Atrasei a resenha de A Esperança – Parte 1 em alguns meses, é verdade. Mas finalmente ei-la:
Depois de ser resgatada da arena do Massacre Quaternário pelos rebeldes no final de Em Chamas, Katniss (Jennifer Lawrence) recebe de seu amigo Gale (Liam Hemsworth) a notícia de que o Distrito 12, onde residia, foi bombardeado. Os poucos sobreviventes, alguns deles resgatados pelo próprio Gale, encontraram refúgio no Distrito 13. Aliás, esta é a segunda notícia impactante que Katniss recebe: O Distrito 13 ainda existe; não foi dizimado durante a primeira rebelião como todos acreditavam. Contudo, ele permanece firme e forte apenas no subterrâneo, independente da Capital. A superfície ainda exibe os destroços do bombardeio, de modo a omitir sua existência.
O drama de Katniss – além do fato de ter consciência de que seu último ato na arena atiçou ainda mais a fúria do presidente Snow (Donald Sutherland), desencadeando uma verdadeira guerra – é que Peeta (Josh Hutcherson) não foi salvo, portanto está nas mãos do poder da Capital. A princípio não faz ideia se ele sobreviveu ou não. Mas quando finalmente tem a confirmação de que está vivo, teme por sua segurança e integridade. Para completar, os rebeldes do Distrito 13 estão organizando uma resistência e a querem como símbolo da revolução, o Tordo. A missão da Presidente do 13, Alma Coin (Julianne Moore), juntamente com Plutarch Heavensbee (Philip Seymour Hoffman), é tentar convencê-la. Ela reluta a princípio, mas quando finalmente aceita, impõe algumas condições. Concessões são feitas em favor do Tordo. Agora o jogo não é mais o mesmo dos capítulos anteriores. É o início de uma guerra sangrenta em que vidas inocentes não serão poupadas. Katniss e os rebeldes almejam derrubar a Capital e destruir o império do presidente Snow que, por sua vez, não pretende medir esforços para contra-atacar.
Peeta se torna um joguete nas mãos da Capital. Não muito diferente disso, Katniss também é vista como um instrumento que os revolucionários querem manipular, mas sua natureza impulsiva e rebelde a faz questionar as intenções de Coin por trás de tudo. Sendo a garota em chamas ou o tordo, ela se dá conta amargamente de que sua vida continua sendo usada em favor de um espetáculo, desta vez ainda mais dramático e sensacionalista, e tudo o que realmente quer é proteger sua família e salvar o povo inocente das atrocidades do presidente de Panem.
Dividir um livro relativamente curto em dois filmes (uma tendência que vem imperando em Hollywood no que diz respeito às adaptações cinematográficas de sagas literárias YA) é uma sacada que apresenta apenas vantagens comerciais. Obviamente rende mais bilheteria e retorno para o estúdio. Em contrapartida, enfraquece a narrativa, diluindo o impacto que poderia causar no espectador se optassem por contar toda a história de A Esperança em apenas um filme, como deveria ser. De modo que este A Esperança – Parte 1 soa como um longo prólogo para o capítulo final. Há mais espaço para apresentar e desenvolver os novos personagens, é verdade. Além de tempo suficiente para se concentrar na preparação do tordo, na produção das vinhetas da rebelião que invadem a programação televisiva da Capital e no resgate dos reféns que estão sob o domínio de Snow. Mas não deixa de dar a impressão de que o longa fica pelo meio do caminho. Embora o desfecho tenha sido conduzido de maneira acertada e deixe o espectador salivando pelo próximo.
Visualmente, o filme é digno de aplausos. Este terceiro capítulo da franquia cinematográfica baseada nos livros de Suzanne Collins, é mais bem-sucedido no retrato de um futuro pós-apocalíptico. Os tons cinzentos, a atmosfera sombria e melancólica contrastam totalmente com os matizes mais vivos dos filmes anteriores (que procuravam dar mais foco à representação de uma sociedade hedonista e alienada). Excelente composição cromática. Outro acerto está na violência gráfica e o impacto visual causados pelas sequências do bombardeio no Distrito 8 e os confrontos entre pacificadores e rebeldes. Bem hardcore para um filme destinado aos adolescentes.
Aliás, o que eu não me canso de dizer sobre esta franquia, seja na literatura ou no cinema, é o fato de ser um produto para as massas, mas que lança luz sobre questões pertinentes e de extrema relevância. Os jogos políticos, as consequências da guerra, o poder da mídia e da publicidade são muito bem representados. A ação, desta vez, é mais lenta. Mas o contexto sócio-político compensa bastante. A narrativa se mantém inteligente e as reviravoltas do roteiro garantem bons momentos de tensão.
O elenco continua sendo dos maiores trunfos da série. Todos os atores desempenham seus papéis de maneira convincente. Julianne Moore, embora contida, é um ótimo acréscimo. Elizabeth Banks (que interpreta Effie Trinket) e Woody Harrelson (na pele de Haymitch Abernathy, um dos personagens mais carismáticos) ainda são responsáveis pelos momentos mais engraçados, leves e dão um toque maior de humanidade e realismo para a trama. Destaque também para o saudoso Philip Seymour Hoffman, mantendo o tom enigmático do episódio anterior, mas com intenções mais transparentes. Dispensável dizer que o trio de protagonistas continua funcional. Liam Hemsworth ainda precisa treinar melhor seus dotes dramáticos, mas fez seu dever de casa direitinho. Josh Hutcherson, embora tenha pouco tempo de tela, cumpre bem seu papel como de costume. Jennifer Lawrence, ótima atriz, acaba se excedendo em algumas passagens, pecando nas expressões faciais e na dramaticidade de sua personagem. Mas tem pelo menos um momento realmente belo, no qual entoa versos da canção The Hanging Tree, tão significativa para essa história.
É melhor do que o primeiro Jogos Vorazes (2012), mas fica longe da excelência do segundo capítulo, o Em Chamas (2013). De qualquer forma, é um entretenimento inteligente e que vale ser visto e revisto. Precisamos de mais sagas literárias e cinematográficas como esta dedicadas ao público adolescente. Não só pela abordagem inventiva de temas tão intrínsecos à própria realidade à nossa volta, como pelo tratamento de respeito ao espectador, jamais negligenciando ou ferindo a inteligência do público.
E que venha A Esperança- Parte 2 que promete um desfecho surpreendente!
Andrizy Bento
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