Terror psicológico independente e de baixo custo, dirigido por Jeremy Loveringe e lançado em 2013, Uma Noite Para Esquecer (In Fear, no original em inglês), é o típico caso em que a premissa é melhor do que a execução.
O longa acompanha o jovem casal Tom (Iain de Caestecker) e Lucy (Alice Englert) que, poucas semanas depois de se conhecerem, combinam de ir a um festival de música e encontrar alguns amigos. No entanto, os planos de Tom são um pouco diferentes. Antes de seguir rumo ao concerto, ele quer passar a noite com ela em um hotel localizado em um lugar ermo. Elogiado no Festival de Sundance – onde foi exibido em uma sessão de meia noite – o longa britânico se destaca especialmente por ter sido realizado praticamente sem script, com apenas algumas referências pontuais para que os três atores que o protagonizam, seguissem.
À medida que Tom e Lucy avançam de carro por uma estrada isolada do interior e a noite cai, a atmosfera de suspense e terror vai se tornando mais palpável. É um filme que brinca com alguns dos medos genuínos que, orgulhosamente, refutamos possuir, mas que em situações como as vividas pelos personagens de Uma Noite Para Esquecer, certamente seríamos engolfados por eles – o temor da escuridão e de se perder. É este o artifício que alicerça a narrativa. Desse modo, ao se verem em um labirinto de estradas estreitas que levam exatamente para o mesmo lugar, seguindo pistas erradas constantemente e sendo alvos de uma ameaça, a princípio, invisível, aos poucos, Lucy e Tom vão perdendo a sanidade e tudo o que resta é tentar confiar em seus instintos.
O cineasta, Jeremy Loveringe, mostra talento na condução de um suspense psicológico. De maneira plausível e extremamente simples, constrói uma situação de pânico convincente, explorando os sentimentos dos personagens, a sensação claustrofóbica que os envolve e a relação delicada entre eles enquanto andam em círculos . A direção de fotografia e o trabalho de sonoplastia são outros itens a se destacar, uma vez que a estranheza dos ângulos e a câmera detalhista, somada à edição de som e trilha sonora perturbadora, foram intencionalmente pensados para criar o ambiente mais aterrador possível, cuja tensão crescente e constante dá o tom. A sensação de se estar sempre sendo observado contagia o espectador que, ao invés de assumir uma simplória condição de voyeur das horas de horror vividas pelos protagonistas, se vê dentro da história, como alvo, uma vítima de um psicopata enigmático, assim como o duo principal.
No entanto, isso não é o suficiente para categorizar Uma Noite Para Esquecer como um excelente filme ou mesmo como uma produção que enriqueça o gênero, afinal, a trama começa interessante, mas acaba não levando a lugar nenhum. Os mecanismos utilizados para conduzir a história são eficientes, porém, a estrutura narrativa é muito frágil. Trata-se de um terror atípico que, no entanto, não consegue escapar de alguns malfadados clichês.
Enquanto o visual – mesmo que abuse de tomadas escuras e tendo como cenário o meio do mato (algo que poderia facilmente escorregar em chavões narrativos do estilo) – é competente e o que contribui para que o filme funcione de certa maneira, o erro maior é o desenvolvimento dos personagens que faz com que a produção esbarre em certa mediocridade. Parece que é um elemento requerido em todo filme de terror que os protagonistas sejam completamente tolos, tomando decisões estapafúrdias, como se gritassem para serem pegos. Não ajuda o fato de o vilão ser um maníaco raso como um pires, que brinca com os personagens principais de uma maneira sádica, de modo a simplesmente passar uma lição de moral e aplicar um corretivo em ambos.
Uma pena, pois o elenco é composto de jovens talentos que fazem o possível para dar alguma substância a seus personagens. A essência deles é que não ajuda. Tanto Alice Englert quanto Allen Leech mostram um desempenho digno de nota, convencendo em seus respectivos papéis. Mas é Iain de Caestecker quem brilha e rouba a tela para si em todos os momentos que está em cena. O intérprete de Leopold Fitz, o melhor personagem de Agents of SHIELD, é um talento acima da média que consegue transmitir toda a a luta interna de seu personagem por meio de suas expressões faciais e gestual. Impressiona como seu tom de voz e comportamento se alteram drasticamente no decorrer do filme.
Ao final, quando você capta a moral da história e descobre o motivo pelo qual o psicopata infligiu aos protagonistas horas e horas de dor, terror e sofrimento (passe o mouse para ler o spoiler: no começo do longa, Lucy está em um banheiro de pub e lê a seguinte mensagem na parede: Se um homem fere uma pessoa inocente, o mal cairá sobre ele e o tolo será destruído, então ela rabisca um OU NÃO logo abaixo. O psicopata, observando-a por uma fresta na parede, decide executar seu plano para provar a Lucy que ela está errada), fica aquela sensação de vazio, de que o escopo do longa foi mal definido. A inocuidade e falta de perspectiva do roteiro quase arruínam toda a produção, desperdiçando um elenco interessante e obscurecendo a direção eficiente de Loveringe.
Andrizy Bento