Agora é a vez de relacionar os melhores discos de 1989. É bem verdade que a geração 90 foi a que mais tirou proveito desses álbuns, mas não deixam de ser dos anos 1980. Antes que cobrem pela ausência de um álbum ou outro, alguns já possuem artigo próprio aqui. É o caso de As Quatro Estações da Legião Urbana e o The Real Thing do Faith No More. Sem mais delongas, vamos aos discos que, neste ano, completam bodas de pérolas.
The Rolling Stones – Steel Wheels
É o disco que ressuscitou a banda de rock mais ativa do mundo. O grupo, de fato, não havia acabado. Apenas Mick Jagger (voz) e Keith Richards (guitarra) não estavam se entendendo mais e resolveram fazer uma pausa com o Rolling Stones. Ambos aproveitaram para realizar projetos individuais e o mesmo fizeram os demais integrantes; Bill Wyman (baixo), Charlie Watts (bateria) e Ron Wood (guitarra). Esse hiato conflituoso foi batizado pelo próprio Rolling Stones de “terceira guerra mundial”.
Eles ainda tentaram uma volta com o álbum Dirty Work (1986), mas o conflito interno era tanto que a banda inglesa nem saiu em turnê mundial para promovê-lo. Isso obrigou os integrantes a se manterem com suas respectivas carreiras solo. O que estimulou o Rolling Stones a se reunir foi a nomeação do quinteto ao Rock and Roll Hall of Hame em janeiro de 1989. De imediato, Mick e Keith começaram a compor cerca de 50 canções. Steel Wheels é o 19º da discografia britânica e o 21º na discografia americana da banda, além de ter sido concebido no Estúdio Air, em Londres, capital da Inglaterra. Ele chegou às lojas em 29 de agosto, conquistando o público e a critica.
O primeiro êxito de Steel Wheels foi a faixa Mixed Emotions. Outro grande sucesso foi a canção Rock and A Hard Place, na qual o baixo de Bill Wyman teve destaque. Ambas as canções ganharam videoclipe. A Steel Wheels Tour também teve grande repercussão mundial, ainda mais que os americanos do Living Colour e Guns N’ Roses foram as bandas de abertura e até participavam de apresentações do quinteto inglês. Sua turnê rendeu o quinto disco ao vivo do Rolling Stones, o Flashpoint (1991), que trouxe duas faixas inéditas gravadas em estúdio: Highwire e Sex Drive. Em 1992, foi lançado o vídeo ao vivo Live At The Max, que foi gravado nas cidades onde a turnê de Steel Wheels passou. Tanto Flashpoint quanto a Live At The Max marcou a despedida do baixista Bill Wyman, que saiu da banda no fim de 1992.
Nirvana – Bleach
Eis a estreia fonográfica do grupo, que é considerado o porta bandeira do movimento grunge de Seattle. Antes de ficar conhecido como um trio, o Nirvana era um quarteto formado por Kurt Cobain (voz e guitarra), Kris Novoselic (baixo), Dale Crover (bateria) e Jason Everman (guitarra), tendo surgido em 1987, na citada Seattle, no estado americano de Washington. No fim de 1988, a banda firmou compromisso com o selo independente Sub Pop e, no mesmo ano, lançou o compacto da canção Love Buzz.
Entre dezembro de 1988 e janeiro de 1989, o Nirvana utilizou o estúdio Reciprocal Recording em Seattle para gravar o seu primeiro disco, contando com a produção de Jack Endino. Durante as gravações, Dale Crover saiu do grupo e no seu lugar entrou Chad Channing. Três canções do álbum haviam sido gravadas com o primeiro baterista, que são Floyd the Barber, Paper Cuts e Downer, mas, apesar das tentativas de regravá-las com Chad, a banda, por fim, decidiu remixar as versões gravadas com Crover. A canção Big Long Now não foi incluída em Bleach, pois Kurt Cobain sentiu que já havia coisas lentas e pesadas suficientes no álbum.
Bleach chegou ao mercado no dia 15 de junho e, em sua primeira prensagem, o vinil estava na cor branca em tiragem limitada a 1.000 cópias. O álbum teve uma boa vendagem para os padrões Sub Pop e recebeu resenhas positivas quando foi lançado. O maior êxito do disco até hoje é a canção About a Girl. No meio da turnê, em 1990, Jason Everman e Chad Channing saíram da banda. Para a guitarra, o grupo não quis um substituto, mas para a bateria foi chamado Dave Grohl. Como um trio, o Nirvana assinou com a poderosa Geffen Records e lançou o seu segundo e mais bem-sucedido disco, Nevermind (1991). Fora que Bleach foi relançado pela Geffen e teve vendagem maior do que na Sup Bop. Jack Endino ficou conhecido no Brasil por ter produzido dois discos dos Titãs, o Titanomaquia (1993) e Domingo (1995).
Rush – Presto
É o disco que deu início à quarta fase musical do power-trio canadense, que resolveu voltar às suas origens musicais: o hard rock de seus quatro primeiros álbuns. Geddy Lee (voz, baixo e teclado), Alex Lifeson (guitarra) e Neil Peart (bateria) resolveram se concentrar no básico do rock (guitarra, baixo e bateria), deixando os teclados para o segundo plano. No início de 1989, o Rush encerrou a terceira fase (dedicada à música futurista) por meio de seu terceiro disco ao vivo, A Show of Hands, que também foi lançado em VHS. Ambos também encerraram o contrato do trio com a gravadora Mercury após 16 anos de parceria.
