“Nossos ídolos ainda são os mesmos”, já dizia um dos versos mais simbólicos da canção Como Nossos Pais, interpretada por Elis Regina. O que quer dizer que o tempo passa, as gerações mudam, mas continuamos seguindo os mesmos passos dos nossos pais, por mais que neguemos. A maioria costuma recorrer à típica falácia “no meu tempo era melhor”. Especialmente com relação à música, bandas e cantores. Mas cada época tem seu encanto. E o que é bom permanece e perdura. Vejo isso pela própria Elis Regina que atravessa gerações e continua a conquistar fãs que nem mesmo eram nascidos quando ela estava no auge de sua carreira. Elis ainda é considerada uma das melhores intérpretes da história da nossa MPB.
A gaúcha, também conhecida pelo apelido de Pimentinha (ideia de Vinícius de Moraes, por conta de sua fama de encrenqueira e suas polêmicas declarações em entrevistas), foi uma das percussoras da Bossa Nova – estilo musical tão representativo do nosso país – junto com outros nomes que também entraram para a história. E foi assim que ela se tornou uma das cantoras mais conhecidas do Brasil.
Algumas vezes perseguida pela ditadura militar, mas sempre muito elogiada por sua bela voz, Elis se mostrava uma artista muito a frente de seu tempo. Uma grande estrela que se consagrou durante as décadas de 1960 e 1970, e que continuou a fazer imenso sucesso mesmo após sua morte, em 1982.
Sua carreira começou na Rádio Gaúcha. Posteriormente, viajou para o Rio de Janeiro, aonde gravou seu primeiro disco: Viva a Brotolândia, em 1961. O ano de 1964 foi de suma importância e, de certa forma, decisivo para Elis, pois ela assinou contrato com a TV Rio para participar do programa Noites de Gala e, no fim daquele ano, conheceu Solano Ribeiro, idealizador e executor dos famosos festivais de MPB da Rede Record. Foi também naquele ano que apresentou, ao lado de seu amigo, o cantor Jair Rodrigues, o programa Show Dois na Bossa, na TV Excelsior, com direção de Nelson Motta e Mariozinho Rocha. No ano seguinte, o programa passou a ser transmitido pela Record, levando o nome de O Fino da Bossa e permaneceu no ar até 1967.
No I Festival de Música Popular Brasileira, em 1965, a cantora interpretou o sucesso campeão daquele ano: Arrastão de Edu Lobo e Vinícius de Moraes. Mas o auge de seu sucesso seria mesmo durante a década de 1970, quando gravou alguns dos clássicos mais marcantes de sua trajetória artística. Foi por esses tempos que ela lançou o disco Em Pleno Verão que continha a regravação de As Curvas da Estrada de Santos de Erasmo e Roberto Carlos; O Ela, que trazia um de seus maiores sucessos, Madalena, escrita com Ivan Lins e Ronaldo Monteiro; e Elis e Tom, ao lado do músico Tom Jobim de onde saiu aquele dueto, Águas de Março. Já ouviu falar? 😉
Os anos 1970 compreendem o seu período de maior atividade, com inúmeros discos emblemáticos sendo lançados. Além dos citados, tiveram outros como Falso Brilhante de 1976 (é nesse que estão presentes as faixas Como Nossos Pais e Velha Roupa Colorida), o Elis de 1977 (que trazia a regravação da bela Romaria de Renato Teixeira) e Essa Mulher de 1979 (da qual saiu a ótima O Bêbado e o Equilibrista).
Já na década posterior, os anos 1980, lançou apenas dois discos: Saudades do Brasil, álbum duplo com músicas do festival homônimo; e outro intitulado Elis, seu último álbum em vida, que continha o sucesso Vivendo e Aprendendo a Jogar. Também participou do disco Vinícius Para Crianças, projeto que apresentava os poemas de Vinícius de Moraes musicados por Toquinho. Nesse LP, interpretou a música Corujinha, contudo não chegou a participar do especial do disco para a TV, em 1980, não se sabe por qual motivo.
Elis era mãe do produtor musical e empresário João Marcelo Bôscoli, fruto de seu relacionamento com o músico Ronaldo Bôscoli; e dos também cantores e atuais representantes da MPB, Pedro Mariano e Maria Rita, de seu casamento com o instrumentista César Camargo Mariano. A cantora faleceu em 19 de janeiro de 1982, nos deixando ainda muito jovem, aos 36 anos. Seu talento, entretanto, permanece na memória coletiva e fez com que ela se tornasse, para sempre, um dos maiores ícones da música brasileira.
Vários álbuns póstumos foram lançados, como registros ao vivo, alguns materiais inéditos e tributos de artistas interpretando suas canções. Também foi homenageada, com direito a um monumento, em sua cidade-natal, Porto Alegre, além de ser o personagem central de biografias e tema da escola de samba Vai Vai de São Paulo no ano de 2015, que a fez conquistar mais uma vitória com o samba-enredo “Simplesmente Elis – A Fábula de Uma Voz na Transversal do Tempo”. E todos concordam que o título não poderia ser mais certeiro.
Adryz Herven
Colaborou: Andrizy Bento
Sensacional matéria!
Obrigada, Miriam 🙂