Vencedores do Oscar 2020 – Era Uma Vez em Hollywood… Um Parasita

Era Uma Vez em Hollywood… um Parasita. No ápice de uma cerimônia cuja entrega dos prêmios foi, em sua quase totalidade, óbvia e previsível, um longa sul-coreano venceu o prêmio de Direção e, depois, o principal de Melhor Filme. O que as demais categorias ficaram devendo no quesito surpresa, o final da festa nos proporcionou. E isso quando muitos de nós já nos encontrávamos desacreditados, especialmente após a decepção do ano passado, com a vitória do Livro Verde.

Sejamos francos: há tempos não era tão divertido assistir à uma cerimônia do Oscar.

E não falo apenas do fato de Parasita ser o primeiro filme não falado em língua inglesa a ganhar a estatueta de Melhor Filme. Nem do quão emblemático foi a equipe do longa receber o prêmio das mãos da engajada Jane Fonda (e o medo de que um policial aparecesse do nada para prendê-la em pleno palco do Dolby Theatre?). Nem dos memes maravilhosos com a soneca do Martin Scorsese durante uma despropositada e aleatória performance de Lose Yourself do Eminem – na certa redimindo-se após não comparecer a cerimônia de 2003 (!) para receber o Oscar de Melhor Canção Original.

Nem do fato da vitória de Parasita ser até mesmo metafórica – como no enredo do longa de Bong Joon Hoo, o Parasita sul-coreano adentrou o lar e a festa do cinema americano (porque, sim, Oscar celebra majoritariamente o cinema que é produzido em Hollywood), um lugar em que produções estrangeiras tem pouco ou nenhum espaço, e arrematou quatro dos prêmios mais cobiçados da noite. De modo sorrateiro, foi conquistando seu lugar graças a muita propaganda boca a boca pelo mundo afora e invadiu um território essencialmente americano e conservador, eliminando seus concorrentes um a um e deixando um confiante Sam Mendes a ver navios (seu Titanic naufragou… E ele nem tem mais Kate Winslet para consolá-lo).

Mas, ao contrário da maneira agressiva e parasitária com a qual agem seus protagonistas, o cineasta chegou na humildade. E em seu discurso de agradecimento pela vitória na categoria de Melhor Diretor, exaltou seus rivais. O quão emblemático é receber o prêmio de direção das mãos do lendário Spike Lee e fazer a plateia levantar da cadeira para aplaudir o monstro sagrado do cinema que é Martin Scorsese? Ou mencionar o fato de que Quentin Tarantino, também seu concorrente, sempre fez questão de incluir filmes assinados por ele em suas listas de melhores do ano, o reverenciando como um de seus ídolos? É muita classe…

 

O fato é que o Oscar de 2020 foi, na maior parte das categorias, justo ao eleger seus vencedores (ainda que previsível). E a cerimônia em si foi uma delícia de se assistir, mesmo com algumas aleatoriedades, como a já citada apresentação de Eminem…

Claro que ainda incomoda ouvirmos palavras como “diversidade”, “inclusão”, “representatividade feminina” serem proferidas à exaustão em vários discursos e vermos tantas mulheres e negros no palco, e nenhuma mulher figurar na categoria de direção, ou pior: apenas uma única negra receber indicação este ano.

Eu subestimei a Academia nas minhas apostas, mas a verdade é que há sinais de mudanças aqui e ali. Percebemos uma boa vontade maior este ano – de se mostrar inclusiva, engajada e moderna não apenas na embalagem, mas em seu conteúdo. E muito disso se deve ao Parasita. Longa que fez história na noite de 9 de fevereiro. Acima de qualquer coisa, a conquista de Parasita mostra que existe cinema fora de Hollywood. Algo que muitos de nós já sabíamos, mas que os votantes da Academia preferiam ignorar, fingiam desconhecer.

Espero, no entanto, que isso não acabe por aqui. Que não tenha sido uma exceção à regra. Que o longa de Bong Joon Hoo tenha aberto, de fato, um precedente e as portas para outros filmes estrangeiros invadirem o Oscar futuramente.

Quanto às minhas previsões: nunca fiquei tão feliz por estar errada. Das 24 categorias, acertei 21. Errei apenas em Edição de Som, Direção e Filme 🙂 confira abaixo todos os vencedores da 92ª edição do Oscar na ordem em que foram anunciados:

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