Mais algumas horas para 2018 chegar e, por aqui, continuamos relembrando o que de melhor tivemos em 2017. E, definitivamente, as séries tiveram uma boa temporada. Talvez porque as mulheres reinaram e o poder feminino foi a palavra de ordem – grandes personagens femininos foram retratados de maneira digna na televisão. Confira abaixo as melhores, piores, as mais ou menos, as mais subestimadas e as séries que já deveriam ter saído de cena.
Melhores Séries
THE HANDMAID’S TALE
Hulu
Como viver em um mundo onde a liberdade não existe? Onde mulheres, em sua maioria, são perseguidas simplesmente por serem mulheres e exercerem o papel que lhes foi designado: ter filhos. Uma série densa, complexa e de extrema importância e até mesmo urgência. Estamos vendo, ainda que de maneira velada, lideres nacionais acreditando que qualquer tipo de fundamentalismo poderá ser a salvação para as nações. Isso é perigoso. E a série do serviço de streaming Hulu serve de alerta nestes tempos conturbados.
BIG LITTLE LIES
HBO
Um trio de mulheres maravilhosas composto por Reese Witherspoon, Nicole Kidman e Shailene Woodley. Cada vez mais vemos os atores de cinema migrando para a TV em busca de bons papéis que as telonas não tem lhes ofertado e fazendo uma transição bem sucedida. E que papéis gloriosos vemos em Big Little Lies. Particularmente, não via espaço para uma segunda temporada, mas a HBO diz que tem mais a contar. Aguardemos!
Melhor Retorno
PREACHER
AMC
Em seu segundo ano, Preacher se aproximou mais de seu meio de origem, finalmente colocando os protagonistas Jesse Custer (Dominic Cooper), Tulip O’Hara (Ruth Negga) e o vampiro irlandês Cassidy (Joe Gilgun) na estrada a procura do Deus que renunciou seu posto. Mas não deixou de inserir licenças poéticas que só vieram a acrescentar à trama. Continuando a apostar na primorosa química e na força de seu expressivo trio de protagonistas, os fãs ainda puderam se deliciar com a inserção de personagens clássicos das HQs, como o sensacional Santo dos Assassinos e o excêntrico Herr Star que ganharam representações supremas a cargo de Graham McTavish e Pip Torrens respectivamente. O arco de Eugene, o Arseface (Ian Colletti), criando um vínculo com Hitler (Noah Taylor) mais humano no inferno; o destino malogrado do Anjo Fiore (Tom Brooke) e o humor corrosivo de costume, garantiram uma temporada superior à primeira em todos os sentidos.
Melhor Série Nova
AMERICAN GODS
Starz
Baseado no best-seller do consagrado autor Neil Gaiman, American Gods ganhou a telinha com diferenças pontuais em relação ao livro, mas extremamente bem vindas e funcionais. A série, que pode parecer confusa a princípio, se estrutura a partir de conceitos da mitologia trazidas para um cenário moderno, narrando uma intensa e violenta disputa entre deuses antigos e contemporâneos no mundo atual. Para quem ficou perdido nos primeiros episódios, procurando entender qual é o propósito de cada personagem e sua relação com as poéticas introduções no início de alguns capítulos, se surpreende positivamente com a season finale. De repente, tudo parece fazer sentido. Todos os personagens e arcos desenvolvidos na season 1 são perfeitamente justificados em um episódio absurdamente lindo. O melhor: por mais bem fechada e explicada que seja, a narrativa não recorre a didatismos e jamais subestima a inteligência do espectador. E, apesar de estarem ótimos como Mr. Wednesday (Ian McShane) e Shadow Moon (Ricky Whittle), respectivamente, é Emily Browning e Gillian Anderson que roubam a cena, ambas soberbas.
Melhor Piloto
THE GIFTED
Fox
A trama se passa no universo de X-Men e acompanha um promotor de justiça cuja carreira é toda alicerçada em casos antimutantes e que, de repente, se vê obrigado a aliar-se àqueles que sempre combateu ao descobrir que seus filhos são portadores do gene X. A produção contou com uma bem executada series premiere, introduzindo dignamente seus personagens e fazendo com que o público se importasse com eles. A tensão crescente, o dinamismo do texto e a ação frenética, somados ao cliffhanger no final garantiram o retorno do espectador aos próximos episódios. Os subsequentes caíram um pouco de qualidade em relação ao piloto, mas a série foi melhorando com a proximidade da mid season finale.
Série Que Merecia Ser Mais Valorizada
AGENTS OF SHIELD
ABC
Com episódios excelentes e memoráveis como o Self Control, o episódio 15 da quarta temporada, e o mais recente Rewind, 5º episódio da season 5, Agents of SHIELD vem se mostrando, cada vez mais, uma jóia rara da televisão aberta que nem ABC e nem Marvel aprenderam a valorizar adequadamente. Com excelentes e bem fechados arcos narrativos, um elenco talentoso e uma evolução estupenda de seus personagens (e raramente vista em outras séries do gênero), a produção, que narra as aventuras e desventuras dos agentes liderados por Philip Coulson (Clark Gregg) no tempo, no espaço, em outros planetas e em universos alternativos, construiu uma mitologia sólida e uma fanbase ativa, dinâmica e dedicada que segue sendo um dos principais pilares a sustentar a série e mantê-la no ar por cinco anos (lembrando que AoS vem sofrendo ameaças de cancelamento desde a terceira temporada). O mais revoltante é que se trata realmente da melhor produção seriada da casa (desculpa, Demolidor e Jessica Jones!) e com vilões muito melhor desenvolvidos do que os dos filmes do estúdio. Quer mais? A série conta com personagens femininas fortes, poderosas, inteligentes e carismáticas. Que tal dar um pouco de atenção e valor para os nossos agentes?
