Favoritos de 2016 – Filmes

Um gato enojado com uma cena de estupro protagonizada por Isabelle Huppert – que só não é a melhor atriz do ano, porque Sônia Braga abalou as estruturas e subverteu expectativas em Aquarius. O velocista Mercúrio repetiu a emblemática sequência de X-Men: Dias de um Futuro Esquecido e acabou estrelando uma cena ainda mais clássica. Deadpool encheu nossos ouvidos com “I’m never gonna dance again” que, agora, soa como um tributo profético à recente partida de George Michael. A DC/Warner bem que tentou, mas seu Esquadrão Suicida e o encontro de suas maiores estrelas, Batman e Superman, não ganharam tanto destaque quanto a guerra entre Capitão América e Homem de Ferro e nem mesmo quanto o mago Stephen Strange. Tim Burton – e todo o seu ego – produziu uma das adaptações mais destoantes da história original de um livro de que já se ouviu falar. A franquia Star Wars realmente é melhor nas mãos de outros cineastas do que nas de George Lucas. E Leonardo DiCaprio quase foi morto por um urso, mas levou um Oscar.

Esse é um breve panorama do cinema em 2016. Abaixo, você confere os nossos filmes favoritos (e os que a gente prefere esquecer) do ano:

Melhor filme:

Elle

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Vamos começar com o melhor dos melhores. Paul Verhoeven retornou às suas raízes, o cinema europeu, e nos trouxe essa obra fenomenal falada em língua francesa. Elle narra a história de uma renomada empresária do ramo de videogames que, após ser brutalmente violentada, apresenta um comportamento incomum, um inflamado e infundado desejo, enquanto busca descobrir a identidade de seu agressor. Um thriller psicológico anticonvencional e subversivo que, além de trazer Isabelle Huppert em uma das performances mais inspiradas e badaladas do ano, nos apresenta uma série de personagens igualmente carismáticos que contribuem com o ótimo desenrolar da história.

A Chegada

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Nas mãos de qualquer outro diretor, A Chegada poderia cair no lugar comum de outros tantos filmes do gênero sci-fi. Mas Denis Villeneuve evita o caminho fácil e entrega uma das obras mais belas do ano em termos de visual e narrativa, transformando seu A Chegada em um clássico instantâneo. Com um visual esplêndido, repleto de paisagens exuberantes e uma câmera urgente que corrobora o clima de tensão absoluta, Villeneuve evoca Arthur C. Clarke e discute a humanidade e o cinema em uma obra de rara beleza e inteligência nesses dias confusos.

Melhor filme nacional:

Aquarius

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Uma das performances que mais chamou a atenção em 2016 foi a de Sônia Braga, no excelente Aquarius. Menos experimental do que O Som Ao Redor, longa anterior do cineasta Kleber Mendonça Filho, mas ainda guardando ecos daquela narrativa e mantendo a essência do estilo do diretor em diversos elementos visuais e de roteiro, Aquarius é nostálgico e melancólico ao centrar sua trama em Clara, jornalista e escritora que sempre foi à frente de seu tempo e hoje é a única moradora remanescente do edifício Aquarius, situado na Praia de Boa Viagem – alvo de uma construtora que planeja demoli-lo, mas esbarra na resistência da personagem de Braga. Quando as técnicas de persuasão falham, os engenheiros utilizam de métodos mais agressivos para tirá-la de lá. A antiguidade versus modernidade é o foco, visível no carinho da protagonista pela sua coleção de discos de vinil (e aqui convém mencionar a trilha sonora cuidadosa que pontua a trama), em contraste com o questionamento de uma repórter sem talento que tenta arrancar de qualquer forma a declaração de que a personagem curte MP3. Outra obra-prima de Kleber Mendonça Filho.