Além de ser o 13º disco e o primeiro da sua quarta fase, Presto foi o primeiro disco do Rush com a Atlantic Records. Para conceber o álbum, a banda regressou ao seu querido Le Studios, em Morin Heights, no estado de Quebec, no seu Canadá. Para a produção, o trio queria trabalhar com Peter Collins, que produziu os dois discos de estúdio anteriores ao Presto, o Hold Your Fire (1987) e Power Windows (1985). Porém, ele recusou por conflito de agenda e o Rush acabou optando por Rupert Hine, que já havia trabalhado com Tina Turner, Howard Jones e The Fixx.
Presto chegou ao mercado no dia 21 de novembro. Ele abre com Show Don’t Tell, que também foi a primeira faixa de divulgação. The Pass, Red Tide e Superconductor foram outras canções que divulgaram Presto. A turnê do álbum foi encerrada no dia 29 de junho de 1990 no Meadows Amphitheater, em Irvine, no estado americano da Califórnia. Em seguida, o Rush lançou a sua primeira coletânea, Chronicles (1990). A quarta fase do Rush foi incrementada com os discos Roll The Bones (1991), Counterparts (1993) e Test For Echo (1996), sendo encerrada com o quarto álbum ao vivo, Different Stages (1998).
Tears For Fears – The Seeds of Love
Disco memorável do duo inglês formado por Roland Orzabal (voz e guitarra) e Curt Smith (voz e baixo). Fundada em 1981, após a dissolução da primeira banda da dupla, Graduate, o Tears For Fears (também chamado de TFF) era inicialmente associado com as bandas de sintetizadores new wave do início dos anos 1980, mas, posteriormente, o seu estilo se ramificou para rock e pop mainstream, que os levou às paradas internacionais. A banda fez parte da Segunda Invasão Britânica nos Estados Unidos na era MTV.
The Seeds of Love é o terceiro disco do Tears For Fears (ironicamente chamado no Brasil de tias fofinhas), chegou ao mercado no dia 25 de setembro, teve o custo de gravação em 250.000 libras (a moeda na Inglaterra), além da produção de David Bascombe com o próprio duo. As faixas apresentam influências de vários estilos como jazz, blues e até de bandas como Beatles. Isso foi mostrado em um dos maiores sucessos do disco, a canção Sowing The Seeds of Love. Outro grande êxito do disco foi a balada Woman in Chains, que fez bastante sucesso no Brasil. Sua gravação contou com participações especiais como a de Phil Collins (do grupo Genesis), que foi o responsável pela bateria da faixa. Outra participação foi de Oleta Adams, que foi descoberta por Roland Orzabal, e com quem dividiu os vocais da canção.
A faixa Advice For The Young At Heart é outra das canções que divulgou o disco. A turnê mundial de The Seeds of Love resultou na primeira vinda do Tears For Fears ao Brasil. O duo se apresentou na terceira edição do festival Hollywood Rock, em janeiro de 1990. Rendeu também o VHS ao vivo intitulado Going To California, gravado a partir do concerto que a dupla realizou em Santa Barbara, estado americano da Califórnia.
Red Hot Chili Peppers – Mother’s Milk
O mundo conheceu os pimentinhas da Califórnia através desse disco. E pensar que a sua inspiração foi uma tragédia dentro do Red Hot Chili Peppers: a morte de seu primeiro guitarrista, o israelense Hillel Slovak. Ele tinha 26 anos e faleceu vítima de overdose no dia 25 de junho de 1988, desmantelando a formação original. De quebra, o primeiro baterista, Jack Irons, resolveu sair da banda e anos depois ingressou no Pearl Jam. Os remanescentes, Anthony Kieds (voz) e Flea (baixo) tiveram que reformular grupo com novos músicos. Para a bateria foi contratado Chad Smith, que nasceu em 1961, sendo um ano mais velho que os líderes (que nasceram em 1962). Para a guitarra, Kieds e Flea resolveram apostar em um jovem de 18 anos chamado John Frusciante.
Durante o período que compreende novembro de 1988 até março de 1989, o novo quarteto se ocupou nos estúdios Ocean Way e Image, ambos em Hollywood, Califórnia, na gravação de seu quarto disco, tendo a produção de Michael Beinhorn. Mother’s Milk chegou ao mercado no dia 16 de agosto. A capa mostra o quarteto deitado nos braços de uma modelo nua. Mesmo com os seios censurados por uma rosa de um lado e por Anthony Kieds do outro, a controvérsia foi inevitável e várias lojas se recusaram vender o disco. Outra polêmica ocorreu com a modelo da capa, Alaine Dawn, que afirmou não ter sido notificada ao ser escolhida para estampar a capa. Piorou quando a referida modelo soube que, sem o seu consentimento, vários cartazes promocionais da turnê do disco foram elaborados com a foto da capa e com os seus seios expostos. Alaine Dawn entrou na justiça contra o Red Hot Chili Peppers (também chamado de RHCP).
