
Desde o fiasco do #OscarSoWhite em 2016 – uma hashtag bastante difundida pelas redes sociais – a premiação vem se esforçando continuamente em parecer o mais diversificada e moderna possível, atenta às reivindicações de twitteiros extremamente vocais e expressivos portais de entretenimento. A grande questão é que não basta parecer, é necessário ser. Em forma e conteúdo; isto é, na cerimônia e, principalmente, nas indicações e entrega dos prêmios. O esforço é louvável? A palavra não me parece apropriada. Oscar é marketing, carece de audiência, repercussão, de alarde pela internet afora. E, se não se reinventasse, o criticismo quanto à sua caretice, seu formato quadrado e, claro, sua exclusão de minorias, aumentaria exponencialmente ano após ano. E o Oscar precisa conquistar as novas gerações se quiser se manter em alta.
A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas vem, cada vez mais, apostando na diversidade na hora de selecionar seus membros. Há mais representantes negros, LGBTs e – dá pra acreditar? – mulheres entre os votantes. Havia poucas. A Academia era formada, quase que majoritariamente, por senhores brancos e héteros. As acusações de assédio contra o produtor Harvey Weinstein no começo do ano – que esteve por trás da campanha e vitória de inúmeros atores, atrizes e filmes no Oscar – contribuiu para impactar ainda mais na imagem já ferida da premiação.
Período turbulento exige mudanças. E filmes com temáticas mais sérias e ares de denúncia ganharam destaque este ano, em contraste com o colorido, risonho e efusivo La La Land do ano passado. Corra! que une terror, suspense psicológico, comédia ácida e crítica social, foi a grande surpresa e mostrou que, com a suposta modernidade da Academia, teria mais chances de vencer o prêmio principal do que Oscar baits que perpetuavam o chamado padrão Oscar de outros tempos e que, certamente, levariam em anos anteriores como O Destino de Uma Nação e The Post: A Guerra Secreta (ora, não faz muito tempo que o formulaico e quadrado O Discurso do Rei ganhou… E com selo Weinstein). Greta Gerwig foi somente a quinta mulher indicada ao Oscar de direção por Lady Bird. Me Chame Pelo Seu Nome é um filme com temática LGBT. O vencedor de filme estrangeiro foi o chileno Uma Mulher Fantástica, protagonizado pela atriz transexual, Daniela Veiga. Tivemos atores negros indicados em duas das principais categorias de atuação (Daniel Kaluuya por Corra!, Denzel Washington por Roman J. Israel, Esq., Mary J. Blige por Mudbound e Octavia Spencer por A Forma da Água). Ao receber o prêmio de melhor curta-metragem por The Silent Child, a roteirista Rachel Shenton, em seu discurso de agradecimento, usou a língua de sinais. Por fim, o grande vencedor do Oscar de direção e de melhor filme foi um latino (Guillermo del Toro), com uma produção focada em uma personagem feminina (A Forma da Água).

A Academia ainda engatinha ao se mostrar diversa e inclusiva, recheando seus monólogos de piadas que criticam e ridicularizam assediadores famosos, o sexismo da indústria e até mesmo o preconceituoso presidente do país; dando ênfase a discursos de atrizes que se posicionam contra a desigualdade entre os gêneros ao apresentarem prêmios e receberem suas estatuetas; e se mostrando disposta a combater o racismo ainda presente em Hollywood.
O tradicional vem sendo deixado de lado em prol do moderno. Grupos outrora desfavorecidos vêm ganhando voz e o Oscar se mostra cada vez mais politizado…
… Contudo, ainda parece achar ousado demais premiar um Corra! da vida, considerado um filme alternativo e de gênero, preferindo apostar no seguro, A Forma da Água, uma fantasia romântica mais leve e que não ‘ofende’ ninguém.
Apesar de soar subversiva pelo que foi exposto nos parágrafos acima, a cerimônia foi a mais morna e chata dos últimos tempos. Nem um envelope errado para dar mais dinamismo e divertir o público de casa rolou… Claro que a piada – não intencional – não poderia se repetir. Pela segunda vez mestre de cerimônia, o apresentador Jimmy Kimmel bem que tenta, mas o máximo que consegue é arrancar algumas risadas amarelas dos espectadores. A gag com o jet ski como prêmio para o menor discurso e a invasão ao cinema, soaram como déjà vu de premiações anteriores. E os bolões… Bem, nada mais sem graça do que um ano em que todo mundo acerta 98% das categorias, não é mesmo? Eu só me diverti ao ver que praticamente todo mundo apostou em Três Anúncios Para um Crime em melhor filme e em Corra! como alternativa se o primeiro não ganhasse. E eu acertei em cheio ao apostar em A Forma da Água 😉

Abaixo, você confere os vencedores em todas as 24 categorias do Oscar (das quais, eu acertei 22) na ordem em que foram anunciadas:
Melhor Ator Coadjuvante
Sam Rockwell (Três Anúncios Para um Crime)
Melhor Maquiagem
David Malinowski, Ivana Primorac, Lucy Sibbick, Kazuhiro Tsuji (O Destino de uma Nação)
Melhor Figurino
Mark Bridges (Trama Fantasma)
Melhor Documentário
Icarus
Melhor Edição de Som
Alex Gibson, Richard King (Dunkirk)
Melhor Mixagem de Som
Mac Ruth, Ron Bartlett, Doug Hephill (Dunkirk)
Melhor Design de Produção
Paul D. Austerberry, Jeffrey A. Melvin, Shane Vieau (A Forma da Água)
Melhor Filme Estrangeiro
Uma Mulher Fantástica (Chile)
Melhor Atriz Coadjuvante
Allison Janney (Eu, Tonya)
Melhor curta de animação
Dear Basketball
Melhor Longa-Metragem de Animação
Viva! – A Vida é uma Festa
Melhores Efeitos Visuais
John Nelson, Paul Lambert, Richard R. Hoover, Gerd Nefzer (Blade Runner 2049)
Melhor Montagem
Lee Smith (Dunkirk)
Melhor Documentário em Curta-Metragem
Heaven is a Traffic Jam on the 405
Melhor Curta-Metragem de Ficção
The Silent Child
Melhor Roteiro Adaptado
James Ivory (Me Chame Pelo Seu Nome)
Melhor Roteiro Original
Jordan Peele (Corra!)
Melhor Cinematografia
Roger Deakins (Blade Runner 2049)
Melhor Trilha Sonora
Alexandre Desplat (A Forma da Água)
Melhor Canção Original
“Remember Me” – Kristen Anderson-Lopez, Robert Lopez (Viva – A Vida É Uma Festa)
Melhor Diretor
Guillermo del Toro (A Forma da Água)
Melhor Ator
Gary Oldman (O Destino de uma Nação)
Melhor Atriz
Frances McDormand (Três Anúncios Para um Crime)
Melhor Filme
A Forma da Água
Andrizy Bento
Uma consideração sobre “Vencedores Oscar 2018 – Celebrando a inclusão e a diversidade…”