Hoje, 24 de setembro de 2018, Agents of SHIELD completa cinco anos desde sua estreia. Fica aqui a nossa homenagem a essa brilhante série.
Ao longo de seus cinco anos, poucas séries evoluíram tanto e apresentaram um crescimento tão satisfatório e orgânico de seus personagens como Agents of SHIELD. Esta acabou por se tornar a melhor produção televisiva da Marvel. Ainda que ignorada pelo universo cinematográfico, Agents dialoga de maneira inteligente com os filmes do MCU e mantém um bom relacionamento com os quadrinhos, inserindo em suas tramas elementos e figuras emblemáticas – ainda que menores – das HQs, fazendo a alegria dos fãs e dando a estes personagens uma oportunidade de se redimirem de um passado risível em seu meio de origem, como é o caso do Ghost Rider.
Agents conseguiu fazer o Ghost Rider ser legal e esse é um grande feito.
Ao contrário dos tradicionais três arcos constituindo uma única temporada – como tem sido desde o terceiro ano da série – esta season 5 apresentou um único grande arco centrado em um futuro apocalíptico consequente de um catastrófico evento do passado. Quando a quinta temporada teve início, tudo nos fazia acreditar que os personagens – que ainda lidavam com os traumas pós-Framework – haviam sido arremessados para o espaço. Qual não foi a nossa surpresa – e a dos agentes, também – ao ser revelado que, na verdade, eles se encontravam em um futuro sombrio?
O Planeta Terra havia sido dizimado e, ao que tudo, indicava, Daisy (Chloe Bennet) com seu poder de gerar ondas sísmicas, havia sido a responsável. De modo que a missão dos nossos agentes, desta vez, era retornar ao presente e garantir que, qualquer que tenha sido o episódio que culminou na destruição da Terra, não viesse a ocorrer.
E, assim, Agents of SHIELD nos entregou mais uma excelente temporada. Com algumas falhas estruturais aqui e ali, mas nada que comprometesse o todo. No decorrer da season 5, além de os eventos apontarem para o fim do mundo, dando uma real e urgente sensação de que tudo estava desmoronando, a equipe teve de recorrer a difíceis decisões e lidar com todo o stress proveniente da responsabilidade de salvar a humanidade da eventual extinção. Os relacionamentos entre os personagens foram testados ao limite. E o gosto amargo deixado pela season finale foi bem duro de superar.
Do ponto de vista crítico e analítico, o episódio final fecha exatamente no ponto a partir do qual a série foi estruturada, portanto, trata-se de um raro caso, no universo das séries, de um produto cíclico, redondo e convergente. Entretanto, frustrante do ponto de vista dos fãs, afinal, brincar com o apego dos fiéis espectadores da série aos personagens, foi bastante cruel. Ainda mais se levarmos em conta que a produção vinha sofrendo ameaça de cancelamento constante desde sua quarta temporada e, se ela tem sobrevivido até agora, é graças à sua pequena, mas ativa fanbase – que, inclusive, mereceu até mesmo uma menção honrosa em uma linha de diálogo proferida por Melinda May (Ming-Na Wen) nesta temporada. Então, ter conhecimento da morte iminente de um dos favoritos e ver outro fan-favorite morrendo, de fato, na tela, ainda que saibamos se tratar de algo contornável, foi bem decepcionante.
Não soou como um final satisfatório. Tratou-se, na verdade, de uma despedida melancólica.
A despeito do corte orçamentário que sofreu neste ano, a season finale apresentou belas sequências cinematográficas, como a batalha final entre Daisy Johnson e Glenn Talbot (Adrian Pasdar), dentre outras cenas memoráveis, cujo um dos maiores destaques foi, certamente, a oração de YoYo Rodriguez (Natalia Cordova-Buckley) por Philip Coulson (Clark Gregg), enquanto temíamos pelas vidas de vários agentes que se encontravam à beira da morte. Simplesmente emocionante. A trilha sonora, catártica, foi de despedaçar os corações dos espectadores. Mas nada, absolutamente nada, foi tão tocante quanto o sacrifício de Leo Fitz (Iain De Caestecker), somente comparável à cena final de Peter Parker (Tom Holland) nos braços de Tony Stark (Robert Downey Jr.), em Guerra Infinita.