Quanto aos sucessos do disco, um deles é Higher Ground, uma regravação de um sucesso de Stevie Wonder. A versão gravada pelo RHCP tem como destaque a introdução de baixo a cargo de Flea. Outro grande êxito de Mother’s Milk foi faixa Knock Me Down. Tanto essa última quanto Higher Ground tiveram os seus videoclipes dirigidos por Drew Carolan. O disco também trouxe o cover de Fire de Jimi Hendrix que havia sido gravada com Irons e o finado Slovak. A turnê fez o grupo tocar pela primeira vez fora dos Estados Unidos. Mother’s Milk marcou a despedida do Red Hot Chili Peppers da gravadora EMI, que lançou o VHS intitulado Positive Mental Octopus. Em 1990, a banda foi contratada pela Warner, mas essa é outra história.
Skid Row – Skid Row
A banda de glam metal estreou com o pé direito na indústria fonográfica. O Skid Row nasceu em 1987, na cidade de Toms River, no estado americano de New Jersey. Seus fundadores são Dave Sabo (guitarra) e Rachel Bolan (baixo). A princípio, recrutaram Scott Hill (guitarra), Rob Affuso (bateria) e Matt Falon (voz) para integrar a banda. Mais tarde, Matt saiu e, no seu lugar, entrou Sebastian Bach, que se tornaria a cara da banda. Por coincidência, Skid Row é também o nome de uma banda nascida na República da Irlanda, no fim dos anos 1960, e que revelou o cantor e guitarrista norte-irlandês Gary Moore (então futuro membro do Thin Lizzy).
Quanto ao Skid Row americano, no início de carreira eles contaram com a ajuda de Jon Bon Jovi, líder do Bon Jovi (também de New Jersey) e amigo de Dave Sabo desde a infância. Graças a esse padrinho ilustre, o quinteto conseguiu ser contratado pela Atlantic Records. Durante o ano de 1988, eles se dedicaram à gravação de seu primeiro disco no estúdio Royal Recorders, na cidade de Lake Geneva, no estado americano de Wisconsin, tendo a produção de Michael Wagener. O álbum de estreia da banda Skid Row chegou às lojas no dia 24 de janeiro.
O primeiro grande sucesso do disco foi a faixa Youth Gone Wild, que é chamado de popular êxito do rock mainstream. Porém, os maiores sucessos do álbum foram as baladas, entre elas 18 and Life. A outra é I Remember You, bastante executada no Brasil, principalmente por ter feito parte da trilha sonora da novela global Vamp (1991), sendo o tema da cantora-vampira Natasha (Claudia Ohana). O seu primeiro disco é até hoje considerado o maior sucesso comercial do Skid Row. Só nos Estados Unidos, vendeu cerca de cinco milhões de cópias. A turnê do disco seguinte, Slave To The Grind (1991), trouxe o Skid Row ao Brasil pela primeira vez, em janeiro de 1992, quando tocaram no festival Hollywood Rock.
Ramones – Brain Drain
É o disco de maior sucesso comercial do quarteto nova-iorquino, pioneiro do punk rock. O grupo encontrava-se com a sua formação mais popular: Joey Ramone (voz), Johnny Ramone (guitarra), Dee Dee Ramone (baixo) e Marky Ramone (bateria). Em dezembro de 1988, o Ramones entrou em estúdio para conceber o seu décimo-primeiro disco, com a produção de Bill Laswell. Brain Drain chegou ao mercado no dia 23 de março.
O baixista Dee Dee Ramone cantou na faixa Punishiment Fits The Crime. O primeiro grande êxito do álbum, no entanto, é a faixa Pet Sematary, muito em virtude de a canção ter integrado a trilha sonora do filme de terror Cemitério Maldito (1989), dirigido por Mary Lambert e roteirizado por Stephen King, autor da obra original na qual o filme se baseia. Esse fator fez com que a faixa se tornasse a canção mais popular dos Ramones. Outra canção que teve grande repercussão foi Merry Christmas (I Don’t Want to Fight Tonight), que é uma espécie de canção natalina para o público roqueiro. O videoclipe mostra um casal em pé de guerra em plena festa de natal. Outro êxito é I Believe in Miracles, que abre o disco e também ganhou videoclipe, assim como Merry Christmas e Pet Sematary.
No meio da turnê de divulgação de Brain Dain, o baixista Dee Dee Ramone resolveu sair do Ramones. O videoclipe de Pet Sematary foi o seu último como membro da banda. Sua vaga foi preenchida pelo novato CJ Ramone, grande fã da banda. Os videoclipes de Merry Christmas e I Believe in Miracles marcaram a estreia de CJ no grupo. Em 1990, os Ramones lançaram em formato home video o documentário Lifestyles of The Ramones, que conta um pouco da sua história e fala sobre as influências que causaram nos artistas que vieram depois deles. Eu adquiri esse documentário em versão DVD, lançado pela revista Shopping Music em 2002. A turnê de Brain Drain trouxe o Ramones ao Brasil pela segunda vez em abril de 1991. O concerto do grupo por aqui contou com o show de abertura do Ratos de Porão, fãs confessos do quarteto. A turnê rendeu também o segundo disco ao vivo do grupo, o Loco Live (1991), que foi gravado em Barcelona, na Espanha.