Melhor blockbuster

X-Men: Apocalypse

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Eu, como fã, admito que gostei mais do que deveria ter gostado… Ainda mais por finalmente acertarem na retratação do Ciclope e no destaque concedido ao personagem. Apocalypse é um filme repleto de cenas memoráveis, o que depõe contra ele é o fato de que o conjunto da obra não agrada tanto e corre o iminente risco de se tornar esquecível. O longa pode ser definido como uma coleção de momentos marcantes que dão protagonismo a grande parte dos personagens em diferentes sequências. E contraditoriamente, o resultado não é tão satisfatório e é exatamente o excesso de personagens que conduz a uma estrutura deficiente. Munido de acertos e erros, qualidades e defeitos, X-Men: Apocalypse não deixa de ser mais um exemplar de entretenimento dinâmico e inteligente. Para o fã e leitor, se aproxima das aventuras nos quadrinhos em diversos momentos e cumpre seu papel de reintroduzir mutantes clássicos na história. Para o público em geral, é um filme interessante, com problemas de ritmo, mas nada que prejudique a diversão como um todo. Não é perfeito, poderia ser muito melhor e não adotar essa linha de episódio que parece funcionar como ponto de transição entre um longa e outro. Mas, ainda assim, é bem legal.

Star Wars: Rogue One

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O caráter nostálgico, o tom de tributo e a proposta de preencher algumas lacunas na mitologia introduzida nos três grandes clássicos que tornaram Star Wars o produto mais emblemático da cultura nerd já eram justificativas suficientes para a concretização de Rogue One. Mas este novo filme da franquia faz mais do que isso: incita a reflexão acerca da dimensão daquele universo proposto em 1977 por George Lucas; se aprofunda em atitudes e conceitos que, agora, soam antagônicos; alia um importante arco político com visuais arrebatadores (introduzindo novos planetas, criaturas, droides e naves espaciais); e mostra, com efeito, o que é realmente um bom prelúdio. Algo que a nova trilogia de Lucas (que compreende os filmes lançados entre 1999 e 2005) não soube fazer. As batalhas são bem estruturadas e visualmente esplêndidas, com um desenho de produção que não encontrou rival à altura em 2016, sempre dando uma ótima dimensão na tela de como a guerra se desenrola, sem negligenciar as noções de espaço-tempo tão caras à montagem de um longa dessa estirpe. Mas os contornos políticos é que garantem uma trama inteligente, nos apresentando um outro lado da Aliança Rebelde, cujas decisões e ações são questionáveis durante boa parte da narrativa. E convém mencionar a boa química entre os personagens que realmente se sobressai. Rogue One é uma história de sacrifício e cumplicidade, de fé e determinação, de honra e coragem. Destaque para as participações de Darth Vader e da Princesa Leia, nossa saudosa Carrie Fisher, dando as caras em uma cena que interliga Rogue One de imediato a Uma Nova Esperança. Uma delícia ver como souberam construir uma boa história que servisse de de prólogo para o episódio IV, sem soar como caça-níquel. Mais uma vez, depois do ótimo The Force Awakens, temos a constatação de que a franquia está em boas mãos – e cabeças inteligentes. Eu estou com a Força e a Força está comigo.

Melhor adaptação de HQ:

Capitão América: Guerra Civil 

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A Marvel continua sua bem-sucedida estratégia de apostar em um universo compartilhado no cinema, projetando nas telonas o desejo de todos os fanboys dos títulos em quadrinhos da editora ao reunir seus maiores ícones em uma mesma saga. Capitão América: Guerra Civil é um longa que se propõe a divertir e empolgar tanto os aficionados em HQs quanto o público em geral. E é bem-sucedido em seu intento, apostando no dinamismo de suas cenas de ação, em bons diálogos, na ótima caracterização de seus personagens, na interação primorosa de seu elenco e na recriação de um confronto épico nas telas. Esta sequência de Capitão América 2: Soldado Invernal é mais do que se pode esperar de um bom entretenimento de fim de semana. Ainda que a discussão sobre a responsabilidade de se possuir um superpoder pareça diluída e até mesmo eclipsada pelos dramas e conflitos pessoais dos próprios heróis, o filme cumpre bem seu papel e se destaca em meio à enxurrada de adaptações de quadrinhos para as telas como um dos grandes blockbusters do ano.