Outro de seus trunfos foi passar longe de oferecer qualquer solução previsível. Afinal, roteiristas e produtores trabalharam conjuntamente para ir contra todos os desejos dos fãs. Daisy não se tornou a nova diretora da SHIELD; Coulson não conseguiu driblar seu destino, contando com poucos dias de vida ao final do episódios; e Fitz terminou a temporada morto. Como é próprio das séries que constituem o WhedonVerse, Agents não entregou o tão almejado happy ending que os fãs cansaram os dedos de pedir nas redes sociais. Mais uma vez, reitero: frustrante, quando lembramos que a série se mantém de pé graças às ações dos fãs que conseguem ser bem vocais.
Embora algumas lacunas jamais tenham sido preenchidas durante toda a jornada dos agentes até aqui (como é o caso do planeta Maveth que nunca foi muito bem explicado durante a terceira temporada) justamente o plot hole que os fãs de um personagem específico queriam convenientemente esquecer, foi consertado através de uma morte dolorosa. Ainda que não permanente.
Na season premiere da quinta temporada, todos os agentes foram enviados para o futuro, como já mencionado anteriormente. Todos, menos um. Nos bastidores, a informação de que Fitz não estava na lista era justificada pelo fato de o ator não poder estar presente nas gravações dos primeiros quatro episódios do quinto ano da produção, uma vez que estava envolvido com as filmagens do longa metragem Overlord, produzido por J. J. Abrams. Na narrativa, a solução encontrada para explicar sua ausência, foi deixá-lo para trás, argumentando repetidamente que ele não estava na lista e, portanto, deveria fazer parte de algo maior.
De fato, ele estrelou um episódio totalmente focado em seu personagem e que ainda resgatou outro ex-agente que havia deixado a série na terceira temporada: Lance Hunter (Nick Blood). Segundo a pequena inumana Robin (Lexy Kolker), cujo poder a permite observar o tempo de uma maneira distinta a de qualquer um, confundindo passado, presente e futuro em sua mente, a missão de Fitz era trabalhar em um meio de recuperar seus amigos do sombrio futuro ao qual haviam sido lançados.
Diferentemente deles, que foram tragados por um monolito e transportados para o futuro – tal qual aconteceu com Jemma Simmons (Elizabeth Henstridge) na temporada 3 – o engenheiro deveria seguir o caminho mais longo: ser congelado em uma câmara de criogenia até ser despertado 74 anos no futuro. Ao chegar lá, reencontrar seus amigos e lutar ao lado deles para escapar da tirania e fascismo da dominante raça Kree (que passou a governar o que restou do planeta após este ser praticamente destruído) e, enfim, retornar ao presente.
Mas como lidar com o paradoxo de que existiam dois Fitz? Aquele que acordou no futuro e salvou seus amigos após ser congelado durante décadas e o outro que permanecia congelado, orbitando Jupiter dentro de uma cápsula espacial ao lado de Enoch (Joel Stoffer)? A resposta foi dada na season finale.
Fato é que, agora, muitos dos diálogos proferidos durante a trama, especialmente aquele em que Mack (Henry Simmons) dizia que Fitz precisava de conserto, soam como red flags que apontavam exatamente para o fatídico desfecho do Fitz do futuro.
Talvez a grande estrela da temporada, Leopold Fitz protagonizou dois dos melhores episódios do quinto ano de Agents. O já citado 5×05, Rewind, que ele estrela ao lado de Lance Hunter e o 5×12, The Devil Complex, no qual ele apresenta transtorno dissociativo de identidade decorrente de sua outra vida no Framework, como o cruel e impassível Doctor Fitz. No episódio, suas duas personalidades colidem e ele se torna responsável por um sádico procedimento cirúrgico em Daisy. Assustadora performance do ator Iain De Caestecker que interpreta o personagem. Seu desempenho valia uma indicação a algum importante prêmio televisivo, não fosse o fato de Emmy e similares desmerecerem o gênero sci-fi.