Casseta & Planeta – Preto Com um Buraco no Meio
Podem acreditar! O icônico grupo humorístico já se aventurou pela música e foi com esse disco que eles ficaram conhecidos nacionalmente. Casseta & Planeta é a união de dois tabloides satíricos de grande sucesso no Rio de Janeiro durante a década de 1980: o Casseta Popular e o Planeta Diário (nome tirado do famoso jornal fictício dos gibis do Superman). Sua união foi ocasionada pela TV Globo, que contratou os responsáveis dos dois jornais para serem roteiristas do programa humorístico TV Pirata, pioneiro do humor escrachado.
O grupo era formado por Beto Silva, Bussunda, Claudio Manoel, Emanuel Jacobina, Hélio de La Peña, Hubert, Marcelo Mardureira, Mu Chebabi e Reinaldo. O noneto carioca assinou contrato com a Warner e, assim, lançou o seu primeiro disco intitulado Preto Com Um Buraco no Meio, produzido por Paulo Albuquerque. O título fez a banda ser acusada de racismo, porém, o nome se refere a nada mais do que a definição do disco de vinil, que é preto e com um furo no centro para ser encaixado na vitrola. Seu primeiro grande sucesso foi o funk de raiz Mãe é Mãe, que contém o polêmico refrão: “mãe é mãe/vaca é vaca/a mulher? Mulher não/mulher é tudo vaca”. Nesse refrão, Bussunda imita Tim Maia e Claudio Manoel canta as estrofes da letra. Outro sucesso do disco é o reggae Tributo a Bob Marley, que teve a participação do cantor Djavan. Também emplacou a faixa Eu Tou Tristão, que foi gravado em ritmo de samba-enredo e fez muito sucesso nos bailes de carnaval no inicio dos anos 1990.
A banda ainda fez piada com o fim da censura federal, ocorrida no ano anterior àquele, através da faixa inexistente Punheta, creditada à Cassandra Rios, Bussulivan e Brassadas, com a observação “O Departamento de Censura da Polícia Federal proibiu tocar Punheta em todo o território nacional”. Preto com um Buraco no Meio nunca foi lançado em CD, mas boa parte das faixas entraram na coletânea The Bost of Casseta & Planeta (2000). O primeiro trabalho do grupo na TV foi na cobertura do carnaval de 1990, na Globo, onde dispuseram de um camarote para que entrevistassem várias personalidades. Em 1991, os humoristas atuaram como repórteres do programa Doris Para Maiores, apresentado por Doris Giesse. O humorístico era o embrião do sonhado programa deles: Casseta & Planeta Urgente, que entrou no ar em 1992.
Raul Seixas e Marcelo Nova – A Panela do Diabo
Esse foi o disco que ressuscitou a carreira de Raul Seixas após anos no ostracismo. No início dos anos 1980, os promotores de shows perderam a confiança no músico em virtude das apresentações que o cantor fazia completamente bêbado. As gravadoras também viraram as costas para ele com o famoso argumento “vacinados contra Raul Seixas”. Um sopro de vida foi a gravação da faixa Carimbador Maluco, que teve êxito no especial infantil Plunct, Plact, Zuuum da TV Globo, em 1983. Raul Seixas foi convidado pelo diretor, Augusto César Vanucci, para interpretar o personagem da canção no citado programa.
Voltando ao disco em questão: em 1984, Raul Seixas esteve no Circo Voador para assistir ao show do grupo Camisa de Vênus, tão baiano quanto ele. Nesse show, Raulzito conheceu Marcelo Nova, vocalista da mencionada banda. Em dezembro de 1985, Raul fez o último show da sua carreira em São Caetano do Sul, São Paulo. Em seguida, a sua saúde piorou, pois o cantor sofria de pancreatite crônica causada pelo alcoolismo e precisava constantemente de insulina. A situação financeira do cantor era ruim, o que dificultava seu tratamento. Isso fez com que Marcelo Nova desse a ele a oportunidade de dividir o palco e o cachê no show que o primeiro realizou em 18 de setembro de 1988, na Concha Acústica do teatro Castro Alves, em Salvador, capital da Bahia. O show foi um sucesso e daí veio a ideia de uma turnê da dupla pelo Brasil, marcando o retorno de Raul Seixas aos palcos.
O sucesso da turnê fez com que André Midani convidasse Raul Seixas e Marcelo Nova a gravarem um disco juntos. Durante a parceria, Raul apelidou Marcelo de Marceleza. A Panela do Diabo foi concebido em maio de 1989 no Estúdio Vice-Versa, em São Paulo. A primeira música de divulgação do disco trata-se de Carpinteiro do Universo. A consagrada dupla se apresentou em programas como Jô Soares Onze e Meia do SBT e Domingão do Faustão da Globo. O disco chegou às lojas em 19 de agosto de 1989, dois dias antes da morte de Raul Seixas.
