O livro é melhor que o filme é uma das frases que, sem dúvidas, está na lista dos males do século. Já cansei de dizer o quanto a sentença é equivocada. Comparar duas mídias distintas, com linguagens extremamente diferentes, é uma falácia das grandes. E como defensora do conceito de adaptação – uma palavra que muita gente se recusa a compreender a definição – eu costumo dizer que uma história pode ser mais bem contada em uma mídia ou em outra. Pois bem, 13º Andar – longa de 1999, dirigido por Josef Rusnak e baseado no livro Simulacron 3 de Daniel F. Galouye – não se trata de uma adaptação exemplar. Mas, se analisado independentemente do material que o originou, é um filme interessante.
Lançado no mesmo ano que o fenômeno Matrix, e abordando o mesmo conceito deste, acabou eclipsado devido ao marketing excessivo, o estúdio mais gabaritado, o orçamento mais polpudo e o retorno que Matrix gerou. O destino de 13º Andar aqui, no Brasil, foi chegar diretamente ao mercado de home vídeo, de modo que poucas pessoas tiveram conhecimento de sua existência.
Hannon Fuller (Armin Mueller-Stahl) e Douglas Hall (Craig Bierko), dois estudiosos do campo da informática, desenvolvem um mundo simulado no qual unidades são programadas para reproduzir um ambiente social. O audacioso projeto é utilizado para fins de pesquisa acerca da sociedade, da natureza humana e das interações entre os indivíduos. O filme tem início com o assassinato de Fuller, o que, posteriormente, revela-se a chave de todo o mistério. Aparentemente, antes de morrer, Fuller tinha informações de vital importância sobre o projeto que precisava revelar a Hall. Este último, por sua vez, acaba se tornando o principal suspeito do homicídio e, para solucionar o mistério em torno da morte do sócio, resolve adentrar a sua própria criação. Ao se envolver com a suposta filha de Fuller, Jane (Gretchen Mol) – que aparece repentinamente e sem dar grandes explicações – faz uma inesperada descoberta e se vê diante de uma realidade bizarra.
Trabalhando com os instigantes conceitos de simulacro e hiper-realidade – algo já visto um ano antes em Dark City – o longa conta com menos personagens do que o livro, acabando por excluir figuras interessantes da narrativa, provavelmente por ter sido feito a toque de caixa. Todavia, mantém os essenciais – o elenco necessário para dar fundamento e permitir o desenvolvimento da história.
Tanto a reconstituição de uma época passada (reproduzindo a década de 1930) quanto a construção do ambiente futurístico (simulando nossa realidade, anos a frente), são bem executadas na medida do possível e do que a verba para a realização do filme permitia. Não causam espanto, nem surpreendem, mas são bem competentes. Apesar de acertar na composição cromática e na criação de uma atmosfera soturna que permeia e envolve toda a trama, a produção é tecnicamente precária em diversos aspectos. Há falhas gritantes na iluminação; a transição de planos é um tanto abrupta, chegando até mesmo a soar amadora em algumas passagens; a montagem problemática prejudica o andamento da trama e o ritmo do longa; e a narrativa intrincada e toda sua complexidade acabam sendo pouco valorizadas. Os personagens, por exemplo, são clichês, quando poderiam ter camadas mais exploradas. Entretanto, é até compreensível quando, ao final, descobrimos a realidade de suas naturezas. Meio que por uma questão de sorte, a precariedade acaba contando pontos a favor do filme e sendo justificada por vias tortas.
Mesmo antes de ler o livro, tem-se a impressão que, com um orçamento melhor e um roteiro mais bem trabalhado, que se aprofundasse mais no conceito e nas questões apresentadas, o filme seria uma obra indispensável dentro do gênero sci-fi e dentre os longas que abordam as temáticas do simulacro e realidade virtual. Mas, ainda que imperfeito e superficial, vale a pena dar uma olhada, nem que seja só para passar o tempo. Recomendo a leitura do livro de Galouye também. Um autor de ficção científica tão subestimado quanto o longa originário de sua obra.
Andrizy Bento
Filme muito muito bom. Uma pena ter sido ofuscado por Matrix.