Mas onde foi que eu estava com a cabeça quando decidi assistir a uma série da CW?
Eis uma frase que digo eventualmente. Sempre me pego vendo séries da emissora mesmo que minhas críticas a ela sejam constantes.
Pois bem, como eu não aprendo a lição (mesmo tendo desistido de Arrow no quinto episódio, achado The Tomorrow People uma perda de tempo e Reign um equívoco dos grandes), lá fui eu de novo me aventurar por uma produção da CW. A bola da vez é Legends of Tomorrow, mais uma trama extraída dos quadrinhos e outro spin-off do sucesso Arrow.

Legends parte de um ótimo conceito: Rip Hunter (Arthur Darvill), um mestre do tempo, viaja ao passado a fim de reunir um time de super-heróis lado B da DC Comics de modo a evitar um futuro caótico. Para tanto, eles precisam viajar através do tempo para deter o vilão Vandal Savage (Casper Crump) que é o responsável pelo miserável destino do nosso planeta. O objetivo é tentar encontrar o vilão em algum momento de vulnerabilidade no passado para, assim, derrotá-lo.
Interessante, né? Clichê, mas clichês bem trabalhados (como a Gaby vive dizendo aqui no blog) e ainda mais aliado a um conceito que eu aprecio muito – viagens temporais – podem render ótimas e divertidas produções.
Uma pena que a execução seja tenebrosa.
Vi muitas reviews elogiosas ao piloto, dizendo que acerta por conta do clima cartunesco, por ser leve, divertido e sem medo de apostar em excessos.
Hmmm… Eu posso usar os mesmos predicados para descrever o filme dos Guardiões da Galáxia, por exemplo. Ou, sendo justa, para uma produção da mesma casa, a série Flash – cujo piloto eu achei uma desgraça, mas vi alguns outros episódios aleatórios e até estou pensando em dar uma chance e conferir na íntegra. Porém, os dois produtos citados não chegam a ofender a inteligência do espectador como Legends of Tomorrow fez em sua estreia.
O piloto começa com um vislumbre do futuro apocalíptico aterrador situado em 2166, que nada mais é do que uma consequência das deliberadas ações vilanescas de Savage. Em um primeiro instante, até pensei: pode ser que venha coisa boa daí. Mas foi apenas uma falsa primeira impressão.

Já nos minutos iniciais, temos o clichê do vilão matando a mãe de uma criancinha fofa. Quer provar que um vilão é vilão com V maiúsculo? Coloque-o para intimidar uma criancinha fofa e matar a mãe dela. E depois matar a própria criança fofa sem misericórdia.
Rip Hunter, interpretado Darvill – O Rory, ex-companion de Doctor Who que, ironicamente, agora é um mestre do tempo, usa sobretudo, e tem uma frieza e um cinismo bem semelhantes ao do Doctor… – desafia a decisão do Conselho dos Mestres do Tempo e parte em uma missão em uma crononave pilotada por um holograma, a fim de recrutar uma equipe improvável de desajustados heróis.

Sem muito lenga-lenga, o recrutamento acontece de forma rápida e indolor, decerto porque os personagens já haviam sido introduzidos em Arrow e Flash. Mas duvido que seria, assim, tão diferente se o público nunca houvesse ouvido falar deles.
O time é formado por Átomo, interpretado por Brandon Routh, que foi o Superman no filme de 2006 do Bryan Singer, e aqui parece um genérico do Homem de Ferro, sem o cinismo e a panca de playboy, mas ainda assim um playboy.
Hawkgirl (Ciara Renée) e Hawkman (Falk Hentschel), que têm um papel de destaque na série por conta do vínculo com Savage. Os três estão ligados por toda a eternidade desde os tempos mais remotos, sempre destinados a se reencontrar a cada nova reencarnação. Trágico e romântico, o casal protagoniza uma cena de DR no piloto.
Jeito interessante de resolver as diferenças entre um casal, né?
Canário Branco (Caity Lotz) era originalmente a Canário Negro na série Arrow. Morreu no início da terceira temporada, foi ressuscitada no Poço de Lázaro, teve sua alma reavida com uma ajudinha do Constantine e tornou-se a Canário Branco sempre com cara de tédio, uma fome de matar incontrolável e toda uma panca chatíssima de rebeldona do grupo.
Nuclear, a fusão entre o Professor Stein (Victor Garber) e o jovem mecânico Jefferson Jackson (Franz Drameh), que tem tudo para ser o saco de pancadas e alvo de piadas do grupo, pois é o mais novo, não tem idade legal pra beber, blábláblá que acaba convertido em alívio cômico, mas certamente terá seus momentos de herói improvável Ohhh, quem diria que ele é tão heróicozzzzzzzz…
Capitão Frio (Wentworth Miller) e Onda Térmica (Dominic Purcell) que nada mais são do que Michael Scofield e Lincoln Burrows, os protagonistas de Prison Break que conseguiram escapar da prisão e agora são dois delinquentes que querem aproveitar a chance de viajar no tempo para cometer crimes em épocas distintas. Tem gente que não aprende, né?
Pelo fato de os personagens já terem backgrounds desenvolvidos nas séries prévias, o piloto evita cair na armadilha da exposição em demasia, do excesso de explicações e de introduções detalhadas demais.
Se esse é um mérito, o resto é todo composto de deméritos.
Eu não sei o que mais me incomodou nesse piloto. Se a vibe genérica de sessão da tarde, os diálogos ridículos (e eles existem em profusão, dos discursinhos edificantes às piadinhas medíocres e fora de contexto) ou as carinhas de sou tão badass.

