Baseada nas histórias em quadrinhos lançadas pela editora americana Dark Horse Comics, criadas por Gerard Way – roteirista e ex-vocalista da banda My Chemical Romance – e ilustradas pelo brasileiro Gabriel Bá, a série Umbrella Academy chegou à plataforma de streaming Netflix em 15 de fevereiro, cercada de expectativas. Com destaque para o humor e cenas dinâmicas de ação, a produção se concentra em uma família de jovens adultos superpoderosos, um tema que está em alta ultimamente e, por ora, não apresenta sinais de exaustão.
No ano de 1989, em um mesmo dia, 43 mulheres deram à luz, sem nem mesmo ter apresentado qualquer sinal de gravidez nos meses que precederam o excepcional evento. Sete dos recém-nascidos em circunstâncias inexplicáveis (e que continuam inexplicáveis ao fim da temporada) são adotados por um bilionário excêntrico de origem russa, Sir Reginald Hargreeves (Colm Feore), que os leva imediatamente para viver em sua mansão e forma com as crianças superpoderosas um grupo de heróis denominado Umbrella Academy que se torna manchete de jornais e vive cercado de publicidade.
Conforme o tempo avança, os jovens super-heróis vão amadurecendo e, após anos vivendo sob a luz dos holofotes, começam a abandonar, um por um, a mansão onde vivem para tomar seus próprios rumos e seguirem caminhos distintos uns dos outros. Porém, a misteriosa morte de seu pai adotivo, faz com que os sete irmãos se reúnam novamente para desvendar o caso, devido às fortes suspeitas de que Sir Reginald tenha sido assassinado.
A premissa bastante comum pode não soar atrativa a princípio, afinal, é provável que inúmeros títulos venham à mente quando se fala em uma trama centrada em uma família de super-heróis. Mas, por incrível que pareça, embora apresente uma introdução um tanto quanto forçada e um piloto até mesmo caricato – com um macaco que se porta como humano, uma mãe androide, fora toda a solenidade dos guarda-chuvas como marca registrada e uma mansão sombria como cenário primordial das aventuras do grupo (elementos que acabam por trazer até mesmo um clima cafona à produção) – no decorrer dos episódios e ao avançar a narrativa, Umbrella Academy foge com sabedoria dos clichês do gênero, proporcionando um agradável entretenimento para os espectadores.
Força a barra aqui e ali, no entanto, devido à ausência de fillers e graças ao carisma de sobra e o background instigante de todos os personagens, é impossível parar de acompanhar ou não se divertir. O segredo é suspender a crença. O enredo te leva a se importar com cada uma das figuras que protagonizam a trama. Destaque para Ellen Page e Robert Sheehan, ambos brilhantes na pele de Vanya e Klaus Hargreeves. A primeira, excelente atriz desde a MeninaMá.Com, passando pela Kitty Pryde de X-Men, a protagonista do hit indie Juno e a arquiteta de A Origem, dá vida a uma personagem complexa, que descobre pouco a poucos seus poderes e é responsável pelo arco mais interessante e maduro dessa primeira temporada. Sua presença é fundamental do início ao clímax da história. Klaus, por sua vez, assume a condição de alívio cômico nos primeiros episódios e é bem-sucedido em seu intento. Todavia, também protagoniza com excelência algumas cenas emocionais e dramáticas, ganhando uma das subtramas mais significativas do enredo.
A força de Umbrella Academy reside em seus personagens e no desenvolvimento de cada um deles. Mas há outros méritos a se destacar na produção: toda a construção da narrativa, cujo ápice é um inevitável apocalipse que precisa ser impedido, é muito bem elaborada e a trilha sonora é puro deleite – incluindo canções de The Doors, Queen, Radiohead e Nina Simone.
Também há pontos em que a série peca, como é o caso do casting de Aidan Gallagher, um personagem vital para a narrativa – o Número 5 é um adulto preso no corpo de uma criança e cujo ator, esforçado, raramente consegue acertar no tom em sua composição, não sabendo lidar com todas as nuanças que o papel exige. E, embora eu tenha elogiado a trilha sonora, os clipes musicais são, em sua maioria, divertidos e trazem uma pausa bem-vinda na ação. Contudo, é um recurso de que deve ser utilizado de maneira moderada sob o risco de não tornar a produção cansativa. Falando em recursos narrativos recorrentes, a viagem temporal é – que novidade! – a solução da vez. Como de costume, empregada de modo simplista, mas até essa ocorrência, os demais eventos da série já a tornaram tão divertida de se acompanhar, que é possível fazer uma concessão.
Dos quadrinhos para a Netflix
Se você procura por um entretenimento descompromissado e escapista, Umbrella Academy é uma ótima pedida. Perfeita para se maratonar em um fim de semana.
Andrizy Bento
Uma consideração sobre “Umbrella Academy”