A minha formação acadêmica começou na história. Hoje, no entanto, enveredo pela museologia. Mas isso é papo para outro momento e apenas fiz essa introdução para revelar o quanto fatos históricos me fascinam. E lembrei-me de um antigo professor de história, lá do longínquo ensino médio, que afirmava que o principal assessor dos políticos deveria ser um historiador “pois os historiadores iriam mostrar o que não deu certo no passado para que o erro não se perpetuasse.” Mascarenhas era sábio. Na faculdade de História eu aprendi que fatos históricos marcantes dificilmente se repetem. Quando algo assim acontece, o efeito que provoca é tão forte, que leva todos a tal “CATARSE”. Você não verá dois 11 de setembro; outra Olimpíada na qual a Vila Olímpica foi invadida por terroristas (Munique, 1972); outro presidente se suicidar nas mesmas circunstâncias de Getúlio Vargas, em 1954; ou um presidente ser assassinado no meio da rua como John F. Kennedy foi.
O assassinato mudou para sempre a história dos Estados Unidos. E arrisco dizer que os americanos jamais se recuperaram daquela tragédia. Primeiro que eles nunca se conformaram com o desfecho do caso – um maluco solitário ser o autor do disparo para depois ser morto por um homem exibicionista com supostas ligações com a máfia. É mais fácil acreditar na teoria da conspiração do que na lógica das provas. E uma dessas teorias diz que se Kennedy não tivesse morrido o mundo seria outro. Será? Afirmo de cadeira que, historicamente falando, as coisas certamente teriam andado como andaram e o Vietnã teria, sim, acontecido. E Kennedy só tem essa aura mágica até hoje por ter sido alvo de um fatídico disparo. Se, por acaso, Lee Harvey Oswald tivesse errado, JFK entraria para a história como um presidente medíocre. Mas a morte o transformou em um mito.
No aniversário de cinquenta anos desde o acontecido (se é que eu posso chamar assim) Stephen King, o mestre da literatura de suspense, lançou um romance com a seguinte temática: se uma pessoa pudesse voltar, de algum modo, para o passado e impedir a morte de Kennedy, evitando que algumas tragédias acontecessem – como a morte de Bobby Kennedy em 1968, e a retirada de homens ao Vietnã – como as coisas se desenrolariam? Como isso afetaria o curso da história como a conhecemos?

Eu li o livro e é sensacional. Praticamente desde a publicação se promete uma adaptação televisiva com James ‘lindo’ Franco no papel principal. Neste ano, finalmente fomos brindados com a estréia, oferecida pelo serviço de streaming Hulu (principal rival da Netflix), da série 11.22.63. Claro que são necessárias adaptações para se transportar um livro de 700 páginas para o formato de minissérie de oito episódios, mas, após dois capítulos, lhes asseguro que a adaptação está incrível. Vale muito a pena!
Óbvio que tem os mimizentos de plantão, sempre dispostos a apontar as divergências entre o livro e a minissérie. Por exemplo: no livro, o protagonista Jack Epping vai para o passado, mais precisamente para 1958. Ao passo que, na série, a sua aventura se inicia em 1960. Saída típica pra poder encaixar a história nos oito episódios da TV…
Mas a essência do livro está lá e principalmente todos os perigos de se alterar os fatos e se mexer com o tempo. Portanto, recomendo que viajemos junto com Jack em busca de seu “e se…” e sonhemos que talvez, na ficção, ele possa funcionar.
Gaby Matos