Fitz alcança a redenção ao salvar Robin e ser atingido por destroços de um prédio que desabava enquanto Daisy travava uma luta violenta com Talbot ao demonstrar todo o potencial de seu poder. A opção em sacrificar o único dos personagens que parecia ter um futuro sólido, se justifica porque ele conta com um backup no espaço. Se a ideia era terminar a série com uma morte (o que parece ser o único recurso impactante o suficiente de uns tempos para cá na cultura pop) foi esperta. Até agora, a única escolha mais audaciosa de matar um personagem principal, foi com Grant Ward (Brett Dalton) na terceira temporada, mas isso porque a história do vilão já havia se esgotado – era um personagem que não tinha mais nada a oferecer do ponto de vista narrativo.
Mas deixar os fãs com uma morte brutal na cabeça justamente em um episódio que foi concebido para ser a series finale, considerando que ela corria risco de cancelamento, é quase imperdoável. Sem falar no fato de que, após tantos contratempos e diversos obstáculos que fizeram o casal FitzSimmons ser visto como ‘amaldiçoado‘ pelos próprios personagens, sendo constantemente separados pelo universo, eles finalmente haviam se casado e conhecido alguma felicidade. Havia a certeza de que viveriam o bastante para criar uma filha, uma vez que o neto de ambos, Deke Shaw (Jeff Ward), viera acidentalmente do futuro com eles e descoberto sua natureza.
E, em questão de segundos, Jemma Simmons perde tudo isso. Seu marido, seu neto, sua perspectiva de um futuro ao lado do homem que ama, sua família, seu lar. Trata-se de um final amargo tanto para ele, quanto para ela. Mais do que um casal, FitzSimmons são uma dupla, um combo, um pacote. E, tristemente, não estavam juntos no gran finale. Pior é não ver um personagem que cresceu tanto e se tornou um exemplo de amadurecimento e superação, junto de sua equipe ao final. Ele merecia estar lá.
Em seu discurso final, Jemma parece aludir à própria série, proclamando que não se deve seguir em frente simplesmente e, sim, guardar as memórias em um lugar bem trancado no coração e revisitá-lo sempre que possível. Mas não seguir em frente, mesmo depois da despedida. Assim, a série entrega o único fanservice de presente em sua finale: o casal Philinda que aparece tirando férias no Tahiti, enquanto a equipe parte em busca do Fitz congelado no espaço. Mas isso é algo que fica a cargo da imaginação dos fãs e das fanfics do prolífico fandom de Agents of SHIELD.
Felizmente, haverá uma sexta temporada, que pode funcionar como epílogo, já que este episódio foi estruturado como um fim para a série. Acredito que eles deixaram estas pontas soltas exatamente visando sua resolução em um epílogo futuro, pois hoje nenhuma série é simplesmente cancelada. Todas têm direito a um revival mais dia, menos dia. Até mesmo David Lynch deixou pontas soltas em Twin Peaks, isso na década de 1990 quando revivals eram impensáveis. A ideia é revisitar a mitologia e o universo de um legítimo produto da cultura pop sempre que possível. Acabar uma série não abrindo possibilidades para uma revisita futuramente, é até burrice.
A finale simboliza a esperança de uma linha temporal distinta, de um futuro diferente, indicando que nada é determinista, que o tempo é fluido e pode ser reescrito – algo que aprendemos com Doctor Who. Nem mesmo o que parecia sólido e certo, está garantido. Por fim, é isso mesmo que o final da temporada dá aos fãs: a sensação de esperança. E de reconforto por saber que ainda existe mais uma temporada. Embora não nos dê a sensação de alívio. Afinal, se foram extremos e drásticos em uma suposta series finale, apresentando mortes brutais e inevitáveis de personagens queridos, então o que esperar dos sádicos roteiristas em um próximo ano?
Mas, no saldo final, o quinto ano de Agents of SHIELD se tratou de uma excelente temporada, que trabalhou magistralmente com conceitos de viagens temporais e espaciais e explorou o melhor de seu elenco. É bom saber que eles voltam para uma próxima e que ainda não temos de nos despedir dessa família SHIELD da qual a pequena, mas ativa fanbase, é parte fundamental.
Andrizy Bento
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