Engana-se quem pensa que não existe nada pior do que ser conhecida apenas como “a filha de seu pai”. Ainda mais quando esse pai trata-se de ninguém menos do que Francis Ford Coppola. É claro que é necessário provar seu talento e que seu sucesso é consequente de seu próprio esforço e mérito, e não dos contatos do pai aclamado. Mas existe algo ainda pior. Pelo menos no caso de Sofia Coppola, a nossa homenageada do mês de junho: ser conhecida como a atriz que arruinou o filme do pai. E como se já não fosse o suficiente, o filme em questão tratava-se do encerramento de uma trilogia cujos dois primeiros capítulos são considerados marcos do cinema, verdadeiras obras-primas, tendo ambos levado o Oscar de Melhor Filme – o primeiro em 1973 e o segundo em 1975. É bem óbvio que estou falando de O Poderoso Chefão: Parte III.
Mas, embora tenha começado com o pé esquerdo – com uma série de atuações inexpressivas e uma que se tornou memorável justamente pelos motivos errados – o tempo é o maior dos sábios e Sofia Coppola teve a chance de provar que seu talento como cineasta mais do que compensava a limitação de seus dotes interpretativos. Primeiro com As Virgens Suicidas, seu longa-metragem de estreia, lançado em 1999, que narra a comovente história de cinco belas irmãs adolescentes que, de modo subsequente, cometem suicídio sem uma razão aparente ou plausível. Baseado no livro homônimo de Jeffrey Eugenides, o filme fez com que a jovem cineasta passasse a ser alardeada como um nome promissor do meio.

A sua consagração definitiva, no entanto, veio com Encontros e Desencontros de 2003 (do qual eu já falei muito por aqui), filme pelo qual ganhou o Oscar de Roteiro Original no ano seguinte. Com uma história bem simples, centrada em dois americanos que se conhecem em Tóquio e desbravam a cidade juntos, compartilhando noites insones e combatendo suas respectivas solidão e melancolia, Sofia conquistou plateias do mundo todo e arrebatou a crítica especializada que elegeu seu segundo filme como um dos títulos queridinhos daquele ano.

Em 2006, a ilustre herdeira transformou a história de Maria Antonieta em uma narrativa bem pop: um retrato moderno da última Rainha da França, repleto de referências artísticas, cinematográficas e à cultura contemporânea e que ainda contava com uma trilha sonora super simpática composta por bandas de indie rock. Infelizmente, foi mal compreendida em Cannes (onde teve seu filme vaiado durante a primeira exibição para a imprensa). De qualquer modo, trata-se de outro título delicioso da filmografia da cineasta.

Em Bling Ring: A Gangue de Hollywood, lançado em 2013, ela reuniu um elenco de promissores rostos da nova geração e realizou outro trabalho notável de direção. Baseado no artigo “Os suspeitos usavam Louboutin”, publicado na revista americana Vanity Fair em 2010 e assinado pela jornalista Nancy Jo Sales, o longa acompanha uma gangue de jovens nem um pouco necessitados que tem um hobby incomum: furtar as mansões luxuosas de celebridades hollywoodianas. Mesmo inspirado por um episódio real, não deixa de ser uma narrativa bem Sofia Coppola, isto é, todas as características que a consagraram como cineasta estão lá: o foco nos personagens, a trama intimista, a câmera elegante, a trilha sonora pontual e o seu inegável talento em compor uma obra pop e, ao mesmo tempo, autoral.

No ano passado, surgiu o anúncio de que Sofia iria dirigir uma versão repaginada e em live-action de A Pequena Sereia. No início deste mês de junho, contudo, ela abandonou o projeto alegando divergências criativas com o estúdio que produziria a adaptação.
Agora, nos resta ficar no aguardo de suas futuras produções. O que se sabe, por enquanto, é que A Very Murray Christmas, projeto que retoma a parceria de Encontros e Desencontros, entre a cineasta e o ator Bill Murray, está previsto para estrear no fim deste ano nos Estados Unidos.
Sofia coleciona prêmios (que vão muito além do famigerado Framboesa de Ouro de Pior Atriz e Pior Perfomance da década por O Poderoso Chefão III), ela já ganhou o Oscar, Globo de Ouro, Leão de Ouro, Independent Spirit Awards e ainda recebeu indicações ao Bafta e à Palma de Ouro no Festival de Cannes.
Na vida pessoal, Sofia já foi casada com o também diretor Spike Jonze tendo, inclusive, estrelado um dos antológicos videoclipes assinados por ele: Elektrobank do The Chemical Brothers (algo que também já comentei por aqui). Atualmente é casada com o músico Thomas Mars da banda Phoenix (que fez parte da trilha sonora de Encontros e Desencontros), com quem tem duas filhas.
Embora tenha abandonado definitivamente a carreira de atriz por conta do pouco destaque e da recepção negativa de seus papéis, Sofia mostra que terá uma longa e prestigiosa jornada como realizadora e roteirista. A gente agradece 🙂
Andrizy Bento