio fez o favor de colocar o gênero de vez no coração do povo brasileiro nos anos 1980. Depois, as gravadoras e rádios saíram atrás de outros artistas do gênero. Nunca antes os artistas do BRrock contaram com uma grande estrutura à sua disposição, embora os gringos da mesa de som promovessem sabotagens durante os show deles e da turma da MPB. Foi vergonhoso ver nossos artistas terem o som do microfone cortado ou sendo retirados pelo piso móvel do palco.
Além dos já mencionados Kid Abelha, Eduardo Dusek, Barão Vermelho e Os Paralamas do Sucesso, o grupo Blitz e o cantor Lulu Santos também marcaram presença no primeiro Rock in Rio. A banda carioca de Evandro Mesquita, Márcia Bulcão e Fernanda Abreu promoviam o seu terceiro disco, intitulado 3 (1984). O grupo ainda contava, na época, com Juba (bateria), Antônio Fortuna (baixo), Billy Forghieri (teclado) e Ricardo Barreto (guitarra). A Blitz levou para o festival um trio de sopro e um percussionista e abriu o show com a canção Betty Frigida. Um momento mágico da apresentação foi quando o público começou a cantar junto a letra de A Dois Passos do Paraíso. A Blitz tocou no Rock in Rio nos dias 13 e 20 de janeiro.
Quanto a Lulu Santos, o cantor e guitarrista carioca promovia o seu terceiro disco solo, Tudo Azul (1984) e tocou nas noites do dia 13 e 18 de janeiro. Ele chegou a anunciar que não iria tocar Como Uma Onda, mas, na última hora, mudou de idéia. Em um dos shows, ele debochou da boy band porto-riquenha Menudo, usando como base a Marcha da Cachaça: “Você pensa que Menudo é macho?/Menudo num é macho não/Menudo faz assim com o braço (mão na cintura)/Depois faz assim com a mão (desmunhecada)”. Na época, Lulu Santos era casado com a jornalista e escritora Scarlet Moon (falecida em 2013). Após se separar dela, em 2006, o cantor se recusou a falar de sua vida privada. Isso até 2018, quando assumiu ser bissexual. Lulu Santos voltou ao Rock in Rio nas edições de 2015 e 2019.
Escocês trolador
Uma das atrações mais esperadas do RiR, o cantor Rod Stewart, desembarcou no Brasil no dia 10 de janeiro, data de seu aniversário de 40 anos. Promovendo, na época, o seu 13º disco solo, Camouflage (1984), o escocês entrou no lugar do grupo australiano Men At Work, que havia confirmado presença, mas teve que desistir em virtude de um atrito entre os integrantes, ocasionando no seu fim.
Rod Stewart só havia estado no Brasil para tirar férias nos anos 1970. Fez amizade com o jogador de futebol Paulo César Caju (tricampeão mundial em 1970) e se tornou simpatizante do Fluminense, embora o seu time de coração seja o Celtic, o clube mais popular da sua Escócia. Voltando para 1985, há relatos de funcionários do hotel onde o músico esteve hospedado que ele aprontou. Por exemplo: estragou a porta de seu quarto de tanto jogar dardos contra ela. Já no Rock in Rio, exigiu 70 toalhas brancas, obrigando a organização a catar de vários motéis. Outra exigência absurda foi de não ser visto pelo corredor dos camarins toda vez que estivesse passando por ele.
Rod Stewart se apresentou em dois dias do Rock in Rio, 13 e 16 de janeiro, tendo encerrado ambas as noites. Um ato que os brasileiros gostaram no ex-vocalista do The Faces foi o de chutar bolas de futebol para o público. Em cada show, ele exigiu 12 bolas e, em um deles, a bola estava murcha. Seu empresário queria que uma nova fosse comprada em plena madrugada para substituí-la, mas tudo estava fechado e o mesmo tomou um belo esporro de Amin Khader, que era responsável pelos camarins do Rock in Rio. No palco, o cantor mandou seus sucessos como Sailing, Hot Legs, You’re in My Heart, Tonights The Nigths, Maggie May e a polêmica Da Ya Think I’m Sexy?, que ficou conhecida no Brasil por ser plágio de Taj Mahal de Jorge Ben Jor.
Noite das Diretas
O Rock in Rio coincidiu com um momento fundamental na história do Brasil. Além de presentear a juventude brasileira, o festival também foi útil para celebrar o regresso da democracia no país. Foi no quinto dia de shows (15 de janeiro), em uma terça-feira, data essa chamada pela imprensa, na época, de “Noite das Diretas”. Em Brasília, ocorreu a última eleição indireta para presidente, na qual saiu vitorioso Tancredo Neves, se tornando o primeiro civil eleito depois de duas décadas de regime militar. Essa eleição pôs um ponto final nos 21 anos de ditadura no Brasil. Entretanto, o político mineiro não pode tomar posse como presidente devido a problemas de saúde, vindo a falecer em 21 de abril.
