Existem séries sobre quase tudo: hospitais, escritórios de advocacia, escolas… enfim. Quase tudo. Mas conta-se nos dedos as séries que tratam de notícias. Não acredito que isso seja por algum motivo mais sério. Há quem pense que seja porque não queremos ver realidades em séries de TV. Para isso bastam os noticiários. Mas então porque um dos caras mais geniais do meio resolveu fazer um show contando como se produz um grande noticiário?
Aaron Sorkin acredita, como eu, que uma redação jornalística é sim um lugar cercado de histórias legais que merecem ser contadas. The Newsroom não teve seu devido valor reconhecido. Alguns acreditam que a maior injustiça do Emmy foi o prêmio dado a Jeff Daniels. Talvez tenha sido. Prêmios são sempre coisas altamente discutíveis.
Seria amadorismo de minha parte dizer que o programa não teve erros. Não existem séries perfeitas, e um dos erros foi a sua indefinição. Afinal era um drama ou uma comédia? Ou talvez Sorkin não tenha sabido dar a cara ideal para uma dramédia (um drama com toques de humor).
Por exemplo, no primeiro ano da série a sua abertura mostrava cenas de noticiários americanos protagonizadas por jornalistas icônicos. Nas duas temporadas seguintes, a abertura foi trocada por uma sucessão de cenas do cotidiano: pessoas atravessando a rua, café sendo derrubado… Enfim, o que essa nova abertura queria dizer era que, a partir daquele momento, a notícia seria deixada de lado e o pessoal, isto é, os personagens seriam os comandantes da ação. Isso afugentou muitos que se assustaram com uma série repleta de piadas sem graça.
Mesmo assim o show continuava a manter sua força, pois nas horas mais certeiras a notícia voltava a ser protogonista. A finale da segunda temporada foi estupenda porque o que vimos foi a grande notícia sendo a estrela da noite e o romance do casal de protogonistas foi apenas um plus. Por mim, ela tinha sido encerrada ali e de forma brilhante.
Mas a HBO deu a Sorkin seis episódios para que ele finalizasse sua história e o meu maior receio é que passássemos seis episódios vendo uma montagem do casamento de Mac e Will.
Entretanto, os produtores ouviram as nossas preces e a noticia foi o carro-chefe do show. Sorkin discutiu como o governo pode interferir na vida das pessoas. Repito: alguns vão dizer que aquilo era muito americano e que nós não nos interessamos por esse assunto. Mas, em qualquer parte do planeta, uns dos primeiros a serem perseguidos, a fim de serem silenciados, são os jornalistas. A mercantilização da noticia foi outro tema abordado #fimaoego…
O último episódio nos demonstrou de forma tocante que o que unia todos aqueles personagens malucos era o amor pela profissão, o amor pela notícia. Além disso, mostrou como os noticiários são produzidos de modo a render um belo programa de TV.
Leia também as impressões de Gaby Matos da primeira e segunda temporadas.
Gaby Matos