Barão Vermelho – Barão Ao Vivo
Primeiro registro ao vivo gravado pelo lendário grupo carioca. Eles divulgavam o seu sexto disco: Carnaval, o único da banda como um trio, composto por Roberto Frejat (voz e guitarra), Dé Palmeira (baixo) e Guto Goffi (bateria). Nessa turnê, o Barão Vermelho contava com dois músicos de aluguel, Fernando Magalhães (guitarra) e o saudoso Peninha (percussão) que, posteriormente, seriam efetivados como membros oficiais do grupo no disco Na Calada da Noite (1990).
Para gravar o disco ao vivo, o Barão reservou os dias 1, 2 e 3 de junho de 1989 no extinto point roqueiro Dama Xoc, em São Paulo. O disco abre com duas faixas da era Cazuza: Ponto Fraco e Carne de Pescoço. A terceira faixa é Pense e Dance, grande sucesso de Carnaval, que fez parte da trilha sonora da novela Vale Tudo, sendo a canção-tema da inesquecível vilã Maria de Fátima interpretada por Glória Pires. O disco tem a inédita Rock do Cachorro Morto, inspirada por um poema do escritor Machado de Assis e é a primeira composição própria do baterista Guto Goffi.
Sucessos da era Cazuza não faltaram como Bete Balanço e Pro Dia Nascer Feliz. Entretanto, a única ausência sentida é a de Maior Abandonado. O disco fecha com o cover de Satisfaction dos Rolling Stones e conta com a participação do eterno produtor da banda, Ezequiel Neves (creditado como Zeca Jagger), nos vocais de apoio. O primeiro disco ao vivo do Barão Vermelho marcou a despedida de Dé Palmeira, que saiu da banda e foi substituído por seu ídolo Dadi (ex-membro do grupo A Cor do Som). A turnê do álbum colocou os cariocas para tocarem no festival Hollywood Rock, em janeiro de 1990. Em 1998, o Barão Ao Vivo foi relançado em CD com três faixas bônus Lente, Bagatelas e Torre de Babel.
Viper – Theatre of Fate
Muitos consideram o melhor disco gravado pelo grupo de heavy metal paulista Viper. Em minha opinião, o melhor ainda é o primeiro, Soldier of Sunrise (1987), mas como aqui estamos falando do segundo, Theatre of Fate, vou manter o foco. Antes de gravá-lo, a banda abriu a primeira turnê do Motörhead no Brasil, em março do mesmo ano. Em seguida, trocou de baterista – saiu Cássio Audi e entrou Sérgio Facci. Logo após, a banda assinou com a Eldorado Records e alugaram, entre agosto e setembro de 1989, o estúdio BMG Ariola, em São Paulo. Para a produção, a banda contou com a ajuda do produtor inglês Roy Rowland.
Theatre of Fate se diferencia da sonoridade ríspida e agressiva de Soldier of Sunrise. Ele bebe da fonte da música erudita, da qual o finado vocalista, André Matos (que estava para completar 18 anos na época), sempre foi um grande admirador. Tanto que a banda convidou o Quarteto Cordas Kubala para participar do álbum – tocando nas faixas At Least A Chance, Prelude to Oblivion e Moonlight, sendo a última inspirada em Moonlight Sonata de Beethoven. O disco abre de maneira épica com a instrumental Illusions, destacando as melodias de violão e guitarra dos músicos Yves Passarel (então futuro Capital Inicial) e Felipe Machado, além dos arranjos de teclados de André Matos. Essa forma de introdução seria uma marca registrada utilizada pelo vocalista tanto no Angra quanto no Shaman, bandas das quais faria parte posteriormente. No disco em questão, há sintetizadores e samplers que ficaram a cargo de Fernando Bustamante.
A maior parte das composições é de autoria do baixista Pit Passarel, exceto Moonlight (de André Matos) e A Cry From The Edge (Que Pit compôs com Felipe Machado). Vale lembrar que Sérgio Facci foi um músico de estúdio, ou seja, gravou apenas o disco, mas ainda assim podia integrar o Viper, pois se saiu muito bem na gravação. Entretanto, quem saiu creditado como baterista em Theatre of Fate foi Guilherme Martin, outro músico de respeito. Ao escutar o disco, nota-se a influência do metal europeu, no melhor estilo Iron Maiden e Helloween. Na turnê de divulgação de Theatre of Fate, um teclado era colocado no palco a fim de que André Matos o tocasse em algumas canções. Aliás, esse disco marcou a sua despedida do Viper, pois o músico optou por se dedicar aos estudos, tendo se formado em Regência Orquestral. Foi na faculdade que André Matos conheceu os membros do Angra, mas essa é uma outra história.
Engenheiros do Hawaii – Alívio Imediato
Primeiro disco o vivo do power-trio gaúcho que se encontrava em sua melhor formação: Humberto Gessinger (voz e baixo), Augusto Licks (guitarra e teclados) e Carlos Maltz (bateria). Antes da gravação, os membros decidiram fixar residência no Rio de Janeiro. Produzido por Marcelo Sussekind, o álbum foi gravado nos dias 7, 8 e 9 de julho no extinto Canecão, no Rio de Janeiro. Os shows eram válidos pela turnê Variações Sobre a Mesma, que promovia o terceiro disco da banda, o Ouça O Que Eu Digo: Não Ouça Ninguém (1988). Curiosidade: quase que o disco foi batizado com o título Tudo Que Uma Banda Pode Oferecer.