Voltando ao quinto dia, o clima em verde e amarelo tomou conta do público na Cidade do Rock. Especialmente entre os participantes brasileiros. Apresentador do festival, o ator Kadu Moliterno anunciou a primeira atração da Noite das Diretas: “vem agora o primeiro show da democracia brasileira” e o grupo Kid Abelha entrou no palco carregando uma bandeira gigante do Brasil. Promovendo, na época, o primeiro disco Seu Espião (1984), o grupo de Paula Toller foi alvo de vaias junto de Eduardo Dusek, como foi dito anteriormente. Ambos só puderam se apresentar tranquilamente no Rock in Rio três dias depois (18). Na turnê de seu quarto álbum, Brega Chique (1984), Eduardo Dusek chegou nos camarins e anunciou ao Barão Vermelho: “os metaleiros vão comer vocês vivos”. Mas não foi bem assim…
Promovendo, então, o seu terceiro disco, Maior Abandonado (1984), o Barão Vermelho foi super aplaudido pelo público que aguardava a apresentação dos Scorpions e ACϟDC na Noite das Diretas. Também pudera, o quinteto carioca tinha uma sonoridade rock com um pé no blues, além de contar com a participação do saxofonista Zé Luis. A banda contava com a sua formação original na época: Cazuza (voz), Roberto Frejat (guitarra), Mauricio Barros (teclados), Dé Palmeiras (baixo) e Guto Goffi (bateria), além de estarem no clima das Diretas. Antes do solo de guitarra em Pro Dia Nascer Feliz (que fechou o show), Cazuza soltou a frase marcante “que o dia nasça lindo para todo mundo amanhã. Um Brasil Novo e com a rapaziada esperta”. O Barão também se apresentou no último dia de festival (20 de janeiro). Em 1992, o grupo se tornou o primeiro a ter um show no Rock in Rio lançado no mercado fonográfico, intitulado Barão Vermelho Ao Vivo. Lançado pela Som Livre, o disco traz o show do dia 15 e a capa da apresentação do dia 20. Em 2007, o mesmo álbum foi remasterizado e relançado no mercado no formato CD, acompanhado de DVD.
Sim para a Rainha
Os grupos ingleses Yes e Queen foram os experientes do rock dos anos 1970 presentes no Rock in Rio. O Yes fazia parte da turma do rock progressivo junto dos compatriotas Pink Floyd, Genesis, Jethro Tull e Emerson Lake & Palmer. Da formação original, restara Jon Anderson (voz), Chris Squire (baixo) e Alan White (bateria). Com os membros Trevor Rabin (guitarra) e Tony Kaye (teclados), o quinteto estava divulgando o seu 11º disco, 90125 (1983), que é conhecido pelas faixas Leave It e o mega-sucesso da época Owner of a Lonely Heart. O Yes fechou as noites de 17 e 20 de janeiro.
Quanto ao Queen, esse já havia tocado no Brasil anteriormente. Em março de 1981, os dois shows memoráveis no Estádio do Morumbi, em São Paulo, fizeram do quarteto a primeira banda de rock a tocar em um estádio de futebol brasileiro. Antes do Rock in Rio, Freddie Mercury regeu o público do Morumbi durante Love of My Life, que fez mais sucesso aqui do que no resto do mundo. Eles queriam tocar também no Maracanã, mas o show foi vetado pelo, na época, governador fluminense Chagas Freitas. Portanto, o Rock in Rio serviu para pagar uma dívida que o grupo tinha com os cariocas, fechando os dias 11 e 18 de janeiro.
O Queen promovia o seu décimo primeiro disco, The Works (1984) e os integrantes regressaram ao Brasil separadamente. O trio Brian May, John Deacon e Roger Taylor vieram primeiro. Já Freddie Mercury chegou ao Rio no dia seguinte e acompanhado do então companheiro, Paul Prenter. No RiR, o Queen emprestou para o evento o canhão de luzes que iluminou o palco, a mesa de som (que gerou dor de cabeça entre as atrações brasileiras) e o maior cachê do festival, cerca de 600 mil dólares. A performance de Love of My Life ficou marcada no Rock in Rio, assim como a versão de Star Spangler Banner (hino nacional dos Estados Unidos), executada por Jimi Hendrix no Festival de Woodstock, em 1969.
Super 8
Para finalizar, deixo com vocês esse tesouro da internet. Um espectador do Rock in Rio, chamado Lúcio Amarante se hospedou no Copacabana Palace e filmou com uma câmera Super 8 (o pai das câmeras amadoras) alguns dos astros internacionais do RiR. Aparecem no registro integrantes do Whitesnake, Scorpions, Brian May (guitarrista do Queen), Ozzy Osbourne e alguns membros da sua banda de apoio, como Don Airey (hoje no Deep Purple) e Tommy Aldridge (atual Whitesnake). As canções que tocam no vídeo são Whiplash e Phantom Lord, ambos do grupo Metallica.
Windson Alves