A aclamada saga Dias de um Futuro Esquecido foi publicada pela primeira vez em 1981. A HQ dos mutantes se encontrava, então, em seu melhor momento nas mãos de Chris Claremont e John Byrne, que de certa forma reinventaram a criação de Stan Lee, assumindo o título nos anos 70. À essa altura do campeonato, ambos já haviam provado seu talento com A Saga da Fênix Negra e a parceria dava inúmeras mostras de que iria entrar para a história.
Abordando conceitos como viagem no tempo e realidades alternativas (muito antes de filmes como De Volta Para o Futuro invadirem as telas e o imaginário dos cinéfilos), esta saga retrata um futuro apocalíptico, situado no ano de 2013, no qual os mutantes são perseguidos e exterminados por robôs enormes denominados Sentinelas, criados por Bolivar Trask. Os X-Men representam a resistência, mas sobraram poucos deles. A única forma de mudar este cenário aterrador, é impedir o assassinato do Senador Kelly no passado, orquestrado pela Irmandade de Mutantes em 1981 .
Este evento desencadeou uma onda anti-mutante e uma verdadeira campanha de ódio e perseguição aos homo superior. A mente de Kitty Pryde, a Lince Negra, é enviada para o seu corpo no passado a fim de impedir a tragédia e suas consequências devastadoras.
Dizem por aí que essa história inspirou o cineasta James Cameron a criar O Exterminador do Futuro. Curiosidades à parte, a saga prima por um roteiro audacioso e coeso. O que é impressionante, uma vez que histórias que envolvem viagens no tempo sempre correm o risco de não soarem plausíveis. Não é o caso aqui. O contexto sócio-político é bem trabalhado e, por vezes, nos remete ao nazismo e à caça aos judeus. É uma história bem elaborada, sem medo ou hesitações em mostrar nossos personagens favoritos mortos no futuro. A arte é bem competente, com traços e cores que valorizam tanto o futuro sombrio quanto o passado de esperança. Ao mesmo tempo, faz o leitor refletir sobre quanto tempo ainda vai se estender a luta dos mutantes pela aceitação e o fim da intolerância?
A história foi adaptada para a TV em X-Men Animated Series, a série animada de 1992, em um episódio de duas partes. Mantendo a essência da original, a mola-mestra da trama ainda é o assassinato de Robert Kelly. No entanto, é Bishop o enviado ao passado com o auxílio do cientista Forge, uma vez que Kitty Pryde não era um personagem recorrente na série. O futuro caótico é bem representado apesar das limitações em termos técnicos. Uma alteração bem-vinda em relação ao original é o fato de que, no passado, o responsável pelo assassinato de Kelly foi um X-Men. Interessante o roteiro pegar um gancho nos problemas de confiança (ou falta dela) que o grupo tinha com Gambit, que é o acusado do crime. Mas, na verdade, todo o plano foi idealizado por Mística e a Irmandade de Mutantes.
Esta adaptação também foi parar nas páginas dos quadrinhos. O que é bem curioso – a adaptação da adaptação (!) X-Men Adventures era uma minissérie especial em quatro edições que adaptava os episódios da série de TV para os quadrinhos. Isto é, os mutantes pularam para a telinha, mas retornaram às suas origens. A HQ é tão interessante quanto os episódios da série animada. Porém, vacila na arte, com traços equivocados (Jean Grey tem a fisionomia drasticamente alterada ao longo das páginas e Mística, quando está com aparência de uma humana comum, é a cara do Michael Jackson!) e alguns “movimentos” dos personagens soam confusos e difíceis de assimilar.