O álbum abre com duas canções inéditas, gravadas no estúdio BMG, no Rio de Janeiro. Uma delas é Nau à Deriva, cujo videoclipe foi gravado na primeira visita que a banda fez à antiga União Soviética. A canção-título obteve mais sucesso, ainda mais com o seu videoclipe com animações. O vídeo quase concorreu ao VMA, hoje tradicional premiação musical da MTV norte-americana. A letra também é tocante por citar o ainda existente Muro de Berlim que, durante 28 anos, dividiu a Alemanha em duas: Alemanha Ocidental (capitalista) e Alemanha Oriental (socialista). O muro foi derrubado em 19 de novembro de 1989. Os engenheiros quase optaram por gravar A Violência Travestida Faz Seu Trottoir e Nunca Mais Poder nesse trabalho. No entanto, as faixas foram aproveitadas no disco O Papa é Pop (1990).
Os gaúchos chegaram a gravar, no show, uma canção de seu primeiro fã-clube, o hoje extinto “Fã-Clube Além dos Outdoors”. Entretanto, a faixa que deu nome ao fã-clube não entrou em Alívio Imediato. Da parte ao vivo, a canção que mais obteve êxito foi Terra de Gigantes (do segundo disco, A Revolta dos Dândis, de 1987), que o público canta em sincronia com a banda. A turnê que promoveu Alívio Imediato se chamou Alívio & Mídia Tour 89/90 e colocou o trio gaúcho para tocar no festival Hollywood Rock, em janeiro de 1990. A canção Tribos e Tribunais (do mencionado Ouça O Que Eu Digo: Não Ouça Ninguém) só entrou na versão remasterizada em CD.
Funk Brasil
Vocês estão vendo a primeira coletânea de funk do Brasil, embora a sua base rítmica seja o drum ‘n’ bass. Essa foi a estreia fonográfica do DJ Malboro (sim, ele é das antigas), que também foi o produtor do disco. Funk Brasil é considerado o marco zero do funk carioca, em uma época que o ritmo tinha qualidade sonora, bem diferente dos dias atuais. Vale ressaltar também que as pessoas escutavam funk de verdade em festas, bailes, sozinho dentro de casa e no walkman.
DJ Malboro assinou contrato com a extinta Polygram (atual Universal) para poder lançar a coletânea. O disco abre com Rap das Aranhas, interpretada por Cidinho Cambalhota. A faixa nada mais é do que a regravação de Rock das Aranhas de Raul Seixas, censurada no disco Abre-te Sésamo (1980). Arrisco-me em dizer que essa versão do Cidinho Cambalhota é a mãe do chamado funk proibidão (ou funk pornográfico, se preferir). A segunda faixa é Entre Nessa Onda, executada por MC Batata. A terceira trata-se de Rap do Arrastão, interpretada por Ademir Lemos, conhecido parceiro do finado Big Boy nos bailes do Rio de Janeiro durante a década de 1970. O lado A fecha com Melô dos Números, cantada por Abdullah.
O lado B inicia com Melô do Bêbado, interpretada por MC Batata. Inacreditavelmente, muitas crianças, em 1989, cantavam não só essa faixa, como também Rap das Aranhas. A segunda faixa é Melô do Bicho, executada por MC Guto. A penúltima é outro Melô: o da Mulher Feia, interpretada por Abdullah. Essa canção teve como base um clássico do rock dos anos 1960, Do Wah Diddy, do grupo inglês Manfred Mann. O disco fecha com Malboro Medley do próprio DJ Malboro. Funk Brasil teve grande aceitação e vendeu cerca de 250 mil cópias. No ano seguinte, DJ Malboro lançou pela mesma Polygram, o Funk Brasil 2, onde consta a participação da humorista Dercy Gonçalves, que gravou a Resposta das Aranhas – uma resposta feminina ao Rap das Aranhas. A trilogia Dj Malboro/Polygram foi encerrada com o Funk Brasil 3 (1991), cujo maior êxito foi Melô do Remador, regravação de conhecida marchinha de carnaval.
Titãs – Õ Blésq Blom
Último grande álbum da fase áurea dos Titãs. Esse foi o disco que o grupo mais demorou para gravar. Foram três meses (julho, agosto e setembro) enfurnados no estúdio Nas Nuvens, no Rio de Janeiro, para a concepção do álbum que contou com a produção de Liminha, considerado o nono titã na época e dono do citado estúdio. Seu desenvolvimento começou quando, em 1987, a banda esteve em Recife, Pernambuco. Os integrantes ficaram encantados com a performance que o casal de repentistas Mauro e Quitéria fizeram na Praia da Boa Viagem, na citada capital pernambucana. O octeto registrou o momento com um gravador e utilizaram como vinheta de abertura e encerramento de Õ Blésq Blom. Alias, o título do disco foi ideia de Mauro e Quitéria.
