Dentre os coadjuvantes da Turma da Mônica, Tina sempre foi a minha favorita – ao lado de Penadinho. Via a personagem como um ótimo exemplo para as jovens garotas. Eu não conheci a Tina hippie da década de 1960, época de sua criação. A que eu costumava ler durante a infância e pré-adolescência era aquela universitária independente, forte, determinada, inteligente, super parceira para seus amigos –  os também clássicos Pipa e Rolo – e de notável personalidade.

E por isso mesmo, fiquei tão feliz e satisfeita ao ler a graphic novel Tina: Respeito da talentosa quadrinista Fefê Torquato, pois a personagem que sempre admirei mantém os traços que a tornaram tão cativante para mim, porém, em uma história mais adulta, que trata de um tema delicado e espinhoso, mas de maneira sutil e muito bem elaborada.

Tina: Respeito mostra a clássica personagem de Maurício de Sousa iniciando sua carreira como jornalista em uma redação. Ela já é aclamada na internet, pois é autora de uma newsletter que acumula em torno de 90 mil seguidores, assinando artigos relevantes e contundentes. Animada com seu primeiro emprego em um jornal de renome, Tina, se depara com uma situação tão familiar para a grande maioria de nós, mulheres, e infelizmente, por muitas vezes, tratada com uma normalidade assombrosa: o assédio.

E que orgulho danado dá ver uma personagem que tanto me inspirou na infância, não me decepcionar e não ficar calada. Tina torna esse vilão na vida de tantas mulheres a pauta de sua primeira grande matéria. Sua carreira e futuro na profissão que escolheu e planeja seguir com afinco estão em jogo. Mas nem isso é capaz de deter a intrépida repórter.

Ainda sobra espaço para a autora salientar o quanto o assédio está presente no cotidiano feminino, seja em um restaurante, no transporte público, ou nas ruas, ao voltar para casa do trabalho. Sem falar do temor que enfrentamos quando andamos sozinhas por aí e avistamos carros que desaceleram do nosso lado tarde da noite. Fefê é sempre precisa na abordagem do tema e na transmissão da mensagem.

As aquarelas da quadrinista e a leveza do traço e dos movimentos dos personagens são de encher os olhos. Fefê se atenta e se preocupa com os detalhes; preenche suas páginas com cores neutras, tons pasteis e alguns gradientes; confere expressividade aos personagens; e mostra toda a exuberância de seu traço suave e de seu estilo autoral de ilustração nessa estonteante graphic novel.

Para os fãs da personagem e que conhecem seu background histórico das tradicionais HQs de Mauricio de Sousa, há algumas surpresas deliciosas, tais quais as basilares participações dos fiéis e inseparáveis amigos da protagonista, Pipa e Rolo, além de uma homenagem de Fefê às primeiras aparições da personagem por meio de uma fotografia da mãe de Tina (só lendo para entender). As últimas páginas, repletas de extras, ainda apresentam um pouco sobre a origem e a trajetória de Tina ao longo dos anos, além do processo de criação do álbum, com diversos esboços e curiosidades.

Ao longo da história, ficamos sabendo que a personagem – além de tudo o que já foi exposto até aqui – adora café, consome muito macarrão instantâneo (cuidado com o excesso de sódio!), gostaria mesmo é de trabalhar no caderno de política do jornal e se chama Cristina Sousa. E, pasmem! Pipa se chama Janaína. E Rolo se tornou aquele professor que parece se portar como o amigão de seus alunos. É um deleite conferir a evolução dos personagens em sua fase adulta e reconhecê-los como aqueles mesmos que nos cativavam na infância.

A graphic novel conta com o prefácio do próprio Maurício de Sousa e pósfácio da youtuber, escritora e jornalista Jout Jout no verso da edição. Sem dúvida, uma graphic novel de respeito, como o próprio título sugere. Um álbum inquietante e necessário nos dias de hoje. Cuidadosa ao transmitir sua mensagem. Respeito é (sem me desculpar pelo trocadilho) fundamental.

Andrizy Bento