Como bem se nota, Dias de um Futuro Esquecido é uma história tão boa que é quase impossível estragá-la…
Com tantas adaptações, faltava a trama migrar par a telona. Bryan Singer, diretor dos dois primeiros filmes dos mutantes e produtor do “recomeço” X-Men: Primeira Classe, já tinha interesse em adaptar a história para o cinema desde a época em que estava trabalhando em X-Men 2 de 2003. Onze anos depois, ele finalmente leva a clássica trama às salas de projeção. Mantendo a premissa e os conceitos da história original, o filme X-Men: Dias de um Futuro Esquecido que estreia nesta quinta-feira, 22 de maio, é não apenas o mais satisfatório, como o mais completo e audacioso filme dos X-Men. A missão que muitos julgavam impossível – de fazer a conexão entre o arco iniciado em Primeira Classe e a trilogia original – é cumprida, aliás, muito bem cumprida. Ambas as linhas temporais tem um tempo de tela adequado, e a costura entre uma e outra acontece de forma natural, cuidadosa, sem excessos.
O filme tem vários momentos brilhantes e notáveis. Mas os que vão ficar gravados na cabeça dos fãs, após o término da sessão, é a ótima cena protagonizada por Mercúrio, em slow motion, ao som de Time in a Bottle de Jim Croce; e o final – uma pequena, singela, mas bonita homenagem à velha guarda dos X-Men, os personagens que protagonizaram os três primeiros filmes da franquia.
Temos um melhor acesso ao lado mais humano dos mutantes, com cenas mais leves e um tom bem-humorado. As cenas de ação não ficam em segundo plano, e os X-Men aparecem utilizando seus poderes verdadeiramente como uma equipe, lutando pela sobrevivência de sua raça, e nunca de forma gratuita. Ainda há espaço para sequências mais dramáticas e até trágicas, que poderão arrancar lágrimas dos olhos dos devotos fãs dos personagens. Apesar de muitos mutantes em cena, alguns com participações bem pequenas, não dá pra dizer que houve alguma negligência. DoFP apresenta um ótimo desenvolvimento de personagens, um bom equilíbrio entre os elementos narrativos, uma trilha sonora coesa e fantástica ,e faz justiça, sim, à história original. Todo o potencial da equipe mutante é finalmente explorado. É um deleite para os olhos tanto a execução das cenas de ação e efeitos especiais, como o tratamento de respeito e carinho que é possível notar que Bryan Singer tem pelos personagens. Além disso, fazer um blockbuster, filme de super-heói, produto típico do verão americano e ainda conseguir transmitir ao público uma bela mensagem acerca da tolerância, do respeito e da aceitação das diferenças de cada um, vai além de entretenimento. É quase uma obra-prima.
X-Men: Dias de um Futuro Esquecido tem algumas das qualidades que tem faltado a inúmeros arrasa-quarteirões atuais e que deveriam ser sempre inerentes a estes: é divertido, empolgante, dinâmico, mas também é inteligente e emocionante. Conta com um roteiro bem construído e um visual que não apenas funciona, mas também surpreende. Além de grandes personagens retratados com dignidade por um elenco afinado.
Bryan Singer mais uma vez elevou a franquia X-Men a um novo patamar no cinema (feito que já havia realizado com X-Men 2). Um filme para se ver e rever e uma das melhores opções que entrará em cartaz nos multiplex este ano.
Aí vão uns pequenos spoilers: Desta vez é Wolverine que volta ao passado, com a ajuda de Kitty Pryde que envia sua consciência para o ano de 1973, a fim de impedir que Mística mate Bolivar Trask, criador do programa Sentinela; X-Men: O Confronto Final passou a ser um filme non-canon. Esqueçam dos eventos narrados nele, não fazem mais diferença no todo; E na cena pós-créditos, temos um vislumbre de Apocalypse, o mais poderoso dos mutantes. 😉
Andrizy Bento
Hoje assistir X-men :dias de um Futuro esquecido.foi um bom filme e um dos Melhores dos X-mem.gostei muito da Cenas pos Creditos em que Vemos o Mutante Apocalipse no Egito.
Olá, Frankmar! Obrigada pelo comentário. Eu também acho que foi um dos melhores filmes dos mutantes e a cena pós-créditos já nos deixa na expectativa para o próximo filme. Abraço!