A primeira canção de divulgação de Õ Blésq Blom foi a faixa Flores, cantada por Branco Mello e que se tornou um grande êxito, principalmente devido ao videoclipe repleto de efeitos especiais, com flores flutuando. O vídeo foi dirigido por Jodele Archer e saiu vencedor do já mencionado VMA’s (Video Music Awards). A banda foi para Nova York receber o prêmio e, de quebra, gravou o videoclipe da canção Deus e o Diabo, outro destaque do disco. Os vocais dessa canção são divididos por Sérgio Britto e Paulo Miklos. A citada dupla também canta em Miséria, cujo videoclipe traz a participação de Mauro e Quitéria. O baixista, Nando Reis, cantou apenas em uma faixa do disco: Faculdade. Os Titãs ainda contavam com Charles Gavin (bateria), Marcelo Fromer e Tony Bellotto (ambos na guitarra).
O também vocalista, Arnaldo Antunes, interpretou duas faixas: Medo e O Pulso. Ambas fizeram grande sucesso e renderam videoclipes. O Pulso ganhou uma versão satírica chamada Tô Puto, feita pela Rádio Transamérica, como uma crítica ao fracasso da seleção brasileira de futebol na Copa do Mundo da Itália, em 1990. O Titãs não curtiu a brincadeira e entrou na justiça contra a Transamérica. A versão em CD (uma novidade do mercado na época) de Õ Blésq Blom contém a faixa Natureza Morta, de apenas 18 segundos. A turnê do disco rendeu ao octeto paulista uma grande carga de shows e muitos lucros financeiros. Esse fato fez com que os Titãs fossem comparados aos Rolling Stones pela revista Veja, da qual foram capa. A turnê de Õ Blésq Blom foi encerrada na segunda edição do festival Rock in Rio, que ocorreu no Estádio do Maracanã, em 1991. O octeto tocou na terceira noite do evento, em 20 de janeiro, junto de Hanoi Hanoi, Billy Idol, Faith No More e Guns N’ Roses.
Cazuza – Burguesia
Esse é o último disco de estúdio gravado pelo poeta exagerado. Burguesia é o quarto álbum de estúdio de Cazuza e o único disco duplo do músico. O cantor já se mostrava totalmente debilitado pelos sintomas do vírus HIV, tanto que perdeu o dom de andar, o que o impediu de continuar realizando shows. O cantor assumiu a doença de um jeito que ele não queria, na revista Veja. O combinado era para ser apenas uma entrevista, mas a publicação transformou o assunto em capa com o título “Cazuza, uma vítima da AIDS agoniza em praça pública”. Responsável por entrevistar Cazuza, a jornalista Ângela Abreu ficou tão envergonhada com a polêmica que pediu demissão da Veja.
Voltando ao álbum, a maior parte das canções que o integram foram compostas no período em que o músico esteve internado (devido ao infarto ao ver a capa da Veja) na Clínica São Vicente, situada na zona sul do Rio de Janeiro. Cazuza escreveu o maior número de canções possível juntos dos amigos que o visitaram na citada clínica. Ele gravou e produziu o disco Burguesia em uma cadeira de rodas e com a voz nitidamente enfraquecida. Sem forças, chegou a gravar algumas faixas deitado. O primeiro LP de Burguesia era voltado ao rock, enquanto o segundo puxava para a MPB, da qual Cazuza sempre bebeu da fonte em suas canções. A canção-título é a que abre o álbum e compreende uma crítica à classe rica e elitista do Brasil. A faixa Tudo é Amor foi escrita ao lado de Laura Finochiaro, conhecida por ter tocado no festival Rock in Rio 2, em 1991. Como Já Dizia Djavan foi composta juntamente de Frejat, amigo dos tempos de Barão Vermelho.
A faixa Perto do Fogo trata-se de uma homenagem de Cazuza para Rita Lee. A própria regravou, posteriormente, a canção no disco Rita Lee e Roberto de Carvalho (1990). Aliás, nesse disco, Cazuza regravou Cartão Postal, que Rita eternizou no lendário disco Fruto Proibido (1975). Angela Rô Rô se recusou a gravar Malandragem que Cazuza cedeu para ela, mas a mesma compôs, ao seu lado, a canção Cobaias de Deus, que abre o segundo LP. Malandragem acabou sendo eternizada na voz de Cássia Eller, em 1994. Voltando às regravações, há também Quase Um Segundo d’Os Paralamas do Sucesso e Preconceito de Nora Ney. No dia 7 de julho de 1990, a doença vitimou Cazuza e, no ano seguinte, foi lançado o álbum póstumo Por Aí. João e Lucinha Araújo fundaram a Sociedade Viva Cazuza, que visa proporcionar uma vida melhor a crianças soropositivas.
Ultraje a Rigor – Crescendo
Nesse terceiro disco, Roger Moreira e companhia soltaram os cachorros contra tudo e contra todos. Começou durante a turnê do segundo disco Sexo!! (1987). Em um show realizado em Chapecó, em Santa Catarina, uma adolescente de 15 anos subiu ao palco e o citado vocalista e guitarrista, brincando, a elegeu “musa virgem”. Depois do show, a jovem foi para o camarim da banda festejar e, no dia seguinte, a história foi publicada nos jornais. Sabendo disso, os pais da adolescente entraram na justiça contra o Roger, sob a acusação de estupro e corrupção de menores. Na justiça, tanto a jovem quanto o vocalista conseguiram provar que não ocorreu nenhum desses delitos, mas o alarde sobre o assunto fez o Ultraje a Rigor virar “persona non grata” no Brasil.