Deadpool

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Divertido, transgressor, atípico e controverso exemplar de adaptação de uma história em quadrinhos da Marvel Comics, Deadpool acerta ao aliar o humor politicamente incorreto do personagem a cenas de ação explosivas e bem filmadas, além de rechear sua narrativa de referências pop certeiras. Fugindo da zona de conforto, o longa acerta até mesmo em quesitos nos quais as demais transposições de HQs para as telas pecam – é o caso do uso de um recurso manjado como o flashback, e a origem do uniforme do herói (anti-herói, mais propriamente dizendo), sempre brincando com as convenções do gênero e apostando no tom de autossátira. Todavia, o material de origem já exigia isso. O diretor Tim Miller apenas soube traduzir bem a essência do personagem para o cinema.

Melhor surpresa:

Brooklyn

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Pensei em várias palavras para defini-lo, mas acho que irresistível e apaixonante são boas o suficiente. É o tipo de filme que você assiste com um sorriso terno no rosto na maior parte do tempo e com algumas lágrimas inevitáveis em certas passagens. A riqueza dos diálogos e a delicadeza da narrativa fizeram de Brooklyn, seguramente, o filme mais belo da temporada de premiações, que não precisa recorrer a artifícios e trucagens para impressionar. É nessa simplicidade que reside seu encanto. Apesar do estilo de romance clássico, não é um filme “velho”, antiquado, não aposta em um roteiro com ideias desgastadas. E impossível não vibrar com a escolha da personagem de Saoirse Ronan no final, coroando sua trajetória de amadurecimento. Ela tomando as próprias decisões, olhando para frente, para o futuro, é algo a se admirar em um mulher da década de 1950 e que ainda é capaz de servir de inspiração para tantas atualmente.

O que poderia ter sido e não foi:

Esquadrão Suicida

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Adaptação dos quadrinhos da DC Comics para as telas, o filme acompanha uma equipe de assassinos desequilibrados que são incumbidos da tarefa de formarem um improvável grupo de vilões. Reunidos por Amanda Waller (Viola Davis), eles são utilizados como bode expiatório como aponta o Pistoleiro interpretado por Will Smith. Em suma, é o mal para combater o mal, em troca da diminuição das sentenças dos arquivilões. Também há outro pormenor que convém mencionar: eles não topam participar, são coagidos por conta de um chip explosivo subcutâneo injetado em seus pescoços e que pode ser detonado a qualquer minuto, basta um movimento do dedo de Amanda. O longa é divertido, ainda que estruturalmente problemático, repleto de deficiências narrativas e passagens ilógicas. É perceptível que o produto final foi vítima de um corte absurdo, evidenciado pela introdução dos personagens no começo do filme, tudo muito rápido, mandando qualquer tentativa de uma montagem mais orgânica para o espaço. Ao invés de dinâmico, acaba soando apressado. É engraçado que não dá pra ignorar os problemas (e eles são vários), mas, mesmo assim, o filme consegue entreter . A trilha sonora é uma delícia. Pena que, no filme em si, seja mal pontuada, excessiva, muitas vezes dando a desconcertante impressão de que o filme é formado por uma série de videoclipes pretensamente psicodélicos. Mas até que não é tão ruim quanto foi alardeado. Com um pouco de boa vontade – e fazendo vista grossa para uma série de equívocos – vale a sessão.

Capitão Fantástico

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Preocupado com os rumos que o mundo está tomando, Ben (Viggo Mortensen) decide abandonar a vida urbana e criar os seis filhos no meio do mato, lhes ensinando lições valiosas acerca de liberdade, sobrevivência, arte, erudição, direitos e deveres de um cidadão. Abalados, porém, por uma recente tragédia – a perda da mãe – os filhos convencem Ben a ir ao seu funeral. Uma premissa até interessante, mesmo que inverossímil. A proposta é idealista demais e tenta a todo custo trazer ecos de Wes Anderson, jamais acertando no tom e não conseguindo fugir de um discurso panfletário anti-capitalismo selvagem. Acaba se rendendo facilmente ao melodrama típico, apostando em fórmulas e soluções fáceis, além de personagens que não convencem e nem mesmo são capazes de causar alguma empatia.