Maior Decepção
MARVEL’S RUNAWAYS
Hulu
Egressa dos quadrinhos do sensacional Brian K. Vaughan, por enquanto, não é nada além de uma grande decepção. Pode vir a melhorar futuramente? Sim, pode ser que um milagre aconteça. Mas, por enquanto, é frustrante ver como a obra inteligente, divertida e com diálogos afiados – como é de praxe em se tratando de Vaughan – ganhou um tratamento tão genérico na televisão. Runaways é um grupo de jovens que atravessa um período conturbado da vida. Além de enfrentarem o complicado estágio da adolescência, descobrem que seus pais pertencem a uma entidade maléfica e, além disso, precisam aprender a lidar com seus superpoderes que despertam concomitante à revelação do segredo de que seus progenitores são os vilões da história. Nos quadrinhos, conta com algumas passagens surpreendentes e muitas referências pop. Na TV, bem podia ganhar uma vibe de filmes adolescentes da década de 1980 que combinaria muito com a essência da trama. Mas se contenta em ser um 13 Reasons Why com superpoderes. Os personagens são os típicos estereótipos adolescentes e a série foge muito do tom dos quadrinhos, deturpando a essência do original. E não é questão de ser purista, mas daí o texto inteligente e irônico de Vaughan ceder espaço a um angst adolescente nos moldes de The O.C.? Não à toa, Josh Schwartz é o produtor… Só poderia dar nisso mesmo.
13 REASONS WHY
Netflix
E, falando nela, aí está no rol das decepções do ano. Antes de cometer suicídio, Hannah Baker (Katherine Langford) gravou em fitas cassetes os 13 motivos que a levaram a esse ato. De forma esquematizada, as fitas foram entregues a colegas seus que representaram um papel determinante em sua decisão de tirar a própria vida. Assim, cada episódio se concentra na relação de Hannah com um desses 13 personagens, aliás, desses 13 porquês. O mais atormentado dos trezé é Clay Jansen (Dylan Minnette) com quem ela tinha uma relação mais profunda e é o que tenta encaixar as peças a fim de descobrir o que levou a amiga a esse caminho sem volta. De longe, o maior problema de 13 Reasons Why é exatamente não se esforçar para apontar uma solução ou saída para quem se encontra no limite. Com uma estrutura deficiente e abordagem problemática, faltou responsabilidade na hora de tocar em assuntos tão sensíveis. De fato, o que faltou mesmo foi sutileza. Engrosso o coro dos detratores ao repetir algo que muito vem sendo dito sobre a série: sim, ela romantiza o suicídio. Romantiza, não no sentido de tornar poético (a associação entre as duas palavras é um equívoco dos grandes), mas no sentido de idealizar, de torná-lo didático, de narrar os pormenores com tanta especificidade até culminar na cena do suicídio propriamente dito. Hannah parece arquitetar seu suicídio como se fosse mais um projeto escolar. E por essas e outras, esse é um dos grandes não recomendos de 2017.
Pior Série
INUMANOS
ABC
Inumanos não tem defesa. A produção da ABC em parceria com a Marvel Studios, só mostra que ambos deveriam aprender a valorizar mais uma série realmente incrível – Agents of SHIELD. As estrelas da condenada série são os Inumanos, descendentes de humanos comuns, mas alvos de experimentos da raça alienígena Kree. A exposição a uma substância denominada Terrigênese, lhes confere poderes especiais. A Famíia Real, conhecida pelos ávidos leitores de quadrinhos, são o foco da malfadada produção cujos efeitos especiais ruins e a maquiagem descuidada só tornam merecido o que ela recebeu do público: o ostracismo.
Série Que Já Deveria Ter Acabado
THE WALKING DEAD
AMC
Não tem nem mais o que falar. A série da AMC vem apresentando sinais severos de desgaste há um bons três anos. Era de se imaginar que uma história que retrata a sobrevivência de um grupo de humanos após um apocalipse zumbi de proporções globais, fosse se esgotar mais dia, menos dia. Mas nada como se reinventar, mostrar o crescimento de seus personagens após anos de luta, buscando reconstruir o mundo depois da destruição. Mas não é o que acontece aqui. Com arcos arrastados que desafiam nossa boa vontade e personagens que cada vez mais perdem o brilho e não dão sinais de evolução, The Walking Dead simplesmente já saturou. Uma prova disso é que nem a morte de um dos personagens principais, que faz parte do elenco regular desde a primeira temporada, causou o impacto e a comoção que causaria nos tempos de glória de TWD. Rick Grimes (Andrew Lincoln) segue ocupando com folga o posto de protagonista mais irritante e que, se vocês notarem bem, sempre foi o cara que pôs tudo a perder quando seu grupo se encontrava em uma situação mais amena ou confortável. Que tal sair de cena?
Andrizy Bento
Gaby Matos
Kaio Dantas