[Especial] Harry Potter – Parte 6

Nosso primeiro especial está quase chegando ao fim e, como não poderia deixar de ser, aí está a minha opinião a respeito do último filme da série Harry Potter.

Relíquias da Morte: Parte 2

A logo da Warner Bros. cede espaço para a imagem sombria de um castelo cercado por Dementadores, embalada por uma densa trilha sonora. Corta para Snape prostrado em uma das altas janelas do castelo observando os alunos marchando em direção à entrada de Hogwarts. As tonalidades vivas dos episódios anteriores dão lugar a matizes de cinza. A Escola de Magia não parece a mesma de outrora, mágica e imponente; parece amedrontadora, sob um regime rigoroso e fascista. A câmera volta a enquadrar Snape com uma expressão amarga em seu rosto. E foi o bastante para que meus olhos já se inundassem de lágrimas – esse foi o primeiro de vários momentos em que isso aconteceu durante a sessão.

A cena de abertura, extremamente melancólica, já dá uma prévia do que nos promete as quase duas horas de projeção – que passam voando. Sem delongas ou embromação, o clima caótico se instala em Hogwarts e assistimos ao majestoso castelo sendo destruído durante o confronto com os Comensais da Morte.

O diretor David Yates mantém a atmosfera de filme de ação e o nível de entretenimento com uma narrativa frenética e um clímax constante. O cineasta não hesita em mostrar violência, sangue, corpos de alunos, professores, entre outros, pelos corredores da escola, construindo seqüências que transmitem uma real sensação de perigo, luta e aflição ao espectador, contando com a poderosa partitura de Alexandre Desplat que jamais soa over com os temas compostos.

Nada de melodrama forçado e fundos musicais que apelam ao sentimentalismo exagerado nos momentos em que coadjuvantes importantes morrem. Com um tom acertado de tensão e tragédia, a câmera captura os corpos sem vida de alguns personagens que nos fizeram rir e chorar nos filmes anteriores. Estamos no meio de uma batalha, afinal. Não é possível que todos do lado do bem sobrevivam ao embate. Como diz Neville, pessoas morrem todos os dias, o importante é ter a certeza de que nenhuma dessas mortes foi em vão.

Houve um cuidado rigoroso com toda a parte técnica do filme. Basta reparar no dragão que guarda os cofres do Banco Gringotes e nas cenas mais intensas de ação como a batalha em Hogwarts, para se ter certeza de que estamos diante de uma obra cujo cada detalhe foi meticulosamente planejado.

A maquiagem continua exemplar, especialmente a dos duendes e de Voldemort, bem como os efeitos especiais, a ambientação, a cenografia e obviamente o cast que é onde a força dramática do longa reside.

Alan Rickman compõe com primazia o ambíguo Severus Snape, um personagem cheio de nuances, que transmite todas as suas emoções contraditórias ao público através apenas do olhar.

Minerva McGonagall, sempre muito bem representada pela experiente Maggie Smith, tem uma ótima presença de cena e maior destaque no longa como não tinha desde os primeiros filmes.

Matthew Lewis, o intérprete de Neville Longbottom, acerta no tom, tanto quando precisa executar a ingrata tarefa do alívio cômico em um filme de intensa carga dramática, como quando assume a postura do heróico grifinório, com uma participação efetiva e de grande e merecido destaque na história.

Daniel Radcliffe está, possivelmente, em seu melhor momento como o personagem-título. O teatro realmente fez muito bem ao ator que vem apresentado profundas melhorias em sua atuação desde A Ordem da Fênix.

E, claro, Ralph Fiennes mais uma vez dá um show à parte como Voldemort, numa perfomance sempre inspirada.

Aliás, como fã, é necessário abrir um parêntese e dizer que é ótimo ver que todos os nossos queridos personagens tiveram seu momento, por menor que tenha sido, não se restringiu a importância de nenhum deles na narrativa.

Mas como nem tudo que reluz aqui é ouro, algumas cenas deixam um pouco a desejar; o embate entre Bellatrix Lestrange e Molly Weasley é um tanto anticlimático, não tem o impacto que se esperava e chega quase próximo de decepcionar, não fosse o fato de o conjunto ser tão bom e praticamente irretocável.

Algumas piadinhas soam deslocadas como quando Minerva diz “sempre quis fazer esse feitiço”. Compreende-se que é uma cena que tenciona aliviar o clima denso, mas parece sem sentido e despropositada.

A seqüência que revela o quão importante a mãe de Harry foi para Snape e a origem e real natureza da ligação entre eles não foi tudo aquilo que eu esperava, admito, mas é funcional, mostrada em espécies de flashes e não de maneira contínua, um recurso que se mostrou bastante eficiente.

Várias cenas me fizeram chorar, como o tocante momento em que Snape diz a Harry: “Você tem os olhos de sua mãe”; bem como quando o herói se depara com seus pais, Sirius e Lupin sob formas espectrais.

Em termos de condução da narrativa e soluções cinematográficas, o filme está muito bem servido. O longa não sofre com a falta de ritmo ou equilíbrio entre as seqüências e a fluência da narrativa é extremamente eficaz.

Relíquias da Morte: Parte 2 é um filme brutal e sensível, intenso e delicado, dinâmico e melancólico, triste e emocionante.

Não é o melhor filme de Harry Potter. Este título ainda pertence a Ordem da Fênix. Mas é um final mais do que digno e competente e, se me permitem usar um clichê, fecha com chave de ouro o arco de histórias do bruxinho iniciado nos cinemas em 2001, e que vem encantando e levando espectadores de todas as idades às salas de projeção.

Ao final, a câmera opta por enquadrar os personagens com os quais muitos de nós crescemos e aprendemos a amar desde o primeiro livro ou o primeiro filme, agora adultos, pais de família, levando seus filhos para sua primeira viagem à Hogwarts. Impossível não se emocionar e não se lembrar da primeira vez em que parecemos pisar junto com Harry na estação de King’s Cross. Nada mais justo do que o derradeiro episódio se encerrar com esse plano dos personagens, visto que eles foram a alma da série e Harry Potter jamais foi uma história sobre magia e criaturas mitológicas. Foi, na verdade, uma história sobre Harry, Ron e Hermione.

E é com lágrimas nos olhos que assistimos da plataforma 9 e ¾  o Expresso Hogwarts partindo pela última vez, tendo a certeza de que Harry Potter cumpriu seu objetivo diante do público e concluiu de maneira triunfal sua jornada nas telonas, sempre tendo respeito e carinho pelos seus fãs, jamais subestimando a inteligência dos espectadores e nos emocionando até o último minuto, até a última vez em que vemos os créditos subirem na tela.

É triste ver os créditos subindo pela última vez. Mas, ao mesmo tempo, como disse o próprio Yates, Harry Potter acabou no momento certo e com um excelente desfecho. Mas que o bruxinho – que há muito deixou de ser só um bruxinho – vai deixar saudades, isso é inegável!

Fonte das imagens: UOL Cinema / Grandes Filmes / Projeto Cinema / SuperNovo.net

😉

Andrizy Bento

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