O maior trunfo de Me Chame Pelo Seu Nome é andar na contramão de outros longas que o precederam em um cada vez mais amplo histórico de filmes que retratam o relacionamento homoafetivo – e cujos exemplares mais lembrados são Moonlight, O Segredo de Brokeback Mountain, Azul É A Cor Mais Quente e Garotos Não Choram, só para citar alguns que receberam importantes indicações e estatuetas em temporadas passadas de premiações. Ao invés do teor trágico e de relação proibida (dada justamente a questão da orientação sexual) que marcaram os quatro citados, Me Chame Pelo Seu Nome é solar, com foco no desenvolvimento do protagonista, em sua jornada de crescimento e autoconhecimento, na descoberta da paixão e do desfrute da sexualidade.
Me Chame Pelo Seu Nome é o terceiro ato de uma trilogia intitulada Desire assinada pelo diretor Luca Guadagnino, precedido por I Am Love (2009) e A Bigger Splash (2015) e adaptado do livro homônimo de André Aciman para as telas. Contando com o elegante e cuidadoso roteiro de James Ivory, o longa acompanha o jovem de 17 anos, Elio (Timothée Chalamet) que, passando as férias com a família no norte da Itália, em pleno verão de 1983, conhece o assistente de seu pai em uma pesquisa acadêmica, o charmoso Oliver (Armie Hammer), por quem nutre um desprezo inicial, até se ver envolvido e fascinado pela sua natureza sedutora e seu ar experiente. Oliver é hóspede na casa de veraneio do pai de Helio e é a partir deste enunciado que sua história se desenrola.
Tanto o cenário quanto a estação retratada soam propícios para o despertar de sentimentos e sensações que o curioso Elio ainda não é capaz de compreender em sua totalidade. Em meio a belas paisagens, valorizadas pela direção de fotografia a cargo do tailandês Sayombhu Mukdeeprom, bem como a cartela de cores quentes que, esteticamente, parece evocar um clima Almodovariano, a efervescência é notória em cada frame. Vemos tanto o sentimento quanto a sexualidade de Elio aflorarem de maneira natural. Transitando entre tons de dourado e azul (para trazer alguma frieza e comedimento aparentes ao protagonista), o filme é visualmente belo, terno, vigoroso e sensual, o que é ainda mais acentuado pela trilha sonora precisa de Sufjan Stevens. Para além da cinematografia e da direção de arte, o roteiro não se poupa de subterfúgios para transmitir a dimensão do que sente o personagem.
Apesar da narrativa indiscutivelmente lenta, o longa jamais é monótono. De maneira coesa, os personagens vão sendo apresentados e a história é costurada e contada sem pressa, de modo cauteloso, a explorar cada faceta do relacionamento entre Elio e Oliver, bem como com aqueles de fora da relação, como os pais do protagonista e o modesto círculo de amigos de ambos os personagens. Não se trata de um filme exatamente sobre a história de um par homoafetivo, mas simplesmente uma história de amor que une dois universos aparentemente distintos, mas que se complementam de várias formas.
Me Chame Pelo Seu Nome é um filme sobre descobertas, experiências e crescimento. Desde os primeiros minutos até à excelente cena final, passando pelo primoroso e revelador diálogo entre Elio e seu pai, a promessa que vem acontecendo e atende pelo nome de Timothée Chalamet, expressa isso – a vivência, o aprendizado e o amadurecimento. Levando o espectador a compactuar de seus arroubos e a se compadecer de sua dor. Mas uma dor que passa longe da tragédia. Trata-se pura e simplesmente da dor ocasionada pelas expectativas, ilusões e pelas eternas reminiscências de um primeiro amor. Sensível à flor da pele, Me Chame Pelo Seu Nome é uma obra ímpar que merece ser apreciada na telona.
★★★½
Andrizy Bento
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