Os atores são fraquíssimos, com suas caras e bocas e poses heróicas. Francamente, quem foi que disse que todos os heróis e anti-heróis dessa série deveriam atuar fazendo poses e expressões de eu sou o cara, sou um herói da DC, não mexa comigo, eu tomo chá com o Batman e sou convidado vip das festinhas na mansão Wayne? Os piores em cena são mesmo Canário Branco e o casal Gavião. A cena de luta em slow motion entre os dois últimos é a que mais causa vergonha alheia, mas não é a única.
Acho que um dos piores momentos, dentre vários, é a primeira viagem temporal da equipe, quando Rory Hunter os leva para a década de 1970 em sua crononave a fim de encontrar o Professor Aldus Boardman que pode lhes dar várias respostas acerca de Savage, já que ele é um expert quando se trata do vilão. E, atenção para o spoiler: o tal professor é filho do casal Gavião em uma de suas vidas passadas. E é incrível como nem ao ver seu filho diante de si ou, posteriormente, vê-lo morrer, os intérpretes dos star-crossed lovers consigam fingir uma emoção genuína. Hawkgirl e Hawkman simplesmente não sabem atuar, convém enfatizar mais uma vez.
Claro que, além disso, temos a famigerada conveniência de roteiro, pois Rory só leva o casal Gavião, Stein e Átomo com ele para encontrar o Professor Boardman. Deixando justo os rebeldões do time (Canário e os ex-Prison Break) para trás. Justamente aqueles que, lógico, não vão seguir as regras e sair da nave na primeira oportunidade que tiverem para aprontar alguma. O pobre Jackson, que foi contra a vontade nessa viagem temporal (vítima de um boa noite, Cinderela aplicado pelo professor Stein) também é deixado de lado. E lá vem a primeira piadinha com o saco de pancadas, caçula, futuro herói improvável: Os anti-heróis do grupo vão encher a cara em um bar dos anos 1970 que se esforça muito mesmo para parecer um bar dos anos 1970.
Até demais.
E não convidam Jackson porque ele ainda não tem idade legal para beber.
No bar, eles aprontam das suas como era de se esperar. Um grandalhão dá em cima da Canário e ela desce o braço no cara. Claro que, se você estivesse naquela situação, vendo que a menina não está para brincadeira e desceu a porrada em um cara grande que veio lhe passar uma cantada, você dava um step back e nem ousaria mexer com ela. Mas não é o que acontece. Os demais figurantes do bar, com um claro desejo de apanhar, avançam para cima da Canário mesmo sabendo que terão o mesmo fim do primeiro grandalhão.
Nunca vi figurantes tão burros.
Mas coerência é para os fracos, como Gotham nos ensinou. Analisemos, por fim, a espinha dorsal da série: a reunião dos heróis.
A princípio, Rory diz que os reuniu, pois eles serão lendas no futuro, os maiores heróis da Terra, aqueles que serão lembrados como os paladinos da justiça, os nobres guerreiros que vão pôr fim a guerra que originaria todas as guerras, que irão salvar o futuro do planeta, os floquinhos de neve, as últimas bolachas do pacote, os morangos do nordeste…
E, mesmo assim, eles ficam relutantes em ajudar.
Porém, logo Rory lhes conta a verdade: a de que reuniu mesmo uma tropa de imprestáveis que não fazem a diferença e cujas vidas não causam nenhum impacto na linha do tempo. E por motivos puramente egoístas e contra a decisão dos Mestres do Tempo: vingar sua família. Sim, a mãe e a criancinha fofa do início do episódio eram a família de Rory.
E daí eles decidem ajudar, pois ficam contentes em saber que são uns inúteis e fuleiros que sequer merecem o título de heróis 🙂
Vocês são o quinto escalão da DC, mas quero que me ajudem a vingar minha família.
Daí eles topam, porque né? O Rory parece um cara legal e se mataram a Amy e a Melody… Ops, não eram elas. Enfim, se mataram a família do cara, por que não?
A gente não o conhece, mas acha que deve ajudá-lo em sua vingança, mesmo a gente pouco se ferrando para o que o Savage vai fazer com o resto do mundo.
Faz todo o sentido, não?
Resumindo: O piloto é repleto de obviedades, clichês desconcertantes, piadinhas metidas à espertas, humor involuntário e alusões à mitologia da DC Comics que soam bem forçadas e artificiais. Para completar, a ação é chinfrim e as atuações, terríveis.
Legends of Tomorrow é uma versão de Power Rangers com orçamento melhor. Apenas isso.
Se eu posso acabar mudando de opinião futuramente? Quem sabe… Aconteceu com Agents of SHIELD.
Enfim, o que eu farei agora? Provavelmente eu vou começar a assistir Flash e Supergirl da CW. Porque eu não aprendo mesmo.
Andrizy Bento
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