Maior decepção:

Batman Vs Superman: A Origem da Justiça

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O longa não é ruim, mas é problemático. E o maior problema reside no fato de que suas forças acabam representando também seu calcanhar de Aquiles ou, para alinhar ao contexto, sua própria Kryptonita em algum momento da trama. Batman Vs Superman é o típico cinema de Zack Snyder: pancadaria, explosões, correria e bagunça no clímax. O cineasta tornou-se refém da própria fórmula que criou. O curioso é observar que, nesse filme, o estilo dele é bem trabalhado. Alcança um certo equilíbrio e maturidade não vistos anteriormente em outras obras do diretor. A pirotecnia e o caráter megalômano se justificam na maior parte do tempo, até mesmo pela premissa do encontro dos mais icônicos heróis e a narrativa que exige essa grandiosidade. Mas, ainda assim, seus excessos comprometem algumas boas cenas que tinham tudo para serem antológicas. Estilizado por demais e obcecado em parecer o mais maduro, sombrio e violento dentre os filmes de heróis – para deixar bem claro que diversão vai além do padrão Marvel, colorido e bem-humorado – é nesses aspectos que o cineasta erra a mão e peca.  É um bom filme, sim, mas passa longe, bem longe, de ser perfeito. Faltou escopo, a duração poderia ser menor, há momentos que desafiam a lógica e mandam a coerência para o espaço e passagens que subvertem o cânone das HQs (aqui não se trata de purismo, mas não tem como ignorar o quanto as caracterizações fogem de sua essência dos quadrinhos em determinados momentos), mas não é um desastre como um todo. Apenas deixa aquele gosto amargo de decepção.

Pior filme

O Lar das Crianças Peculiares

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Esqueça o tom dark dos filmes anteriores de Tim Burton. O que predomina na adaptação para as telas de O Orfanato da Srta. Peregrine Para Crianças Peculiares é o clima aventuresco e uma narrativa quase infantil. Há diversas mudanças em relação ao livro, algumas são inofensivas, outras chegam a incomodar. Mas o problema maior é subestimar a inteligência do espectador com uma trama canhestra, light demais e esquecível. Eva Green interpreta a Srta. Peregrine do título, a responsável por um orfanato repleto de crianças peculiares, isto é, que apresentam poderes especiais. Jake (o chatíssimo Asa Butterfield), é aquele personagem que é utilizado como o elo entre o espectador e aquele universo desenhado na tela. Somos introduzidos e guiados ao orfanato e suas crianças peculiares pelos olhos de Jake, vendo tudo pela primeira vez e com a curiosidade que lhe é – e que nos é – inerente. Um draminha familiar com leves toques de comédia e terror, personagens sem grande profundidade, pretensamente sombrio e que tira toda a melancolia e a inventividade do material original que também não é nenhuma obra-prima, mas guarda seus méritos. O filme é simplesmente bobo.

O Regresso

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Uma história de vingança e redenção. E com um final tão previsível quanto boa parte das histórias que versam acerca destes temas combinados.  O Regresso se propõe a ser esteticamente bonito. Mesmo que a câmera filme tão especificamente lutas sangrentas, vísceras, pele, sangue sem pudores, os frames são belos e cheios de lirismo. Portanto, a violência não é crua e nem chega a impactar. O uso excessivo e contínuo de lentes grande angulares e panorâmicas é incômodo e cansativo. A paleta de cores, contudo, é eficiente, tornando os cenários agradáveis a despeito dos movimentos exagerados de câmera e dos longos e pomposos planos. Nesse quesito, o design de produção realmente merece algum alarde. A soberba de Alejandro González Iñárritu é visível em cada fotograma. Não é à toa que ele tenha se convencido da ideia de que o filme merece ser visto em um templo. Mas não. Tirando toda a perfumaria e suntuosidade, a trama não apresenta nada de novo, partindo de uma premissa bastante convencional e se desenvolvendo tal qual. Boas atuações, mas nada espetaculares. A pretensão é que arruinou o conjunto.

Desejamos a todos bons filmes em 2017! 🙂

Andrizy Bento
Kaio Dantas
Kevin Kelissy

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