O sueco Kim W. Andersson é conhecido por ser o criador do terror romântico. Essa mistura inusitada, inteligente e bem sacada gerou obras como Love Hurts e Alena. Esta última lançada há pouco no Brasil pela AVEC Editora. Aliás, este foi o primeiro lançamento de 2017 da AVEC.
Originalmente publicada em 2012 e premiada com o The Adamson Statue (a mais proeminente premiação dedicada aos quadrinhos da Suécia), a graphic novel narra a história de sua personagem-título, uma garota que está passando pelo inferno da adolescência. Ela carrega um trauma pessoal devido à uma tragédia ocorrida com a sua melhor amiga há um ano. Além de viver transtornada com esse fato e cheia de dúvidas e incertezas quanto à sua identidade, Alena foi matriculada em um colégio repleto de colegas ricos, arrogantes e cruéis. Vítima de bullying dos estudantes, principalmente de Filippa e das demais integrantes do time de lacrosse da escola, Josefin – a melhor amiga da protagonista – acha que está na hora de Alena dar um basta em todo o abuso verbal e físico que sofre, tanto de seus colegas quanto do diretor e da conselheira. Surge uma oportunidade de descobrir a paixão com Fabian, o único colega que parece sentir verdadeiro afeto por ela. Porém, Josefin não acredita neste sentimento e tenta, a todo custo, abrir os olhos da amiga. O mais perturbador de toda essa história, é o fato de que Josefin está morta há um ano.
A obra trata do controverso tema bullying sob uma ótica interessante e surpreendente, sem lirismo na abordagem. E essa é exatamente a proposta. A narrativa é fluida e bem construída, dotada de passagens inquietantes. Alena impacta devido ao gore presente em suas páginas, recorrendo à violência gráfica sem meios termos. Tudo isso com um traço elegante e uma cartela de cores bem adequada, pois cada tom serve à narrativa com um propósito específico.
Terror romântico é, indubitavelmente, uma ótima forma de categorizar a graphic novel, uma vez que o termo ‘romântico’ não diz respeito, necessariamente, a uma história de amor, mas aos sentimentos aflorados, ao caráter extremamente passional, à intensidade das emoções retratadas. Tanto a violência, quanto a demonstração de sentimentos – sejam eles de qualquer natureza – são expressados de maneira excessiva, pincelados com matizes vivos, com destaque ao perfil atormentado dos personagens – recorrendo a um grafismo marcante e um roteiro que alia diálogos profundos e inteligentes à uma construção visceral do psicológico de cada uma das figuras que compõem a história. Suas personalidades são bem defendidas, até mesmo a vilania caricata de Filippa condiz com a mensagem que se quer transmitir e com a aura de horror sobrenatural que o autor sustenta com destreza ao longo de toda a narrativa.
Alena já foi adaptada para o cinema em um filme homônimo, realizado em seu país de origem. O longa sueco, dirigido por Daniel di Grado, foi exibido em festivais e teve sua estreia em outubro de 2015.
A edição brasileira da HQ, lançada pela AVEC, é linda, com uma tradução bem cuidada. Vale a pena ter na estante. Alena é de causar frio na espinha 😉
Andrizy Bento
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