Sabendo que os conterrâneos do Ira! chutaram o balde com o destrato que sofreram no festival Hollywood Rock de 1988 (no qual o Ultraje também se apresentou), se inspirando na composição de Psicoacústica (relatado aqui), o quarteto decidiu fazer o mesmo com o seu terceiro disco. Além de Roger, o Ultraje contava na época com Leôspa (bateria), Mauricio Defendi (baixo) e Sérgio Serra (guitarra). Os integrantes decidiram que as letras deveriam ser sérias, bem diferentes dos dois álbuns anteriores; a saber: o mega-sucesso Nós Vamos Invadir Sua Praia (1985) e o mencionado Sexo!!. A banda se trancou no estúdio Nas Nuvens, no Rio de Janeiro, entre outubro de 1988 e janeiro de 1989. Rolou tensão nas gravações e Roger se revoltou ao ver que Leôspa não estava sóbrio. A mixagem e a masterização foram feitas na Inglaterra. A banda produziu o disco junto de Paulo Junqueiro.
Tirando proveito do fim da censura federal, que deu liberdade de expressão para os artistas brasileiros, o disco foi recheado de palavrões, além de abordar assuntos controversos e espinhosos, como adultério, complexo de Édipo, brigas familiares e críticas à sociedade e ao governo brasileiro. O disco abre com a faixa-título. A faixa seguinte é Filha da Puta, a mais conhecida do álbum. Porém, temendo que não a executassem nas emissoras de rádio e TV, a banda optou por realizar uma outra versão intitulada Filha Daquilo, cujo palavrão no título foi substituído por sons de buzina. Outra canção lembrada desse disco é O Chiclete, na qual os integrantes se identificam. A faixa-título também possui uma segunda versão, chamada Crescendo 2 – A Missão (trocadilho com o filme Rambo 2 – A Missão). Já a faixa Constituinte é uma releitura roqueira de Atirei o Pau no Gato.
Sepultura – Beneath The Remains
Muitos o consideram o disco definitivo do metal brasileiro. Com ele, o mundo descobriu que o Brasil não é apenas o país do samba e carnaval. O Sepultura chegou ao mercado fonográfico graças ao selo independente Cogumelo, que também dá nome a uma loja de discos de Belo Horizonte, capital de Minas Gerais e terra natal da banda. Com a Cogumelo, o grupo lançou o EP Bestial Devastation (1985, dividindo o LP com a banda Overdose) e os LPs Morbid Vision e Schizophrenia (1987). Esse último marcou a estreia de Andreas Kisser (guitarra solo) na banda e a mais conhecida formação do grupo de thrash metal, com Paulo Jr. (baixo), além dos irmãos-fundadores, Max (voz e guitarra-base) e Igor Cavalera (bateria).
Através desses discos comercializados na clandestinidade, as gravadoras estrangeiras passaram a se interessar pelo passe do Sepultura. A banda optou por assinar com a companhia holandesa Roadrunner Records, que solicitou ao Sepultura encontrar um estúdio brasileiro para não ter altos custos. Ainda assim, eles não abriram mão de um produtor estrangeiro que, no caso, tratava-se do americano Scott Burns. O estúdio escolhido para a gravação do álbum em destaque foi o Nas Nuves, no Rio de Janeiro e o Sepultura ocupou todo o mês de dezembro de 1988 para conceber Beneath The Remains. Esse é o terceiro disco da banda e chegou ao mercado mundial em 7 de abril, conquistando elogios de público e crítica. A faixa-título abre o disco e sua introdução conta com o violão de Andreas Kisser e o teclado de Henrique Portugal (então futuro membro do grupo Skank), na época vizinho dos irmãos Cavalera em BH. A Roadrunner financiou o primeiro videoclipe do Sepultura, da canção Inner Self, que se tornou o primeiro êxito do álbum. Outra canção lembrada do disco é Mass Hypnosis.
A primeira turnê internacional do Sepultura ocorreu em setembro de 1989, abrindo para o grupo alemão Sodom. Enquanto os alemães foram esnobes com o quarteto, os últimos se tornaram os primeiros para o público nos shows. O Sepultura também teve o seu primeiro contato com a imprensa internacional e percebeu que os estrangeiros tinham uma visão equivocada do Brasil. Os gringos perguntavam se existia água quente nos banheiros, secadores de mão e se o povo brasileiro usava elefantes como veículos de locomoção. Não demorou para o Sepultura ser apelidado de “The Jungle Boys” (Os Garotos da Selva em bom português). Apesar disso, Max Cavalera afirmava com algum ressentimento: “a sociedade brasileira nunca vai nos reconhecer como heróis, porque não fazemos o que eles chamam de música normal”. Depois da Europa, a banda tocou nos Estados Unidos pela primeira vez. Em 4 de junho de 1990, o Sepultura se apresentou em seu primeiro festival a céu aberto, o Dynamo Open Air, em Eindhoven, na Holanda.
Windson Alves
Correção: No disco Õ Blésq Blom o baixista Nando Reis canta Racio Símio, além de Faculdade.
Faltou 4 Estações e Disintegration
Tem texto próprio para As Quatro Estações: https://bloggallerya.com/2019/01/12/as-quatro-estacoes-1989-legiao-urbana/